Blog literário e livro sobre bullying

Hoje vou falar de um livro que li, que ganhei do pessoal da Sintaxe, eles foram ao lançamento desse livro e trouxeram um exemplar pra mim, autografado. Mas antes vou falar dos comentários que recebi no blog de dois alunos do 7º ano B, da escola CE SESI 416, de São Bernardo do Campo (SP).

Primeiro foi o Gustavo: “Heitor Achei seu blog um Máximo estou fazendo um trabalho na escola e vou ter que criar um blog e vou me inspirar em você!!!!”

Depois foi o Hiago: “Ooooiiu Heitor estava vendo esse seu blog da minha escola e nos teremos q fazer vc tem como me ajudar com algumas dicas??”

Respondi aos dois, disse que poderiam se inspirar no meu blog, que adoraria fazer um post especial contando isso tudo, e pedi pra eles conversarem com a professora sobre essa ideia. Adoro fazer trabalho com escolas! A Profª Marilsa me mandou um e-mail, disse que estão no início do trabalho, pesquisando e conhecendo diversos blogs, inclusive o meu. Perguntei se podia acompanhar o trabalho deles e depois fazer o post. Ela concordou, e disse que achou ótima essa minha ideia. OBA!

Vou acompanhar de perto o trabalho da Profª Marilsa, do Gustavo, do Hiago e de toda turma do 7º B da escola do SESI de São Bernardo do Campo, e depois vou contar tudo, aqui no blog.

BLOG LITERÁRIO

Sempre procuro melhorar o meu blog, já participei de encontro de blogueiros literários, aprendi a fazer mediação de leitura, e vivo conversando com amigos e pessoas mais experientes, atrás de dicas para tornar o blog mais “interessante”. O pessoal da Sintaxe, que foi quem me deu de presente este blog (essa história está la no comecinho), também se informa por aí e traz muitas novidades.

Outro dia eles fizeram um curso que se chamava Blogs literários: do hobby à profissão, quem deu o curso foi o Danilo Leonardi, ele criou e é o editor-chefe de um dos maiores sites de literatura do Brasil, o Cabine Literária, ele também é o autor do livro que vou falar daqui a pouco. Já adotei algumas sugestões que eles trouxeram desse curso e acho que consegui melhorar o blog, só teve uma que não aceitei, no começo me chamaram de teimoso, mas depois, concordaram comigo. Antes, disseram que se eu quisesse fazer um blog literário tinha que parar de falar tanto de mim:

“Blog literário é pra falar de livros, essas histórias de como você descobriu um livro, como encontrou e conheceu um escritor, o que sentiu e aprendeu com a leitura de um livro, etc., não cabem num blog de literatura”. Na hora fiquei ofendido, disse que ia continuar falando de mim, sim, e que se fosse assim, meu blog não era literário, e pronto. Dane-se! Depois, com mais calma, conversei e argumentei:

“Vocês sabem o quanto gosto de ler e como as histórias e os livros mexem comigo, depois que comecei a fazer este blog, vocês viram quanta gente conheci e quanta coisa descobri, vou tentar não falar tanto de mim, mas não posso deixar de contar tudo isso, acho que essa é a parte mais legal da história, e depois, não sou um crítico literário, sou apenas um menino que gosta de ler.” Acho que convenci meus amigos, vou continuar a falar de livros, mas vou falar um pouco de mim, também.

O LEITOR QUE VIROU ESCRITOR

Já ouvi dizer, muitas vezes, que todo bom escritor começa como bom leitor, pra escrever bem, precisa ler bastante, acho que o Danilo Leonardi é um desses, de bom leitor, virou escritor. Ele diz que sempre teve a ambição de escrever um livro, mas nunca pensou que isso pudesse acontecer, até nascer a ideia de seu primeiro, o Por que Indiana, João?.

Gostei bastante do livro, da história e do jeito que o Danilo escreve, também adorei o seu site, o Cabine Literária, tem tanta informação, resenhas, dicas de livros, cinema, HQ, séries, games, e também tem blogs, já coloquei o site entre os meus favoritos e vou visitar, sempre, pra saber das novidades. Um dia quero conhecer o Danilo, pessoalmente, e conversar com ele, soube que está lançando o livro na Bienal, vou ver se encontro ele, por lá.

O PRIMEIRO LIVRO

Por que Indiana, João?, escrito por Danilo Leonardi e publicado pela Giz Editorial começa com o personagem principal e narrador dessa história, João, isolado e sentado atrás de uma pilastra, no pátio da escola, durante o intervalo das aulas. Ao seu lado está só seu amigo Daniel, conhecido como Paraíba, João também tem um apelido, Uísque, o Uisquisito, os dois sofrem bullying na escola, João por ser um menino sensível, nerd, magro e baixo, e Daniel por ser nordestino, no Ceará, onde morava, era o líder de sua turma.

As piores provocações e agressões vêm de Guilherme, loiro, de olhos azuis, e um metro e noventa de altura. Um dia, Guilherme cerca João, – que já foi Juvis, Galeto e Substância de Mamão, e agora é o Uísque, – e João reage, dá um pontapé entre as pernas de Guilherme, alguém grava a cena, o vídeo vai pra internet, se transforma em viral e provoca a maior agitação na escola. Num momento, a situação quase se inverte, e Guilherme chega a implorar ao João, que tire o vídeo do ar, depois de traições, namoros, brigas e muita confusão, a história tem um desfecho bem legal, que só lendo pra descobrir.

MINHA SEGUNDA BIENAL

Neste ano já fui um dia à Bienal do Livro, fui no primeiro dia, encontrei muitos amigos, escritores, ilustradores, editores, professores, e principalmente, leitores, muitos eu já conhecia, pessoalmente, de outros eventos. Quero voltar mais uma vez, vou na sexta-feira. Nesta Bienal vou fazer diferente, na minha primeira, fui diversas vezes e fiz um extenso relatório do que vi por lá, desta vez vou pesquisar os lançamentos e os livros novos e tentar conversar com alguns autores e ilustradores, depois vou ler esses livros, e contar aqui no blog. Vou buscar, nesta Bienal, dicas para as minhas leituras e pautas para o meu blog.

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Minha segunda Flip

Como anunciei no post anterior, fui à Paraty, assistir à minha segunda Flip, a Festa Literária Internacional de Paraty. Fui com meus pais, voltamos no outro domingo, mas só agora tive tempo pra escrever aqui. Quase uma semana fora, ficaram muitas coisas pra eu colocar em dia, volta às aulas, tarefas da escola, assuntos pessoais, etc., só agora pude atualizar o blog.

Antes de publicar mostrei pra minha mãe, ela disse que o assunto já tinha passado, “faz mais de uma semana que a Flip acabou”, que não fazia mais sentido contar essa história, e que o post estava muito grande. Eu disse que tinha prometido falar da Flip, que não poderia deixar de falar, e que o post ficou grande porque tinha muita coisa pra contar. Sei que minha mãe vai dizer que sou teimoso, mas tentei resumir… Espero que gostem e leiam, pelo menos alguns pedaços.

Pedras no caminho

Desta vez, como já conhecia Paraty, não precisei ficar junto de meus pais, fiz meus próprios programas, me perdi algumas vezes, as ruas da cidade são todas iguais e a gente tem que ficar olhando pro chão, pra não tropeçar nas pedras, mas era só caminhar um pouquinho, que já encontrava algum lugar conhecido.

No segundo dia já estava craque, ia de um evento ao outro, em menos de cinco minutos, tenda dos autores, telão, livraria, flipinha, flipzona, casa de cultura, casa do roteirista, casa da folha, casa da libre, casa do sesc, ia de lá pra cá, tentando ver a maior parte dos programas, perdi muitos, mas deu pra assistir bastante coisa legal e encontrar muita gente bacana.

Show da Gal Costa

Chegamos à Paraty na quarta à noite, assistimos ao show de abertura da Flip, que este ano foi com a cantora Gal Costa, ela se apresentou no palco da Flipinha, tinha muita gente, mas conseguimos um lugar bem na frente… Foi bem legal o show da Gal!

Na quinta, logo cedo, mandei mensagem para o meu amigo Paulo Farah, que também estava na Flip, eu soube que ele ia participar de uma mesa, representando o Grupo de Trabalho do PMLLLB, o plano de São Paulo, para discutir a política do livro e da leitura. Ele me passou o horário, seria às 14h00, daquele mesmo dia, na casa de cultura, anotei pra não esquecer, era o meu compromisso político da Flip, depois tomei café da manhã com meus pais e saí sozinho pra passear pela cidade.

Como se conta uma história

Saí da pousada caminhei pela beira da praia e segui pra Flip, passei pela livraria, dei uma olhada nos livros, vi os títulos dos autores que estavam por lá, e já comecei a querer alguns, segui minha caminhada de reconhecimento do lugar, e cheguei em frente a tenda dos autores, lá tinha um painel com parte da programação, vi que já estava começando uma mesa na Flipinha, “Como se conta uma história”, me interessei pelo assunto, e, ainda, a Rosana Rios faria parte dessa mesa, eu conheço a Rosana, já li livros e falei dela aqui no blog. Atravessei a ponte e corri pra Flipinha! Na mesa também estava o Augusto Pessôa, esse eu não conhecia, gostei muito dele.

A Rosana falou que para se contar uma história, precisamos ter um personagem, qualquer coisa pode ser personagem; depois temos que criar uma aventura para colocar o nosso personagem e toda aventura tem que ter uma encrenca, depois de escrever a história, precisamos de uma editora, que vai ver se a história é legal e se pode virar um livro. O escritor tem que buscar histórias novas, não pode contar histórias que já foram contadas.

O Augusto Pessôa trabalha com arte-educação e viaja muito, ouve muitas histórias, depois conta nos seus livros, também conta muitas histórias de sua família. Ele contou uma história de assombração, “João sem medo”. Havia uma casa mal-assombrada e todos que dormiam nela, acordavam malucos. O João corajoso, não tinha medo de nada e foi dormir na casa. Aconteceram muitas coisas pavorosas, que ele contou de um jeito muito engraçado. Essa história está no seu livro “Bá e as visagens”.

No final, conversei com a Rosana Rios, peguei seu e-mail, ela mora em São Paulo e tem mais de 100 livros publicados, quero ler outros e fazer uma entrevista com ela.

O primeiro livro do Ferréz

Saindo de lá, consultei a programação e descobri que o Ferréz ia falar na casa de cultura, já conhecia o Ferréz, uma vez fui ao Capão Redondo, visitei a ONG dele e contei aqui no blog. Cheguei, peguei uma senha e fiquei na fila esperando, quando abriu a sala, as pessoas foram entrando e eu fui o último a deixarem entrar. Que sorte a minha, ficou muita gente de fora! Antes de começar a conversa, o Ferréz pediu licença à plateia e foi lá fora se desculpar com os barrados, disse que muitas vezes isso aconteceu com ele, e sabe como dói. Ele voltou e além de se desculpar, ainda conseguiu colocar mais umas dez pessoas pra dentro da sala.

O Ferréz contou como foi publicar e vender seu primeiro livro, um livro de poesia, ele trabalhava num escritório e os colegas não entendiam seu texto, poesia concreta, que ele escrevia em folhas de papel e pregava nas paredes da empresa. Sua patroa gostou e financiou a publicação da obra, mas, em seguida, demitiu o funcionário, gostava da poesia, mas não gostava de seu trabalho. Saiu da empresa e foi à luta, vender seu livro, um dia um amigo disse que uma distribuidora queria comprar 800 exemplares, conseguiu carona pra levar os 40 pacotes e chegou antes, mesmo, de a distribuidora abrir.

No final descobriu que eles só queriam oito exemplares, nisso já tinha perdido a carona de volta e teve que guardar os pacotes num bar próximo, para levar aos poucos, de ônibus, pra sua casa. O jeito como o Ferréz conta essa história, com todos os detalhes, é muito engraçado! À tarde ele ia lançar uma nova edição de seu livro infantil “Amanhecer Esmeralda”, mas não consegui ir, depois quero ler.

Compromisso político e literatura russa

Assim que acabou a mesa do Ferréz, fui comer um lanche por perto e voltei correndo, logo ia começar o debate sobre a política do livro, que meu amigo Paulo Farah iria participar, representado o nosso grupo de trabalho de São Paulo. Peguei a senha e fiquei esperando, nesse tempo encontrei dois amigos, a primeira foi a escritora Ana Claudia Ramos, já li muitos livros dela e falei aqui no blog, ela me contou que tem livros novos (OBA!), e disse que poderia me dar um exemplar depois… Pena que eu não encontrei mais com ela, só a vi de longe, numa mesa que ela coordenou, mas vou procurar os livros novos da Ana Claudia, quero ler e contar aqui no blog.

Outro amigo que encontrei foi o Beto Silva, ele trabalha com mediação de leitura e participa da Cor da Letra, ele também faz parte do GT do PMLLLB e já me deu boas dicas de mediação, que eu usei aqui no blog. Conversamos sobre a Flip, contei o que eu já tinha assistido e ele me deu um ingresso para ver uma mesa sobre literatura russa, que ia acontecer mais tarde, na tenda dos autores. Fiquei muito feliz e agradeci, os ingressos para a tenda dos autores estavam muito concorridos neste ano.

Primeiro assisti ao debate sobre o plano do livro e da leitura na casa de cultura. Tinha diversos participantes, entre eles, o José Castilho, que falou sobre o plano nacional, o PNLL – já falei dele em outros posts. Tinha também uma representante de Natal (RN), a Cláudia Santa Rosa, que contou como está a elaboração do plano por lá, eles já discutiram com diversos setores e regiões da cidade e estão bastante adiantados. Como já contei estava também o nosso representante, o Paulo Farah, que falou como estão os trabalhos do GT para construção do PMLLLB de São Paulo e divulgou o nosso site: http://pmlllbsp.com.

Depois que acabou o debate, corri pra tenda dos autores para assistir a mesa sobre literatura russa. Participaram dessa mesa a escritora americana, Elif Batuman, e o escritor russo, Vladímir Sorókin. A Elif contou que, desde a adolescência já se interessava pelos escritores russos do século XIX, lia muito, e na universidade foi estudar e se especializar nessa literatura. Estudou quase todos, principalmente o Tolstói – já falei dele aqui no blog -, na Flip ela estava lançando o livro, “Os Possessos”.

O Vladímir, primeiro convidado russo da história da Flip, estava lançando o livro “Dostoiévski-Trip”, peça de teatro que conta a história de sete pessoas viciadas em literatura. Ele disse que depois da grande literatura produzida pela Rússia no século XIX, o país não conseguiu produzir grandes escritores no século XX, e que só agora eles começaram a aparecer.

Casa do Sesc

Mais tarde fui à casa do Sesc, Eugenia Zerbini participou de um debate sobre os 50 anos do golpe militar, junto com o professor Roberto Bozzetti e o poeta Chacal. Conheci a Eugenia num encontro de blogueiros literários que participei na Livraria da Vila, aqui em São Paulo, ela tem um romance publicado que se chama “As netas da Ema”. Gostei do debate, aprendi muito e ainda me lembrei de coisas que já tinha pesquisado quando escrevi aqui, um post sobre esse assunto. No Sesc também tinha uma exposição bem bacana de ilustração de livro infantil, a MACLI – Mostra de Arte Contemporânea em Literatura Infantil, com trabalhos de Renato Moriconi, Fernando Vilela, entre outros.

Na casa do Sesc encontrei outros amigos, encontrei a Susana Ventura, que conheci num evento do Sesc aqui em São Paulo, ela tem muitos livros publicados, tem um de contos africanos, que eu já li e vou fazer um post sobre ele. Também encontrei a Cecília Nery, conheci a Cecilia na minha primeira Flip, ela é jornalista e também tem um blog literário que se chama “Leituras e Observações”. Encontrei a Ana Luísa Sirota, ela trabalha no SESC com literatura e bibliotecas e faz parte do grupo de trabalho do PMLLLB de São Paulo. Conversamos sobre o debate da casa de cultura, ela também tinha assistido.

Computador de última geração

Outra mesa que eu quis ver da Flipinha foi a que estava a ilustradora Marilda Castanha, ela mora em Belo Horizonte e é casada com o Nelson Cruz, já falei dele aqui no blog, o Nelson participou de um dos nossos clubes de leitura. Nessa mesa também estava a Bia Bedran e quem fez a moderação foi a Ana Claudia Ramos.

A Bia Bedran é cantora, compositora, contadora de histórias e escritora. Ela disse que desde pequena ouvia histórias e cantigas de ninar, contadas e cantadas pela sua mãe, e em seu trabalho ela mistura literatura e música. No palco ela leu a história de um de seus livros, leu frase por frase e a plateia repetiu, depois cantou essa mesma história, como música. Cada livro dela tem uma ou mais músicas que podem ser ouvidas e cantadas.

A Marilda Castanha disse que é uma ilustradora à moda antiga, gosta de trabalhar com tinta, adora a cor e o cheiro delas. A Marilda apresentou um computador de última geração que é de onde ela tira todas suas histórias. Esse computador é feito de papelão, tem todos os ingredientes de um livro, cada tecla corresponde a uma parte, autor, ilustrador, página de rosto, cenário, personagens, história, etc. Ela chamou duas crianças ao palco que apertaram as teclas dos personagens e apareceram os desenhos de uma menina e de um ogro gigante, que fazem parte de seu novo livro, que fala do medo e da coragem.

Millôr, o homenageado deste ano e outra mesa na tenda

Também assisti na tenda dos autores a uma mesa sobre o Millôr Fernandes, o autor homenagenado da Flip deste ano. Participaram desta mesa o caricaturista e jornalista Claudius, o jornalista Sérgio Augusto e o caricaturista Cássio Loredano. O Cássio organizou um livro para o Instituto Moreira Salles, que estava sendo lançado na Flip, com frases e desenhos do Millôr, e que se chama “Millôr 100+100 – Desenhos e Frases”. Eu comprei esse livro e já li algumas frases, são muito engraçados os desenhos e as frases do Millôr!

A mesa se chamava o “Guru do Méier” e todos contaram como conheceram Millôr Fernandes. O Claudius disse que, quando era criança, seu pai trazia muitas revistas pra casa, inclusive “O Cruzeiro”, e ele lia o “Pif Paf”, a coluna do Millôr nessa revista. Depois, no colégio, um professor de Português levava todas as sextas-feiras “O Cruzeiro” para ler o “Pif Paf” em sala de aula. Foi assim que começou sua relação com o Millôr, depois, adulto, foi trabalhar com ele na “O Cruzeiro”.

Sérgio Augusto começou o contato com Millôr pela revista “O Cruzeiro”, ele trabalhava no jornal “Correio da Manhã” e depois também foi trabalhar nessa revista. O Millôr fazia sua coluna em casa e às sextas-feiras ia à redação levar o trabalho pronto, encontrava todos trabalhando e ele querendo conversar. Em 1963 o Millôr foi demitido da revista por um artigo que ele escreveu sobre o Paraíso, o Sérgio Augusto estava lá, depois ficaram grandes amigos e fizeram muitas viagens, juntos.

O Cássio Loredano também convivia com o Millôr semanalmente, lendo a “Pif Paf” na revista “O Cruzeiro”, ainda criança, sua mãe tinha que lhe explicar as piadas da coluna. Adulto, começou sua carreira trabalhando no jornal “Opinião”, que ficava perto da redação de “O Pasquim”, sempre se encontrava e conversava com o Millôr. Lembra que o Henfil também se queixava do Millôr, que trazia o trabalho pronto de casa e vinha à redação só pra conversar, interrompendo os que tinham que fechar suas matérias.

Eles disseram que o Millôr não queria mudar o mundo, só queria que fosse mais engraçado. Ele era muito assediado, muitas vezes alguém chegava perto com um pedaço de papel e uma caneta e dizia: “Millôr, escreve aqui uma bobagem”. E ele respondia: “Então, começa a ditar”.

Outra mesa que assisti na tenda dos autores foi “A verdadeira história do paraíso”, com o escritor israelense Etgar Keret, e o mexicano, Juan Villoro. Um dia eu estava sentado nos fundos da tenda, de frente ao telão, uma moça veio e me perguntou se eu não queria assistir à mesa que estava pra começar, ela tinha o ingresso, mas não ia ver, nem a conhecia. Eu sorri, disse, “claro que, sim”, agradeci muito, peguei o ingresso e corri pra fila. Adorei essa mesa, gostei bastante do Juan Villoro, ele tem um livro juvenil que se chama “O livro selvagem”, comprei, vou ler e depois conto essa história com mais detalhes.

Casa do roteista, da Libre, da Folha e mais amigos

Encontrei mais amigos, passei horas com a Daniela Padilha, da Editora Jujuba, a escritora e ilustradora Aline Abreu e a Rita, que é filha da ilustradora Ciça Fittipaldi e trabalha na Jujuba. Passeamos bastante e ainda assistimos a uma mesa na casa do roterista com Paulo Lins, Adriana Falcão, Thelma Guedes, com a moderação do Marcelino Freire.

Também encontrei a escritora Marcia Camargos e passeamos bastante, depois ela me levou à festa da Libre, o sindicato das pequenas editoras. Lá eu encontrei a Sandra Silvério, da Editora Livro Falante, o Haroldo Ceravolo, que é presidente da Libre e também faz parte do grupo de trabalho do PMLLLB, a Silvia Abolafio, da Editora Galpão, que estava lançando seu novo livro infantil, “Medo? Quem tem medo?”, o Paulo Farah, a Susana Ventura, e outras pessoas que já tinha encontrado pela cidade e também estavam nessa festa.

Na casa da libre também assisti a leitura do livro “Meu pé de laranja-lima”, de José Mauro de Vasconcelos, na voz de Rafael Cortez. Já falei do Rafael aqui no blog, quando fui ao lançamento de um audiolivro de Machado de Assis, gravado por ele. O Rafael também gravou o “Meu pé de laranja-lima” em audiolivro, a Sandra me deu um exemplar, peguei autógrafo do Rafael, vou ouvir e depois vou contar aqui no blog.

Outra casa que visitei bastante foi a casa da Folha, mas sempre que tinha evento, ficava muito cheia. Um dia cheguei mais cedo e consegui assistir a mesa com o Ruy Castro, ele falou das biografias que escreveu e contou uma história bem bonita.

Disse que naquela manhã acordou com barulho de máquina de escrever, tec tec tec, ficou intrigado, quem escreveria à máquina, ainda, nesses tempos de computador. Saiu pela pousada à procura do datilógrafo, encontrou uma moça, que lhe esclareceu o mistério. Eram passarinhos que quando cantam emitem som de máquina de escrever. Daí ele concluiu: em Paraty, na Flip, até os passarinhos escrevem.

Último dia

No domingo à tarde, antes de retornar para São Paulo, saí um pouco da Flip e fui dar uma volta pela cidade.

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Memórias compartilhadas

Na semana passada liguei para o pessoal da Sintaxe:

– E aí, beleza?

– Beleza! E você, Heitor, como está?

– Eu estou bem, também. Então, já saiu aquele artigo que você escreveu sobre o Manuel Antônio de Almeida?

– Sim, foi publicado neste mês na revista da ANL.

– Legal! Manda o texto pra mim, queria publicar no blog… Posso?

– O blog é um espaço seu, Heitor, não tem sentido você publicar texto de outra pessoa.

– Mas você não é “outra pessoa”, qualquer. E depois, seria legal ter dois olhares sobre um mesmo livro. Isso não é compartilhar leitura?

– Você tem razão, acho que vai ser legal, sim. Vou mandar!

Escrevi um post (http://blogdoleheitor.sintaxe.com.br/?p=4919) outro dia sobre o livro Memórias de um sargento de milícias, foi o pessoal da Sintaxe que me indicou esse “clássico da literatura brasileira” e, naquele post, contei como isso aconteceu. Hoje vou abrir uma exceção, não vou postar texto meu, vou reproduzir o artigo que o meu amigo da Sintaxe escreveu sobre o autor desse livro, o Manuel Antônio de Almeida, publicado na revista da Associação Nacional de Livrarias, a ANL.

MEMÓRIAS COM MANUEL ANTÔNIO DE ALMEIDA

João Luiz Marques | Revista ANL | O escritor e sua obra | Julho de 2014

Outro dia vi uma lista curiosa na internet (www.revistabula.com): “30 livros de autores brasileiros para morrer antes de ler”. Notem que essa lista é de livros que não devem ser lidos! Estranhei… Meu saudoso Memórias de um sargento de milícias, de Manuel Antônio de Almeida, que tanta alegria me deu no colegial, fazia parte dessa lista. Que injustiça!

Nos tempos do meu ensino médio só líamos os clássicos, literatura contemporânea não fazia parte do currículo. Era difícil para um jovem romper a barreira do tempo e gostar dos livros que os professores mandavam a gente ler. Manuel Antônio de Almeida me abriu essas portas, com ele descobri que havia alegria na literatura e passei a ter prazer com a leitura literária.

Manuel Antônio de Almeida (1830-1861) formou-se em Medicina em 1855, mas nunca exerceu a profissão, e durante a faculdade, com dificuldades financeiras, foi trabalhar como jornalista. Escreveu para o teatro, fez poesia, além de publicar sua tese de doutoramento em Medicina e um libreto de ópera, mas sua única e mais famosa obra, que ficou para história da literatura brasileira, é o romance Memórias de um sargento de milícias.

Foi publicado, inicialmente, como folhetim, na seção “Pacotilha” do jornal Correio Mercantil, entre 27 de julho de 1852 e 31 de julho de 1853, começou num período de campanha eleitoral. Havia dois partidos, o dos conservadores, que estavam no poder, e dos liberais, na oposição; o Correio Mercantil apoiava os liberais. Apesar de não haver nenhum conteúdo diretamente partidário, havia críticas disfarçadas ao governo conservador. Manuel Antônio de Almeida dizia que “nossa literatura é filha da política”. Além dessa característica, a obra também ajudou a fixar uma imagem descontraída e insinuante da sociedade brasileira.

Depois desses folhetins do jornal, Memórias de um sargento de milícias saiu em livro, dois pequenos volumes, um no final de 1854 e o outro no começo de 1855. No jornal, não era apresentada nenhuma autoria, nesses dois volumes a autoria era de “Um brasileiro”, e o livro somente foi atribuído a Manuel Antônio de Almeida numa edição de 1863, publicada após sua morte, por iniciativa de Quintino Bocaiúva. Para não ficar só com a lembrança da minha leitura dos tempos de escola, fui reler o livro. Peguei uma edição da Ateliê Editorial, com apresentação e notas de Mamede Mustafa Jarouche, que tratou dessa obra em sua tese de doutoramento.

Como todos devem saber, a história se passa no Rio de Janeiro e enfoca o tempo em que D. João VI permaneceu no Brasil (1808 a 1821). Narradas em terceira pessoa, as memórias são de Leonardo, o personagem central, que ainda criança já tinha “maus bofes”, e não haveria de “ter bom fim”. Contrariando as tendências em reescrever e atualizar os clássicos da literatura, essa edição da Ateliê foi baseada na primeira, de 1854-1855, e traz notas, explicando os termos pouco usuais hoje em dia, que aparecem nessa narrativa de Manuel Antônio de Almeida.

A carreira de sucesso dessa obra não ficou só naquele tempo, entrou para a história, e no século XX foi parar em outras linguagens: em composição de Paulinho da Viola Memórias de um sargento de milícias virou samba-enredo da Portela do Carnaval de 1966, depois, em 1971, essa música foi gravada em disco por Martinho da Vila. Esse
 LP do cantor recebeu o nome do
 livro: Memórias de um sargento de milícias.

João Luiz Marques é jornalista, trabalha em assessoria de imprensa com editoras de livros e neste ano vai lançar o seu primeiro livro, um romance juvenil, pela Editora Biruta.

MINHA SEGUNDA FLIP

Nesta semana vou pra Flip, a Festa Literária Internacional de Paraty, com os meus pais. Será a minha segunda Flip, contei da primeira aqui. Desta vez só vamos assistir a uma mesa na Tenda dos Autores, meus pais não conseguiram comprar mais ingressos, estava quase tudo esgotado.

Ainda não sei direito o que vou ver, preciso estudar melhor toda a programação, já dei uma olhada, tem um monte de “eventos paralelos” legais, e também tem a Flipinha, das crianças, e a Flipzona, dos jovens. Estou bem animado, quero ver muita coisa, aproveitar bastante, conversar e conhecer novos escritores e ilustradores e, na volta, contar tudo aqui no blog.

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João Ubaldo Ribeiro

O escritor João Ubaldo Ribeiro morreu na sexta-feira passada, já tinha lido um livro dele e contei no post “Li um imortal”, ele fazia parte da Academia Brasileira de Letras. Também vi o João Ubaldo, pessoalmente, quando fui à Flip, não consegui assistir à mesa em que ele participou, mas o vi de bem pertinho, andando pelas ruas de Paraty.

Fiquei triste, a morte é uma coisa bastante chata, muito triste pra quem fica e bem estranha pra quem vai, meu primo tem uma opinião curiosa sobre a morte, sobre a própria morte, até anotei pra não esquecer: “num instante a gente é, no seguinte, deixa de ser”, meu primo é ateu. Às vezes penso muito nessas coisas, ano passado perdi meu tio, gostava muito dele, fiquei mal, até faltei uns dias na escola, meus pais conversaram comigo, ajuda, mas não adianta muito, a morte é uma perda para sempre, e leva um tempo pra passar essa dor.

Li tudo que saiu no jornal

Neste final de semana, li no jornal tudo que escreveram sobre o João Ubaldo, e também li mais dois livros dele. Foi minha forma de fazer uma homenagem particular a um escritor que parecia feliz em viver e escrever, vi algumas de suas entrevistas na TV, ele contava histórias e ria, uma risada tão gostosa, que eu acabava rindo também, às vezes, nem tanto pela história contada, mas, principalmente, por sua voz, pelo jeito que falava e pela cara engraçada que fazia.

Li muita coisa sobre sua vida e suas obras-primas, o Viva o povo brasileiro, que vai sair uma edição especial agora, em novembro, comemorando os 30 anos da obra, o livro tem quase 700 páginas, ele quis escrever um livro grande, para responder ao pai, que não gostava de livros que não parassem em pé.

Os outros são o Sargento Getúlio, seu primeiro romance, de 1971, que ganhou o Jabuti e virou filme com o ator Lima Duarte; O sorriso do lagarto, de 1989, que virou série de TV, com Maitê Proença e Tony Ramos; o Casa dos budas ditosos, que foi para o teatro, com Fernanda Torres; entre outros. Ele deixou um livro inacabado, com histórias que se passam nos bares do Rio de Janeiro, cidade onde morava.

Muitos de seus livros foram escritos na Ilha de Itaparica, na Bahia, onde nasceu e passou a infância e a adolescência, depois se mudou para o Rio de Janeiro, se formou em Direito, fez Administração Pública, foi professor universitário, viveu um tempo nos Estados Unidos e na Alemanha, mas sempre voltava à sua cidade natal, para passar férias ou para escrever um romance. Por enquanto só li os infantojuvenis, quero crescer logo pra poder ler todos os livros do João Ubaldo.

Os livros que li

O livro do João Ubaldo Ribeiro que já tinha lido é o Vida e paixão de Pandonar, o cruel, que contei no post “Li um imortal”, e os que li nesse final de semana são Dez bons conselhos de meu pai e A vingança de Charles Tiburone. Peguei estes dois emprestados da biblioteca, fui no sábado de manhã passear na Anne Frank,  encontrei meu amigo, o coordenador Gustavo, e conversamos sobre o João Ubaldo e sobre o PMLLLB, o plano municipal do livro que falei no post anterior. Adoro passear na biblioteca do meu bairro, tem muitas histórias por lá e, em breve, vou contar algumas, em detalhes, aguardem! Agora vou falar desses dois livros do João Ubaldo.

O livro Dez bons conselhos de meu pai, escrito por João Ubaldo Ribeiro, com lindas ilustrações de Bruna Assis Brasil, e publicado pela Editora Objetiva conta, em seu texto de orelha, que o autor cresceu numa casa cheia de livros, a biblioteca de seu pai ocupava todos os cômodos, e tinha de tudo, romance, filosofia, poesia, política, esoterismo. Sem que ninguém mandasse, o menino João Ubaldo vivia mergulhado em histórias, e seu pai era rigoroso, fazia o menino decorar versos, e quando não conhecia alguma palavra, tinha que correr ao dicionário.

Foi o pai que ensinou o menino a amar os livros, a gostar de estudar e aprender sempre mais, ele também lhe dava conselhos, que o João Ubaldo apresenta nesse livro. O autor explica no texto de apresentação, que os conselhos de seu pai não eram de forma sistematizada, como estão no livro, “mas deu todos, inclusive mostrando como era que se fazia”. Dos conselhos de Manuel Ribeiro – esse era o nome do pai de João Ubaldo -, o que mais gostei foi o oitavo: ‘Não seja intolerante’. “Alegre-se com a diversidade humana. Procure honestamente entender os outros. Só não seja tolerante com os inimigos conscientes e comprometidos com o seu fim.”

A edição que li do livro A vingança de Charles Tiburone, escrito por João Ubaldo Ribeiro e ilustrado com os desenhos de Gerson Conforto foi publicada pela Editora Nova Fronteira, a Editora Objetiva já está preparando uma nova edição desse livro.

Quando estava na Ilha de Itaparica, João Ubaldo gostava de passear com os filhos, sobrinhos e seus amiguinhos e ficar na beira da praia, contando histórias. A aventura desse livro pode ter sido inventada num desses passeios.

As crianças Juva, Bolota, Mino, Tonhão, Neca e Quica são agentes do Centro de Contra-Espionagem Danger People e possuem identidades secretas. “Como em toda turma que se preza, surgem implicâncias, chantagens, brigas, mas quando aparece uma missão secretíssima, prevalece a regra de ‘todos por um, um por todos’”.

São muito engraçadas as brigas e confusões dessa turma, têm a cara do João Ubaldo, mesmo. Imagino ele contando essas histórias para as crianças, na beira da praia, devia ser bem divertido. A aventura vivida por essa turma, segue caminhos “fantásticos”, com batalhas no fundo do mar, no final o autor revela o segredo que torna a história mais fantástica ainda.

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As minhocas e o plano do livro

Hoje vou falar de um livro que ganhei da própria escritora, um livro que fala de minhocas, não essas que vivem debaixo da terra, mas aquelas que criamos nas nossas cabeças. Já li o livro, adorei e descobri que também crio algumas, atrás da minha testa. Também vou falar da minha nova luta política, a luta pela criação de um plano do livro, da leitura, da literatura e da biblioteca, na minha cidade. Nesses dias participei de algumas reuniões, fui a uma audiência pública, fiz muitas anotações e hoje vou contar tudo aqui no blog.

CONHECI MAIS UMA ESCRITORA

Outro dia fui a um lançamento com o pessoal da Sintaxe, vi um monte de gente famosa e importante, ganhei um livro autografado e conheci mais uma escritora. O lançamento era de um livro chamado Matrizes impressas do oral, de Jerusa Pires Ferreira, publicado pela Ateliê Editorial, eles trabalham pra essa editora e fizeram a divulgação desse livro. A Professora Jerusa, autora do livro, é casada com o Professor Boris Schnaiderman, que também foi ao lançamento. A Miriam, filha do Professor Boris, que conhece o pessoal da Sintaxe, foi quem me apresentou à Luana, sua filha escritora e autora do livro, não o do lançamento, o outro, que eu ganhei, li, adorei, e vou falar dele, e um pouco dela, também, da Luana.

Blogs e literatura

Conversei com a Luana, ela me disse que também é professora, dá aula no Colégio Equipe e fez um trabalho, em sala de aula, para aproximar a literatura de seus alunos. Ela me contou que usou as “novas tecnologias” para aproximar suas turmas das crônicas de Fernando Sabino, Clarice Lispector, Rachel de Queiroz, Carlos Drummond de Andrade e Rubem Braga. Ela fez esse trabalho com o 8º ano, os estudantes tinham que descobrir relações nos textos desses autores com os relatos encontrados nos blogs da internet. Depois, eles tiveram que construir os seus próprios blogs, “utilizando a crônica para relatar seus dramas cotidianos”.

Ela me disse que “com os blogs, a produção de textos fez mais sentido, saiu do eixo sala de aula e foi para o mundo público de fato, como expressão das ideias e da experiência de cada um. As crônicas ganharam um novo significado, não como um gênero congelado a ser aprendido na escola, mas como um gênero vivo”. Achei muito legal esse trabalho que ela fez com seus alunos, depois quero saber mais dele. Nessa hora, aproveitei e falei do meu blog, que já fiz trabalhos com alunos de três escolas, e contei pra ela dos nossos clubes de leitura.

O minhocário do Carlos Alberto

O livro Minhocas, escrito por Luana Chnaiderman de Almeida, ilustrado por Deco Farkas e publicado pela editora Cosac Naify conta a história de Carlos Alberto de Souza Vasconcellos. Carlos Alberto era um criador de minhocas profissional, criava diversos tipos de minhocas, e dependendo das características, lhe dava um nome. Havia a Retardoca, a Bolota, a Musculoca, a Ignoroca, a Fofococa, a Tinhoca, a Feioca, e muitas outras, e cada uma com sua função. O menino vivia alimentando essas suas minhocas, quando tinha um problema (ele tinha vários problemas), guardava em segredo e não percebia que cada vez que deixava de contar uma coisa que o chateasse, uma nova minhoca nascia na cabeça dele, e se a coisa voltasse a incomodar, a minhoca crescia, e se acontecesse de novo, a minhoca engordava, e uma outra vez, a minhoca inchava, “e se ele só lembrasse e ficasse incomodado com a memória da coisa ruim, a minhoca ficava obesa de tão gorda.”

Sempre que fazia aniversário, Carlos Alberto pedia um presente especial, neste ano seu pedido foi simples e bem diferente, e viveu uma grande aventura, junto com seu melhor amigo, o Léo. Será que no fim ele vai conseguir se livrar das minhocas?

Os desenhos de Deco Farkas nas ilustrações do livro são muito bonitos, o Deco é grafiteiro e esse é o seu primeiro trabalho como ilustrador de livro infanti. O João Gordo, da banda Ratos de Porão escreveu o texto da 4ª capa e disse que também já criou e alimentou algumas minhocas. A Luana, no autógrafo que fez pra mim, no livro, me perguntou se eu também tenho minhocas, e disse que eu podia ficar amigo do Carlos Alberto. Já sou amigo do Carlos Alberto, gostei muito dele, achei ele da hora! Agora, quanto às minhocas, tenho muitas, até já falei de algumas aqui, mas, me disseram, que este não é o “espaço adequado” pra isso. Será que estou engordando as minhas minhocas? Olha aí mais uma minhoca!

LUTAS POLÍTICAS

Quem me conhece ou acompanha o meu blog, sabe que eu participei da luta em defesa da biblioteca do meu bairro, a Anne Frank, a biblioteca que frequento e que o prefeito (não esse, o anterior) queria demolir e vender o terreno pra construir prédios de apartamentos. Depois aprendi que isso se chama “especulação imobilária”, ele queria vender todo o quarteirão! No terreno, além da biblioteca tem um teatro, duas escolas, duas unidades de saúde, uma creche e a APAE.

Derrotamos o prefeito e todos os “equipamentos públicos” continuam lá, atendendo a população e, ainda, no começo deste ano, o Condephaat tombou a biblioteca e o teatro. Essa foi minha primeira luta política de verdade, gostei tanto dela, que agora estou participando de outra, a luta pela criação do PMLLLB, o Plano Municipal do Livro, da Leitura, da Literatura e da Biblioteca na cidade de São Paulo. Meu pai que sempre me incentiva a “fazer política”, me disse outro dia: “Essa sua luta começou no nosso bairro, Heitor, e agora está ganhando a cidade… A luta continua, companheiro!” Adorei o comentário dele!

Grupo de Discussão (GD)

Como faz tempo que não falo do PMLLLB no blog, hoje vou fazer uma retrospectiva, algumas partes dessa história, já contei aqui, outras, ainda é novidade.

Participo do movimento pela criação do PMLLLB desde um evento que aconteceu na praça da biblioteca Monteiro Lobato, o “Quarteirão Literário”. Quem me convidou pra essa festa foi a minha amiga Luciana, coordenadora da Biblioteca Hans Christian Andersen.  Depois desse dia, comecei a frequentar as reuniões e a participar das atividades do GD – Grupo de Discussão do plano. Nessas reuniões fiz novos amigos e aprendi um monte de coisas sobre o livro e a leitura.

Descobri que já existe um Plano Nacional do Livro e da Leitura (PNLL) e que outras cidades do Brasil também estão construindo os seus. Aprendi que o Plano Nacional é referência para os planos municipais e tem quatro “eixos estratégicos”: o eixo da “democratização do acesso”, do “fomento à leitura e à formação de mediadores”, da “valorização institucional da leitura e incremento de seu valor simbólico”, e do “desenvolvimento da economia do livro”. Na discussão para a construção do plano da cidade de São Paulo, acrescentamos mais um eixo, o da “literatura”, agora temos cinco eixos estratégicos para construir o nosso PMLLLB.

Portaria cria o GT

O GD se reunia quase toda semana e, no final do ano passado, organizou um grande encontro, no Centro Cultural São Paulo. Esse encontro, que também teve a participação de representantes das secretarias de Cultura e Educação, além de entidades e pessoas preocupadas com a questão do livro e da leitura, decidiu que a prefeitura ia fazer uma “portaria” pra criar um Grupo de Trabalho (GT). E numa cerimônia que aconteceu em abril deste ano, com os secretários da Educação, César Callegari, e da Cultura, Juca Ferreira, o GT foi criado com a finalidade de elaborar o PMLLLB. Formado por representantes de muitas entidades ligadas ao livro e à leitura, o GT vai ouvir os diversos setores, das diversas regiões da cidade, pra fazer um diagnóstico e depois, junto com a sociedade, elaborar o PMLLLB da cidade de São Paulo.

Infelizmente, não faço parte do GT, não represento nenhuma entidade, mas, pedi aos meus amigos, se podia continuar participando das reuniões, mesmo que fosse como “café com leite”. Prometi que ia ficar bem quietinho, nem iam perceber minha presença. Eles deixaram! Não é legal? Vou poder acompanhar de perto a construção do Plano do Livro, da Leitura, da Literatura e da Biblioteca da minha cidade, um momento histórico! E prometo contar tudo aqui no blog!

A audiência pública

Nas primeiras reuniões do GT descobrimos que já tinha um Projeto de Lei (PL) para criar um plano do livro, “tramitando” na Câmara Municipal. Esse PL é do vereador Antonio Donato e até tinha uma audiência pública marcada (toda vez que a câmara encaminha um projeto importante, ela marca uma audiência pra discutir com a população). O pessoal do GT agendou uma reunião com o vereador pra falar do nosso trabalho de construção do PMLLLB e contar que já estamos discutindo esse projeto, há mais de um ano.

Eu não participei dessa reunião, mas eles me disseram que fomos muito bem recebidos, e que o vereador nos convidou a participar da audiência, também. Essa eu não podia perder! Fui à audiência pra discutir o plano do livro da minha cidade, minha segunda audiência pública, a outra foi pra discutir a venda do terreno da biblioteca do meu bairro.

O vereador Antonio Donato abriu a audiência pública e falou sobre o PL, disse que o projeto foi elaborado em 2010, mas ficou parado e só voltou a ser discutido neste ano. Já foi aprovado em primeira votação, ganhou um “substitutivo” e poderia virar lei, logo, mas ele disse que prefere esperar, pra discutir com a sociedade e com os movimentos organizados e enriquecer mais o projeto.

No final ele falou sobre “protagonismo”, e o que eu entendi é que se esse plano tem um dono, o dono é a cidade, a população de São Paulo. E ainda disse que quem vai tocar o trabalho daqui pra frente será o GT, todo processo será conduzido pelo Grupo de Trabalho, e ele vai acompanhar. É nóis!

O José Castilho, secretário-executivo do Plano Nacional do Livro e da Leitura (PNLL) também estava na audiência e disse que existe um movimento muito grande nas cidades e nos estados do Brasil, para a implantação de planos do livro e da leitura. Disse que o plano nacional só vai ter eficiência, quando os planos municipais e estaduais se “estabelecerem”.

O Castilho contou que as grandes cidades já estão se mobilizando, que São Paulo pode contribuir muito pra esse processo, e que o plano nacional foi elaborado em 2006 e é muito ambicioso: “Apenas 26% dos brasileiros alfabetizados são leitores plenos, número extremamente importante para ser quebrado”.

Além do Donato e do Castilho, também estavam à mesa, representantes das secretarias de Cultura e Educação, do sindicato da Educação Infantil, da OAB, dos Saraus, o professor Edmir Perrotti, e Paulo Farah, o nosso representante do Grupo de Trabalho. O Paulo fez um histórico do GT e disse que é muito importante “estabelecer um cronograma de trabalho conjunto com a câmara para assegurar as várias etapas necessárias de aprovação do PMLLLB”.

No final ele destacou a presença na audiência de mais de dez integrantes do GT, entre representantes de saraus, bibliotecários, professores, escritores, representantes de biblioteca comunitárias, representantes das secretarias que integram o GT e pessoas e entidades que atuam com bibliodiversidade (diversidade temática, de editoras, autores, etc.) “conceito essencial para o PMLLLB”.

As reuniões do GT

Já participei de umas quatro reuniões do GT, anotei quase tudo que foi falado e ainda recebi as atas por e-mail, nos próximos posts vou contando o andamento das reuniões e do “processo” de construção do nosso PMLLLB, mas já posso ir adiantando alguma coisa.

Organizamos o grupo de trabalho – são dois representantes por entidade, e aprovamos o Regimento Interno. Estamos planejando a mobilização por setores, segmentos e regiões, vamos ouvir a população da cidade para construir o PMLLLB. Discutimos a “questão orçamentária” e definimos a estrutura de trabalho.

Estamos elaborando a metodologia para as audiências regionais e definindo as regiões da cidade, com informações das secretarias de educação e cultura. Formulando questionários para levantar o diagnóstico, escrevendo os roteiros, e definindo a agenda dos fóruns e dos debates regionias. Também estamos construindo um site e criando um slogan. Sempre considerando a questão da acessibilidade às pessoas portadoras de deficiência. Temos muito trabalho pela frente, no próximo post, conto mais.

A MINHOCA DE ÚLTIMA HORA

Achei que o post de hoje ficou grande e que ninguém ia ler. Antes de publicar, mostrei pro meu amigo Lipe, que disse:

– O livro Minhocas é bem legal, o PMLLLB é muito importante e ainda você fez uma restrospectiva, não dava pra ser pequeno, eu li e gostei!

Ainda bem que meu amigo tirou essa minhoca da minha cabeça, em tempo.

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Participei de mediação de leitura

Aquela visita que fiz ao pessoal da Sintaxe, e que rendeu o post anterior, também vai render o post de hoje. Naquele dia eles me contaram, também, que faziam um curso:

– Heitor, estamos fazendo um curso de mediação de leitura numa biblioteca da prefeitura e acho que vai ser útil para o seu blog.

– Como, assim?

– Você já não fez posts e transformou seu blog em clubes de leitura?

– Fiz vários posts com clubes de leitura, com três escolas, uma de São Paulo, outra de Belo Horizonte e outra de São José dos Campos. Vocês sabem disso, no começo, me ajudaram, muito.

– Então… Agora estamos pensando em transformar seu blog em mediador de leitura. O que acha?

– Como é isso? Já ouvi falar de mediação de leitura, mas não sei direito o que é… Mas, se for pra agitar o blog, eu topo!

Tem tanta coisa pra eu aprender sobre livros, que acho que vou precisar daquela “vida inteira pela frente” que minha mãe sempre fala que tenho, quando estou com pressa de fazer as coisas.

Eles me explicaram o que é mediação de leitura, me deram “um curso intensivo” e me disseram que eu ia aprender na prática, e na marra. No final do curso, eles teriam que fazer uma medição, como conclusão, e me convocaram a participar dessa prova final. A mediação de leitura já estava marcada, ia ser na Biblioteca Anne Frank, e com os alunos da EMEI Tide Setubal, escola que fica ao lado da biblioteca. Fiquei mais tranquilo, pelo menos estaria “em casa”, na biblioteca do meu bairro, e com o meu amigo Gustavo, o coordenador da Anne Frank.

Biblioteca Anne Frank

Tirando minhas dúvidas

No dia da mediação de leitura, cheguei meia hora antes da hora marcada e fiquei conversando com o Gustavo, contei pra ele que também ia participar da mediação, disse que estava ansioso e preocupado, achando que não ia dar certo, ele falou pra eu ficar tranquilo e que se tivesse qualquer dúvida, era só perguntar, “estamos aqui pra ajudar”. O Gustavo fez formação em mediação de leitura com A Cor da Letra, que é um Centro de Estudos em Leitura, Literatura e Juventude, e que “formou muitos multiplicadores na prefeitura, inclusive a Ângela, a Márcia, o Cleo, e a Sandra, que estão dando a formação na Biblioteca Viriato Corrêa para o seu amigo”. Aproveitei o tempo que tinha, antes que chegassem as crianças, a professora e o meu amigo, para tirar todas as dúvidas com o Gustavo.

31 crianças e quatro mediadores de leitura

Na hora combinada, chegaram o meu amigo da Sintaxe, a professora Bete, e os 31 alunos da EMEI Tide Setubal, e fomos pra sala de leitura. As crianças se sentaram no chão e a professora começou a conversar com eles, apresentou o meu amigo pra turma e disse que eu era o seu convidado. O Gustavo já é um velho amigo deles, essa escola sempre leva seus alunos na biblioteca Anne Frank. O meu amigo se apresentou, falou do curso de medição de leitura que estava fazendo, que essa seria sua prova final, e passou a palavra pra mim. Eu me apresentei, disse que tenho 12 anos (tenho o dobro da idade deles, eles têm 6), que escrevo um blog e que ia falar desse nosso encontro no meu blog, e depois passava o link pra eles. Feitas as apresentações começamos nossa mediação de leitura, com quatro mediadores e 31 crianças.

A professora organiza a nossa mediação

A professora Bete começou a nossa mediação, combinou com a gente e pediu aos alunos que escolhessem algum livro das estantes, folhassem, e depois trocassem com seus amigos. No final todos iriam escolher um único livro para ela ler pra toda turma.

A procura de seu mediador

Ficamos observando, todos escolheram um livro, alguns trocaram entre si, outros pegaram o livro escolhido, saíram da roda, e foram procurar um mediador, disposto a ler aquele livro, naquela hora, pra eles.

Foi mediação pra todo lado

Cauã, João Vitor, Artur, Luna, Pietro, Nicole, Bernardo, Lucas e Pedro foram alguns dos alunos que saíram da roda a procura de seu mediador, cada um, abraçado ao seu livro. Contando com Ninoca, Cabun, O Soluço do Lúcio, Nas Nuvens, Comilança, Um Amor de Botas, O Casal Perfeito, O Macacão Espantado, Pega Ladrão no Planeta Zog, Rodolfo e o Tesouro Perdido foram alguns dos livros que trouxeram pra gente ler.

Muitos não ficavam até o fim da história

Às vezes o livro escolhido não prendia a atenção da criança, ela saía, ia para outra roda, ou buscava outro livro na esperança de encontar uma história mais interessante. Alguns voltavam com revistas “Recreio” ou gibis do Maurício de Sousa.

Leitura de livro

Quando algumas crianças chegaram com revistas e me pediram pra ler, eu não soube o que fazer. Perguntei aos meus amigos, que fizeram o curso, se devia ler ou não. Eles disseram para eu sugerir a troca da revista por um livro, “nossa mediação é de leitura de livros”. E concluíram: Mas se não tiver jeito, leia a revista, mesmo.

Um livro bem legal

No final encontrei um livro bem legal pra fazer mediação, e foi por acaso. Quem me trouxe esse livro foi o Artur, se chama Ponto de Vista e foi escrito por Sonia Salerno Forjaz. Li esse livro para o Artur e só não cheguei até o final da história porque a aula terminou e eles tiveram que ir embora. O livro é escrito em rimas, rimas muito engraçadas. O Artur estava adorando, tanto, que no final, me disse:

– Quero ficar aqui com você e terminar de ouvir a história.

– Você tem que ir embora, eu volto outro dia e termino de contar essa história pra você. Combinado?

– Combinado! – ele me respondeu, animado.

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Memórias de um sargento de milícias

Outro dia fui visitar o pessoal da Sintaxe, eles estavam escrevendo um artigo para uma revista, gosto muito de ir lá, e sempre aprendo alguma coisa. Para quem não sabe, a Sintaxe é a assessoria de imprensa que criou e me deu de presente este blog, me apresentou a um monte de escritores, e hoje, são meus amigos. O artigo que escreviam era sobre o escritor Manuel Antônio de Almeida, para a revista da ANL, Associação Nacional de Livrarias. Ainda não conhecia esse escritor e eles me falaram um pouco dele, disseram que ele escreveu para o teatro, fez poesia, mas seu único romance é o Memórias de um sargento de milícias, sua grande obra.

"Pacotilha" com as Memórias

Eles me disseram, também, que esse romance foi publicado, inicialmente, como folhetim, que era tipo umas crônicas que saiam nos jornais de antigamente. As Memórias de um sargento de milícias saíram em forma de capítulos, entre os dias 27 de julho de 1852 e 31 de julho de 1853, no folhetim “Pacotilha”, do jornal do Rio de Janeiro, Correio Mercantil, nesses folhetins não apareceu o nome do autor. Depois, foi publicado em livro, em dois volumes, o primeiro, no final de 1854 e o segundo, no começo de 1855, nesses o autor aparece como “Um brasileiro”. Eles me contaram que a “autoria desse romance só foi atribuída a Manuel Antônio de Almeida, numa edição de 1863, publicada depois de sua morte”.

– Heitor, foi com este livro que aprendi a gostar de ler – meu amigo levantou e balançou um exemplar na minha frente – Nos meus tempos de escola a gente só lia os clássicos, com Memórias de um sargento de milícias descobri que havia alegria na literatura e na leitura dos clássicos.

Um Brasileiro

– Que legal!

– Você vai ter que ler esse livro quando chegar ao ensino médio, ele sempre está na lista do vestibular.

– Vou ter que esperar todo esse tempo… Queria ler agora!

– Tudo bem, eu te empresto… O texto deste é da primeira edição, tem muitas palavras que hoje nem se usam mais, mas tem notas no final do livro, explicando essas palavras. Vai te dar trabalho, mas acho que você vai gostar. O Leonardo, o personagem principal desta história, é uma figura!

As aventuras de um traquinas

A edição que li do livro Memórias de um sargento de milícias, de Manuel Antônio de Almeida, foi publicada pela Ateliê Editorial, tem apresentação e notas de Mamede Mustafa Jarouche, especialista no autor e na obra; ilustrações de Marcelo Cipis e imagens de edições da época. O pessoal da Sintaxe tinha razão, deu bastante trabalho ler esse livro, mas foi muito bom, adorei! Além de a história ser bem divertida – o Leonardo é uma figura, mesmo! – aprendi um monte de palavras diferentes. Toda hora eu tinha que consultar as notas, ao final do livro, para entender as palavras que eu não conhecia, li o livro com dois marcadores de página.

Assim era Leonardo, personagem central da história (seu pai também se chamava Leonardo, o Pataca):

“Logo que pôde andar e falar tornou-se um flagelo; quebrava e rasgava tudo que lhe vinha à mão. Tinha uma paixão decidida pelo chapéu armado do Leonardo; se este o deixava por esquecimento em algum lugar ao seu alcance, tomava-o imediatamente, espanava com ele todos os móveis, punha-lhe dentro tudo que encontrava, esfregava-o em uma parede, e acabava por varrer com ele a casa; até que Maria, exasperada, pelo que aquilo lhe havia custar aos ouvidos, e talvez às costas, arrancava-lhe das mãos a vítima infeliz. Era, além de traquinas, guloso; quando não traquinava comia. A Maria não lhe perdoava, trazia-lhe bem maltratada uma região do corpo; porém ele não se emendava, que era também teimoso, e as travessuras recomeçavam mal acabava a dor das palmadas.”

Leonardo, o pai, e Maria, a mãe, se separaram, e o menino Leonardo foi viver com o padrinho, o dono da barbearia.

M. A. D'Almeida

Cresceu e continuou a aprontar, deu muito trabalho ao Major Vidigal, responsável por manter a lei e a ordem na cidade. Namorou duas moças, Vidinha e Luisinha. Perdeu Luisinha para José Manuel, que logo depois morreu, e Leonardo acabou se casando com a viúva, sua antiga namorada.

Do primeiro namoro de Leonardo e Luisinha tem um capítulo que eu gostei muito e se chama “Declaração”. Ele declara seu amor a ela, não foi fácil fazer isso, e o capítulo conta todos os detalhes dessa luta. Sim, foi uma luta, como está no final do capítulo: “Quando ela desapareceu, soltou o rapaz um suspiro de desabafo e assentou-se, pois se achava tão fatigado como se tivesse acabado de lutar braço a braço com um gigante.”

Manuel Antônio de Almeida nasceu no Rio de Janeiro em 1830 e morreu em 1861, filho de portugueses, enquanto fazia faculdade de Medicina, com dificuldades financeiras, foi trabalhar como jornalista e escritor. Formou-se em Medicina em 1855, mas nunca exerceu a profissão. Escreveu a peça de teatro “Dois Amores”, fez poesia e, além de Memórias de um sargento de milícias, publicou a tese de doutoramento em Medicina e um libreto de ópera. Foi Administrador da Tipografia Nacional, onde conheceu Machado de Assis, que trabalhava como aprendiz de tipógrafo.

Também foi 2º Oficial da Secretaria da Fazenda, e em 1861, quando se preparava para entrar em campanha como candidato à Assembléia Provincial do Rio de Janeiro, morreu no naufrágio do navio Hermes, próximo a Macaé (RJ). Não se interessava pelo sucesso nem pela moda literária, escreveu seu romance sem compromissos e apresentou, em tom direto, bem humorado e com tendências realistas, a sociedade de então, principalmente a gente simples que povoava o Rio de Janeiro. Memórias de um sargento de milícias fez sucesso pelo humor imparcial e amoral, o estilo coloquial e, principalmente, por seu grande talento como narrador. (Fonte: Página 3 Pedagogia & Comunicação)

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David Almond no clube de leitura

De todas as coisas que faço com este blog uma das que mais gosto é o clube de leitura. Fora os livros que leio pra escola é difícil encontrar e conversar com alguém que tenha lido o mesmo que eu, no clube de leitura eu encontro muitos, pois nele fazemos o caminho inverso, primeiro formamos um grupo, depois escolhemos o livro, lemos e no final compartilhamos nossas leituras.

Hoje vou começar a compartilhar aqui no blog a leitura que fiz do livro Meu pai é um homem-pássaro, vou escrever o post e esperar os comentários. Quem sugeriu esse livro foi a professora Luciana da Escola Municipal Luiz Gatti, de Belo Horizonte – é ela quem organiza o clube lá na escola. A professora e os seus alunos já leram e trabalharam com esse livro em sala de aula, na semana passada recebi um e-mail dela me avisando: “Já acabamos a leitura e a atividade… agora estamos só aguardando o post.” E eu respondi ao seu e-mail dizendo que publicaria hoje.

No ano passado fizemos dois encontros do clube de leitura da Luiz Gatti, um foi com o livro A professora encantadora, de Márcio Vassalo e outro com Os herdeiros do Lobo, de Nelson Cruz, neste até entrevistamos o autor. Foi muito bom, adorei! Está tudo publicado aqui no blog, inclusive os comentários dos alunos sobre os livros. Quem quiser ler depois esses posts é só procurar pela ferramenta de busca do blog.

Nossa roda de conversa

Já li o Meu pai é um homem-pássaro e conversei com o Lipe, que também leu. Sempre que tem clube de leitura, peço a ajuda do meu amigo:

– Você gostou do livro, Lipe?

– Gostei… No começo achei meio estranho, o pai pensava que podia voar…

– Eu também… E achei que ele estava ficando louco…

– Então… A filha nem queria deixar o pai sozinho em casa…

– Até a tia veio cuidar dele…

– Mas depois achei legal, a filha entrou na fantasia do pai e a história ficou da hora.

– Ouvi dizer que isso se chama realismo mágico… Na minha pesquisa, li que o David Almond é o Gabriel García Márquez da literatura juvenil.

– Quem? Esse que morreu na semana passada?

– Sim, esse mesmo! Um dia ainda vou ler um livro dele!

O pai voador

O livro Meu pai é um homem-pássaro, escrito por David Almond, ilustrado por Polly Dunbar e publicado pela Editora WMF Martins Fontes conta a história de Jackie, pai de Lizzie, que certo dia, durante o café-da-manhã, disse à filha que iria voar: “Vou entrar numa competição… a Grande Competição do Passáro Humano”. O primeiro a atravessar voando o rio Tyne ganharia mil libras, o pai ia se inscrever, dizia que ia ganhar e, finalmente, ficar famoso.

Lizzie não acreditou na história do pai, disse que ele podia até voar, mas não podia deixar de “tomar ar puro e de comer todo o seu almoço”. A filha via que seu pai não se cuidava, ele não fazia a barba, vivia de pijama e não comia mais, pelo menos comida de gente, pois, escondido, comia insetos feito os pássaros, queria emagrecer: “Você já viu pássaro gordo?” – perguntou à filha. Nesse dia a filha resolveu faltar à escola e ficar vigiando o pai.

David Almond diz que sempre soube que queria ser escritor, quando ainda era criança escrevia histórias e costurava seus próprios livros, seus tios enchiam uma sala de amigos para ouvir essas histórias, e ele conta que eles choravam de tanto rir.

A história do livro continua e entram em cena outros personagens: O senhor Poop, o gorducho que andava pelas ruas com um megafone, anunciando e fazendo as inscrições da competição – o pai de Lizzie, o senhor Jackie Corvo, fez a dele; o senhor Mint, o diretor da escola, que, preocupado, veio até a casa de Lizzie para “ficar a par do que estava acontecendo”; e a tia Doreen que achava um absurdo essa ideia de pássaro humano, dizia que a cidade estava enlouquecendo, e que as pessoas deviam se preocupar em ser pessoas, e manter os pés em terra firme.

No começo Lizzie concordava com a tia, mas aos poucos foi mudando, foi entrando na fantasia do pai, e também fez sua inscrição para a competição. Será que foi por amor ou ela acreditou, mesmo, que eles podiam voar? E a história segue, com os preparativos e a chegada do grande dia. Será que eles voaram? Eu não vou contar, só quem ler o livro vai saber.

Adorei as ilustrações desse livro, os desenhos da Polly Dunbar são muito bonitos e divertidos, ela contou que foi muito gostoso ilustrar Meu pai é um homem-pássaro, disse que ficou “engraçado, colorido, e ao mesmo tempo comovente”. Também gostei de saber que o David Almond adorava a biblioteca do seu bairro – eu também adoro a minha -, e ele ainda contou que sonhava um dia ter livros com seu nome na capa… Conseguiu e ainda ganhou o Hans Christian Andersen, o mais importante prêmio mundial da literatura infantil!

David Almond mora em Northumberland, na Inglaterra e é um dos escritores britânicos mais importantes de literatura infantojuvenil. Foi criado numa família grande e animada, numa cidade de minas de carvão às margens do rio Tyne, onde muitas histórias se tornaram partes de sua vida. Além de O meu pai é um homem-pássaro, publicado no Brasil, escreveu outros livros infantojuvenis traduzidos para o português e publicados em Portugal como, O meu nome é Mina, Um cantinho no paraíso, O grande jogo, e o seu primeiro livro, O segredo do senhor ninguém, que logo fez muito sucesso de público e crítica e ganhou os prêmios “Carnegie Medal” e o “Whitbread Children’s Book Award”. Escreveu outros livros de sucesso como Skellig, The fire-eaterse, e muitas histórias e peças teatrais. Também ganhou os prêmios “Smarties Prize”, “Eleanor Farjeon” e o “Hans Christian Andersen”.

Polly Dunbar estudou na Brighton Art School e mora em Brighton, na Inglaterra. Autora e ilustradora dos livros Dog blue, Flyaway Katie, Here´s a little poem e Penguin, ela acha que as cores são uma maneira maravilhosa de dar ânimo às pessoas. “Foi tão gostoso ilustrar Meu pai é um homem-pássaro! É engraçado, colorido, e ao mesmo tempo comovente.” Sempre que está triste, veste seu melhor vestido cor-de-rosa e pinta. E, quando não está desenhando, adora fazer marionetes.

Extra… Extra! Fotos das turmas da Escola Municipal Luiz Gatti no clube de leitura

Lendo o livro no pátio da escola

Lendo o blog na sala de informática

Outra turma na sala de informática lendo o blog

E depois, ainda, escreveram seus comentários aqui!


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Encontro com Luiz Ruffato e novos amigos

No post passado falei que queria fazer treze anos, logo, pra poder ler livros mais maneiros, não fiz treze anos, ainda, mas nesses dias li um livro bem maneiro do escritor Luiz Ruffato, o livro se chama Estive em Lisboa e lembrei de você. Li esse livro por (quase) sugestão da minha amiga Bel, já falei dela aqui no blog, ela faz parte do LiteraSampa, uma ONG que trabalha com incentivo a leitura, que tem uma biblioteca comunitária no bairro de Parelheiros, aqui na cidade de São Paulo.

Eles também fazem um clube de leitura e neste mês leram esse livro, não pude ir no dia que eles conversaram sobre o livro mas, na semana passada, a editora do livro, a Companhia das Letras, promoveu um encontro do autor com os meninos e meninas que frequentam essa biblioteca, a Bel me convidou e eu fui. Nesse dia conheci o Luiz Ruffato, fiz novos amigos, passei uma tarde da hora e hoje vou contar tudo, primeiro vou contar o encontro e no final vou falar do livro.

O escritor do discurso de Frankfurt

Quando a Bel me contou do encontro com o Luiz Ruffato, eu logo fiquei a fim de ir, perguntei a ela quando seria e anotei na minha agenda, no ano passado ele fez um discurso na abertura da Feira de Frankfurt e deu a maior polêmica. Nunca tinha lido nada desse escritor, que eu saiba, ele não escreve literatura juvenil, mas mesmo assim perguntei a Bel que livro ela sugeria para eu ler dele. Foi quando ela me contou do clube de leitura e que os meninos estavam lendo o Estive em Lisboa e lembrei de você, mas que eu não precisa ler pra participar desse encontro com o autor.

Acho que ela pensou que eu era muito pequeno para ler esse livro, mesmo assim fui atrás dele: Como eu ia participar de um encontro sem ter lido nada do escritor? Encontrei o livro e mostrei para o meu pai, ele já conhecia, disse que eu podia ler, sim, e que se tivesse alguma dúvida era só perguntar pra ele. Encarei o livro, li e adorei, o Luiz Ruffato escreve de um jeito legal e bem diferente, mas como disse, ainda não vou falar do livro, primeiro vou contar o encontro.

O caminho da biblioteca

“Heitor, você pega um ônibus para o Terminal Santo Amaro, lá você pega o Terminal Parelheiros e desce no final – a viagem é um pouquinho longa. Dentro do Terminal Parelheiros, na segunda plataforma, você vai pegar o ônibus Barragem, aí pede para o motorista ou cobrador te deixar no ponto da igreja católica do bairro Colônia. Descendo nesse ponto, você procura o cemitério mais próximo, que fica ao lado da igreja, suba a rua do cemitério, a biblioteca fica ao lado, Rua Sachio Nakao, 28, Colônia, Parelheiros, São Paulo, SP”. Com esse e-mail o Du, meu novo amigo de Parelheiros, me orientou a chegar à Biblioteca Caminhos da Leitura, que fica no terreno do cemitério.

O caminho do ônibus é bem bonito, passa pela avenida da represa – parece que a gente está na praia – e por lugares cheios de ávores e com poucas casas – parece que a gente está no inteiror -, mas estamos na cidade de São Paulo – esta cidade é muito grande! Cheguei na hora marcada, encontrei a Val e o Rafael, que eu já conhecia dos eventos do PMLL, conheci o Kevin, que não ficou para o evento, e fiz novos amigos, o Du (do e-mail), o Rodrigo, o Bruninho, a Sidinéia e a Tamiris, todos frequentam e cuidam dessa biblioteca comunitária.

Não demorou muito chegaram a Bel, o Luiz Ruffato e a Janine, a moça que trabalha na editora e organiza os clubes de leitura. Conversei um pouco com eles e aproveitei para confirmar com a Bel nosso próximo compromisso do PMLL. No dia 10 de abril, finalmente, os secretários vão assinar a portaria que cria o grupo de trabalho – já falei disso aqui, é minha nova luta política, depois do dia 10 conto mais novidades. Mas deixa eu voltar para o assunto de hoje, estou rodeando muito – por falar em “rodear”, o Luiz Ruffato contou uma história bem engraçada sobre isso, que já já eu conto.

O menino que se escondia na biblioteca

O quintal da biblioteca

Vieram outras pessoas, o evento tinha bastante gente, sentamos todos, a Bel fez a apresentação, passou a palavra para a Janine, que abriu o encontro com uma pergunta para o Luiz Ruffato: Como foi seu caminho para virar escritor? Antes de começar a responder, ele ficou muito emocionado e quase chorou, acho que o amor dos meninos e meninas de Parelheiros pelo livro e o cuidado que eles têm com a biblioteca o fez lembrar de sua infância pobre em Cataguases, Minas Gerais. Ele contou que ainda criança ajudou seu pai, pipoqueiro – sua mãe era lavadeira -, trabalhou num botequim, num armarinho, depois entrou numa importante escola pública da sua cidade. Lá se sentia discriminado por ser pobre, até descobrir um lugar para se esconder, a biblioteca.

A bibliotecária lhe emprestava livros pra levar pra casa, mas seu pai não deixava que ele ficasse muito tempo com “coisas dos outros”: – “Leia logo e devolve para ela!” Nesse tempo “foi um inferno minha vida”. Ele tinha que ler o livro bem rápido pra levar de volta à biblioteca, mas com isso, calcula que nesse período, leu uns duzentos livros. No final, por uma injustiça, foi suspenso, saiu dessa escola e perdeu o acesso ao livro, mas já tinha sido “inoculado pelo veneno da leitura”, mas só voltou a ter contato com o livro na faculdade. Estudou jornalismo em Juiz de Fora e depois veio para São Paulo, mas nesse intervalo, muitas coisas aconteceram, que ele conta de um jeito bem gostoso de ouvir.

Fizemos algumas perguntas e ainda conversamos sobre seu discurso em Frankfurt e sobre o seu livro Estive em Lisboa e lembrei de você. Queríamos saber se o personagem se parece com o autor, e ele disse que não é tão ingênuo quanto o Serginho. No final os meninos e meninas deram um presente pra ele, poemas que escreveram, inspirados no livro, dentro de uma caixa feita com colagens, e o Luiz Ruffato quase chorou, de novo. A Janine também ganhou um presente.

Na volta peguei carona de carro com a Bel, viemos a Bel, eu, o Luiz Ruffato, a Janine e outra moça da editora. Fiquei sabendo de um monte de histórias desse mundo do livro, e o Luiz Ruffato ainda contou uma bem legal sobre o seu pai. Disse que para contar alguma coisa ele gostava de “rodear” – sua mãe o criticava muito por isso. O cachorro da vizinha morreu, esta era a notícia. Pra dizer isso ele contava a história de toda a família da vizinha, seus pais, seus irmãos, casamentos, separações, mudanças, etc., até chegar ao final, a morte do cachorro. Para contar a história do pai que rodeava, o Luiz Ruffato também rodeou, inventou na hora e contou uma história interinha, cheia de sotaque mineiro. Adorei, foi boa demais da conta!

Um mineiro em Lisboa

O livro Estive em Lisboa e lembrei de você, escrito por Luiz Ruffato e publicado pela Companhia das Letras faz parte da coleção “Amores Expressos”. Uma produtora junto com a editora selecionou alguns escritores, eles fizeram uma viagem para alguma cidade ao redor do mundo e escreveram um romance, com uma história de amor. A produtora fez um documentário com o escritor nessa cidade, procurando a história, e a editora publicou os livros. Istambul, Cairo, Tóquio, Buenos Aires, Dublin, Havana, Praga foram algumas das cidades escolhidas. Luiz Ruffato queria uma cidade onde pudesse colocar, como personagem, um imigrante mineiro, poderia ser alguma cidade dos Estados Unidos, mas escolheu Lisboa. Serginho é o personagem principal desta história, dividida em dois capítulos, “Como parei de fumar” e “Como voltei a fumar”.

Serginho vivia em Cataguases, sua cidade natal e sua vida não estava nada boa, muita coisa ruim acontecia e ainda tentava parar de fumar, mais uma vez. Queria sair de lá, ir pra outro lugar, ganhar dinheiro e melhorar de vida, mas tinha medo, não conhecia nada. O Rio, de passagem, foi cinco vezes, “molhar o pé em Copacabana, subir no bondinho do Pão de Açucar, ver jogo do Flamengo no Maracanã”, São Paulo, pra sua irmã comprar roupa pra revender, e Juiz de Fora, “que não conta, pois é quintal de Cataguases”. Um dia ouviu falar que em Portugal poderia ganhar muito dinheiro e quem sabe, até encontrar um novo amor. Só de falar que queria ir “pro estrangeiro” o povo da cidade já ficou “puxando-saco” dele, “Serginho isso, Serginho aquilo, Doutor Serginho, só faltava deitarem no chão para eu pisar em cima”.

Para saber das coisas Serginho resolveu explorar a experiência do seu Oliveira, português, dono do Beira Bar, “que ultimamente, de dois em dois anos, viajava pra lá”, encostou no balcão, pediu uma cerveja, um pratinho de azeitona e perguntou: “Como é que um sujeito chega em Portugal?”, “De avião, ora pois”, “Como é um avião por dentro?”, “Apertado”, “De onde sai o avião?”, “Do Rio de Janeiro”, “Quanto tempo demora a ida?”, “Umas nove horas”, E a volta?, “Mesma coisa, ora pois”, e fez muitas outras perguntas. No final, Serginho foi pra Portugal, agora, se conseguiu ganhar dinheiro e encontrar seu verdeiro amor, só lendo o livro, mesmo, pra saber. Adorei esse livro do Luiz Ruffato, gostei muito do jeito que ele escreve e nem precisei fazer tantas perguntas, assim, para o meu pai. Ah, peguei um autógrafo do Luiz Ruffato, mais um para minha coleção de livros autografados.

Luiz Ruffato nasceu em Cataguases, Minas Gerais, em 1961. De acordo com ele mesmo, já foi “pipoqueiro, caixeiro de botequim, balconista de armarinho, operário têxtil, torneiro mecânico, jornalista, sócio de assessoria de imprensa, gerente de lanchonete, vendedor de livros autônomo e novamente jornalista”. Formado em Comunicação pela Universidade Federal de Juiz de Fora, publicou vários livros, entre os quais a série de cinco livros Inferno provisório e o aclamado Eles eram muitos cavalos, traduzido para o francês, o italiano e o espanhol e ganhador dos prêmios APCA, da Associação Paulista dos Críticos de Arte, e Machado de Assis, da Biblioteca Nacional.

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Juvenil de Mirisola e luta política

No post de hoje vou continuar com um assunto que falei no anterior, ser atraído pelos títulos dos livros. Outro dia saí com o pessoal da Sintaxe, eles foram comprar alguns livros e na lista tinha um título do escritor Marcelo Mirisola, Charque. O moço da livraria foi até a estante, voltou com outro livro do mesmo autor e disse: “Por que vocês não levam este, também, e dão de presente ao menino?” – o menino no caso era eu. “É um infantil do Mirisola?!” – eles perguntaram, surpresos. O livro tem jeito e formato de livro pra criança, mas é juvenil, se chama Teco, o garoto que não fazia aniversário, foi escrito por Marcelo Mirisola e Furio Lonza, e ilustrado por André Berger.

De cara fiquei interessado pelo livro, achei que o título tinha tudo a ver comigo. Também não faço aniversário, nasci no dia 20 de novembro, mas desde que comecei a fazer este blog só fiz aniversário uma vez, tinha onze e agora tenho doze. Neste ano estou pensando em fazer aniversário, novamente, com treze vou poder ler livros mais maneiros. Mas voltando ao assunto, ganhei o livro de presente, li e me surpreendi, o livro não era nada do que estava imaginando. Adorei! Nunca tinha lido um livro juvenil como esse e hoje vou falar um pouco dele.

Mas antes quero contar mais um capítulo da história da minha primeira luta política, a luta em defesa da biblioteca do meu bairro, pois na semana passada fui assistir a uma reunião no Condephaat.

Mais uma vitória da nossa luta

Tivemos mais uma vitória na luta em defesa da biblioteca e do quarteirão do nosso bairro, mas a luta continua… Queremos mais! Todos que acompanham meu blog ou viram, na época, essas notícias nos jornais, devem saber do que estou falando. Esse quarteirão fica no bairro do Itaim Bibi e nele tem uma biblioteca, um teatro, duas escolas, dois serviços de saúde e a APAE. O prefeito queria derrubar tudo – não esse que está aí, o outro – e entregar para uma empreiteira construir apartamentos de luxo. Já aprendi, isso se chama especulação imobilária, um dos grandes males que está acabando com a história e a memória de muitas cidades no Brasil.

Durante nossa luta aprendi muitas outras coisas, fiquei sabendo que esse formato, diversos serviços públicos no mesmo espaço é um projeto de Anísio Teixeira, um dos mais importantes educadores brasileiros; que a biblioteca que atualmente se chama Anne Frank, foi fundada em 1946 e está nesse terreno por sugestão de Monteiro Lobato; que esse quarteirão conta a história de como a cidade foi ocupada, e que já não existem muitos desses em São Paulo. Por tudo isso e muito mais, entramos com pedido de tombamento junto ao Condephaat.

Companheiros de luta nos corredores do Condephaat, não estou aí, na foto, pois fui eu que bati

Em janeiro deste ano eles deram a resposta, tombaram só a biblioteca e o teatro, os outros serviços do quarteirão ainda poderiam ser derrubados por algum prefeito amigo da especulação.  Então fizemos uma “contestação”, entramos com “recurso” contra a decisão do Condephaat, e a nova resposta saiu na reunião da semana passada, o conselho votou e nós assistimos à votação. A Áurea, advogada do nosso movimento, me explicou que, além do tombamento da biblioteca e do teatro, agora eles decidiram “delimitar toda a quadra como área envoltória dos dois bens tombados”.

Acho que foi uma vitória, mas ela disse que isso não garante nada, ainda: “Como não foram divulgados os parâmetros construtivos da área envoltória, corremos o risco de não conseguir preservar todos os equipamentos.” Mas ela disse que já protocolou um “pedido de vista do processo” para esclarecer essas questões. Essas coisas de advogados são complicadas, não entendo muito bem, mas assim que tiver mais notícias, conto aqui.

Estou feliz, já vencemos muitas batalhas e a luta continua. O meu amigo Luiz Gabriel, companheiro do movimento, me disse que esse foi mais um capítulo da nossa luta: “Você que gosta de contar histórias, Heitor, deve entender muito bem dessas coisas de capítulos”. Disso, acho que entendo melhor.

As desventuras de Teco

Teco, o garoto que não fazia aniversário é o primeiro livro juvenil de Marcelo Mirisola, foi escrito em parceria com Furio Lonza, ilustrado por André Berger e publicado pela Editora Barcarolla. Li o livro e pesquisei sobre o Mirisola, dizem que ele faz um texto ‘escatológico’ e violento, e escracha a sociedade com uma linguagem cheia de humor, deboche e muita ironia. Achei irado, adorei esse Mirisola! A aventura desse livro começa numa segunda-feira, num dia bonito, Teco não gostava de festa de aniversário, odiava bolo, detestava brigadeiro, a única coisa que ele gostava um pouco dessas festas era a língua-de-sogra.

Teco se divertia, mesmo, com as palavras que mexiam com sua imaginação: avalanche, enxurrada e desabamento eram suas preferidas. Gostava de ficar trancado em armários, sempre que podia vestia as roupas da mãe, às vezes, se escondia no depósito de materiais de limpeza da escola, adorava cheiro de tinta fresca e de páginas emboloradas de livros antigos. Não gostava de Playcenter, nem montanha-russa, ficava na garagem do prédio ouvindo o barulho das tubulações e lambia azulejos, uma vez até pegou bicho geográfico na língua. Teco era um garoto muito esquisito!

Ilustração de André Berger

Na terça-feira Teco foi ao supermercado com sua mãe, enquanto ela fazia compras, “o garoto mergulhava de cabeça num livro de mistérios”, ia lendo, caminhando, esbarrando nas pessoas e derrubando as latas de leite das gôndolas. Teco também achava chato esse negócio de fazer compras, só queria terminar a história do livro pra saber quem era o assassino. De repente, tirou os olhos da leitura e viu um palhaço de verdade, nariz vermelho, sapatões sete léguas, cabelos espetados, suspensórios amarelos, calças cheias de bolinhas, mas era uma figura meio triste e parecia bêbado.

O palhaço se chamava Cachacinha, eles começaram a conversar, contaram suas vidas, do que mais gostavam e ficaram amigos, mas só até o dia seguinte. Na quarta-feira Chachacinha levou Teco ao centro da cidade, sequestrou o menino, se juntou ao parceiro Alambique e o levou ao cativeiro. Lá Teco ficou amigo do sagui Nico, fugiram, e levaram o boneco inflável do sagui, o Máicon Jackson. No caminho conheceram um grupo de garotos, Mané, Guinza e Nóia, que nasceram e cresceram na malandragem das ruas. Esse é só um pequeno resumo do começo da história, depois, toda turma vive uma aventura irada, um pouco violenta, mas contada no estilo Mirisola, “cheio de humor, deboche e com muita ironia”, como descobri na minha pesquisa. Eu adorei!

Marcelo Mirisola é considerado uma das grandes revelações da literatura brasileira dos anos 1990, conhecido pelo estilo inovador, agudo, escancara as contradições do status quo, sobretudo do universo dos intelectuais moderninhos e suas posturas demarcadas pelo que se convencionou politicamente correto. Escreveu contos e romances, além de Teco, o garoto que não fazia aniversário e Charque, Mirisola publicou, O herói devolvido, Joana a contragosto, Bangalô, O banquete (com o cartunista Caco Galhardo), Fátima fez os pés para mostrar na choperia, Proibidão, entre outros, e em maio vai lançar o romance, Hosana poluída.

Furio Lonza nasceu na Itália, veio para o Brasil com cinco anos de idade. Jornalista – chegou a ser repórter – já nos anos 1970 enveredou-se pela literatura. Inicialmente escrevendo contos – um deles premiado no concurso de contos eróticos da revista Status, em 1977 – domina todos os gêneros. Do conto à poesia passando pelo romance. Em 2011 escreveu o seu primeiro texto para o teatro, Patagônia, com montagem dirigida por Xando Graça, com Diana Hime e Joana Lerner, que fez temporada no Teatro Maria Clara Machado (Planetário), Rio de Janeiro.

André Berger é artista plástico e ilustrador, colaborou com diversas publicações independentes do Brasil.

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