As minhocas e o plano do livro

Hoje vou falar de um livro que ganhei da própria escritora, um livro que fala de minhocas, não essas que vivem debaixo da terra, mas aquelas que criamos nas nossas cabeças. Já li o livro, adorei e descobri que também crio algumas, atrás da minha testa. Também vou falar da minha nova luta política, a luta pela criação de um plano do livro, da leitura, da literatura e da biblioteca, na minha cidade. Nesses dias participei de algumas reuniões, fui a uma audiência pública, fiz muitas anotações e hoje vou contar tudo aqui no blog.

CONHECI MAIS UMA ESCRITORA

Outro dia fui a um lançamento com o pessoal da Sintaxe, vi um monte de gente famosa e importante, ganhei um livro autografado e conheci mais uma escritora. O lançamento era de um livro chamado Matrizes impressas do oral, de Jerusa Pires Ferreira, publicado pela Ateliê Editorial, eles trabalham pra essa editora e fizeram a divulgação desse livro. A Professora Jerusa, autora do livro, é casada com o Professor Boris Schnaiderman, que também foi ao lançamento. A Miriam, filha do Professor Boris, que conhece o pessoal da Sintaxe, foi quem me apresentou à Luana, sua filha escritora e autora do livro, não o do lançamento, o outro, que eu ganhei, li, adorei, e vou falar dele, e um pouco dela, também, da Luana.

Blogs e literatura

Conversei com a Luana, ela me disse que também é professora, dá aula no Colégio Equipe e fez um trabalho, em sala de aula, para aproximar a literatura de seus alunos. Ela me contou que usou as “novas tecnologias” para aproximar suas turmas das crônicas de Fernando Sabino, Clarice Lispector, Rachel de Queiroz, Carlos Drummond de Andrade e Rubem Braga. Ela fez esse trabalho com o 8º ano, os estudantes tinham que descobrir relações nos textos desses autores com os relatos encontrados nos blogs da internet. Depois, eles tiveram que construir os seus próprios blogs, “utilizando a crônica para relatar seus dramas cotidianos”.

Ela me disse que “com os blogs, a produção de textos fez mais sentido, saiu do eixo sala de aula e foi para o mundo público de fato, como expressão das ideias e da experiência de cada um. As crônicas ganharam um novo significado, não como um gênero congelado a ser aprendido na escola, mas como um gênero vivo”. Achei muito legal esse trabalho que ela fez com seus alunos, depois quero saber mais dele. Nessa hora, aproveitei e falei do meu blog, que já fiz trabalhos com alunos de três escolas, e contei pra ela dos nossos clubes de leitura.

O minhocário do Carlos Alberto

O livro Minhocas, escrito por Luana Chnaiderman de Almeida, ilustrado por Deco Farkas e publicado pela editora Cosac Naify conta a história de Carlos Alberto de Souza Vasconcellos. Carlos Alberto era um criador de minhocas profissional, criava diversos tipos de minhocas, e dependendo das características, lhe dava um nome. Havia a Retardoca, a Bolota, a Musculoca, a Ignoroca, a Fofococa, a Tinhoca, a Feioca, e muitas outras, e cada uma com sua função. O menino vivia alimentando essas suas minhocas, quando tinha um problema (ele tinha vários problemas), guardava em segredo e não percebia que cada vez que deixava de contar uma coisa que o chateasse, uma nova minhoca nascia na cabeça dele, e se a coisa voltasse a incomodar, a minhoca crescia, e se acontecesse de novo, a minhoca engordava, e uma outra vez, a minhoca inchava, “e se ele só lembrasse e ficasse incomodado com a memória da coisa ruim, a minhoca ficava obesa de tão gorda.”

Sempre que fazia aniversário, Carlos Alberto pedia um presente especial, neste ano seu pedido foi simples e bem diferente, e viveu uma grande aventura, junto com seu melhor amigo, o Léo. Será que no fim ele vai conseguir se livrar das minhocas?

Os desenhos de Deco Farkas nas ilustrações do livro são muito bonitos, o Deco é grafiteiro e esse é o seu primeiro trabalho como ilustrador de livro infanti. O João Gordo, da banda Ratos de Porão escreveu o texto da 4ª capa e disse que também já criou e alimentou algumas minhocas. A Luana, no autógrafo que fez pra mim, no livro, me perguntou se eu também tenho minhocas, e disse que eu podia ficar amigo do Carlos Alberto. Já sou amigo do Carlos Alberto, gostei muito dele, achei ele da hora! Agora, quanto às minhocas, tenho muitas, até já falei de algumas aqui, mas, me disseram, que este não é o “espaço adequado” pra isso. Será que estou engordando as minhas minhocas? Olha aí mais uma minhoca!

LUTAS POLÍTICAS

Quem me conhece ou acompanha o meu blog, sabe que eu participei da luta em defesa da biblioteca do meu bairro, a Anne Frank, a biblioteca que frequento e que o prefeito (não esse, o anterior) queria demolir e vender o terreno pra construir prédios de apartamentos. Depois aprendi que isso se chama “especulação imobilária”, ele queria vender todo o quarteirão! No terreno, além da biblioteca tem um teatro, duas escolas, duas unidades de saúde, uma creche e a APAE.

Derrotamos o prefeito e todos os “equipamentos públicos” continuam lá, atendendo a população e, ainda, no começo deste ano, o Condephaat tombou a biblioteca e o teatro. Essa foi minha primeira luta política de verdade, gostei tanto dela, que agora estou participando de outra, a luta pela criação do PMLLLB, o Plano Municipal do Livro, da Leitura, da Literatura e da Biblioteca na cidade de São Paulo. Meu pai que sempre me incentiva a “fazer política”, me disse outro dia: “Essa sua luta começou no nosso bairro, Heitor, e agora está ganhando a cidade… A luta continua, companheiro!” Adorei o comentário dele!

Grupo de Discussão (GD)

Como faz tempo que não falo do PMLLLB no blog, hoje vou fazer uma retrospectiva, algumas partes dessa história, já contei aqui, outras, ainda é novidade.

Participo do movimento pela criação do PMLLLB desde um evento que aconteceu na praça da biblioteca Monteiro Lobato, o “Quarteirão Literário”. Quem me convidou pra essa festa foi a minha amiga Luciana, coordenadora da Biblioteca Hans Christian Andersen.  Depois desse dia, comecei a frequentar as reuniões e a participar das atividades do GD – Grupo de Discussão do plano. Nessas reuniões fiz novos amigos e aprendi um monte de coisas sobre o livro e a leitura.

Descobri que já existe um Plano Nacional do Livro e da Leitura (PNLL) e que outras cidades do Brasil também estão construindo os seus. Aprendi que o Plano Nacional é referência para os planos municipais e tem quatro “eixos estratégicos”: o eixo da “democratização do acesso”, do “fomento à leitura e à formação de mediadores”, da “valorização institucional da leitura e incremento de seu valor simbólico”, e do “desenvolvimento da economia do livro”. Na discussão para a construção do plano da cidade de São Paulo, acrescentamos mais um eixo, o da “literatura”, agora temos cinco eixos estratégicos para construir o nosso PMLLLB.

Portaria cria o GT

O GD se reunia quase toda semana e, no final do ano passado, organizou um grande encontro, no Centro Cultural São Paulo. Esse encontro, que também teve a participação de representantes das secretarias de Cultura e Educação, além de entidades e pessoas preocupadas com a questão do livro e da leitura, decidiu que a prefeitura ia fazer uma “portaria” pra criar um Grupo de Trabalho (GT). E numa cerimônia que aconteceu em abril deste ano, com os secretários da Educação, César Callegari, e da Cultura, Juca Ferreira, o GT foi criado com a finalidade de elaborar o PMLLLB. Formado por representantes de muitas entidades ligadas ao livro e à leitura, o GT vai ouvir os diversos setores, das diversas regiões da cidade, pra fazer um diagnóstico e depois, junto com a sociedade, elaborar o PMLLLB da cidade de São Paulo.

Infelizmente, não faço parte do GT, não represento nenhuma entidade, mas, pedi aos meus amigos, se podia continuar participando das reuniões, mesmo que fosse como “café com leite”. Prometi que ia ficar bem quietinho, nem iam perceber minha presença. Eles deixaram! Não é legal? Vou poder acompanhar de perto a construção do Plano do Livro, da Leitura, da Literatura e da Biblioteca da minha cidade, um momento histórico! E prometo contar tudo aqui no blog!

A audiência pública

Nas primeiras reuniões do GT descobrimos que já tinha um Projeto de Lei (PL) para criar um plano do livro, “tramitando” na Câmara Municipal. Esse PL é do vereador Antonio Donato e até tinha uma audiência pública marcada (toda vez que a câmara encaminha um projeto importante, ela marca uma audiência pra discutir com a população). O pessoal do GT agendou uma reunião com o vereador pra falar do nosso trabalho de construção do PMLLLB e contar que já estamos discutindo esse projeto, há mais de um ano.

Eu não participei dessa reunião, mas eles me disseram que fomos muito bem recebidos, e que o vereador nos convidou a participar da audiência, também. Essa eu não podia perder! Fui à audiência pra discutir o plano do livro da minha cidade, minha segunda audiência pública, a outra foi pra discutir a venda do terreno da biblioteca do meu bairro.

O vereador Antonio Donato abriu a audiência pública e falou sobre o PL, disse que o projeto foi elaborado em 2010, mas ficou parado e só voltou a ser discutido neste ano. Já foi aprovado em primeira votação, ganhou um “substitutivo” e poderia virar lei, logo, mas ele disse que prefere esperar, pra discutir com a sociedade e com os movimentos organizados e enriquecer mais o projeto.

No final ele falou sobre “protagonismo”, e o que eu entendi é que se esse plano tem um dono, o dono é a cidade, a população de São Paulo. E ainda disse que quem vai tocar o trabalho daqui pra frente será o GT, todo processo será conduzido pelo Grupo de Trabalho, e ele vai acompanhar. É nóis!

O José Castilho, secretário-executivo do Plano Nacional do Livro e da Leitura (PNLL) também estava na audiência e disse que existe um movimento muito grande nas cidades e nos estados do Brasil, para a implantação de planos do livro e da leitura. Disse que o plano nacional só vai ter eficiência, quando os planos municipais e estaduais se “estabelecerem”.

O Castilho contou que as grandes cidades já estão se mobilizando, que São Paulo pode contribuir muito pra esse processo, e que o plano nacional foi elaborado em 2006 e é muito ambicioso: “Apenas 26% dos brasileiros alfabetizados são leitores plenos, número extremamente importante para ser quebrado”.

Além do Donato e do Castilho, também estavam à mesa, representantes das secretarias de Cultura e Educação, do sindicato da Educação Infantil, da OAB, dos Saraus, o professor Edmir Perrotti, e Paulo Farah, o nosso representante do Grupo de Trabalho. O Paulo fez um histórico do GT e disse que é muito importante “estabelecer um cronograma de trabalho conjunto com a câmara para assegurar as várias etapas necessárias de aprovação do PMLLLB”.

No final ele destacou a presença na audiência de mais de dez integrantes do GT, entre representantes de saraus, bibliotecários, professores, escritores, representantes de biblioteca comunitárias, representantes das secretarias que integram o GT e pessoas e entidades que atuam com bibliodiversidade (diversidade temática, de editoras, autores, etc.) “conceito essencial para o PMLLLB”.

As reuniões do GT

Já participei de umas quatro reuniões do GT, anotei quase tudo que foi falado e ainda recebi as atas por e-mail, nos próximos posts vou contando o andamento das reuniões e do “processo” de construção do nosso PMLLLB, mas já posso ir adiantando alguma coisa.

Organizamos o grupo de trabalho – são dois representantes por entidade, e aprovamos o Regimento Interno. Estamos planejando a mobilização por setores, segmentos e regiões, vamos ouvir a população da cidade para construir o PMLLLB. Discutimos a “questão orçamentária” e definimos a estrutura de trabalho.

Estamos elaborando a metodologia para as audiências regionais e definindo as regiões da cidade, com informações das secretarias de educação e cultura. Formulando questionários para levantar o diagnóstico, escrevendo os roteiros, e definindo a agenda dos fóruns e dos debates regionias. Também estamos construindo um site e criando um slogan. Sempre considerando a questão da acessibilidade às pessoas portadoras de deficiência. Temos muito trabalho pela frente, no próximo post, conto mais.

A MINHOCA DE ÚLTIMA HORA

Achei que o post de hoje ficou grande e que ninguém ia ler. Antes de publicar, mostrei pro meu amigo Lipe, que disse:

– O livro Minhocas é bem legal, o PMLLLB é muito importante e ainda você fez uma restrospectiva, não dava pra ser pequeno, eu li e gostei!

Ainda bem que meu amigo tirou essa minhoca da minha cabeça, em tempo.

Participei de mediação de leitura

Aquela visita que fiz ao pessoal da Sintaxe, e que rendeu o post anterior, também vai render o post de hoje. Naquele dia eles me contaram, também, que faziam um curso:

– Heitor, estamos fazendo um curso de mediação de leitura numa biblioteca da prefeitura e acho que vai ser útil para o seu blog.

– Como, assim?

– Você já não fez posts e transformou seu blog em clubes de leitura?

– Fiz vários posts com clubes de leitura, com três escolas, uma de São Paulo, outra de Belo Horizonte e outra de São José dos Campos. Vocês sabem disso, no começo, me ajudaram, muito.

– Então… Agora estamos pensando em transformar seu blog em mediador de leitura. O que acha?

– Como é isso? Já ouvi falar de mediação de leitura, mas não sei direito o que é… Mas, se for pra agitar o blog, eu topo!

Tem tanta coisa pra eu aprender sobre livros, que acho que vou precisar daquela “vida inteira pela frente” que minha mãe sempre fala que tenho, quando estou com pressa de fazer as coisas.

Eles me explicaram o que é mediação de leitura, me deram “um curso intensivo” e me disseram que eu ia aprender na prática, e na marra. No final do curso, eles teriam que fazer uma medição, como conclusão, e me convocaram a participar dessa prova final. A mediação de leitura já estava marcada, ia ser na Biblioteca Anne Frank, e com os alunos da EMEI Tide Setubal, escola que fica ao lado da biblioteca. Fiquei mais tranquilo, pelo menos estaria “em casa”, na biblioteca do meu bairro, e com o meu amigo Gustavo, o coordenador da Anne Frank.

Biblioteca Anne Frank

Tirando minhas dúvidas

No dia da mediação de leitura, cheguei meia hora antes da hora marcada e fiquei conversando com o Gustavo, contei pra ele que também ia participar da mediação, disse que estava ansioso e preocupado, achando que não ia dar certo, ele falou pra eu ficar tranquilo e que se tivesse qualquer dúvida, era só perguntar, “estamos aqui pra ajudar”. O Gustavo fez formação em mediação de leitura com A Cor da Letra, que é um Centro de Estudos em Leitura, Literatura e Juventude, e que “formou muitos multiplicadores na prefeitura, inclusive a Ângela, a Márcia, o Cleo, e a Sandra, que estão dando a formação na Biblioteca Viriato Corrêa para o seu amigo”. Aproveitei o tempo que tinha, antes que chegassem as crianças, a professora e o meu amigo, para tirar todas as dúvidas com o Gustavo.

31 crianças e quatro mediadores de leitura

Na hora combinada, chegaram o meu amigo da Sintaxe, a professora Bete, e os 31 alunos da EMEI Tide Setubal, e fomos pra sala de leitura. As crianças se sentaram no chão e a professora começou a conversar com eles, apresentou o meu amigo pra turma e disse que eu era o seu convidado. O Gustavo já é um velho amigo deles, essa escola sempre leva seus alunos na biblioteca Anne Frank. O meu amigo se apresentou, falou do curso de medição de leitura que estava fazendo, que essa seria sua prova final, e passou a palavra pra mim. Eu me apresentei, disse que tenho 12 anos (tenho o dobro da idade deles, eles têm 6), que escrevo um blog e que ia falar desse nosso encontro no meu blog, e depois passava o link pra eles. Feitas as apresentações começamos nossa mediação de leitura, com quatro mediadores e 31 crianças.

A professora organiza a nossa mediação

A professora Bete começou a nossa mediação, combinou com a gente e pediu aos alunos que escolhessem algum livro das estantes, folhassem, e depois trocassem com seus amigos. No final todos iriam escolher um único livro para ela ler pra toda turma.

A procura de seu mediador

Ficamos observando, todos escolheram um livro, alguns trocaram entre si, outros pegaram o livro escolhido, saíram da roda, e foram procurar um mediador, disposto a ler aquele livro, naquela hora, pra eles.

Foi mediação pra todo lado

Cauã, João Vitor, Artur, Luna, Pietro, Nicole, Bernardo, Lucas e Pedro foram alguns dos alunos que saíram da roda a procura de seu mediador, cada um, abraçado ao seu livro. Contando com Ninoca, Cabun, O Soluço do Lúcio, Nas Nuvens, Comilança, Um Amor de Botas, O Casal Perfeito, O Macacão Espantado, Pega Ladrão no Planeta Zog, Rodolfo e o Tesouro Perdido foram alguns dos livros que trouxeram pra gente ler.

Muitos não ficavam até o fim da história

Às vezes o livro escolhido não prendia a atenção da criança, ela saía, ia para outra roda, ou buscava outro livro na esperança de encontar uma história mais interessante. Alguns voltavam com revistas “Recreio” ou gibis do Maurício de Sousa.

Leitura de livro

Quando algumas crianças chegaram com revistas e me pediram pra ler, eu não soube o que fazer. Perguntei aos meus amigos, que fizeram o curso, se devia ler ou não. Eles disseram para eu sugerir a troca da revista por um livro, “nossa mediação é de leitura de livros”. E concluíram: Mas se não tiver jeito, leia a revista, mesmo.

Um livro bem legal

No final encontrei um livro bem legal pra fazer mediação, e foi por acaso. Quem me trouxe esse livro foi o Artur, se chama Ponto de Vista e foi escrito por Sonia Salerno Forjaz. Li esse livro para o Artur e só não cheguei até o final da história porque a aula terminou e eles tiveram que ir embora. O livro é escrito em rimas, rimas muito engraçadas. O Artur estava adorando, tanto, que no final, me disse:

– Quero ficar aqui com você e terminar de ouvir a história.

– Você tem que ir embora, eu volto outro dia e termino de contar essa história pra você. Combinado?

– Combinado! – ele me respondeu, animado.