Biblioteca Nacional, Bienal e prefeito condenado

Na outra semana o pessoal da Sintaxe foi ao Rio de Janeiro para Bienal do Livro, – a Sintaxe é a assessoria que me deu este blog de presente, me apresentou a escritores, ilustradores, editores e leitores, e orientou os meus primeiros passos por aqui. Meu pai também tinha um trabalho no Rio, aproveitei a oportunidade, viajei com ele, fiz uma visita guiada à Biblioteca Nacional e passeei na Bienal. No final deste post também vou mostrar porque o prefeito que queria demolir a biblioteca do meu bairro, história que contei no livro Os meninos da biblioteca, acaba de ser condenado pelo Tribunal de Justiça de São Paulo.

Biblioteca Nacional

A ideia de visitar a Biblioteca Nacional foi do meu pai, minha mãe já tinha feito essa visita guiada. Estou pesquisando um assunto que é quase uma investigação, – mas ainda não posso falar nada dela, só posso adiantar que é sobre livro, óbvio – e meu pai achou que a Biblioteca Nacional seria o lugar ideal para encontrar o que estou procurando. Nesse aspecto, a visita foi mais do que bem sucedida, lá conheci uma equipe especialista nesse assunto, e foi por acaso. Um dia antes, tinha acompanhado meu pai no trabalho dele, e lá apareceu um problema para minha pesquisa, mas logo no dia seguinte, veio a possibilidade de solução, com esses mesmos especialistas que eu conheci na biblioteca. Já me disseram que, nesses assuntos, é assim mesmo que acontecem as coisas. Bem, para quem não podia falar nada, já falei demais, então vamos à visita.

Biblioteca Nacional 34 km de estantes

Bíblia de Mogúncia

O Gabriel foi o monitor que nos guiou nessa visita, ele é estagiário da Biblioteca e estuda História. Nossa conversa começou no saguão de entrada, ele contou um pouco da história da Biblioteca, que ela surgiu em 1808, com a chegada da Família Real Portuguesa, ainda com o nome de Real Biblioteca, que um decreto do Príncipe Regente, de 1810, determinou que fosse construída sua primeira sede, fixando o dia 29 de outubro de 1810, como a data de fundação da Real Biblioteca, mas que só foi aberta ao público em 1814, e que só depois da Independência, passou a se chamar Biblioteca Nacional. Já a atual sede, começou a ser construída em agosto de 1905, durante o governo de Rodrigues Alves, e foi inaugurada em 29 de outubro de 1910, quando a Biblioteca fez 100 anos, hoje tem mais de 200.

Depois fomos passando pelos diversos setores da biblioteca, primeiro pelo setor de periódicos, todos os jornais, revistas, etc., publicados no Brasil estão lá, inclusive as edições da Tico-Tico, primeira revista brasileira a publicar HQs, e que circulou entre 1905 e 1962. Depois fomos para o setor de obras de referência, que são os dicionários, enciclopédias e todo material para pesquisa, e finalmente visitamos o setor de obras gerais, o maior setor da Biblioteca Nacional, se colocadas uma depois da outra, seriam 34 km de estantes, 17 de cada lado da biblioteca. Tudo que é publicado no Brasil tem que ser depositado na Biblioteca Nacional (lei do Depósito Legal), pois sua função é de preservar a memória.

Faltou conhecer o setor de obras raras, que fica no terceiro andar e está em reforma, mas o Gabriel mostrou algumas, digitalizadas. O primeiro livro impresso, de 1455, a Bíblia Gutenberg, ou Bíblia de Mogúncia, só há 12 exemplares no mundo e dois estão na Biblioteca Nacional, uma vez a Biblioteca de Nova York quis comprar um exemplar, mas o Brasil não vendeu. Ele também nos mostrou a primeira edição de Os Lusíadas, de Camões, de 1572; um pergaminho do século XI, com manuscritos em grego, sobre os quatro Evangelhos, o exemplar mais antigo da Biblioteca (e da América Latina), doado por D. João VI; o primeiro jornal impresso do mundo, de 1601; a primeira edição da Arte da gramática da língua portuguesa, escrita pelo Padre José de Anchieta em 1595, a crônica de Nuremberg, de 1493, considerado o livro mais ilustrado do século XV, com mapas xilogravados, os mais antigos em livro impresso; entre outras raridades.

Bienal do Livro do Rio

Depois de perguntar muito, – parece que ninguém sabe direito como se vai para esse Riocentro – pegar Metrô e BRT, finalmente cheguei à Bienal, e enviei mensagem para o meu amigo Lipe, mandando notícias e reclamando: “Muito grande, muita gente, crianças gritando, mó barulho”, e até me deu vontade de dar meia volta e ir embora. Mas não podia fazer essa desfeita para os meus amigos, eles me levaram, me arrumaram credencial, destacaram editoras para eu visitar e alguns eventos para assistir. Então resolvi enfrentar, peguei minhas anotações, o mapa da Bienal, a programação do dia e saí caminhando pelos três pavilhões do Riocentro. Andei mais de três horas, visitei diversos estandes, depois parei um pouco para assistir a um bate-papo de um amigo, sobre um tema da hora.

Achei que ler era chato

No ano passado, na Bienal do Livro de São Paulo, conheci um escritor que mora no Rio de Janeiro, o Luis Eduardo Matta, foi a minha amiga, Susana Ventura, quem me apresentou a ele, esse bate-papo era com Luis Eduardo e sobre um tema que me interessa muito: “Achei que ler era chato”. Eu assisti! Além do Luis Eduardo Matta, estavam Vivi Maurey e Marcelo Amaral, e a mediação foi de Afonso Solano. Os autores conversaram sobre como venceram o preconceito contra a “Literatura chata” na adolescência e a importância de se despertar o gosto pela leitura na juventude.

Achei que ler era chato – Luis Eduardo Matta, Affonso Solano, Vivi Maurey e Marcelo Amaral

 

A Vivi Maurey disse que quem despertou nela o gosto pela leitura foi o Pedro Bandeira, – em um encontro que participei com ele e contei aqui no blog, percebi que muita gente começou a gostar de ler com o Pedro Bandeira – e depois, foi com a Agatha Christie, que a Vivi virou de vez uma grande leitora. Já o Marcelo Amaral aprendeu a ler com suas irmãs mais velhas e o livro que o fez leitor de literatura foi o Feliz ano velho, de Marcelo Rubens Paiva. O Luis Eduardo Matta contou que quando era criança, não gostava de ler livros e que foi na escola que aprendeu a gostar, quando conheceu a obra do escritor Ganymédes José, principalmente a sua A inspetora, série que fez muito sucesso na década de 1980.

Livros

Trouxe da Bienal, dois livros do Luis Eduardo Matta, o Morte no colégio, seu primeiro juvenil, publicado em 2007, autografado, e o Detetive Cecília e a águia de bronze, seu mais recente lançamento. Trouxe também outros dois livros de uma escritora que já queria conhecer a algum tempo, Stella Maris Rezende, A mocinha do mercado central e Justamente porque sonhávamos, este ela lançou na Bienal. Fui ao lançamento, peguei autógrafo e conversei com ela! Vou ler esses quatro livros e depois vou contar aqui no blog.

O prefeito condenado

Enquanto caminhava pela Bienal do Rio, recebi uma mensagem do meu amigo Benjamin, de São Paulo. Ele é jornalista, assessor de imprensa do Ministério Público, leu o meu livro e sabe da minha história: “Heitor, meu caro, tudo bem? Olha só, sempre digo que os caminhos se cruzam, e às vezes acho interessante, como esses cruzamentos são feitos. Se não tivesse lhe conhecido, hoje não saberia o que, do que, ou sobre o que escrevi. Tive que fazer uma notícia para o site aqui do Ministério Público e, enquanto ia lendo do que se tratava, algo familiar foi aparecendo. Não é que a notícia refere-se exatamente a sua ação e d’Os meninos da biblioteca”.  – Não disse que nesses assuntos é assim que muitas vezes acontecem as coisas.

Quarteirão do Itaim – Ilustração de Rômolo

 

E continuava a mensagem. “Confere a notícia”: Terça-feira, 05 de setembro de 2017. Com parecer favorável do MPSP, justiça condena ex-prefeito de São Paulo (… link abaixo). E a notícia seguia, com informações técnicas e linguagem jurídica, mas ao final meu amigo cuidou de traduzir e resumir: “Em suma: além de ter sido condenado por ato ilegal, não convocou audiências públicas, também foi condenado a pagar todos os funcionários de quatro secretarias que elaboraram o projeto e mais as custas dos procuradores do município, que trabalharam de graça na causa para ele”.  E ainda brincou comigo, dizendo que na matéria, faltaram as minhas aspas – é assim que jornalista fala, quando se refere a declaração de alguém numa matéria. Não seja por isso, eu disse, e mandei minhas aspas. “Essas são impublicáveis, Heitor”, e rimos kkkkk.

Com parecer favorável do MPSP, justiça condena ex-prefeito de São Paulo: http://www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/noticias/noticia?id_noticia=17492014&id_grupo=118