Fui à Bienal – Parte 3

Hoje vou falar das duas últimas palestras que eu vi na Bienal. Uma foi com o Jorge Miguel Marinho e o Rodrigo Lacerda e se chamava Peregrinações do romance. Nessa palestra eles contaram como é escrever para jovens e também para adultos. Na outra a Ruth Rocha, o Ignácio de Loyola Brandão e o Walcyr Carrasco falaram das influências dos seus professores nas suas vidas e carreiras e se chamava Meus professores fizeram de mim um escritor. Vamos lá…

Como eu já disse no outro post, eu queria muito assistir a palestra do Jorge Miguel Marinho. Eu gosto muito de ouvir o Jorge falar. Eu o conheci na editora Biruta e contei isso no post “Conheci um escritor de verdade”. Nessa palestra da Bienal ele disse que escreve da mesma maneira tanto para o jovem como para o adulto, mas que consegue conversar melhor com o público jovem. Ele disse também que o “ato de escrever” é muito importante para ele, muito mais do que publicar o livro. Disse que devemos ler aquilo que nos agrada e que cada pessoa tem a sua “isca” para ser atraído pela leitura. Ele, por exemplo, foi atraído por uma tal de Adelaide Carraro, “que não era considerada boa literatura”. Um livro dela caiu em suas mãos, ele leu e gostou. Depois descobriu Machado de Assis e finalmente Clarice Lispector, “a escritora que eu pedi à vida e a vida generosamente me deu”.

O Rodrigo Lacerda acha errado separar literatura para jovem de literatura para adulto. “Há livros que são escritos para jovens e acabam sendo classificados assim, outros são escritos para jovens e transpassam para o público adulto”. Ele disse que aconteceu isso com o seu livro O Fazedor de Velhos, que foi escrito para jovens e agradou muito o público adulto. O Rodrigo diz que o jovem pode compreender as coisas de forma diferente do adulto, mas não tem uma compreensão limitada. O autor que atraiu o Rodrigo Lacerda para a leitura foi o Eça de Queirós. “Li tudo de Eça”. Depois ele descobriu o Graciliano Ramos. Além de O Fazedor de Velhos, Rodrigo escreveu Outra vida, Vista do rio, A fantástica arte de conviver com animais, O mistério do leão rampante, Fábulas para o ano 2000, Tripé, e a Dinâmica das larvas. O Rodrigo também é tradutor.

A palestra Meus professores fizeram de mim um escritor começou com o Ignácio de Loyola Brandão falando de suas professoras Lourdes e Ruth, que vivem em Araraquara, onde ele nasceu e estudou, e até hoje o chamam de menino. Elas diziam para os alunos saírem pela cidade para observar as coisas e depois escrever uma redação sobre o que viram. Elas também pediam para eles lerem um livro infantil e depois reescrever a história. As histórias reescritas eram lidas para a sala, que no final escolhia a melhor “composição”, “como eram chamadas antigamente as redações”.

A Ruth Rocha falou de muitos professores que ela teve, mas que tudo começou com os livros de Monteiro Lobato. O professor Aderaldo, que gostava de Eça de Queirós. O Eduardo França, professor de história, que falava muito bem e que também a influenciou. O Sales Campos, professor de literatura, que pedia aos alunos que fossem a frente da sala para falar sobre um livro que tinham gostado muito. Ela frequentava a Biblioteca Circulante aqui de São Paulo. Uma vez ela entrou com a irmã na biblioteca, escolheu uma estante e leu todos os livros daquela estante.

O Walcyr Carrasco falou da sua professora Nilce e do concurso de redação que ele ganhou na escola. A professora Nilce vinha para a aula com uma caixa cheia de livros e os alunos escolhiam um para levar para casa e ler. “Ela fazia sua própria biblioteca circulante”. A professora Telma também foi muito importante para o Walcyr. Ela ainda mora em Marília, onde ele morou dos 3 aos 15 anos. Há pouco tempo ele esteve na cidade e foi visitá-la. Ele agradeceu a professora e disse que ela tinha sido importante na sua carreira de escritor e autor de novelas. Eles ficaram muito emocionados com esse reencontro.

Só vou escrever o próximo post na semana que vem. Tenho que estudar. Mas vou dar umas entradinhas para ver se tem comentário. Adoro quando colocam comentário no blog. Eu respondo a todos. No próximo post vou falar dos escritores que eu conheci na Bienal, dos que eu vi, dos que eu não vi, e dos que eu vi de longe.

Fui à Bienal – Parte 2

Já estou aqui de novo. Meu pai não me deu limite e o pessoal da Sintaxe está me pilhando: – Oh, Heitor, você tem que escrever os posts logo, senão as notícias da Bienal vão ficar velhas. Acho que eles têm razão, ainda quero falar de mais três palestras que eu assisti e de todos os escritores que eu vi e conheci. Então vamos lá…

Queria muito ver a palestra da Katia Canton. Uma vez, já faz muito tempo, eu fui ao lançamento de um livro dela. Minha mãe me levou, acho eu que tinha uns sete anos. Era um livro de contos de fadas, do Andersen, recontados pela Kátia. O Hans Christian Andersen é o autor de O Patinho feio, de O valente soldadinho de chumbo, de A pequena vendedora de fósforos, e de tantas outras histórias que lemos, que nossos pais leram, nossos avós e acho que até os nossos bisavós – ele viveu no final do século XIX. 

Quando eu li a programação da Bienal e vi que a Katia Canton e o Bartolomeu Campos Queirós iam falar sobre literatura infantil, eu pensei: – não posso perder essa. A Kátia começou falando que quando era criança, ela era tímida e por isso lia muito. Eu também, quando tinha sete anos e fui ao lançamento dela, eu era tímido, nem consegui falar com ela. Ela também disse que além de ler, ouvia histórias contadas por sua tia Cecília. Katia morava no mesmo prédio da tia. Ela ia até o sétimo andar, tocava a campainha e pedia para a tia lhe contar uma história. Foi aí que começou sua “paixão pelos contos de fadas”.

O Bartolomeu disse que prefere ler a escrever. Quando escreve é “vaidoso”, e quando lê, é “generoso”. Ele também ouvia histórias quando criança. Sua avó juntava todos os netos e sentava no penico para contar histórias. Eu achei muito engraçada essa avó do Bartolomeu, pois ele disse que ela, enquanto contava histórias, usava o penico! Ele foi alfabetizado pelo avô. Seu avô, aposentado, não saía de casa e escrevia nas paredes tudo que acontecia na cidade, e o Bartolomeu lia. O avô uma vez disse a ele que o alfabeto só tem 26 letras e com elas podemos escrever tudo que quisermos. Nesse dia ele ficou procurando alguma coisa que não pudesse escrever com essas letras. E é o que ele faz até hoje.

Eles ainda falaram da escola, da literatura ajudando a ensinar outras matérias, da ilustração e do texto nos livros infantis, e de muitas outras coisas. Não dá para falar tudo aqui, pois eu ainda tenho muita coisa para contar. No final eu fui falar com a Katia – hoje já não sou tão tímido – disse que gostava dos livros dela, falei do meu blog e pedi o seu e-mail para passar o endereço. Espero que ela leia, e goste.

Fui à Bienal – Parte 1

Andei sumido, não é? Nesse tempo eu fui três vezes à Bienal do Livro e também tive muita coisa para estudar, tinha prova na escola. Não deu tempo de escrever no blog. Meu pai me deixou ir essas três vezes à Bienal com uma condição: que eu estudasse bastante para as provas e não ficasse muito tempo na internet. Durante a Bienal eu ouvi a entrevista de uma escritora (eu vi um monte de entrevistas e depois vou contar mais), o nome dela é Miriam Portela, ela escreveu um livro sobre Bullying e lançou quatro livros infantis. Ela disse na entrevista que as crianças estão pedindo e precisando de limites. Eu não sei se eu pedi, mas acho que foi isso que o meu pai me deu: limite. Mas eu acho que foi bom, eu estudei, fui bem nas provas e ainda ganhei três dias de passeio na Bienal do Livro.

Como eu disse no outro post, eu fui à Bienal com o pessoal da Sintaxe. Vi um monte de livros, conheci e conversei com muitos escritores, assisti a quatro palestras e ainda “acompanhei” umas entrevistas. O pessoal da Sintaxe estava trabalhando para umas editoras lá na Bienal. Eles ficavam na sala de imprensa recebendo os jornalistas que chegavam para visitar a feira. Dependendo do assunto que o jornalista procurava, eles ofereciam os livros das editoras ou os autores para serem entrevistados. Eles também saiam pela Bienal “oferecendo pauta” para as rádios que tinham estúdios lá na feira ou para as tevês que queriam entrevistar os escritores. Nos três dias que eu estive lá teve um monte de entrevistas. Às vezes duas no mesmo horário. Teve uma vez que eles estavam correndo tanto, que me deixaram no Salão de Ideias para assistir a uma palestra. Eles disseram: fica aí quietinho, Heitor, que daqui a uma hora a gente vem te buscar. E eu fiquei lá. Nem era uma palestra para crianças. Eram dois escritores, Milton Hatoum e Marçal Aquino falando sobre “a imagem da literatura brasileira no exterior”. Mas eu gostei.

O Milton Hatoum disse que teve muita sorte como escritor e que em poucos meses o seu primeiro romance já tinha sido traduzido para diversas línguas. O Marçal Aquino, ao contrário do Milton, disse que teve que “ralar muito” até fazer sucesso como escritor. Eles também falaram sobre as suas “motivações para escrever”. O Milton falou que ele sempre escreve sobre alguma questão que o “inquieta”. “As histórias dos meus livros sempre estão ligadas a minha vida”. Ele disse que o importante é a memória e que ele não saberia escrever sobre alguma coisa que está longe da sua vida. O Marçal contou que muitas vezes não sabe nada do assunto que está escrevendo e que começa a descobrir enquanto escreve. “Algumas coisas eu sei o resto eu quero descobrir escrevendo”. Eu achei muito bacana ouvir dois escritores que por caminhos diferentes chegam à literatura.

Eu assisti a outras palestras mais adequadas a minha idade. Teve uma bem legal chamada “Meus professores fizeram de mim um escritor” com Ruth Rocha, Walcyr Carrasco e Ignácio de Loyola Brandão. Teve outra chamada “Pequenos leitores, grande literatura”, com Katia Canton e Bartolomeu Campos Queirós. E outra que eu não queria perder, com aquele escritor que eu conheci quando eu visitei a editora Biruta, o Jorge Miguel Marinho. Tudo isso eu vou contar nos próximos posts. Vou falar também dos escritores que eu conheci e das entrevistas que eu vi. Tenho muito assunto da Bienal para contar aqui. Espero que desta vez o meu pai não me dê limites, pois agora eu sei que não estou pedindo.

Livro é quase um filme de cinema

 Georges Méliès nasceu no dia 8 de dezembro de 1861 e morreu no dia 21 de janeiro de 1938.  Ele foi um ilusionista (ou mágico) francês. Fez muito sucesso como mágico e foi um dos precursores do cinema. Ele usava efeitos fotográficos para criar mundos fantásticos. Méliès é considerado o “pai dos efeitos especiais”, fez mais de 500 filmes e construiu o primeiro estúdio

Georges Méliès

 cinematográfico da Europa. Também foi o primeiro cineasta a usar desenhos para projetar suas cenas. E o que esse francês tem a ver com o post de hoje?

Ele é um dos personagens do livro que eu acabei de ler. A invenção de Hugo Cabret, de Brian Selznick, da Editora SM, que eu peguei emprestado da biblioteca. Foi a história de Méliès que inspirou o autor a fazer esse livro. Ele usou um personagem de verdade para inventar uma história. A invenção de Hugo Cabret é um livro diferente de todos os livros que eu li até hoje. O livro tem 534 páginas e pelas contas do autor, cento e cinquenta e oito ilustrações diferentes, e vinte e seis mil cento e cinquenta e nove palavras. Mas ele não é diferente pelo número de páginas, pela quantidade de ilustrações, ou por ter tantas palavras. Ele é diferente pelo jeito como o autor colocou as ilustrações no livro, para ajudar a contar a história.

As ilustrações dos livros sempre mostram um momento da história, como se fosse um retrato. Nesse livro é diferente, a ilustrações mostram uma cena inteira, como se fosse um filme. O texto começa a contar uma cena da história e os desenhos continuam a contar esta cena. Quase todas as ilustrações ocupam duas páginas, são em preto e branco e muito bonitas. Quando peguei o livro na biblioteca, fiquei assustado, o livro é muito grosso, achei que não ia conseguir ler.  Mas que nada, li rapidinho e viajei na história do Hugo Cabret e nos desenhos do livro. Os desenhos também foram feitos pelo autor.

A história se passa nos anos de 1930 na cidade de Paris. Hugo Cabret é o personagem principal, o protagonista. Ele é um menino de 12 anos e vive

Hugo Cabret

 sozinho em uma estação ferroviária. O pai de Hugo morreu em um incêndio. Ele era relojoeiro e trabalhava meio-expediente em um velho museu, cuidando dos relógios de lá. Um dia seu pai chega em casa trazendo um homem feito de “peças de relógios e delicados mecanismos”, que ele encontrou perdido no sótão do museu. Era um autômato, ficava sentado numa escrivaninha e trazia uma pena na mão. Ele era movido a corda, como esses brinquedos antigos, estava quebrado, mas se fosse consertado poderia escrever ou desenhar.

O pai do Hugo queria muito consertar o autômato. Ele abriu a máquina e desmontou cuidadosamente, fez desenhos detalhados de todas as suas partes em cadernos, limpou as peças e montou novamente. No aniversário de Hugo, como era costume, o pai o levou ao cinema. Seu pai gostava muito de cinema, e sempre lhe contava um filme que assistiu quando criança, dizia que tinha sido o seu primeiro filme: Uma viagem à lua, de Georges Méliès, aquele que eu falei no começo do post e que ainda vai aparecer com tudo nessa história. Nesse dia o pai também lhe deu de presente um de seus cadernos, com os desenhos das peças do autômato. O pai não conseguiu consertar o autômato, um incêndio no museu o matou, e fazer essa máquina funcionar virou uma obsessão na vida de Hugo.

Autômato em ação

Dizem que os autômatos existiram de verdade. Eles foram construídos por mágicos, que tinham conhecimentos de mecânica. Serviam para “surpreender as platéias”. Ninguém imaginava como aqueles bonecos misteriosos dançavam, escreviam, desenhavam ou cantavam. Já ouvi falar que hoje ainda existem alguns inteirinhos, feitos naquele tempo, que desenham e até escrevem poesia.

 Hugo morava sozinho na estação ferroviária, pois quando o pai morreu, ele foi viver com o tio, que cuidava dos relógios daquela estação. O tio bebia muito e um dia sumiu. Hugo ficou sozinho. O inspetor da estação não podia saber que o seu tio não estava mais por lá e Hugo continuou a cuidar dos relógios, para o inspetor não desconfiar e descobrir o seu segredo.

Na estação havia uma loja de brinquedos. Hugo costumava roubar alguns brinquedos dessa loja. Usava suas peças para substituir as peças quebradas do autômato. Um dia o dono da loja o pegou, fez devolver um brinquedo de corda que ele havia roubado e lhe tomou o caderno, presente do pai. O dono da loja queria saber por que o menino queria tanto aquele caderno. Hugo não contava, era o seu segredo. Mas o dono da loja também tinha um segredo. Hugo conheceu a sobrinha do dono da loja, uma menina um pouco maior do que ele, e eles ficaram amigos, mas esse é só o começo dessa história.

A Bienal do Livro começa na semana que vem. O pessoal da Sintaxe falou com a minha mãe e ela deixou. Eles vão me levar para passear na Bienal e vão me apresentar para um monte de escritores. Quero conversar com eles e depois contar tudo aqui no blog. Aguardem!

Saída Bangu – O Rodrigo, que também gosta de descobrir as origens das palavras, deixou um comentário no blog perguntando sobre a origem de uma expressão antiga, usada no futebol: saída Bangu. Então Rodrigo, eu fui pesquisar e encontrei esta resposta: “Esse tipo de saída teve sua origem nos treinos do time Bangu, do Rio de Janeiro. O time, para agilizar o treino, fazia com que seus jogadores dessem a saída de bola como se fosse um tiro de meta, pois assim o time poderia treinar mais saída de bola e criação de jogadas pelos jogadores da defesa. O termo acabou pegando e a “saída Bangu” começou a ser usada por outros times nos seus treinos e em jogos de recreação”.