Li Macunaíma, de Mário de Andrade, em HQ

Depois de umas longas férias do blog, hoje estou de volta e vou falar de Macunaíma, de Mário de Andrade, a Editora Peirópolis acabou de lançar uma HQ, de Angelo Abu e Dan X, desse clássico da literatura brasileira.

Mas antes quero dar uma notícia, que me deixou muito feliz: os meninos da biblioteca vão pra Bolonha! Sim, o livro Os meninos da biblioteca, escrito por João Luiz Marques, ilustrado por Rômolo, publicado pela Editora Biruta e narrado por mim, vai participar da feira do livro de Bolonha deste ano.

Vejam como foi que recebi essa ótima notícia.

OS MENINOS DA BIBLIOTECA EM BOLONHA

Outro dia vi um post no Facebook contando que a Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil, a FNLIJ já tinha feito a seleção e publicado o catálogo dos livros que vão participar da Feira de Bolonha 2016, no post tinha o link para o pdf do catálogo. Já sabia desse catálogo, mas não lembrava que ele estava para ser publicado e que em breve aconteceria a mais importante feira do livro infantil e juvenil do mundo, a Feira de Bolonha, que acontecerá entre os dias 4 e 7 do próximo mês de abril. Sinceramente, nunca pensei que o livro “Os meninos da biblioteca” pudesse estar nesse catálogo, cliquei no link e comecei a olhar o pdf, só por curiosidade. Na abertura apareceram alguns autores consagrados, sendo homenageados.

Vendo esses autores, logo deixei de lado qualquer possibilidade de sonho, nunca estaria à altura de compartilhar um catálogo com gente tão importante e famosa. Em seguida, começaram a aparecer os livros selecionados, por categorias e ordem alfabética. Primeiro os infantis, alguns livros conhecidos, que eu já tinha lido. Nessa hora me deu uma pontinha de esperança: – Por que não eu? Mas ainda só tinha uma única certeza: – Nunca poderia estar lá! Quando começaram a aparecer os juvenis, vi o livro de uma escritora amiga, e então achei que eu também merecia e me bateu um sentimento muito ruim, de inveja: – Bandida, ela está lá e eu não!  Nem consegui ficar feliz por ela, a tristeza de ser excluído era maior. Continuei olhando, chegou à letra m e apareceu a imagem abaixo, a capa do livro e um texto em inglês:

VIVA! A história que contei, que virou um livro e que me transformou num personagem de literatura vai pra Bolonha, o livro “Os meninos da biblioteca” vai participar da Feira do Livro Infantil e Juvenil de Bolonha 2016. Na mesma hora liguei para o João Luiz, o meu amigo, autor do livro. Ele também estava muito feliz, disse que já tinha ligado para a editora e que já ia ligar pra mim, também. Festejamos juntos! Pena que o João não vai pra Bolonha, eu tenho certeza de que se ele fosse, me levaria junto. Mas tudo bem, o mais importante é que o nosso livro vai.

MACUNAÍMA, O HERÓI SEM NENHUM CARÁTER

Já vinha pensando em ler Macunaíma, nesses dias vi matérias no jornal sobre o Mário de Andrade e sobre seu livro mais famoso, fez setenta anos da morte do autor e sua obra entrou em “domínio público”. Comentei com o meu pai, que disse que devia ter esse livro na estante aqui de casa, procurei, mas não o encontrei, ele jurava que tinha, leu no colegial, o ensino médio da sua época. Ainda não cheguei ao ensino médio, mesmo assim estava muito a fim de encarar “o herói sem nenhum caráter” e contar essa experiência aqui no blog.

Por coincidência, nessa mesma semana recebi um e-mail da Carol Cassiano, da CommunicaBrasil, a assessoria de imprensa da Editora Peirópolis:

“A Editora Peirópolis acaba de lançar a adaptação para quadrinhos de Macunaíma, uma das mais importantes obras da literatura nacional, escrita por Mário de Andrade (1893- 1945), expoente do modernismo brasileiro. A obra entrou em domínio público em 1° de Janeiro de 2016 e esta é a sua primeira quadrinização”. Junto veio o release da HQ.

Pensei que talvez fosse mais fácil enfrentar o Macunaíma em HQ, arrisquei e pedi um exemplar pra Carol. Ela mandou! Já li o Macunaíma, achei difícil, mas adorei, e hoje vou contar como foi a minha primeira vez com Mário de Andrade.

MACUNAÍMA EM QUADRINHOS

Macunaíma, de Mário de Andrade – em Quadrinhos, de Angelo Abu e Dan X faz parte da coleção “Clássicos em HQ”, da Editora Peirópolis, que já lançou Dom Quixote; Os Lusíadas; O corvo; Frankenstein; Demônios; Conto de escola; Auto da barca do inferno; A divina comédia; I-Juca Pirama; Eu, Fernando Pessoa; Odisseia; A mão e a luva; e A morte de Ivan Ilitch.

Antes de contar a história de Macunaíma, que Angelo Abu e Dan X contaram nessa HQ, quero começar pelo fim e falar do posfácio do livro. No final do livro, os autores criaram outra história em quadrinhos, mostrando os bastidores do trabalho deles, do mesmo jeito e com a mesma linguagem que Mário de Andrade usou para escrever o Macunaíma.

Angelo Abu conta que “uma feita” estava com muita fome, não havia comida no “mocambo” e estava com “uma baita duma preguiça de sair pra caçar”, também não queria pescar nem “armar arapuca pra presa alguma não”, estava fugindo dessas obrigações. Nesse quadrinho, ele está deitado na rede, bem folgado e um cachorro ao lado. Então ele resolve “visitar a cidade macota de São Paulo por amor de arranjar trabalho”. Chegando na cidade, ele “matutou matutou e então resolveu que ia fingir de artista pra campear trabalho na tapera máquina de fazer livros”.

“A cunhatã editora” acreditou em tudo o que ele prometeu e “ofereceu pra ele virar em língua de gibi qualquer história de muito seu agrado que já tivesse sido engolida pelo gigante domínio público”. Ele se lembrou “da saga de um herói sem nenhum catáter que tinha lido uma vez e sentiu uma baita duma vontade de desenhar toda a memória que tinha dela”. Foi pesquisar e descobriu que só faltavam dois anos para a obra de Mário de Andrade entar em domínio público, “era tempo justo pra fazer tudo sem pressa, sem deixar faltar beiju-membeca”. Convidou seu compadre Dan, “que de tudo faz um pouco” e juntos fizeram essa HQ de Macunaíma. Essa história dos bastidores não acaba assim, tem muito mais, e cada vez fica mais engraçada.

Já a história de Macunaíma, muita gente conhece, virou até filme de cinema. Ela é engraçada, o Macunaíma apronta cada uma, é mesmo um herói sem nenhum caráter. Teve umas partes que eu não entendi e muitas palavras eu tive que pesquisar no dicionário ou no google, me deu trabalho, mas foi muito gostoso ler essa HQ. Mesmo assim, mais pra frente, vou ler o livro do Mário de Andrade, os autores da HQ tiveram que deixar de lado algumas partes da história, fiquei curioso pra ver que partes foram essas. Adoro ler adaptações, principalmente as feitas em quadrinhos, mas sempre me dá vontade de ler o original depois.

O AUTOR DO LIVRO

Mário de Andrade (1893-1945) foi poeta, escritor, crítico literário, musicólogo e folclorista. Também foi fotógrafo e ensaísta, suas colunas no jornal eram muito divulgadas e tratavam de diversos assuntos, história, literatura, música, etc. Influenciou toda a literatura moderna brasileira. O seu livro Pauliceia Desvairada, publicado em 1922, foi um dos precursores da poesia moderna. Foi um dos principais integrantes da Semana de Arte Moderna, movimento de 1922 que reformulou a literatura e as artes visuais no Brasil. Macunaíma, seu romance mais famoso, clássico da literatura brasileira foi publicado em 1928. Mário de Andrade foi um grande incentivador da produção cultural e artística de São Paulo, fundou o Departamento Municipal de Cultura da cidade e foi o seu primeiro diretor.

OS AUTORES DA HQ

Tirei esse trecho das biografias da HQ, foram escritas em “macunaimês”, do mesmo jeito que Mário de Andrade escreveu Macunaíma.

Angelo Abu nasceu nos rasantes do cerrado urbano das terras-piá de Belo Horizonte, zungu de muitas gentes. Desde a meninice gostava de moquear ideias e desenhar tudo que imaginava pela frente. Nunca foi de criar roçado, sempre gostou foi de zanzar bem pelas terras de ninguém, virando todas as histórias que campeava no caminho em palavra desenhada. Quando botou corpo num homem feito principiou angariando o sustento, cambiando desenho por vintém. Quando viu, já estava trabucando pra cidade macota de São Paulo, inventando desenhos pra máquina revista, máquina livro, máquina jornal, todas essas sabatiras. Dan X faz de tudo um pouco, labutou nos mais variados ofícios, sem nunca se prender a nenhum deles. Se especializou em generalidades, mas se especializou como ninguém. Com o tempo foi se tornando tantas gentes que um dia, sem saber mais como ia ser chamado, inventou que além do Dan que sempre foi, ele seria só X.