A dura vida de um escritor

Martin Eden sofreu muito pra virar escritor e viver de literatura e quando, finalmente, conseguiu, já era tarde

Antes de começar a fazer este blog, achava que vida de escritor era uma maravilha. Ler, escrever e passear pelas feiras e bienais de livros, conversando com os leitores. Que vida poderia ser melhor do que essa? Mas depois que conheci, com meu blog, um pouco do mundo da literatura, descobri que a realidade é diferente do que eu imaginava, escritor também sofre. Sofre para publicar seu livro e depois que consegue uma editora, sofre para vender. A maioria dos escritores não vive só de literatura, muitos têm outras profissões, são jornalistas, professores, tem até médico escritor.

Não sei como arrumam tempo para escrever, devem escrever de madrugada ou nos finais de semana. Mas acho que o maior sofrimento, mesmo, é na hora de publicar o livro. Mandam o original para as editoras e tempos depois recebem de volta, com alguma observação do tipo: “o texto é bom, mas não tem o perfil da nossa editora”. As editoras também recebem tantos textos, que nem conseguem ler todos. Com o meu blog já conheci muitos escritores que sofreram para publicar seu livro, mas até hoje nunca tinha visto um escritor sofrer tanto como sofreu Martin Eden.

A primeira vez que ouvi falar de Martin Eden foi lendo o jornal. Martin Eden é o nome de um livro de Jack London. Li um artigo do escritor Sérgio Telles n’O Estado de S. Paulo, contando que ganhou esse livro de seu filho, que lhe presenteou, dizendo que a história o fez lembrar de quando era criança e via o pai “escrevendo, mandando originais para as editoras e aguardando suas respostas.” O Sérgio Telles se lembrava de Jack London das suas leituras de infância, mas não conhecia esse livro. No artigo ele fala um pouco do livro, e só de ler o que ele escreveu, já gostei da história.

Não conhecia o Jack London, fui procurar o livro e pesquisar a obra do autor. Encontrei outro livro dele na estante de casa, O Lobo do Mar, depois soube que é um clássico da literatura. A edição que tem em casa de O Lobo do Mar é da Companhia Editora Nacional e foi traduzida por Monteiro Lobato. É um livro importante! Já separei pra ler depois, mas antes queria, mesmo, era ler o Martin Eden, a história dele me interessava muito. Já li, adorei e hoje vou contar um pouco a dura vida do escritor Martin Eden.

Martin Eden, de Jack London, traduzido por Aureliano Sampaio e publicado pela Editora Nova Alexandria conta a história da luta de um marinheiro pobre, que queria ser escritor e viver de literatura. Li que o Jack London fez sucesso escrevendo livros de aventura, como O Lobo do Mar e que este romance é diferente de tudo que ele escreveu, é “semi-autobiográfico” – a vida de Jack London foi bem parecida com a de Martin Eden.

Convidado por Arthur para jantar em sua casa, Martin Eden conhece sua irmã, Ruth, “uma criatura pálida e etérea, com uns olhos azuis grandes e espirituosos e abundante cabeleira loira. Comparou-a a uma pálida flor de ouro sobre uma haste delicada. Não; era um espírito, uma divindade, uma deusa. Tal beleza não podia ser da Terra.” Ruth estudava Literatura na universidade e Martin já tinha muito interesse pelo assunto, apesar de só ter lido poucos livros.

Conversaram e Ruth lhe falou de Swineburne, um poeta de quem Martin só tinha lido alguns versos. Ficou tão impressionado com o discurso da moça que chegou a seguinte conclusão: “Isto é que é vida intelectual, isto é que é beleza viva, maravilhosa, como nunca sonhei que existisse. Eis uma coisa por que valia a pena viver, uma coisa que merecia ser conquistada com luta, enfim, pela qual valia a pena morrer. Os livros diziam a verdade.” Ficou apaixonado por Ruth e pela literatura e decidiu lutar pelas duas.

Não foi nada fácil a luta de Martin Eden para conquistar suas duas paixões. A Ruth, depois de algum tempo e muita dedicação, ele começou a namorar, contra a vontade da família dela, que não aprovava a união da filha com um rapaz que pertencia a outra classe social e não tinha uma profissão definida. Depois que decidiu virar escritor abandonou o trabalho de marinheiro e só fazia alguns bicos para pagar sua comida, o aluguel do quarto onde morava e da máquina de escrever.

Só dormia quatro horas por dia e nas outras vinte lia e escrevia. Escrevia ensaios e contos, que mandava para as revistas literárias publicarem, por isso também gastava grande parte de seu dinheiro em selos do correio. Mas as revistas recusavam todos os seus textos. Depois escreveu livros, que também foram recusados. Um dia Ruth tentou convencer Martin a deixar seu sonho um pouco de lado e procurar um emprego: “Por que não tenta um lugar num jornal, se sente assim tanto gosto em escrever? Por que não experimenta a carreira de repórter?” “Estragaria meu estilo. Não faz ideia de quanto trabalhei para apurar meu estilo” – ele respondeu.

Depois o assunto da conversa passou para os editores, que viviam recusando os textos de Martin. Ele devia estar com tanta raiva dos editores, que disse: “A principal qualidade de noventa e nove por cento de todos os editores é o fracasso. Fracassaram como escritores. Tentaram escrever, mas falharam. E aqui está o maldito paradoxo da questão. Cada porta de acesso ao êxito literário encontra-se vigiada por esses cães de guarda – os fracassados da literatura.” No final da história Martin Eden conquista os editores que tanto odiava, consegue publicar todos os seus livros, vender e fazer muito sucesso como escritor, mas aí, já era tarde.

Jack London nasceu em São Francisco, nos EUA, em 1876, e morreu em 1916. Viveu uma infância pobre em Oakland e na adolescência trabalhou dezesseis horas por dia numa fábrica. Depois se alistou por algum tempo numa escuna, virou marinheiro e conheceu o Japão e a Sibéria. Voltou a ser operário para largar tudo novamente, levou uma vida de andarilho e chegou a ser preso. Terminou os estudos formais e matriculou-se na Universidade de Berkeley. Mas o preconceito contra estudantes pobres o fez sair da faculdade e tentar a sorte na “corrida do ouro” do Alasca. Ainda tentou ser carteiro e aos 25 anos largou tudo e decidiu ser escritor. Publicou mais de cinquenta livros, entre eles O filho do lobo (1900), O chamado da floresta (1903), O povo do abismo (1903), O lobo do mar (1904), Caninos brancos (1906), A estrada (1907), O tacão de ferro (1907), Martin Eden (1909), A travessia de Snark (1911), John Barleycorn (1913) e O Vale da lua (1913), além de mais de cem contos publicados em revistas.

Compartilhe:
  • Facebook
  • Twitter
  1. Vocêéum blogueiroliterário muito maneiro! Depois de ler esse seu texto fiquei um pouco assim, comoposso dizer…?

  2. Oi, Pablita. Obrigado! Eu também fiquei um pouco assim, lendo esse livro. Sobre as entrelinhas, se tiver, podem, até, ser minhas, mas a decepção e revolta são de Martin Eden.

  3. Oi, Antonia. Sim, deve ter na biblioteca, pois é um autor importante. Na livraria parece que está esgotado… Se você quiser eu empresto o meu exemplar.

  4. oi, heitor! gostei muito de saber sobre o martin eden. identifiquei-me em muitos aspectos. antes de finalmente conseguir publicar o meu livro, eu quase desisti de tudo e cheguei a me perguntar muitas vezes se eu tinha mesmo talento para a coisa. foi um tempo bem dificil. apesar da vida dura que ele levou, ele não desistiu de seu sonho e isso fez dele uma pessoa extremamente humana e melhor.

    obrigada pela dica e por continuar – você também – persistindo com o blog!

  5. Parabéns para o Martin Eden, mas parabéns para você também Heitor, que com tão pouca idade se dedica tanto ao mundo da literatura. Independente do caminho que queira seguir, esse é o caminho para o sucesso, a leitura abre portas e nos da asas…

  6. Olá Heitor,
    Faz tempo que eu não te visito aqui no seu blog, não é?
    Fiquei muito interessada na história que você contou e me identifiquei também com o “não desistir do nosso sonho”.
    Na verdade, acho até que nosso sonho é quem não desiste da gente, pois fica o tempo todo nos chamando para ir atrás dele! E parece que ele não sossega até a gente chegar lá!
    Bjs.,
    Ana Lucia

  7. Oi, miki. Já estava com saudades. Eu me lembro que você me contou como foi publicar seu primeiro livro. Então, vou seguindo o exemplo de vocês e continuo firme com meu blog.

  8. Oi, Odete. Obrigado! Visitei o seu blog e gostei muito. Parabéns, também. Vou colocar um link do seu blog aqui no meu.

  9. Oi, Ana Lucia. Pois é, já estava com saudades. Eu também sinto isso… Vou atrás dos meus sonhos e eles, às vezes, também, vêm atrás de mim.

  10. Que texto! Poxa, 4 horas de sono e 20 de puro esforço! Achei uma pena ele ter alcançado o sucesso tão tarde…Bom, mas é sempre motivador ver exemplos de foco e amor ao que se faz tão grandes quanto esse. Um abraço!

  11. Oi, Iago. Obrigado! Também fiquei um pouco triste com esse final, mas acho que valeu a pena o esforço. Ficou a obra!

  12. Olá Heitor.
    Fiquei triste ao ler a história de J.L. Mas é incrível como são situações assim que nos fazem confiar mais ainda no sonho de ser escritor. Temos muitos exemplos de escritores brasileiros pertencentes a diferentes escolas literárias que sofreram com a situação do país nao ser um país-leitor, mas que mesmo assim são lembrados hoje.
    até mais!

  13. Oi, Alex. Também achei a história de Martin Eden triste, mas é muito bonita. Vi seu blog, o Reticências e gostei muito. Já coloquei um link dele aqui no meu blog. Até!

  14. OLÁ Heitor Tudo Bem?

    Eu estou com dúvida para escolher livros na biblioteca da escola onde eu estudo será que vc pode me ajudar?vc tem colocado muitos livros legais e trabalhos feitos com as turmas de várias escolas Obrigado… 😀

  15. Oi Heitor seu blog é incrível, eu tava vendo alguns trabalhos que vc tem feito com as turmas e achei muito legal é muito bom ler quando eu crescer quero ser professora de Português eu admiro seu trabalho, e admiro também todas as professoras de Português 😀 Um Beijão…

  16. Oi, Vitória. Não sei, são tantos livros! Dá uma olhada nos que eu comentei aqui no blog e conversa com a sua professora.

  17. Ola Heitor meu nome é Bruna Emanuelle e das minhas companheiras são: Marcella Eduarda e Débora Rachid.A professora Rita passou uma nova atividade do livro “Meu tempo e o seu ” de João Basílio e Maria Teresa Leal .Nós gostamos muito desse livro por isso indicamos ele para todos.Nosso grupo fez o capitulo ‘O Cinema” do livro .Nós entrevistamos a bibliotecária: Williane Hunas Ramalho.Nosso grupo achou muito interessante o capitulo “livros”. Nós aprendemos que ler livros pode ser muito melhor do que parece ser .Indicamos esse livro pois ele incentiva muitas pessoa a ler e saber mais de antigamente.
    Obrigado por sua atenção .beijos

  18. Oi Heitor meu nome é Thiago Cesar e do meu parceiro é Matheus Henrique.
    Neste começo de mês minha professora Rita deu uma nova atividade,
    Do livro Meu Tempo e o seu Tempo,gostamos muito deste livro nós lemos ele com muita atenção e gostamos demais agora estamos fazendo uma atividade do livro.A professora deu uma ficha para nós entrevista-mos uma funcionaria da Escola.
    Ai a professora sorteou um tema para cada grupo,ganhamos o tema da escola da qual ela estudou , entrevistamos a Silvana uma faxineira a melhor escola que ela estudou foi Rodrigues Campos , ela disse que era a única escola que havia por perto e quando chegava a 4° serie 5°ano ela mudava para a escola mais perto que tinha a 5° serie 6° ano por perto.
    Gostei muito desta atividade.
    E de seu blog.
    Obrigado Heitor Tchau do Thiago Tchau do Matheus.

    Até outro dia Heitor

  19. Olá eu gostei muito do seu livro o meu tempo e o seu ele fala das brincadeiras de antigamente a escola antigamente e até entrevistamos um adulto chamado Andersom

  20. olá heitor estamos na informatica para falar do seu livro.
    meu tempo e o seu, o meu entrevistado foi o professor Klesío e ele respondeu nossas perguntas que fizemos
    como era a sua escola antigamentre?
    gostamos muito obrigada por nos dar segurança de ler o livro
    como vc cria a suas historia ? ,
    agradecemos o seu trabalho.
    k:) 🙂 🙂

  21. ola Heitor,
    nos lemos o livro (meu tempo e o seu) lemos na aula de historia com a professora Rita,e a professora Luciana nos ajudou a organizar,fizemos uma entrevista com a coordenadora Sandra e o assunto é sobre cinema,perguntamos qual o filme que ela gosta,o cinema que ela vai,resumindo bastante coisas.Gostamos muito desse trabalho fala de uma historia interessante e divertida de ler e gostamos muito de entrar no seu blog desde já agradecemos Cáthia e Fabiola

  22. Oi, alunos da escola municipal Luís Gatti, de Belo Horizonte. Obrigado por compartilharem o trabalho que fizeram com a professora Rita, de História, e a professora Luciana, de Língua Portuguesa, com o livro “Meu Tempo e o Seu”. Obrigado também pela sugestão de leitura, gosto muito de livros que contam histórias assim, a gente fica sabendo como eram as coisas antigamente, compara com as de agora e aprende um monte de coisas. Quero ler esse livro, vou procurar ele aqui em São Paulo. Um abraço a todos e a todas, e voltem sempre!

  23. È, Martin sofreu muito ate realizar o seu sonho, mais no final deu tudo certo. A historia dele serve de exenplo pra muitos.

  24. Oi, Weverton. Também gostei muito desta história, sim, o Martin sofreu, mas no final conseguiu…

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *