Li histórias de menino francês

Como eu prometi no post anterior, hoje eu vou contar a história de outro menino que conta histórias. Desta vez é um menino francês. O nome dele é Nicolau, o Pequeno Nicolau. No post anterior eu falei do André, do livro do Adriano Messias. Revendo os posts do blog, eu encontrei outro menino, que eu já contei a história dele, que também contava histórias e que até criou um personagem. O menino é o Geraldo e o personagem que ele criou é o Pandonar, do livro do João Ubaldo Ribeiro (http://blogdoleheitor.sintaxe.com.br/?p=115). Eu estou gostando muito dessas histórias de meninos que contam histórias!

O Pequeno Nicolau

O pequeno Nicolau foi criado em 1959 por René Goscinny e Jean-Jacques Sempé. Anne Goscinny, filha de René, que morreu em 1977, juntou algumas histórias inéditas guardadas pela mãe, desde a morte do pai. Ela fez um primeiro projeto gráfico dessas histórias e mostrou para Sempé.  Ele ficou muito animado e decidiu se juntar a ela para lançar, em 2009, essas histórias inéditas do Pequeno Nicolau e comemorar os 50 anos do personagem. Peguei essas informações na apresentação do livro e depois eu pesquisei e descobri que desde que foi criado O pequeno Nicolau já vendeu mais de nove milhões de exemplares na França, 13 milhões em todo o mundo e foi traduzido para 37 idiomas. Dizem que ele é tão popular quanto seu conterrâneo O pequeno príncipe e que ganhou um monte de homenagens na França e virou até celebridade nacional. O livro que eu li foi A volta às aulas do Pequeno Nicolau, que é o primeiro volume da série de oito livros já lançados na França. A Editora Rocco está lançando esses livros no Brasil. A história do Pequeno Nicolau já passou no cinema neste ano, eu não assisti, vou ver se já tem em DVD. René Goscinny também foi o criador, junto com Albert Uderzo, de outro personagem famoso, o Asterix.  

Os personagens e as histórias

O Nicolau tem muitos amigos. O Alceu, que é o guloso da turma e está sempre comendo; o Clotário, que é o último da classe e vive de castigo; o Godofredo, que é o riquinho da turma e sempre tem um brinquedo novo; o Eudes, que é o valentão e dá socos nos colegas; o Agnaldo, que é o primeiro da classe e o xodozinho da professora; o Joaquim, que é o melhor na bolinha de gude; e o Rufino, que faz muita bobagem e quer ser policial, como o pai. O livro é dividido em pequenas histórias e quem conta é sempre o Nicolau. Ele tem um jeito muito engraçado de contar as histórias e mesmo quando elas não têm um final muito feliz a gente acaba dando muita risada. O Nicolau é “uma figura”, como diz o meu tio. Tem a história em que o Nicolau sai com sua mãe para comprar o material para a escola; tem outra que o Nicolau se reúne com seus amigos em um terreno baldio para organizar um grupo que vai defender as pessoas, ajudar os pobres e capturar os bandidos; tem também uma que o Nicolau almoça na escola junto com os semi-internos; outra que um amigo engraçado do pai vai jantar na casa do Nicolau; outra que o Nicolau e os amigos passam uma tarde na casa do Godofredo, o amigo rico que tem até mordomo; tem a história da festa de aniversário do Clotário, o último da classe, e do dia em que o pai do Nicolau comprou uma televisão, e muitas outras. Nas histórias do Nicolau sempre acontecem muitas confusões, mas no final tudo dá certo.

Uma história inteira

Tem uma história que eu gostei muito e vou contar inteirinha, até o final, o nome dela é O coelho maneiro e é mais ou menos assim: Como a classe do Nicolau se comportou muito bem a professora levou massinha e ensinou os alunos a fazer um coelho bem orelhudo. O coelho do Nicolau era o melhor da classe, foi a professora que disse. Estava melhor do que o do Agnaldo, que era sempre o primeiro da turma, o xodozinho da professora e que não gostou nem um pouco de não ser o primeiro desta vez. Nicolau achou essa aula muito legal e voltou para casa supercontente, com o seu coelho na mão para não esmagar dentro da pasta. Ele entrou correndo na cozinha e disse: – Olha, mamãe! Ela deu um berro, se virou assustada e disse: – Quantas vezes eu já te disse para não entrar assim na cozinha feito um selvagem. Ele mostrou para a mãe o seu coelho maneiro e ela disse: – Tudo bem, vá lavar as mãos. O almoço está pronto. – Mas olhe meu coelho, mamãe, a professora disse que era o mais maneiro da sala. – Muito bem, muito bem, disse a mãe. Agora vá se preparar para o almoço. Ele viu que a mãe não havia nem olhado para o seu coelho. Quando ela diz “Muito bem, muito bem”, o Nicolau sabe que é sinal de que ela não está olhando de verdade. – Você não olhou o meu coelho, ele insistiu. Nicolau! Gritou a mãe. – eu já te pedi para se arrumar para o almoço. Já estou estressada o suficiente e não preciso que, além disso, você seja insuportável! Eu não suportarei que você seja insuportável. – Essa foi forte, disse o Nicolau. – Faço um coelho maneiro, a professora diz que é o melhor da turma, até mesmo o xodozinho do Agnaldo ficou com inveja, e em casa levo bronca! Ele diz que assim já é demais, que nunca viu tanta injustiça, dá um chute no banco da cozinha e corre para o quarto para se jogar na cama e ficar emburrado, mas antes coloca o coelho na escrivaninha para não esmagar.

A mãe entra no quarto, diz para ele acabar com essa falta de modos, para ele descer e comer se não quiser que ela conte tudo para o pai. – Mas você nem olhou o meu coelho. – Esta bem! Está bem! Estou vendo o seu coelho. É um coelho muito bonito. Pronto, está satisfeito? Agora você vai se comportar ou terei que me aborrecer com você? Ele começa a chorar e diz: Você não gostou do meu coelho? É isso? De que adianta estudar na escola se na sua própria casa as pessoas não gostam dos seus coelhos? Nesse momento o pai chega em casa. – Onde está todo mundo? Estou em casa! Voltei mais cedo do trabalho! O pai entra no quanto do Nicolau e pergunta o que está acontecendo, pois ouve os berros lá de fora. A mãe responde: – O Nicolau está insuportável desde que chegou da escola. – Eu não estou insuportável, diz o Nicolau. – Vamos com calma, diz o pai. E a mãe reclama: – Você dá razão a ele, e não a mim. Depois você será o primeiro a se surpreender quando ele virar um moleque. – Eu dou razão a ele e não a você? – pergunta o pai. Eu não dou razão a ninguém. Eu consigo chegar mais cedo em casa e o que encontro: um drama. – E eu? – perguntou a mãe. Você acha que os meus dias não são duros também? Você sai, vê gente. Eu fico aqui trancada o dia inteiro feito uma escrava para tornar essa casa habitável e, além disso, tenho que aguentar o mau humor destes senhores. – Eu? Por acaso estou de mau humor? – gritou o pai, dando um murro em cima da escrivaninha do Nicolau, que ficou apavorado, pois se tivesse acertado o coelho ele ficaria todo achatado. E a discussão entre o pai e a mãe do Nicolau foi esquentando até que a mãe sentou na cama do Nicolau e começou a chorar. O Nicolau que não gosta de ver a mãe chorando, também chorou com ela. O pai olhou para os dois, sentou ao lado da mãe, a abraçou e deu um lenço a ela. – Ora minha querida, nós estamos fazendo papel de bobos nos deixando levar pelo nervosismo. – Você tem razão, disse a mãe.   Mas o que você quer, com o tempo ruim como o de hoje e ainda o menino… – É claro, é claro, disse o pai. – Tenho certeza de que tudo vai se arranjar. Você sabe que é preciso um pouco de psicologia para lidar com as crianças. Espere, você vai ver. Então o pai se virou para o Nicolau passou a mão no seu cabelo e disse: – Não é verdade que o meu Nicolau vai ser gentil com a mamãe e lhe pedir perdão? O Nicolau disse que sim, pois ele acha que o momento mais legal na sua casa é quando se termina de brigar. A mãe diz que foi muito injusta com o Nicolau, pois ele foi muito bem na escola e foi até elogiado pela professora. – Mas é ótimo, é magnífico…, diz o pai. Essa história me deixou com fome. Está na hora de comer e depois o Nicolau conversará comigo a respeito de todo esse sucesso na escola.

E o Nicolau termina contando assim essa história: – Papai e mamãe deram risada e então fiquei muito contente, e enquanto papai beijava mamãe fui pegar o meu coelho para mostrar a ele. Papai se virou e disse: – Vamos lá, Nicolau, agora que está tudo bem, você vai se comportar, hein? Então, vá jogar logo no lixo essa porcaria aí e depois vá lavar bem as mãos para que a gente possa almoçar tranquilamente. 

Amanhã é o meu aniversário. Eu vou fazer 12 anos.

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  1. Leitor, parabéns pelo seu aniversario. QUando fiz 12 anos foi bem legal. Estava na sexta serie, quase sétima! Naquela época, depois vc me conta como é na sua, eu brincava muito na rua com os amiguinhos: era roubagalho, queimada, esconde-esconde, pega-pega, estrela nova sela ufa! Também já tinha videogame e ficava horas tentando terminar o jogo! Alex kid do mastersystem! srsrsrs acho q vc nunca ouviu falar, né? Ah, já tinha o coração ocupado tb. Não me lembro se tive festa de aniversario, mas com certeza minha querida mãe fez um bolinho. Até hoje é assim. Espero que vc se divirta muito no seu aniversario.
    Abraços melados de brigadeiro de festa! hihihihi
    Paula. agora com 29 anos.

  2. Caro LE-Heitor, suas dicas de leitura são sempre quentíssimas. O resultado disso é que esfolo minhas economias na livraria comprando livros para Ulisses e Sofia. Amplexos do JeosaFÁ procê.

  3. Oi, Paula! Demorei pra responder, né? Estou com saudades. Nunca vou esquecer, você (e a Otacília) me levaram a minha primeira sessão de autógrafos (e contei tudo aqui no blog). Depois eu vi você na Bienal e nunca mais… Eu vou fazer o sétimo ano, no ano que vem. As minhas brincadeiras são essas mesmas, só o videogame que está um pouco mais moderno rs rs rs. Eu jogo videogame, mas não sou o melhor da turma, mesmo assim, às vezes ganho uma partida. No meu aniversário minha mãe também fez um bolo e eu chamei os meus amigos. Vieram uns da escola e outros aqui da rua. Um dia eu vou falar deles. Agora, sobre o meu coração, não posso falar… e se ela ler?

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