Li histórias de assombração

Outro dia eu vi a entrevista de um escritor bem famoso, o Mario Vargas Llosa. Ele até ganhou o Nobel de Literatura, que é um prêmio muito importante. Eu vejo esses programas com o meu pai. Ele gosta de assistir entrevistas na televisão e quando tem alguma coisa que eu gosto também, eu assisto com ele. Na entrevista o escritor disse que gosta mais de ler do que escrever.  Nesses dias que eu andei sumido, li três livros, mas não consegui escrever nenhuma linha no blog. Não faltou assunto: os livros são bem bacanas e eu descobri um monte de coisas que eu posso contar aqui. Provas e trabalhos na escola, o clima da eleição, sei lá, essas coisas me preocuparam muito. Eu contei isso para o meu pai e ele me disse que escrever dá trabalho, mesmo, e que era para eu escrever no blog quando tivesse vontade. – “Mas você sabe, Heitor, que é só sentar e começar, que você consegue escrever coisas muito bonitas”. Achei o maior legal meu pai falar assim comigo.

Um dos livros que eu li foi o Histórias mal-assombradas de Portugal e Espanha. Este livro faz parte de uma série da Editora Biruta chamada Contos para não dormir. Quem escreve esta série é o Adriano Messias. Eu conheci o Adriano na Bienal do Livro. (http://blogdoleheitor.sintaxe.com.br/?p=308). Ele já escreveu cinco livros desta série e ainda vai lançar mais dois. Nesse que eu li, ele conta histórias de assombração que foram criadas em Portugal e na Espanha. Nos outros livros da série ele me disse que contou histórias mal-assombradas de Minas Gerais, do interior de São Paulo, do tempo da escravidão e muitas outras. Sim, ele me disse! Eu conversei com o Adriano no sábado passado. Ele estava num bate-papo na Livraria Cultura e eu fui lá assistir. Ele autografou o meu livro e eu tenho mais um na minha coleção de livros autografados. Foi de manhã, estava chovendo em São Paulo, tinha pouca gente e deu para conversar um montão com o Adriano. Ele é bem legal! Ele fez faculdade de Letras e Jornalismo, mestrado em Comunicação Social e hoje faz doutorado em Comunicação e Semiótica. Ele escreve para crianças e adolescentes e a vontade de ser escritor veio quando ele tinha 12 anos.

Eu disse a ele que gostei muito do livro e que li rapidinho. Comecei a ler e não consegui parar mais. Essas histórias de assombração prendem a gente. Elas dão um pouco de medo, mas só um pouquinho. Tem a história da “Mulher da meia-noite”, por exemplo. Eu mesmo já ouvi alguma vez essa história, mas quando é contada dá um arrepio. Uma mulher muito bonita aparece vestida de vermelho em bares e se aproxima de homens solitários. Senta à mesa e conversa com um homem que fica encantado com a sua beleza. Depois de muita conversa ela pede ao homem que a leve até a sua casa, pois tem medo de ir sozinha. No caminho eles continuam conversando até que chegam em frente a casa da mulher que diz: – É aqui que eu moro…” Ele olha ao lado e vê um terreno com um muro muito comprido e percebe que lá é o cemitério. Quando volta para falar com a mulher ela já tinha desaparecido.

O Adriano nasceu na cidade de Lavras, em Minas Gerais e quando era criança ouviu muitas histórias de assombração. Essas histórias fazem parte da tradição oral dos povos, que preservaram sua cultura pela fala. Nesta série ele conta as histórias que ouviu, outras que pesquisou e algumas que inventou. Na verdade quem conta essas histórias é o André Villas Boas, um personagem criado pelo Adriano Messias. André é um menino que morava em Belo Horizonte e se mudou para São Paulo. No começo do livro o André se apresenta. Ele diz que está numa escola nova, mas os seus gostos continuam os mesmos de antes: cinema, shopping, colecionar selos, criar páginas na internet, desmontar coisas e colecionar gibis. Ele disse que está tentando fazer novos amigos, mas a vida corrida da cidade nem sempre facilita as coisas. – “Eu encontro muito tempo livre para ler e gosto de ler, ninguém me obriga a fazer isso. Leio de tudo, livros de aventura, revistas de viagens, blogs e sites.” Estou gostando desse André! Ele disse que no caminho de casa para a escola a sua imaginação voa e que um dia quer escrever livros. – “Mas, para ser escritor, uma professora me disse que a gente tem de ler e ler e ler… e ter talvez um certo talento. Será que eu tenho?”, o André se pergunta.  Perguntei ao Adriano quantos anos tem o André, no livro não fala. Ele tem 16 para 17 anos. Ele já é grandão, eu ainda vou fazer 12. Mas eu também quero escrever livros e vou continuar lendo.

André vai visitar sua avó e as três tias (Clara, Branca e Alva) tricotadeiras em Lavras. As tias tricotam sem parar e fazem cachecóis enormes. Lá é que ele ouve as histórias mal-assombras que conta no livro. Tem a história da “Dama do pé de cabra”, que ele contou mais ou menos assim:  

Adriano Messias

Um homem muito rico encontra uma mulher maravilhosa e quer se casar com ela. A mulher impõe uma condição: ele não deve pronunciar jamais o Nome do Pai ou qualquer outra oração em sua casa e nem fazer o sinal da cruz. Ele aceita a condição e se casa com ela. Na noite de núpcias descobre que a mulher tem um pé de cabra (não que tivesse a ferramenta, um pé dela era de cabra, mesmo!) Ele não deu importância para isso, já que a mulher era muito bonita. Passaram-se os anos, eles tiveram dois filhos. O homem tinha um cachorro fiel e a mulher uma cadela preta e magricela. Um dia o homem está jantando, joga um pedaço de carne para o seu cão e diz: “Silvano, coma à vontade, pois és um cão amigo. A cadela da minha senhora é que nada merece, que o diabo a leve”. A cachorra vivia ressentida de ser excluída pelo homem. Não ganhava carinhos e nem petiscos. Não se passaram dois segundos e a temida cadela da esposa pulou no pescoço do cão amado. Foi uma luta injusta: a cachorra abocanhou o pescoço do outro animal e, em poucos momentos o animal estava morto sem que ninguém tivesse conseguido interferir. O homem assistiu a tudo horrorizado e disse: “Jesus Cristo, valei-me” e benzeu-se várias vezes fazendo o nome do pai. Estava desfeito o trato. Restaria ver o que viria em seguida. O final dessa história está lá no livro… Quem conta é o padre Mingau, que faz o maior suspense para prender a atenção de todos.

Outro livro que eu li e que vou falar dele no próximo post, também é a história de um menino que conta histórias. É um menino francês, o Pequeno Nicolau.

Compartilhe:
  • Facebook
  • Twitter
  1. Heitor,
    Vc andou sumido…interessante que ontem eu lembrei que fazia um tempo que não recebia um post seu.
    Se eu tivesse um filho gostaria que fosse como vc(rsrs)super antenado.
    Ah! Eu adoro historias de assombrações….rsrs
    bj

  2. Oi, Angela-Lago. Que bacana ter o seu comentário no meu blog. Quero ler o seu livro “Marginal à esquerda”. Soube que ele ganhou dois Jabutis.

  3. Oi, Heitor.Estava com saudades dos seus posts ,como sempre depois dos seus comentário sobre os livros quero continuar a lê-los.Parabéns !

  4. Kara gostei do seu blog…
    eu conheço esse escritor talentoso e além de talentoso,é charmoso e bonito…
    vamo combina né..kkkk…parabéns…bjs

  5. Oi, Jhonata. Obrigado. Legal! Eu também conheci esse escritor. Ele é talentoso, mesmo! Vi que você gosta de histórias de Vampiros. Vou pegar umas dicas no seu blog.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *