Fui sozinho à biblioteca do bairro

Já tinha ido outras vezes à biblioteca do meu bairro. Mas fui com a professora e a minha turma da escola ou com a minha mãe. Nunca tinha ido sozinho. Nesta semana eu estava em casa e pedi à minha mãe: – Posso ir à biblioteca, mãe? – Pode. Espera um pouquinho que eu te levo. – Não, mãe. Eu quero ir sozinho. – Por que você quer ir sozinho? – Sei lá, deu vontade. – Você não acha que é muito pequeno para sair assim, pela rua, sozinho. – Mas eu não vou sair, assim, pela rua. Eu vou à biblioteca. Não tem perigo, só são quatro quarteirões e eu presto bastante atenção na hora de atravessar. – E o que você vai fazer lá? Ora, mãe, o que uma pessoa faz numa biblioteca?

Muitas coisas, seu espertinho. Por exemplo: ela pode ficar lá, lendo um livro, ou pegar um livro emprestado para ler em casa. É isso que eu quero saber… Tudo bem, eu deixo você ir, mas quero que volte logo. – Tá bom, mãe, eu não vou demorar. Eu vou pegar um livro emprestado e volto para ler em casa. – Mas você não tem a carteirinha da biblioteca. Pra pegar livro emprestado precisa ter a carteirinha. – Eles devem fazer na hora. – Então leva um documento e uma conta de luz. Pra essas coisas eles sempre pedem comprovante de residência.

Sai pela rua, assim, sozinho, como disse minha mãe. Claro que eu já tinha estado outras vezes sozinho, mas desta vez foi diferente. Senti um frio na barriga, uma sensação estranha e gostosa. Era como se eu crescesse mais um pouco naquela hora. Outro dia eu aprendi uma palavra que explica direitinho o que estava acontecendo comigo: emancipar. Eu acho que eu estava me emancipando saindo sozinho para ir à biblioteca.

Cheguei lá, entrei e um rapaz muito simpático me atendeu. Ele me cumprimentou e perguntou o meu nome. – Heitor, eu disse. E você, como se chama. – Eu me chamo João Gabriel. Está procurando algum livro, Heitor. – Sim, estou. – Qual é o nome do livro? – Não sei. Estou procurando um livro pra ler, mas não sei o que quero. – Posso te ajudar? – Claro que pode. – Você gosta de ler? – Gosto – Quais foram os últimos livros que você leu? Falei da Alice, do Pandonar e do Encafronhador, que eu já contei nos posts.

João Gabriel é bibliotecário e gosta de ajudar as pessoas a escolher livros pra ler. Ele disse que sempre começa por essa pergunta, e depois faz outras: – O que você gosta de fazer? Você gosta de brincar? Gosta de aventuras? De viagens? Ele disse que para cada pessoa tem um caminho, e ele vai conversando, até encontrar o tipo de leitura que pode agradar essa pessoa. Ele não ajuda só as crianças, ele também orienta os adultos para escolher um livro. Essa biblioteca do meu bairro antes era só infantil, hoje ela atende crianças e adultos.

Ele disse que no seu trabalho de bibliotecário tem dois grandes desafios: o primeiro é despertar as crianças para outras leituras. Ele explicou: há crianças que só leem os bestseller ou os livros da moda. Quando esses acabam, elas não leem mais nada. Procuro mostrar para essas crianças que existem outras leituras tão boas, ou muitas vezes, melhores do que essas. – Tenho tido muito sucesso nessa batalha. O outro desafio é recuperar o desejo de leitura dos adultos que já perderam esse hábito. – Neste caso, procuro trabalhar com os bons autores contemporâneos ou indico um clássico que ele não tenha lido. Esse desafio é um pouco mais difícil, pois sou jovem e só estou iniciando minha carreira de leitor, disse o João Gabriel com muita humildade.

Bem, no final eu fiz a minha carteirinha da biblioteca do meu bairro. Ela serve para pegar livros em qualquer biblioteca da prefeitura, inclusive na Mário de Andrade, que foi reinaugurada nesta semana. Agora sou sócio do Sistema Municipal de Bibliotecas. Minha mãe tinha razão (mãe sempre tem razão rs rs rs): precisou de documento e comprovante de residência. Com a ajuda do bibliotecário João Gabriel, eu já peguei dois livros emprestados e tenho até quinze dias para ler e devolver. O primeiro é A ilha perdida, de Maria José Dupré. Minha professora já me falou dessa escritora, mas eu ainda não li nenhum livro dela. O João Gabriel contou que leu A ilha perdida quando era criança e que foi este livro que o fez se apaixonar pela leitura.

O outro livro que eu peguei é A invenção de Hugo Cabret, de um escritor americano chamado Brian Selznick. É um livro bem grosso, bonito e cheio de ilustrações. O João Gabriel me disse que a história desse livro é muito emocionante. Dei uma folheada e o livro começa como se fosse um filme de cinema. Eu vou ler os dois e vou voltar à biblioteca. Da próxima vez quero ficar na sala de leitura. É muito gostoso ficar lá, é silencioso, tem jardins em volta e muitas árvores. Agora eu já aprendi o caminho para ir sozinho à biblioteca do meu bairro, estou emancipado.

A Camila e a Sabrina deixaram um comentário no blog perguntando se eu já tinha lido o livro O menino e o boi do menino, de Cyro de Mattos, da editora Biruta. Elas disseram que gostaram muito dessa história. Eu respondi que ainda não tinha lido. E fui ler para compartilhar minha leitura com elas. Oi, Camila! Oi, Sabrina! Eu também adorei este livro. A história me fez lembrar uma notícia que eu vi esses dias na televisão. Um cachorro, que dava muito trabalho aos seus donos, foi dado para uma família bem distante. Não demorou muito e o cachorro da notícia fez como o boi da nossa história.

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  1. Gostei muito joão. Explicar o funcionamento de uma biblioteca é importante. Quanto menos familiaridade os garotos têm com as instiutições, e a biblioteca municipal é uma delas, mais se afastam por medo de “pagar Mico”. Um dia te conto histórias de meninos de escolas públicas e a resistência a se aproximar da biblioteca- a escolar- por desconhecer o funcionamento
    Abs. Eny

  2. Que bom que você gostou, Eny. O Heitor já ficou curioso e vai querer ouvir as histórias desses meninos.

  3. Amei esse post. Nossa achei que nem se ia a biblioteca. Eu conheço a Biblioteca Municipal Monteiro Lobato. Faz tempo eu ja fui lá pra ouvir estorias, eles tinham oficina de estoria.

  4. Nessa também tem contação de histórias. Inclusive, eu acho que em setembro, vai ter um monte de contação de histórias nas bibliotecas municipais, para todas as idades, até para os adultos.

  5. Olá achei, muito importante vc dizer qual a função de um bibliotecário, o que ele faz, e mostrar que nós bibliotecários tbém auxiliamos os usuários nas escolhas de suas leituras. Acho importante que o Heitor conheça todas as novas tecnologias que as bib possui hj em dia, e comente sobre elas, e perceba que mesmo com o surgimento dos livros digitais e da internet,os livros em papel não irão deixar de existir, assim como as cartas não desapareceram com o email. E jamais se pode obter a mesma sensação de folhear um livro deitado embaixo de uma arvore e ter a mobilidade de leva-lo a qquer lugar. Ah eu sou nova ainda, mas tenho muitas histórias ilárias nestes 4 anos de bibliotecária. Qquer dia eu compatilho rs!
    abraços

  6. Ah já mandei pelo Twitter o seu blog, para meus seguidores. Caiu na rede é peixe!!! rsrsrs!!!!

  7. Oi, Priscila. Você é muito animada! Adorei! Quero descobrir mais das bibliotecas e compartilhar com você.

  8. Oi, eu sou o Fernando, sobrinho do tio Sergio (amigão do João). Eu achei a estória muito legal, pois foi a primeira vez que ele foi à (com crase, rs rs) biblioteca sozinho e sentiu-se “emacipado” (eu não conheço essa palavra e achei-a muito interessante).

  9. Oi, Fernando! Fico feliz que você achou a estória legal. Eu também achei essa palavra (emancipar) interessante. Assim como o Théo, do livro que eu contei no outro post, eu também gosto de consultar no dicionário as palavras novas que eu escuto. Emancipar quer dizer “tornar-se independente”. Então, eu não dependo mais da minha mãe e nem da professora para ir à (com crase rs rs) biblioteca.

  10. Oi!

    Adorei o “post” e por mencionar o papel de mediação que o Bibliotecário faz – relevante a qualquer fase (estação) da vida.

    Abraços da Eli
    PS: sou lá da Mário de Andrade

  11. Olá Heitor,
    Somente agora consegui entrar no seu blog!
    Fiquei muito emocionada em ver que sua história foi muito parecida com a minha. Frequentei a biblioteca Anne Frank na minha infância e outro dia voltei lá e achei maravilhoso.
    Ah, também li o livro A ilha perdida.
    Bjs,
    Ana Lucia

  12. Oi, Ana Lúcia. É bem legal a biblioteca Anne Frank, não é? Vou voltar lá esta semana para devolver os livros que eu peguei emprestado. Estou terminando de ler e depois vou contar a história deles aqui.

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