Cheguei de Paraty e já estou com saudades. Tentei mandar notícias de lá, mas não consegui. A gente ficava o dia todo pela rua, assistindo às palestras e participando da festa literária, e só voltava para a pousada à noite. Não deu tempo de escrever nada. Um dia eu tentei e até escrevi o primeiro parágrafo: “Estou aqui em Paraty, na Flip, já assisti a um monte de coisas e também perdi muitas, não dá pra ver tudo, acontecem muitos eventos ao mesmo tempo. Meus pais e os amigos deles, que também estão por aqui, me disseram que antes só tinham os eventos da Flip, mas hoje tem também a Flipinha, para as crianças; a Flipzona, para os adolescentes; os eventos na Casa de Cultura, na Casa do Sesc, as atividades na rua, eventos de um jornal… é legal, mas às vezes eu fico um pouco perdido e não sei o que assistir, se fico com os meus pais e os amigos deles e assisto aos eventos da Flip ou se atravesso a ponte e vou para a Flipzona.” Só escrevi isso, quando eu comecei a tentar explicar que a Flip ficava de um lado do rio e os outros eventos, do outro lado e por isso eu tinha que atravessar a ponte, me deu um sono tão grande, que eu não consegui continuar e minha mãe me disse: – Vai dormir, Heitor, amanhã temos que acordar cedo.
Assim que chegamos em Paraty, deixamos a bagagem na pousada e fomos assistir a abertura, em que o professor Antônio Cândido falou sobre o homenageado deste ano. Todo ano na Flip eles fazem homenagem a algum escritor e neste fizeram homenagem ao Oswald de Andrade, que fez parte do Movimento Modernista e participou da Semana de Arte Moderna, que aconteceu em São Paulo, em 1922. O Antônio Cândido conheceu o Oswald de Andrade e conviveu com ele. Eu ainda não li nada do Oswald, mas quando eu ler, acho que vou me lembrar de tudo que foi dito lá e a minha leitura vai ficar mais legal.
Também assisti a outra mesa sobre o Oswald de Andrade, com a Marcia Camargos e o Gonzalo Aguilar. A Marcia é brasileira, jornalista, historiadora e escritora, estudou e escreveu livros sobre o Oswald e os modernistas, e também escreveu a biografia do Monteiro Lobato. Vou ver se eu consigo falar com a Marcia sobre o Monteiro Lobato! O Gonzalo é argentino. Ele estudou literatura brasileira e é especialista em Oswald de Andrade.
Sobre o homenageado também vi a mesa de encerramento da Flipinha, o “mesão” que foi coordenado pela Anna Claudia Ramos e juntou um monte de escritores e ilustradores de literatura infantojuvenil para falar do Oswald de Andrade. Eu encontrei a Anna Claudia nas ruas de Paraty, fui conversar com ela e disse que ia assistir ao mesão. Eu conheci a Anna Claudia no ano passado, na Bienal do Livro. Estavam nessa mesa, além da Anna Claudia; a Heloísa Prieto, que disse que o Oswald era como um menino rebelde, que às vezes faz birra; o Daniel Munduruku, que disse que o Oswald falava que o índio devia estar na literatura brasileira e hoje o índio faz literatura – Daniel é escritor e índio; a Lúcia Hiratsuka, que é escritora e ilustradora e leu um poema do Oswald; a Suppa, que é ilustradora e morou na França; o André Diniz, que é desenhista e roteirista e faz histórias em quadrinhos; a Ciça Fittipaldi, que é ilustradora e disse que a “crítica na obra de Oswald às vezes é maldosa, mas sempre tem humor”; a Flávia Lins e Silva, que estava lançando o livro Mururu no Amazonas; a Bia Hetzel, que é escritora e editora e leu um poema bem engraçado do Oswald, chamado “Erro de português”; o Mauricio Veneza, que é ilustrador e escritor e falou sobre o humor de Oswald; e o Ilan Brenman, que é escritor e disse que as crianças devem falar sem se preocupar com que os adultos vão pensar, devem ser “transgressoras”, como o Oswald.
Uma mesa que fez muito sucesso por lá e eu também assisti foi a que juntou a “musa da Flip” a escritora argentina Pola Oloixarac, – ela é muito bonita e é uma grande escritora, também – e o “queridinho da Flip”, o escritor português nascido em Angola, valter hugo mãe – assim mesmo, tudo com minúscula, como ele escreve o nome dele e o livro também. Eu dei uma olhada no livro dele, é tudo escrito com minúsculas. O mãe disse que escrever faz muito bem para ele, mesmo quando ele escreve histórias tristes e que “os livros são máquinas de criar sentimentos.” No final o moderador perguntou aos dois sobre a relação deles com o Brasil. A Pola disse que achava o Brasil um lugar de pessoas felizes e o mãe leu um texto que ele escreveu sobre sua relação com o Brasil, desde a sua infância e emocionou toda a plateia, que no final o aplaudiu de pé e assim ele virou o “queridinho da Flip”.
Outra mesa legal que eu assisti foi a do escritor francês Emmanuel Carrère com o escritor húngaro, Péter Esterházy, chamada “Laços de família”. O Carrère disse que quando escreve e inventa histórias de ficção a partir do real e das coisas que acontecem, o real cria coisas muito mais fortes que alteram a ficção e a história que ele está escrevendo. Não é bacana isso? O Péter disse que geralmente escreve na primeira pessoa, mas jamais pensa que é uma autobiografia. Ele disse que os escritores não são muito amigos uns dos outros, por ciúmes ou raiva, mas que os livros desses escritores conversam entre si. Achei legal isso, fiquei pensando e descobri que os livros conversam, mesmo. O Péter também falou que antes ele era conhecido como o irmão de um jogador de futebol famoso, que jogou na seleção húngara. Ele disse que em 1985 o Brasil foi jogar em Budapeste e perdeu para a Hungria por 2 a 0 e o irmão dele fez um gol no Brasil.
Assisti a uma mesa com o Ignácio Loyola Brandão. É legal ouvir o Loyola falar! No ano passado eu assisti a uma palestra dele na Bienal do Livro. Na Flip ele contou sobre um livro que está acabando de escrever e vai lançar e que me deu vontade de ler. Um livro que ele disse que escreveu para pedir desculpas ao seu avô, que já morreu há muito tempo. Ele roubou e perdeu umas bolinhas de gude, que o avô guardava dentro de uma caixa de madeira e que eram muito importantes para ele. Essas bolinhas tinham sido os olhos dos cavalos de um carousel, que o avô tinha construído e que foi destruído num incêndio. Só sobraram as bolinhas. Elas sumiram, o avô sentiu a falta, parece que até ficou doente por isso, mas o Loyola nunca disse para o avô que ele tinha roubado as bolinhas. Muitos anos depois ele escreve um livro para contar e pedir desculpas ao avô. Não dá vontade de ler esse livro?
Assisti a uma mesa diferente, com dois escritores colombianos, o Héctor Abad e a Laura Restrepo, que se chamava “Em nome do pai”. Os dois escritores estavam lançando livros que falam de pais. O livro do Abad fala de seu pai, médico colombiano, que foi assassinado por paramilitares em 1987; e o da Laura, fala do pai de seu filho, o seu marido, militante comunista argentino que a abandonou grávida para entrar na luta política. Essa mesa foi diferente, pois o Abad começou dizendo que já estava cheio de falar do seu livro, fez muitos lançamentos, palestras, deu entrevistas e já não aguentava mais, daí ele falou do livro da Laura. Depois a Laura falou do livro do Abad. Achei muito bacana isso. Só ouvir escritores falando de si, às vezes cansa!
Também teve uma mesa com dois jornalistas que editam revistas literárias, chamada “No calor da hora”. O mexicano Enrique Krauze é editor da revista Letras Libres e estava lançando o livro Redentores; e o americano John Freeman, editor da revista Granta, que já tem versão em português e na próxima Flip vai lançar uma edição especial com jovens escritores brasileiros.
Assisti a mesa do David Byrne, que estava lançando o livro Diários de bicicleta. Ele anda de bike desde a década de 1980, conheceu muitas cidades pedalando e falou de urbanismo com o Eduardo Vasconcelos, sociólogo e engenheiro, autor de Transporte e meio ambiente, entre outros livros sobre o assunto. Não vi o Joe Sacco, o famoso quadrinista que faz reportagens com histórias em quadrinhos. Deixei para assistir a mesa dele na Flipzona, mas havia só oitenta lugares e eu não consegui pegar a senha. Também não vi o João Ubaldo Ribeiro. Já li um livro dele e contei aqui no blog. Na hora dessa mesa eu fui assistir ao mesão na Flipinha. Por falar em Flipinha, ela estava bem legal! Tinha uma biblioteca, exposição de trabalhos sobre o Oswald de Andrade com alunos das escolas de Paraty, contação de histórias, teatro, e uns pés de livros. Um monte de livros pendurados nas árvores da praça, que pareciam frutas. A gente podia pegar, ler e depois deixar lá. Embaixo dessas árvores ficavam uns monitores lendo para qualquer criança que quisesse ouvir histórias. Gostei muito da Flip e de Paraty, a cidade estava cheia de gente, escritores, leitores, todo mundo andando pelas ruas, conversando e se divertindo.
Ah, também assisti a um teatro que circulou pelas ruas da cidade apresentando o Dom Quixote de La Mancha. Foi o maior barato, o Dom Quixote e o Sancho Pança que estavam em Paraty eram muito engraçados! Vi muito mais coisas, mas vou parar por aqui, senão este post vai ficar muito grande. No final de tudo teve uma apresentação teatral do José Celso Martinez Corrêa, do Teatro Oficina chamada “Macumba antropófaga”, mas eu não pude assistir, era proibido para menores de dezoito anos. Meus pais e os amigos deles assistiram e me disseram que os atores ficaram pelados e que algumas pessoas do público também tiraram a roupa. Que final maluco! Pena que eu não pude ver.
Notícias da minha biblioteca
Tinha um jornal de São Paulo distribuído, de graça, lá na Flip. No sábado eu peguei um exemplar e sentei pra ler. Justamente nesse dia saiu mais uma daquelas notícias sobre a minha biblioteca: “Prefeito diz agora que tirará biblioteca e teatro do Itaim”. “Ao contrário da promessa original do prefeito, a biblioteca Anne Frank e o teatro Décio de Almeida Prado, não ficarão no terreno do Itaim Bibi. O secretário da cultura disse que o acervo da biblioteca será distribuído”. Eles querem mesmo derrubar a minha biblioteca e desmanchar o acervo organizado em sessenta e cinco anos. Temos que lutar para isso não acontecer. Nesta sexta-feira eu vou à biblioteca. Quero conversar com o meu amigo João Gabriel, o bibliotecário da Anne Frank, e saber o que eu posso fazer para ajudar.
Olha que legal, ainda bem que a Flip cai certinho com o começo das férias. Mas me diga, tinha muita criança aproveitando? Quando meu filho nascer quero apresentá-lo a você e quero que você ensine um monte dessas coisas que um meninão aprende ao viajar nos livros!
Você bem que podia botar uma foto dos seus pais aí no blog, curtindo a flip, hein?
Bjs.
Paula.
Como eu não pude ir a feira literária de Paraty,agradeço ao “heitor” por me contar o que viu por lá,fiquei curiosa e com vontade de ler as histórias de outros países ,achei legal,a apresentação dos escritores e o resumo do livro que escreveram,gostei de lembrar da ponte com um rio que passa embaixo, é muito bonito lá e passa barquinhos de verdade,que lugar lindo,assim é muito bom aproveitar as férias,um bj Vivi
Oi, Heitor! Adorei ler as notícias da Flip! Post completinho!
Nunca fui em uma Flip, mas adoraria ir… ainda mais nessa, em que o homenageado era o Oswald de Andrade. Quando eu tinha sua idade, adorava os versos dele. Mas não sei se você sabe que o Monteiro Lobato não gostava da “turma” do Oswald não! É uma história curiosa, mas deixo pra você descobrir sozinho ;D
Só fiquei triste com as notícias sobre a Biblioteca =( Não acredito que simplesmente estão ignorando nossa petição! Converse com seu amigo e se tiverem mais ideias, poste no blog que de minha aprte, farei de tudo para divulgar!
Heitor, tem mais uma coisa que queria falar com você. Não sei se você tem interesse, mas quero te fazer um convite! Esse fim de semana vai rolar o Festival do Japão, e nele, o lançamento de uma revista em quadrinhos muito legal! É uma revista em estilo mangá (quadrinhos japoneses), mas com autores brasileiros… e as histórias também se passam no Brasil! A revista traz diversos estilos e temas. Neste primeiro número estréiam três histórias; no segundo, as histórias continuam, e estreiam mais três! Você pode conhecer o projeto aqui http://www.acaomagazine.com.br
Seria muito legal se você fosse visitar o estande da editora no Festival, mas se não puder, posso mandar a revista pra você depois =) Me diga o que acha! Não sei se seu blog se limita a livros, mas esses quadrinhos tem uma proposta bem legal!
Beijão pra você e continue, que seu trabalho está excelente!
Oi, Paula. Então, já comecei a aproveitar as minhas férias em Paraty. Agora eu vou ver o que eu faço por aqui, não vou viajar mais. Pode deixar, vou ensinar um monte de coisas para o seu filho, quando ele nascer. Foto dos meus pais no blog? Eles não gostam de aparecer.
Oi, Vivi. Que bom que você gostou. Eu falei mais da Flip, mas eu também curti de montão a cidade de Paraty. Por mim, ficava lá até o final das minhas férias.
Oi, Petra. Que bom que você gostou das notícias da Flip! Eu não sabia que o Monteiro Lobato não gostava da turma do Oswald. Quero escrever sobre o Monteiro Lobato no blog e vou pesquisar isso também. Sobre a biblioteca, na sexta-feira vou lá, falar com o meu amigo, e depois vou contar aqui no blog. Temos que fazer alguma coisa. Claro que eu quero ir nesse Festival do Japão. Vou pedir para o meu pai me levar e vou procurar o estande da editora. Eu gosto muito e já falei uma vez de quadrinhos aqui no blog, e quero falar mais. Obrigado!
Que legal, vou passar para os meus sobrinhos, assim eles poderão se deliciar com tantas informações interessantes e úteis.
Um Abraço
Ester
Olá Heitor, foi um prazer conhecer você e seus pais lá na Flip.
Estava ótima mesmo. Como eu só cheguei no terceiro dia, não consegui ver muita coisa e por aqui, pelo seu relato, já deu pra ter uma ideia de como foram as mesas. Bem bacana, gostei.
A do Joe Sacco e do João Ubaldo, que assisti, forma muito legais. Me emocionei, divertei e aprendi. A Flip é assim mesmo, a gente ganha um pouco de tudo, e o que é melhor, amizades que ficam.
Escrevi também sobre a Flip no meu blog. Depois dá uma passada por lá.
Beijos.
Oi, Ester. Legal! Obrigado por divulgar o meu blog.
Oi, Cecilia.
Eu adorei conhecer você! Meus pais também gostaram e eles viram que eu estou fazendo amizades bem bacanas com o meu blog. Vou lá ler o seu blog e deixar um comentário. Quero ver o que você achou da Flip e ler sobre as mesas do João Ubaldo e do Joe Sacco, que eu perdi. Você tinha razão, a Flip é bem legal! Quero voltar lá.