Primeira derrota da minha luta política

Hoje eu li uma notícia no jornal que me deixou muito triste: “Câmara libera venda de terreno no Itaim”. Eu já falei muito aqui no blog da minha primeira luta política, a luta em defesa da minha biblioteca. Participei de passeata, fui a algumas reuniões e a uma audiência pública na Câmara Municipal. A prefeitura quer vender um terreno onde ficam a minha biblioteca, um teatro, duas escolas, uma creche, duas unidades de saúde e uma unidade da Apae. Quem quiser saber mais, pode procurar aqui no blog, eu contei tudo em alguns posts anteriores. Pois é, a Prefeitura enviou o seu projeto e ontem teve a votação na Câmara. Eu não estava lá, fiquei triste e frustrado. Triste pelo resultado e frustrado por não ter participado desse dia tão importante na história da luta contra o fechamento da minha biblioteca e da venda do quarteirão do meu bairro.

Em abril a gente teve uma vitória, quando foi aberto o processo de tombamento do quarteirão. O Condephaat, que quer dizer Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado começou a analisar o tombamento do lugar e se ele for aprovado, o terreno e todos os serviços serão considerados patrimônio histórico e cultural e assim a minha biblioteca estará salva. Pelo menos foi o que eu entendi. Enquanto esse processo está sendo analisado, a prefeitura não pode mexer no terreno, mas mesmo assim ela continuou com a sua intenção de vender para derrubar tudo e construir um prédio. Ontem ela levou o seu projeto para a avaliação dos vereadores na Câmara Municipal e o resultado me deixou muito triste.

Dezesseis vereadores ficaram do nosso lado e votaram contra a prefeitura e trinta e cinco votaram a favor dela. Esses vereadores também querem derrubar a minha biblioteca e todos os serviços públicos do meu bairro e construir um prédio de apartamentos no lugar. A prefeitura disse que a empresa que ficar com o terreno vai construir duzentas creches na cidade. Isso é bom, a cidade de São Paulo precisa de creches, mas deve ter outro jeito de construir essas creches sem precisar derrubar a minha biblioteca. O que é que tem a ver uma coisa com a outra? Assim como diz um amigo meu lá da escola: uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa. Esse meu amigo é o Felipe, o Lipe, ele é uma figura.

O jornalista que fez a matéria entrevistou o José Eduardo Contreiras. Eu conheço o José Eduardo, ele é amigo do meu pai, eles estudaram juntos no colégio aqui do bairro. Eu o conheci no dia que eu fui com o meu pai na audiência pública na Câmara. Peguei o número do telefone e liguei para ele. Eu queria saber tudo que aconteceu lá e porque não me avisaram que a votação era ontem. Eu ia pedir para o meu pai me levar. O José Eduardo atendeu, disse que também estava triste e que tinha sentido a minha falta lá na Câmara.

– Você iria aprender muita coisa, Heitor, com tudo que aconteceu lá, ontem. Ele me disse que a aprovação da venda não é o fim da batalha, e que “nós devemos continuar lutando.” Eu disse que queria ajudar e que ele poderia contar comigo e que eu ia contar tudo, hoje mesmo, aqui no blog. Ele disse que nós devemos “promover atos públicos, ações na justiça, denúncias no Ministério Público e mobilizar o restante da comunidade.” Ele disse que está criando uma “rede de informações” com outros movimentos da cidade, pois estão acontecendo outros casos como esse, do nosso quarteirão. No final ele me deu alguns conselhos.

– Você ainda é novo, Heitor, mas eu gostaria que você estivesse lá, para prestar atenção em alguns vereadores e quando você começasse a votar, escolhesse direitinho aquele que, de verdade, irá representá-lo.

E antes de desligar o telefone ele disse mais.

– Eu quero que você perceba a importância de tudo que está acontecendo. A sua participação nessa luta em defesa da biblioteca e do quarteirão do bairro é muito importante. Você está tendo uma verdadeira aula de cidadania e quero ver você na próxima aula.
Estou adorando essa aula e prometo que não vou faltar na próxima.

Amanhã vou pra Flip em Paraty e quero mandar notícias de lá.

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  1. Oi Heitor, também fiquei muito triste em saber que os vereadores votaram a favor da desapropriação do quarteirão, onde está a biblioteca e tantos outros prédios que prestam serviços à sua comunidade, mas vamos continuar torcendo para que o Condephaat consiga derrubar o projeto em andamento na prefeitura. E seu amigo jornalista tem razão, não desanime: A LUTA CONTINUA!

  2. Fui procurar uma notícia sobre essa nossa derrota, pq é de toda a cidade, viu Heitor, e encontrei seu blog…Muito bom saber q alguém da sua idade, q suponho seja bem novinho, já está na luta! Continue nela…Essa sua luta é a luta por uma cidade melhor para todos…acho q alguém aí com mais experiência política poderia sugerir aí uma Marcha Pela sua Biblioteca e todos os equipamentos públicos q tem nesse quarteirão…Vamos nos mexer, reclamar, espalhar a notícia e pressionar vereadores, promotores públicos e tudo q der….Boa luta, Heitor!

  3. Oi, Maria Viana. Você viu? Pensei que os vereadores iriam defender a minha biblioteca e o quarteirão… Mas é isso, não vamos desanimar. A luta continua!

  4. Oi, Maria. Que legal! Você foi procurar uma notícia sobre o assunto e encontrou o meu blog! Quero participar da próxima reunião e vou levar a sua sugestão. Isso mesmo, vamos nos mexer e espalhar essa notícia. Obrigado!

  5. Caro Heitor:

    Isso te obriga a continuar na luta. Ano que vem tem eleição: é listar os vereadores que votaram pela venda do patrimônio público e fazer campanha contrária a eles e a um prefeito que está sempre do lado de quem especula com imóveis de e empreiteiras.

  6. Estes trinta e cinco veredadores, que votaram a favor da prefeitura, com toda certeza não são leitores, pois leitores não votam para derrubar bibliotecas, mas sim, para criá-las e multiplicá-las. Quando falo de leitores penso em pessoas apaixonadas por livros, por literatura, as quais estão sempre querendo compartilhar o amor pela palavra. ´Como você faz em seu blog. Boa sorte nesta luta! Fico torcendo para tudo dar certo e a biblioteca de seu bairro permanecer em pé. Abração

  7. Olá Heitor,
    Já falei com você que a biblioteca do seu bairro também fez parte da minha infância, por isso sei bem como você está triste.
    Mas, como todos já disseram, ainda há alternativas (e esperanças) dela permanecer lá, onde não não deverá sair!
    Estamos juntos com você!
    Um beijo grande

  8. Muito bom o seu blog. Irei divulgá-lo, em agosto, entre os voluntários (meninos e meninas entre 12 e 14 anos) que coordeno no projeto Encontros de Leitura da Escola Vera Cruz.
    Sobre a biblioteca e o quarteirão com equipamentos públicos prestes a virar um “quarteirão absolutamente privado” acho um absurdo.

  9. Sim, Jeosafá, vou continuar na luta. Eu ainda não posso votar, mas vou acompanhar e no ano que vem fazer campanha contra esses vereadores que querem derrubar a minha biblioteca.

  10. Oi, Eloí. Obrigado! Eu também acho. Derrubar uma biblioteca que está lá há 65 anos, que já faz parte da história e que continua atendendo tanta gente, e colocar no lugar um prédio de apartamentos!

  11. Oi, Ana Lucia. Eu lembro que você disse num comentário que também frequentou a Biblioteca Anne Frank. Você deve estar triste assim como eu. Isso, vamos continuar lutando. Ainda temos esperanças de vencer essa luta!

  12. Obrigado, Mariângela, por divulgar o meu blog. Também acho um absurdo um quarteirão de serviços públicos virar prédio de apartamentos.

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