Manifestação, lutas e livro sobre livros

– Pai, posso ir à manifestação de hoje?

– Eu não posso te levar…

– Eu vou com o Lipe, vai ser aqui perto, no largo da Batata. Deixa, vai…

– Tudo bem, mas toma cuidado…

– Pode deixar, hoje a passeata vai ser tranquila, li no jornal.

E foi tranquila, mesmo! Uma multidão se encontrou no largo da Batata, em Pinheiros, e caminhou pela Faria Lima. Eu e o Lipe fomos no meio dessa multidão, gritando as palavras de ordem, principalmente as que eram contra o aumento do busão e pela educação. Eu nunca tinha participado de uma passeata tão grande! Seguimos com ela até aqui, no nosso bairro, depois, uma parte desceu pra marginal e a outra subiu pra Paulista, e nós voltamos pra casa, com nossa missão cumprida. Além de melhor amigo, o Lipe é meu companheiro de luta.

Todos já devem ter lido um monte sobre as manifestações, não se falou em outra coisa na semana passada. Eu estou contando isso também, só pra dizer que estive lá, e que não acordei agora, como disseram por aí. Quem acompanha meu blog, sabe disso. Sei de muita gente que luta desde a ditadura, algumas, até antes. É injustiça com essas pessoas dizer que o “gigante acordou”. Estamos acordados há muito tempo, apesar de só ter 12 anos, minha luta política também é antiga.

Lutei contra o prefeito da minha cidade, que queria derrubar a biblioteca do nosso bairro, essa luta foi vitoriosa, derrotamos o prefeito e protegemos a nossa biblioteca do ataque da especulação imobilária. Agora estou participando de uma luta maior, a luta pela implantação do PMLL na cidade de São Paulo. PMLL quer dizer Plano Municipal do Livro e da Leitura, eu já falei dele aqui no blog. Nesta semana participei de uma reunião para organizar um grande encontro e discutir o PMLL.

Esse encontro vai acontecer no próximo dia 13 de setembro no Centro Cultural São Paulo e vai reunir as pessoas que trabalham com livro, leitura e biblioteca ou simplesmente interessadas nesses assuntos. Em breve vou fazer um post especial pra falar disso. Cida Fernandes, coordenadora executiva do Centro de Cultura Luiz Freire, que participou da elaboração do PMLL em Pernambuco, estava nessa reunião e contou pra gente como foi a experiência de lá. Conversei com a Cida no final da reunião, ela conhece a Rosinha, minha amiga escritora e ilustradora, que mora em Olinda. Ela é sua vizinha! Esse mundo é mesmo pequeno.

Clube de leitura

Vocês viram? O post anterior teve 147 comentários! Isso tudo foi graças ao sucesso do nosso clube de leitura com os alunos das professoras Luciana e Ana Paula, da Escola Municipal Luiz Gatti, da cidade de Belo Horizonte, em Minas Gerais. Todos os alunos comentaram e contaram o que acharam do livro. Teve até comentário do autor, o Márcio Vassallo! E esse nosso clube ainda vai continuar, vamos ler outros livros, o próximo será Os herdeiros do Lobo, de Nelson Cruz.

Adoro fazer clube de leitura, com ele conheço um monte de gente que gosta de livro, assim como eu. Além do clube com a Luiz Gatti, estamos preparando outro, será com os alunos do professor Carlos, de uma escola municipal de São José dos Campos, interior de São Paulo. Até já escolhemos o livro, gênio do crime, de João Carlos Marinho. Vou conversar com o professor Carlos pra ver se dá pra gente falar desse livro, logo depois das férias, em agosto.

Três livros em um

Conheço um editor que faz coleção de livros que falam de livros. Também adoro esses livros! Sempre que descubro um que conta uma história que tem escritor, biblioteca ou qualquer coisa relacionada ao livro, já quero ler. Outro dia recebi um e-mail de uma editora – ela já tinha deixado um comentário no blog -, dizendo que estavam lançando um livro novo e me perguntou se eu teria “interesse em ler”. Junto, ela mandou um texto sobre o livro, dizendo que nele “o autor conduz o leitor por uma narrativa metalinguística que conta a história de dois livros que se encontram numa mesma estante, separados apenas por um Dicionário de Português.” Já gostei, de cara e respondi ao e-mail da editora. “Oi, Gabriela, por favor, me manda esse livro, que eu quero ler, adoro histórias assim”, e passei o meu endereço. Gabriela é o nome da moça da editora, ela já me mandou, li e adorei.

Bruno e Amanda: histórias misturadas, escrito por Pedro Veludo, ilustrado por Henrique Koblitz e publicado pela Editora Quatro Cantos conta uma história, misturando duas, que no final se transformam em três. É a história de dois livros, Os mapas de Bruno e O mistério do sumiço do sorriso da princesa Amanda. Como já tinha lido naquele texto, eles ficavam em uma estante, separados por um dicionário de português. Eram muito parecidos, os dois contavam histórias que não terminavam.

Os mapas de Bruno conta a história de um menino, que sonhava acordado e adorava inventar histórias. Ele sempre passava suas histórias para o papel e buscava palavras pra isso. Às vezes as palavras certas não apareciam e ele aproveitava outra, que passasse perto, ou inventava alguma. Bruno também colecionava mapas de lugares que acreditava existirem, mas que não eram muito fáceis de serem encontrados. Muitas vezes seus pensamentos iam longe, ele chegava até as últimas páginas de sua história e, nos breves momentos em que o dicionário não estava entre eles, conseguia enxergar a capa do livro de Amanda.

O mistério do sumiço do sorriso da princesa Amanda começa assim: “Numa manhã, pouco depois de acordar, o sorriso da princesa Amanda começou, bem devagarzinho, a sumir.” E não parou de sumir, a cada dia ela foi ficando cada vez mais triste. As pessoas ficaram com medo e não acreditaram no que viam: Como podia o sorriso da princesa estar sumindo? Ela sofria de um vazio no coração e sentia uma dor aguda e tão profunda, que não sabia explicar de onde vinha. Até que um dia seu sorriso sumiu de vez. Surgiram muitas explicações para o mal da princesa e as respectivas soluções salvadoras, mas nenhuma delas conseguia trazer de volta o seu sorriso. Depois de várias tentativas, o rei concluiu que o remédio poderia estar em outra história. Seu conselheiro, que só aparecia no final, preocupado com a princesa, caminhou até as primeiras páginas do livro.

Então, numa noite, em que o dicionário de português não foi devolvido à estante, não foi colocado no lugar entre os dois livros, as duas histórias sem finais se encontraram e formaram uma terceira, com muitos finais imaginados.

Além desse, também ganhei da Editora Quatro Cantos, outro livro de Pedro Veludo, Da guerra dos mares e das areias – fábula sobre marés, ilustrado por Murilo Silva. É uma história bonita que junta mar, areia, búzios, lua, e depois dessa guerra se formam os golfos, as enseadas, as ilhas, as penínsulas e as praias.

Pedro Veludo nasceu na cidade do Porto, em Portugal, foi ainda criança para Moçambique, onde cresceu, se formou em Engenharia de Telecomunicações, fez teatro e teve um conjunto musical. De lá veio para o Brasil, onde reside atualmente. Cursou Formação de Ator na UNI-RIO e, em 1986, abandonou a engenharia para se dedicar a escrever. Tem textos de teatro premiados pelo INACEN e teve peças montadas no Brasil, México, Portugal e EUA. Além de Bruno e Amanda: histórias misturadas e Da guerra dos mares e das areias – fábula sobre as marés, é autor de vários livros infantojuvenis, crônicas, um romance para adultos (A sétima maldição), e roteiros para jogos educativos em CD-ROM. Seu livro Viagens de Raoni ganhou o Prêmio FNLIJ – O Melhor para Criança, em 1990.

Henrique Koblitz desenha intensamente desde os catorze anos. Trabalha como designer gráfico,ilustrador e editor gráfico, criando interfaces para jogos de celulares. Participa de vários projetos culturais ligados à arte visual, como o “Olho de Bolso”, patrocinado pela Fundação de Cultura da Cidade do Recife, que já lançou 22 artistas gráficos, e o “Na Rua!”, exposição de diversos quadrinistas do Recife no formato de pôsteres urbanos (lambe-lambes) espalhados pelos muros da cidade.

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  1. Poxa, que legal que seu pai deixou você ir nos protestos, minha mãe não deixou, mas eu apoio o pessoal que sai para as ruas! Vamos mudar o Brasil!!!

  2. Então, Luara, ele deixou, mas, por causa disso, levou bronca da minha mãe, que o chamou de irresponsável. Ele sempre me incentiva a participar desses movimentos.

  3. Mas é uma coisa legal de se incentivar mesmo, ele não é irresponsável de forma alguma, o que está em jogo nesse tipo de acontecimento é o futuro de uma pátria, seja em detalhes grandes ou pequenos. Se o movimento é pacífico, as pessoas tem mesmo é que participar!!!

  4. E nesse dia foi pacífico, mesmo, Luara, não teve nenhuma confusão. É isso, temos que lutar pelas pequenas e grandes coisas.

  5. Olá Heitor, achei incrível você ir participar desse movimento. O Brasil merece mudanças, e é bom ver gente digna como você lutando por grandes causas. Parabéns!

  6. MELHORA NA SAÚDE E NA EDUCAÇÃO NESTE PAÍS!!!PASSE LIVRE PARA TODOS OS BRASILEIROS!!!PROFESSORES PADRÃO FIFA!!!!

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