Li a história da Sayuri e dos livros enterrados

Na semana passada eu não escrevi nada no blog, não deu tempo, tinha muita coisa para estudar e eu tive provas na escola. Quando isso acontece, minha mãe não deixa eu ficar muito tempo na internet, ela me dá limites. Já falei disso aqui no blog, dos limites dos meus pais, é chato, às vezes eu fico com raiva e eles dizem que é para o meu bem. Mas hoje estou de volta e vou falar da minha luta política e de um livro bem legal que eu li.

Boas notícias da minha luta política

Depois daquele momento de tensão do post anterior, na outra semana teve boas notícias da nossa luta política. O Tribunal de Justiça negou o pedido da prefeitura e manteve a suspensão da lei que autorizava a venda do quarteirão. A prefeitura tentou “derrubar uma liminar concedida” por um juiz, “em uma ação movida” por um vereador, mas não conseguiu – aos poucos eu vou aprendendo essas coisas. A venda do terreno onde fica a minha biblioteca, o teatro, duas escolas, uma creche, dois serviços de saúde e a Apae continua suspensa. Por enquanto a prefeitura não pode vender e com isso vamos ganhando tempo para continuar a nossa luta.

Nesta semana eu recebi um e-mail da organização do movimento dizendo que no próximo dia 4 de outubro vai acontecer uma festa em comemoração ao aniversário do bairro do Itaim Bibi. Vamos aproveitar esse dia para divulgar a nossa luta e ganhar mais pessoas para o movimento. Vai ter programação o dia todo: às 7h00 da manhã tem missa na paróquia do bairro, a Santa Tereza de Jesus; às 12h00, hasteamento das bandeiras do Brasil e do Itaim e execução do Hino Nacional, na esquina das ruas Joaquim Floriano e Bandeira Paulista; e às 19h00, no Teatro Décio de Almeida Prado – que fica na rua Cojuba, 45, ao lado da minha biblioteca – vai ter uma “sessão solene” e em seguida apresentação de música e teatro. O Teatro Décio de Almeida Prado está lindo, acabou de ser reformado, eu já assisti a alguns shows lá e contei aqui no blog. No e-mail que eu recebi está escrito que eu não posso faltar a esse evento do teatro, que vai ter uma surpresa para mim. Fiquei curioso e perguntei, mas eles não me disseram o que é. Estarei lá para comemorar o aniversário do meu bairro, lutar para defender a minha biblioteca e todo o quarteirão e descobrir que surpresa é essa.

A história dos livros enterrados

Durante a Segunda Guerra Mundial, que aconteceu de 1939 a 1945, o Japão era inimigo do Brasil e os japoneses, que já moravam aqui foram perseguidos pela polícia brasileira. Suas casas eram invadidas e revistadas, se encontrassem armas, tomavam deles, e se encontrassem livros escritos em japonês, queimavam todos. Como os brasileiros não entendiam o que estava escrito, achavam que podia ser alguma informação dos inimigos. As escolas japonesas daqui também foram fechadas nessa época. A história do livro que eu li se passa nesse tempo, se chama Os livros de Sayuri e foi publicado pela Edições SM. Quem escreveu e ilustrou foi a Lúcia Hiratsuka, eu conheci a Lúcia na Flip, ela participou da Flipinha e eu conversei com ela, lá em Parati. A Lúcia é descendente de japoneses e a história desse livro começou com uma história que sua mãe contou. A mãe da Lúcia se lembrou de ter visto os pais e os irmãos enterrando os livros, quando ela tinha uns 6 ou 7 anos. Eu adorei esse livro e li numa sentada. Comecei a ler e não parei, até chegar o final.

Quem conta a história do livro da Lúcia é a Sayuri e ela começa falando do dia em que sua família teve que enterrar todos os livros da casa, com medo de que eles fossem queimados, também. “Parece um enterro. Mas ninguém morreu.” Colocaram os livros da família em uma caixa e fizeram um buraco embaixo do abacateiro. “E a caixa foi enterrada. Como se os livros estivessem mortos. Ou como se fossem tesouros? Os mortos não voltam. Mas e os tesouros? Voltam algum dia? Igual nas histórias de tesouros enterrados?” Eram os livros que eles tinham trazido do Japão. Entre eles havia um que a mãe da Sayuri tinha prometido dar a ela, quando ela aprendesse a ler. Sayuri não deixou que enterrassem esse, separou, escondeu e esse passou a ser o seu segredo. Quando estava sozinha em casa, pegava o livro e tentava adivinhar o que estava escrito nele. Quando a Sayuri chegou na idade de estudar, a escola dos japoneses foi fechada. Ela teve que estudar à noite e ia escondida por um caminho escuro, iluminado pelo lampião. Gostei do jeito da Sayuri contar essa história, tem uma partes emocionantes e é muito bonita. Eu também gosto de contar histórias e sempre presto atenção no jeito que alguns personagens contam.

E a Lúcia me falou mais do seu livro: “Os livros de Sayuri é uma ficção, baseado em fatos reais. Fiz pesquisa, li livros que falam dessa época, da segunda guerra, quando o Brasil e Japão cortaram as relações diplomáticas e as escolas foram fechadas. Os imigrantes, mesmo os nascidos no Brasil, não podiam falar na língua de origem, ler, nem mesmo viajar sem autorização. Pesquisei também sobre o que comiam, as brincadeiras da minha mãe quando criança, se ela tinha brinquedos ou improvisava. Criei os personagens – o nome Sayuri não é o da minha mãe – inspirados em pessoas que conheço, imaginando alguns, observando o ser humano, etc. Enfim, aquilo que faz um ficcionista. E me inspirei na minha própria infância também, pois fui uma criança de roça e aprendi primeiro o japonês, antes de entrar na escola.”

Lúcia Hiratsuka é escritora e ilustradora. Nasceu em Duartina, interior de São Paulo e mora na cidade de São Paulo desde os 16 anos. Formada em Artes Plásticas, fez pesquisa sobre livros ilustrados na Universidade de Educação de Fukuoka no Japão (1988-89). Também faz pesquisa de mitos e lendas do Japão e muitas dessas histórias ela ouvia de sua avó, na infância. Além deste, ela também é autora de Festa no céu Festa no mar, Histórias de Mukashi, Contos da montanha, Lin e o outro lado do Bambuzal, Um rio de muitas cores, Urashima Taro, Coleção Contos e Lendas do Japão e Histórias Tecidas em Seda, que recebeu o Prêmio de Melhor Reconto 2008 da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil.

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  1. Puxa, Heitor, na mesma época em que livros eram queimados por uns, livros eram enterrados para serem salvos por outros. O mundo humano é – já disse um autor famoso – excessivamente… humano!

  2. Oi, Jeosafá. Pensando bem, as duas histórias que eu contei neste post são parecidas. Na outra também, uns querem derrubar e outros querem preservar, e eu já escolhi o lado que eu quero ficar.

  3. Olá, Heitor.

    Que boa notícia essa da sua luta política. Eu moro em Santo André, mas vou fazer o possível para estar presente no dia 4, aproveitar e te conhecer. Aliás, fiquei curiosa para saber qual é a surpresa que te prepararam. Você merece!!
    Tenho uma amiga de infância (acho que a mais antiga) que é descendente de japoneses. Vou comprar um exemplar do livro “Os livros de Sayuri” e presenteá-la. Mas também vou ler, claro. Afinal, a história é muito interessante.

    Grande abraço.
    Valéria.

  4. Oi, Valéria. Venha, mesmo! Daí a gente se conhece e descobre que surpresa é essa. Obrigado! Tenho certeza que você e sua amiga vão gostar muito deste livro.

  5. Nossa! Que livro mais interessante que deve ser este que você comentou, Heitor! Fiquei com muita vontade de conhecer o livro e a autora. Acho que livros, enterrados, ou não, são tesouros. Minha infância também foi passada na roça. Abração e obrigada por mais esta dica de leitura comentada.

  6. Oi, Eloí. Isso, mesmo! Livros são tesouros e esses vieram do Japão, e foram até enterrados. Eu falei desse livro lá na biblioteca e todos ficaram a fim de ler. Obrigado!

  7. Oi Heitor, fiquei feliz que tenha lido o livro. E gostei muito dos comentários que você fez. Foi um desafio contar essa história, com essa forma. Quando vou falar com os leitores nas escolas, a pergunta que todos fazem é — aconteceu de verdade? No Brasil? Não só os alunos, mas professores também.

    Um beijo grande
    Lúcia

  8. Olá Heitor,
    Gostei muito dessa história e fiquei curiosa para conhecer melhor e ler o livro.
    Não poderei participar do evento de aniversário do nosso bairro, mas espero que seja bem divertida essa festa! E a surpresa seja boa!
    Eu também tenho acompanhado as notícias nos jornais sobre nossa biblioteca, que fez parte da minha infância, como está fazendo da sua.
    Tenho esperanças que ela seja preservada para que tantas outras crianças também possam conhecê-la!
    Bjs a você e aos seus pais,
    Ana Lucia

  9. Oi, Lúcia. Gostei muito do seu livro, a história é muito bonita. E saber que isso aconteceu, de verdade, acho que dá mais vontade, ainda, de ler. Obrigado!

  10. Oi, Ana Lucia.
    Depois eu posso emprestar pra você o livro da Lúcia…
    Pena que você não pode ir a festa do nosso bairro, mas depois eu vou contar tudo e vou falar da surpresa, também. Obrigado!

  11. Heitor,
    Eu aceito a sua oferta de emprestar o livro,obrigada!
    Desejo que a festa de amanhã seja bem bonita.
    Divirta-se e bjs.,
    Ana Lucia

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