Assisti a uma contação de história e li o livro

No outro sábado eu fui à biblioteca. Depois que eu fui sozinho, pela primeira vez, à biblioteca do meu bairro, como eu contei aqui no blog (http://blogdoleheitor.sintaxe.com.br/?p=172), eu já voltei outras vezes. Gosto muito de ir lá, conversar com o bibliotecário João Gabriel. Ele sempre me dá boas dicas de leitura. Vou à biblioteca para ler, pegar livros emprestados e até para estudar. Lá é muito gostoso, silencioso e no quintal tem muitas árvores e passarinhos. Desta vez eu fui para assistir a uma contação de história. Quem contou foi a Cia da Fulô. Esse grupo é formado pelos atores Janaína Silva, Marcos Reis, Thiago de Freitas e Renata Vendramin. Eles contaram a história do livro A moça de Bambuluá, do Ricardo Azevedo. Gostei tanto da história e do jeito que eles contaram, que eu peguei o livro da biblioteca e trouxe para casa para ler. Sempre que eu vou pegar um livro na biblioteca o João Gabriel fala para eu levar dois. – Heitor, você pode pegar dois livros emprestados de cada vez e tem 15 dias para devolver, você sabe disso, aproveita! Ele sempre me convence: o outro livro que eu peguei, por indicação do João, é o Coraline, do Neil Gaiman. Ele disse que é bem legal e que eu vou gostar. Vou ler e depois eu conto aqui.

O livro A Moça de Bambuluá, que eu li, faz parte da série Histórias de Encantamento, da editora Scipione. É uma edição muito antiga, de 1989, e já está fora do catálogo. A gente só encontra em bibliotecas. Mas o conto A Moça de Bambuluá também está em outro livro da mesma editora, Contos de Espanto e Alumbramento, que além desse, tem também outros contos do Ricardo Azevedo. Este livro a gente encontra em livraria.

O conto A Moça de Bambuluá começa assim: “Ninguém ia lá. Melhor não. Caminho torto. Ladeira dura. Mato cheio de farpa. Fora isso, o medo. Gente que foi lá, ninguém mais viu. Gente que foi lá, voltou doida. Rindo com o olho bobo sem direção. Ir lá? E dar de cara com o demônio? Alma fantasma gemendo na pedra? De fato. Na nova não, na minguante não, mas depois, da crescente até a cheia, o lugar, principalmente à meia-noite, enchia de risco de luz chispando no ar, barulheira de pássaro grasnando, e mais, no meio cortando tudo, uivo de mulher. Berro de fêmea torturada até amanhecer. Ninguém ia. Metidos de quando em quando, tipos de peito inchado, iam. Mãos peludas, arrotando. Fala grossa. Antes. Quando voltavam… João andarilho. Viajante. Pobre. Tocando viola de lugar em lugar para ganhar algum. Vida igual estrada sendo aberta a cada dia. João chegou. Notícias correm. Ouviu. Soube. – E daí? Balançou os ombros. – Pra mim, tanto faz como fez.”

Não é bonito? Agora, leiam em voz alta e vejam como fica mais bonito, ainda. Assim como as histórias mal-assombradas, do Adriano Messias, que eu já falei aqui no blog (http://blogdoleheitor.sintaxe.com.br/?p=421), essa história do Ricardo Azevedo também faz parte da tradição oral. São contadas há muito tempo. Por isso elas ficam mais bonitas quando são lidas em voz alta. Agora, imaginem como foi ouvir essa história contada pelos quatro atores da Cia da Fulô. Foi emocionante! Eles contaram, tocaram violão, sanfona e alguns instrumentos de percussão, e criaram todo o clima da história.

João andarilho foi àquele lugar, que todos tinham medo de ir. Era uma gruta e havia uma mulher presa, só aparecia a sua cabeça. Não que ele não tivesse medo do perigo. Ele não suportava escutar aquela dor. A mulher disse que foi feitiço, malfeitoria, praga de levar uma vida embora. Essa mulher era a Moça de Bambuluá, e depois de muito sacrifício, João, andarilho e tocador de viola, conseguiu salvar a mulher. Esse é só o começo da história. Tem uma parte em que o João já está apaixonado pela Moça de Bambuluá, que na verdade era uma princesa, e ela também estava apaixonada por ele. Mas ela tinha que ir embora, voltar para o seu reino. Depois eles se encontrariam. Ela deixou um presente para o João. Cordas novas para a sua viola. Nesse momento da contação um dos contadores vira para a platéia e diz: “Parece que eram encantadas” (as cordas). Fala de um jeito tão gostoso, como se contasse um segredo ou fizesse uma revelação. No final da história eu vi que essas cordas eram muito importantes, mesmo.

Tem outra parte da história em que João, morando na casa de uma velha sábia e depois de alguns desencontros com a Princesa de Bambuluá, começa a ficar amigo de uma das filhas da velha. “Os dois falavam sobre a vida. Jeitos de fazer e de ser. Assuntos rolando pelos dias. Entrando dentro das noites. Entre um homem e uma mulher não é fácil distinguir amizade de atração. Carinho de sedução. Companheirismo e desejo. Quando um homem e uma mulher gostam de ficar junto, tudo pode ser.”  Os contadores contaram esse pedaço da história e criaram um clima bem gostoso. E continuaram a história: “Um dia, por nada, desataram a rir. Um olhava o outro e gostava de ver o outro rindo.” E os contadores riram, mas riram de um jeito que parecia de verdade. Parecia que ela era a filha da velha e ele o João andarilho, ou que os dois atores estavam se gostando, também.  Foi emocionante esse pedaço da história. Fiquei arrepiado!

Quem mora em São Paulo, ainda pode aproveitar este final de semana para assistir a Cia da Fulô contar a história de A Moça de Bambuluá. É de graça!

Dia 11 de dezembro, sábado, às 14h00 – Biblioteca Aureliano Leite – Rua Otto Schubart, 196. Parque São Lucas
Dia 12 de dezembro, domingo, às 11h00 – Bosque de Leitura Carmo – Av. Afonso de Sampaio e Souza, 951

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  1. e eu fiz uma agradável leiturança sobre contação da história da moça de bambuluá. imaginei pela foto que poderia ser uma cantação de história: vejo 2 instrumentos musicais, e as moças parecem mesmo como se estivessem cantando…
    e o bibliotecário amigo do heitor é xará do meu neto, o joão gabriel. gente boa: pega 2 que um é pouco… haha!

  2. Oi Heitor! Muito bom saber que vc gostou da contação. Pra um contador de história o encontro entre contador e ouvinte é o momento mais valioso que existe, pois é na relação que a história ganha vida, que a magia acontece.
    Adorei o seu blog, parabéns pela sua iniciativa, o mundo precisa de jovens como você, que tem boas idéias, coragem e atitude para colocá-las em prática. Vou divulgar o seu blog no blog da Cia. da Fulô. Até o final da semana postaremos fotos das últimas apresentações. Confira!
    bjo,

    Renata Vendramin
    (Cia. da Fulô)

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