Declaro meu voto para Presidente

Estava com medo, essa onda de ódio tem me assustado um pouco, mas depois de conversar com meus amigos, com meus pais e alguns professores, resolvi declarar meu voto

Declaração de voto

Outro dia o Facebook me lembrou, que uma das fotos que postei e que teve o maior número de comentários naquele ano, foi uma postagem em que eu declarava o meu voto. Apesar de não ter idade para votar, ainda, e continuo não tendo, acompanho a política desde pequeno, faz parte das conversas lá de casa. São sempre conversas francas e democráticas com os meus pais, eles me explicam as coisas mais complicadas, sempre apresentando outras visões, e respeitam as minhas opiniões, mesmo as mais inocentes. Na minha primeira luta política, que foi contra o fechamento da biblioteca do meu bairro, o apoio deles foi muito importante, quem leu o meu livro sabe disso.

Quanto à eleição deste ano, já tenho minha posição firmada, mas andava meio apavorado para assumir publicamente. Meu pai disse que quando começou a fazer política, havia conversas, debates, reuniões, assembleias, tudo para formar e informar a militância, e as campanhas eram para esclarecer o eleitor. Hoje, acontece exatamente o contrário, a propaganda de diversos candidatos, principalmente as das redes sociais, serve para desinformar as pessoas. Com notícias falsas, as fake news, alimentam os preconceitos, criando mais ódio na sociedade.

Um dos candidatos (#EleNão), representa muito bem essa estratégia, patrocinado por empresas, o que é proibido por lei (#EagoraTSE), fez distribuição de mensagens em massa pelo WhatsApp, montando memes, manipulando fotos  e vídeos e inventando mentiras em relação ao seu adversário. Das 50 imagens que mais circularam no primeiro turno, só quatro são verdadeiras.

Durante a sua vida política, ele defendeu a tortura e prestou homenagem ao pior torturador da história do Brasil; disse que as mulheres devem ganhar menos que os homens, porque engravidam; que seus filhos não se casariam com mulher negra, pois foram bem educados, que sonega impostos; que vai metralhar seus adversários políticos; disse também que vai reprimir o ativismo e as manifestações políticas, entre outras barbaridades e, agora, acaba de declarar que ninguém quer saber de jovem com senso crítico. Dói ouvir esses absurdos vindos de qualquer pessoa, quanto mais de quem quer ser presidente da república. E não são fake news, não, essas informações são públicas e algumas até fazem parte do acervo de emissoras oficiais.

Tenho conversado com meus amigos da escola e da rua, felizmente, a maioria pensa como eu, também conversei com os meus pais e alguns professores, e tomei uma decisão: vou tornar público, pelo menos aqui no meu blog, qual seria o meu voto para presidente, se já tivesse idade para votar. Pela democracia, pelo direito de organização e manifestação política, pela liberdade de expressão, e por políticas públicas que protejam e favoreçam a população mais pobre, voto em Fernando Haddad!

Compartilhe:
  • Facebook
  • Twitter

Heitor busca formação em mediação de leitura

Nesta semana vou fazer um curso de mediação de leitura na Biblioteca de São Paulo (BSP), na outra, participarei de um evento com leitores, na Biblioteca Monteiro Lobato, em São Bernardo do Campo, e no final do post, anuncio que vou declarar meu voto para presidente da república, no próximo post.

Curso de mediação de leitura

Antes de começar a falar do curso de mediação de leitura que vou fazer nesta semana, quero avisar que o que prometi no post anterior, publicar textos dos primeiros colaboradores do blog, alunos da Luiz Gatti, de Belo Horizonte, vou cumprir logo, só estou esperando a professora Luciana finalizar os comentários.

Workshop Internacional – Mediação: Cultura, Leitura e Território

Já participei de clubes de leitura na Biblioteca de São Paulo (BSP), fui uma espécie de coordenador, eram os clubes de leitura para jovens leitores. Líamos (um grupo de jovens de 11 a 14 anos, incluindo eu) os mesmos livros, pesquisava um pouco sobre a vida e obra do autor e ainda fazia outras leituras de referência. No dia, começava o encontro contando um pouco do que tinha pesquisado e depois abria para o bate-papo, em que todos davam sua opinião sobre o livro. Foi bem bacana! Contei isso aqui no blog, em alguns posts anteriores. Mas nunca me senti muito bem preparado para essa tarefa, sempre achei que precisava ler e estudar mais sobre o assunto, há profissionais que fazem isso, são os mediadores de leitura, não poderia simplesmente me aventurar.

Até que recebi um e-mail do SisEB (Sistema Estadual de Biblioteca Públicas de São Paulo), anunciando um workshop que iriam promover, dizendo que as inscrições estavam abertas e que as vagas eram limitadas, e o melhor, era gratuito. Tinha que mandar um currículo e carta de motivação, uma carta escrita por mim explicando por que eu gostaria de participar do workshop. Mandei!  Contei um pouco dos clubes de leitura que participei e disse que tinha interesse em buscar formação e apoio teórico para fazer mediações de verdade e continuar organizando outros clubes de leitura. Eles me aceitaram, fui selecionado para participar desse curso! VIVA! É o Workshop Internacional  – Mediação: Cultura, Leitura e Território.

“Realizado pela Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo, com gestão e execução da SP Leituras – Associação Paulista de Bibliotecas e Leitura, em parceria com o Instituto Emília, o workshop tem como objetivo principal a formação geral e crítica de profissionais para atuar no campo da mediação.” Vai ter aula esta semana toda, de segunda a sexta, o dia todo, acho que vou aprender um monte de coisas!

O universo da biblioteca pública

No próximo dia 30 de outubro vou acompanhar uma palestra do meu amigo, o autor do livro “Os meninos da biblioteca”, na biblioteca Monteiro Lobato, em São Bernardo do Campo. Desde que tivemos uma conversa franca, que reproduzi no post sobre a leitura que fiz do livro “O bibliotecário do Imperador”, romance de Marco Lucchesi (http://blogdoleheitor.sintaxe.com.br/o-bibliotecario-do-imperador-e-uma-conversa-com-o-autor/), não houve mais conflitos na nossa relação, sou o narrador e ele é o autor, e cada um respeita o espaço do outro. Sou livre para organizar meus eventos e muitas vezes, participo dos dele, como será o caso desse encontro, em São Bernardo do Campo. Vamos falar um pouco sobre a importância da biblioteca pública e da luta contra o fechamento da Anne Frank, em São Paulo, que é o tema do nosso livro. Esperamos provocar o interesse de alguns leitores, pois a biblioteca emprestará alguns exemplares no dia do evento e promoverá outro encontro, no dia 09 de novembro, um bate-papo sobre a leitura do livro.

Declaração de voto

Estava com medo, essa onda de ódio tem me assustado um pouco, mas depois de conversar com meus amigos da escola e da rua, com os meus pais e alguns professores, resolvi declarar meu voto. Vou escrever um texto explicando o porquê da minha posição e publicar no próximo post, na terça-feira.

Compartilhe:
  • Facebook
  • Twitter

Blog vai ganhar colaboradores com o clube de leitura

No post anterior, publiquei o link do clube de leitura que fizemos, há algum tempo, com o livro “Beatriz em trânsito”, de Eloí Elisabete Bocheco. A professora Luciana, do Luiz Gatti de Belo Horizonte, estava lendo esse mesmo livro, com outras turmas e quis aproveitar o trabalho que fizemos (eu, a professora e os alunos daquelas turmas) para esse novo trabalho. O “Beatriz em trânsito” tem uma parte em que acontece uma coisa muito triste e os alunos destas turmas não gostaram que isso tivesse acontecido na história. Os alunos das outras turmas também não tinham gostado e até comentaram com a autora, na entrevista que fizemos com ela, da outra vez. Para quem quiser ler a entrevista e o posthttp://blogdoleheitor.sintaxe.com.br/eloi-bocheco-no-clube-de-leitura-e-mais-pmlllb/

Mas desta vez a professora fez diferente, já que eles não tinham gostado dessa parte triste da história, ela perguntou para a turma, como eles achavam que devia ser esse trecho, e pediu para que eles reescrevessem essa parte da história. Achei tão boa a ideia da professora que sugeri publicar no próprio post, os textos dos alunos, que costumam ficar nos comentários. A professora topou! Com isso, no próximo post,vou ganhar alguns colaboradores para o blog!

A Beatriz e os meninos da biblioteca

A professora Luciana também me mandou uma foto, disse que o livro “Os meninos da biblioteca”, em que conto a história da luta contra o fechamento da biblioteca do meu bairro, está na biblioteca da escola, e me mostrou dois alunos pegando emprestado pra ler, o meu e o “Beatriz em trânsito”, da Eloí Elisabete Bocheco.

 

Compartilhe:
  • Facebook
  • Twitter

Eloí Bocheco em outro clube de leitura

Hoje vamos começar outro clube de leitura com a professora Luciana e os alunos do Luiz Gatti, de Belo Horizonte, será um clube diferente, pois agora vamos continuar outro, que fizemos com outras turmas. Desta vez serão quatro sétimos anos. O livro lido é o “Beatriz em Trânsito”, da escritora Eloí Elisabete Bocheco. No link a seguir tem o post com a resenha, uma entrevista com autora e diversos comentários sobre o livro. É só clicar no link, ler o post, deixar um comentário e fazer o nosso clube crescer ainda mais: http://blogdoleheitor.sintaxe.com.br/eloi-bocheco-no-clube-de-leitura-e-mais-pmlllb/

 

 

 

Compartilhe:
  • Facebook
  • Twitter

Clube de leitura com Paulo Venturelli

Hoje começaremos outro clube de leitura com os alunos da Escola Municipal Luiz Gatti, de Belo Horizonte. Vamos conversar sobre o livro “Visita à baleia”, de Paulo Venturelli. Também publiquei, no final deste post, a entrevista coletiva que fizemos com o autor. O clube de leitura funciona assim, eu posto sobre o livro e o autor, na sequência, os alunos, que leram e trabalharam esse livro com as professoras em sala de aula, escrevem os seus comentários. Se alguém mais quiser comentar e participar do clube, também pode, mesmo não sendo aluno da escola.

HOJE É DIA DE CLUBE DE LEITURA!

Desde que comecei essa nova fase do blog, tenho procurado priorizar os posts de projetos de leitura, nesse tempo, já participei de diversos encontros do clube de leitura para jovens da Biblioteca de São Paulo e hoje, vamos retomar um projeto antigo, os clubes de leitura que faço com os alunos da professora Luciana, do Luiz Gatti. Mas também não quero abandonar os posts que escrevo sobre os livros que leio, as minhas resenhas. Foi isso que o meu amigo Lipe veio me cobrar outro dia:

– Heitor, você precisa escrever mais resenhas no blog e falar dos livros que tem lido.

– Ando meio desanimado, leio, mas não consigo escrever.

– Se eu puder ajudar…

Aproveitei e já escalei o meu amigo:

– Demorô! (…) Estou precisando de uma força para o clube de leitura, vamos fazer um clube com um livro do escritor Paulo Venturelli, o “Visita à baleia”, e queria que você lesse, também, pra gente conversar depois.

– Com quem vai ser esse clube?

– Com os alunos da professora Luciana.

– A de BH?

– Essa mesma! Você topa?

– Claro que topo, eu sempre participei dos clubes da professora Luciana, e não quero ficar de fora desse.

Emprestei o livro para o Lipe, que leu rapidinho e no dia seguinte já veio conversar comigo:

– Gostei do César, o personagem do livro, me lembrou do Paulo Loco, que às vezes faz o contrário do que a professora pede e acaba na diretoria.

– Também achei da hora a história que ele escreveu para a composição, era assim que eles chamavam antigamente a redação, parece que a história da redação é a inventada e a do livro é a verdadeira.

– As duas são inventadas!

– É claro que são… Só disse que parece…

E a nossa conversa foi longe, seguimos um roteiro que a professora Luciana me passou – de como ela trabalha a literatura em sala de aula, discutimos os mínimos detalhes do livro, brigamos em algumas partes, mas concordamos na maioria, principalmente em uma: gostamos muito do “Visita à baleia”.

A baleia rompendo os muros da escola

O livro “Visita à baleia”, escrito por Paulo Venturelli, ilustrado por Nelson Cruz e publicado pela Editora Positivo animou o clube de leitura, com ele, conseguimos reunir mais de 300 leitores. No início, eram só os alunos da professora Luciana, que já são velhos parceiros, depois, a professora Consolação, que também dá aula no Luiz Gatti, trouxe os seus, são alunos do 6º e 7º anos e EJA, e no final, a professora Ângela, que leciona numa escola do SESI de Belo Horizonte, entrou com 35 alunos de sua turma do 5º ano. É o nosso clube de leitura (com a ajuda da baleia) rompendo os muros da escola!

Baleia aparece em uma cidade do interior

A história do “Visita à baleia” começa com o César, personagem principal e narrador do livro, terminando seus deveres da escola, quando seu pai, que voltava do trabalho, chega em casa com uma notícia que “eletrizou a família”:

– Pessoal, tem uma baleia lá no centro da cidade.

Essa notícia, por si só já seria eletrizante, e ficou ainda mais, pois a família morava em Brusque, cidade do interior de Santa Catarina.

Mas o pai não teve dúvidas e convocou a família toda:

– Vamos, vamos. Se aprontem que a gente vai até lá ver o bicho.

A mãe disse que o marido estava maluco e declinou do convite:

– Na nossa cidade nem tem mar, como é que vai ter baleia por aí?

O pai olhou para os filhos (César e seu irmão mais novo) de tal forma, que não tiveram outra escolha, senão fazer o que ele estava mandando.

Foram se aprontar, lavar os pés com água fria, para economizar a lenha do fogão e vestir a gandola, conjunto de calção e camisa feitos com o mesmo tecido. Duas coisas que César odiava.

E foram os três na bicicleta do pai, o mano na cestinha próxima do guidão e ele, de garupa, no bagageiro.

E assim começa a aventura dos três, contada pelo César, que nessa parte do livro, já contou a história do pai, que cortava lenha para o fogão feito de tijolos, enorme, que eles tinham em casa; dos presentes da avó, as gandolas, que ela trazia de Iguape e dava outro igualzinho ao irmão. Ele odiava os seus presentes, mas um dia ela lhe deu um que foi maravilha: um canivete. Uma história vai puxando a outra, e o César, além de contar a “história principal” do livro, vai contando outras, sempre muito engraçadas e divertidas.

“Visita à baleia” recebeu diversos prêmios: Prêmio FNLIJ 2013 nas categorias de Melhor Livro para a Criança e Melhor Ilustração (de Nelson Cruz), 2º lugar do Prêmio Jabuti 2013 na categoria Infantil, finalista do Prêmio Jabuti 2013 na categoria Ilustração de Livro Infantil e Juvenil, Prêmio 30 Melhores Livros Infantis do Ano de 2013 da revista Crescer, e Lista de Honra do IBBY 2014 – International Board on Books for Young People.

Entrevista coletiva

“Quanto mais eu leio, mais a minha cabeça fica cheia de ideias”

Entrevistamos o Paulo Venturelli!

Fizemos algumas perguntas (os alunos do Luiz Gatti, eu e o Lipe – por isso, entrevista coletiva), lhe enviamos e ele respondeu.

Clube de Leitura – Por que você decidiu fazer um livro contando um acontecimento de sua infância?

Paulo VenturelliNão conto um acontecimento de minha infância. Apenas me baseio em lembranças. Vocês precisam lembrar que este livro é literatura, logo, uma obra de imaginação. Se eu contasse um fato seria jornalismo. Para ser literatura tem de ser ficção, ou seja, obra INVENTADA.

CdL – Você está pensando em escrever ou está escrevendo algum novo livro? Qual o tema?

PV Estou sempre escrevendo. No momento, escrevo poemas para depois montar um livro. Escrevo também um romance com uma história meio trágica. E estou preparando um livro de contos sobre homens que não se acertam bem com a vida.

CdL – Você tem outra profissão, além de ser escritor?

PV O que ganho como escritor não paga nem o papel que gasto. Até um tempo atrás fui professor de literatura brasileira na UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ. Agora vivo com meu salário de aposentado.

CdL – Você prefere escrever para qual público?

PV Não escolho público quando escrevo. O que tenho em mente sou eu mesmo, ou seja, eu escrevo aquilo que eu gostaria de ler. Como sou multidão, escrevo sempre para estas inúmeras pessoas que habitam minha cabeça que ferve o tempo todo.

CdL – Você recebeu apoio de sua família e amigos para seguir a carreira de escritor?

PVSou filho de operários. Eles nem sabem o que é literatura. Foram pessoas pobres tendo que lutar duramente pela sobrevivência cotidiana. Na vida deles não havia espaço para arte. Não conto com meus amigos, que são poucos. Uma boa parte de CONHECIDOS em lugar de me apoiar, me boicota por inveja, já que ganhei vários prêmios com meus livros.

CdL – O que te levou a escrever livros?

PVDesde a adolescência leio muito. Quanto mais eu leio, mais a minha cabeça fica cheia de ideias. Chega o momento em que preciso colocar para fora o mundo que pulsa lá dentro. Assim escrevo. Para desafogar as tempestades que ocorrem em minha mente.

CdL – Qual a sensação de ver pessoas lendo um livro escrito por você? E como você se sente ao saber que a história que você escreveu está sendo lida por muitas pessoas?

PVTodo escritor escreve para ser lido. Livro publicado é filho no mundo. Se há gente lendo-o, fico feliz e espero levar algo de interessante para a vida das pessoas. Que enquanto me leem tenham contado com boas ideias, bons personagens e assim se estimulem a ler sempre e sempre. A leitura é um caminho formidável para a gente se entender e entender os outros. Quem lê esperneia, e quem esperneia não se deixa dominar. A leitura é uma forma de se viver duas vezes. Quanto mais alguém lê, mais vive, mais conhece mundos que vão além do seu pobre cotidiano. Literatura rompe todas as fronteiras e nos torna capazes de conviver com a diferença, superando preconceitos, racismos estúpidos e por aí vai.

CdL – Você se considera um escritor famoso?

PVNão e nem estou preocupado com isto. Gosto da minha privacidade. Gosto de ficar no meu cantinho lendo e escrevendo. Ser famoso é ter uma vida pública e todo mundo bisbilhotando o que eu faço. Não quero isto. Quero manter minha liberdade de ir e vir sem ter jornalista atrás de mim o tempo todo.

CdL – Quanto tempo você levou para escrever o livro “Visita à baleia”?

PVUns 3 anos mais ou menos.

CdL – Como foi escolhido o ilustrador desse livro? Você já conhecia o Nelson Cruz?

PV – Isto é tarefa da editora. Eles escolhem o artista que faz um projeto e este é colocado à minha apreciação. Se eu aprovar, toca-se o barco e o livro sai lindo como o da baleia.

CdL – Você já pensou em transformar seu livro em filme? Se pensou, ele seria do gênero ação, aventura, comédia ou musical?

PV – Minha praia é escrever. Se alguém quiser transformar uma história minha numa outra linguagem, ótimo, dou apoio. Mas eu mesmo fazer isto não está no meu horizonte de expectativa.

CdL – Como você definiria seu livro em uma palavra?

PVPAI.

CdL – O que você sente quando está lendo ou escrevendo um livro?

PVUm misto de prazer e agonia. Acho sempre que poderia estar melhor do que fiz. Por isto demoro. E quando leio um livro de outro autor, fico me mordendo e pensando: puxa, por que eu não tive esta ideia antes dele? Adoro ler porque estimula minha criatividade. Da leitura sempre vem uma fagulha e esta pode ou não se transformar num livro meu.

CdL – Você gostou de ter visto uma baleia de perto, na sua cidade?

PVSou de Brusque, uma cidade sem mar. Logo, não vi baleia alguma. Como já escrevi acima, a história é fruto de minha imaginação.

CdL – Como surgiu seu interesse pela leitura e pela escrita?

PVUm professor no ginásio incentivou a gente a ler. Dizia que a melhor forma de criar inteligência é lendo. Eu era um menino muito tímido. Então me agarrei nos livros para encontrar uma saída. A partir daí as ideias começaram a fervilhar e eu vi que não bastava ler, tinha também de complementar esta tarefa com outra: escrever. Assim, ler/escrever está associado à minha vida desde muito cedo. E eu agradeço àquele professor. Por causa dele, encontrei um caminho excelente para ser percorrido, um caminho que tornou minha vida um longo feriado e me traz muita satisfação. Leio vários livros ao mesmo tempo e uns 3 ou 4 por semana. Assim, estou sempre em contato com novidades e com a mente afiada para criar enredos novos.

PS – Também já fizemos um clube de leitura com o ilustrador desse livro, o Nelson Cruz, quem quiser ler: http://blogdoleheitor.sintaxe.com.br/nelson-cruz-no-clube-de-leitura/

Compartilhe:
  • Facebook
  • Twitter

O clube de leitura está chegando

 

Já estava tudo pronto para o clube de leitura com os alunos da Escola Municipal Luiz Gatti, de Belo Horizonte, começaria nesta semana, mas vamos ter que adiar, por um motivo muito justo: os professores de Belo Horizonte entraram em greve.

Por isso vou aguardar, pacientemente, o final da greve e torcer pelos professores, mas já vou anunciando, que nesse próximo clube vamos conversar sobre o livro “Visita à baleia”, de Paulo Venturelli, teremos, em média, 300 alunos da EM Luiz Gatti, coordenados pelas professoras Luciana e Consolação e mais 35 alunos do SESI de Belo Horizonte, coordenados pela professora Ângela, e todos leram o livro, inclusive eu e o Lipe. No final ainda fizemos (os alunos, eu e o Lipe) uma entrevista coletiva com o autor, que também vou publicar nesse post.

Dica da professora Luciana

Acho que para me distrair, enquanto espero (nem precisava), a professora Luciana me apresentou uma nova escritora de Belo Horizonte, a Lavínia Rocha, ela tem 19 anos e já escreveu diversos livros. A professora me mandou um vídeo dela do Youtube. Vi o vídeo e gostei da Lavínia!

Link para o vídeo: Vídeo de Lavínia Rocha

A Lavínia Rocha participou de um bate-papo com os alunos da Escola Municipal Luiz Gatti, que leram um conto dela chamado “Status de relacionamento: enrolados”. Esse conto foi publicado no site “Nem Um Pouco Épico” e conta a história de Valentina, uma menina negra, adotada por pais brancos, que não aceitava os seus cabelos crespos. Mas depois de perder uma aula importante, por olhar no espelho e estar se “sentindo um lixo”, resolve enfrentar a “ditadura do cabelo liso”, descobre que isso é um “ato político” e vai à luta. Gostei muito desse conto da Lavínia. Vou procurar um livro dela para ler.

Link para o conto: Conto de Lavínia Rocha

Compartilhe:
  • Facebook
  • Twitter

Li mais um livro do escritor angolano Ondjaki

Já tinha lido li três livros de Ondjaki e falei deles aqui (http://blogdoleheitor.sintaxe.com.br/li-tres-livros-de-ondjaki/), fui reler esse post e percebi uma coincidência. Naquela ocasião, encontrei Ondjaki por acaso, fuçava numa livraria e um livro me chamou a atenção, “Os da minha rua”, adorei a capa. Folheei, gostei, levei e ainda li mais dois livros dele, “A bicicleta que tinha bigodes” e “Uma escuridão bem bonita”.

Desta vez a história foi bem parecida, queria encontrar um livro que falasse de transformações políticas na visão de um jovem ou de uma criança, precisava de um gancho para tratar de uma questão importante e que vem me perturbando muito. Fui fuçar na livraria e, novamente, encontrei Ondjaki, e o seu “Bom dia, camaradas”.

Luta de classes

Como comentei na abertura do post anterior, ando preocupado com o que está acontecendo no país e pensei em falar desse assunto aqui no blog. Acho que isso vai me ajudar e também deve me animar a continuar escrevendo sobre livros. Meu pai foi contra, disse que as pessoas andam cheias de ódio e que eu poderia sofrer com as ofensas. Já estou bem calejado, na escola, a professora de História tem promovido alguns debates em sala de aula e já ouvi cada uma.

A professora Mirtes pede pra gente levar à aula, matérias de jornais para as nossas conversas. Confesso que sempre procuro levar as matérias que defendam a minha posição, mas que são difíceis de ser encontradas. Os jornais, em geral, defendem o outro lado. Sendo assim, tenho que recorrer aos blogs de política, sites e à imprensa alternativa, meu pai acompanha alguns. Por isso, tenho lido muita coisa sobre o assunto, o que tem reforçado ainda mais a minha posição política.

Charge da Laerte para Folha de S. Paulo (17/04/2018)

A luta contra a corrupção é muito importante, ninguém é contra, mas essa é uma farsa. Além de prejudicar a economia do país e aumentar a miséria do povo mais pobre, faz “justiça” seletiva e é abusiva. Estão manipulando as leis e praticando o lawfare, palavra inglesa que significa: “usar instrumentos jurídicos para fins de perseguição política”. Não é luta contra a corrupção, é luta de classes! – também li sobre isso. Há 16 anos, os ricos não conseguem eleger um representante na presidência e resolveram tirar o favorito da disputa, para não correr o risco de perder outra eleição.

Bom dia, camaradas

“Bom dia, camaradas”, escrito por Ondjaki, publicado pela Companhia das Letras e narrado por um menino, de quem não sabemos o nome; conta uma história que se passa no final dos anos 1980, em Luanda, durante a Guerra Civil de Angola. Achei muito bonita a forma como o menino conta a história, observando as pessoas e a vida na cidade, como no começo do livro, em um diálogo com o personagem António, que trabalhava em sua casa.

Mas, camarada António, tu não preferes que o país seja assim, livre?, eu gostava de fazer essa pergunta quando entrava na cozinha. Abria a geladeira, tirava a garrafa de água. Antes de chegar aos copos, já o camarada António me passava um. As mãos dele deixavam no vidro umas dedadas de gordura, mas eu não tinha coragem para recusar aquele gesto. Servia-me, bebia um golo, dois, e ficava à espera da resposta dele.”

Outras partes bonitas do livro são os diálogos com os professores cubanos. Cuba deu apoio a Angola durante a Guerra Civil, inclusive, enviando professores. Tem este bem engraçado que mostra a confusão nos idiomas, os cubanos falavam em espanhol, os angolanos em português, apesar de se entenderem muito bem assim, às vezes, havia algumas confusões. Nesta parte, o Murtala, outro personagem, amigo do narrador, lhe contava uma cena que tinha se passado na tarde anterior com a professora María.

“A professora María, mulher do camarada professor Ángel? Sim, essa mesmo… – O Helder disse a rir. – Então ela

Tchissola, Lelinha, Ndalu, Kiesse e Dilo

hoje de manhã, lá na sala, tavam a fazer muito barulho então ela quis dar falta vermelha no Célio e no Cláudio… yá… eles levantaram-se já pra ir refilar e a professora disse… – O Helder já não podia mais de tanto rir, ele tava

todo vermelho – a professora disse: ustedes queden-se aiá, ou aí ou quê!

– Sim, e depois? – eu também a rir só de contágio.

– E eles se atiraram no chão mesmo…”

Procurei um livro pra saber das reações de uma criança, num país em transformações políticas. Encontrei esse, que fala da amizade, da relação afetuosa com os dedicados professores cubanos e da ternura nas relações humanas, que jamais devemos perder. É um livro de ficção, mas foi inspirado em fatos reais. O narrador, certamente, é o próprio escritor Ondjaki, que se chama Ndalu de Almeida, e os seus amigos dessa história, são os seus amigos de infância. Tem uma foto que publiquei no outro post, que reproduzo acima. São os personagens desse livro, na época da história. Ondjaki está na foto, é o baixinho do meio.

Clube de leitura

Já está tudo certo! No próximo post teremos outro clube de leitura aqui no blog. Será com os alunos da professora Luciana, da Escola Municipal Luiz Gatti, de Belo Horizonte (MG). Vamos falar do livro “Visita à baleia”, escrito por Paulo Venturelli, ilustrado por Nelson Cruz e publicado pela Editora Positivo. Meus amigos leitores de lá já estão lendo o livro, veja abaixo uma das fotos que a professora me mandou, ela também me mandou um exemplar do livro. 🙂 Vou ler e depois conversar com eles. Até lá!

Compartilhe:
  • Facebook
  • Twitter

Li “O sol na cabeça” e assisti a um bate-papo com o autor, Geovani Martins

Depois de meses longe daqui, hoje volto pra falar de um livro que acabei de ler e gostei muito. Meu pai disse que eu nem deveria escrever este texto de abertura, e justificar minha ausência, falou que eu estou parecendo o avesso de um antigo cantor, que vivia anunciando sua despedida: “Ao contrário dele, Heitor, você vive anunciando a sua volta!” Não vou justificar nada, só quero dizer que está muito difícil falar de livros com tudo que tem acontecido por aí, ódio, perseguição, violência, e ainda ter que aguentar zoeira de pai.

Mas, apesar de tudo, consegui me animar, falei com a professora Luciana, de Belo Horizonte, e com o professor Carlos, de São José dos Campos e, neste ano, vamos retomar nossos clubes de leitura. No mês que vem também vou conversar com o pessoal da Biblioteca de São Paulo, já marcamos uma reunião, e quem sabe, voltaremos com o clube de leitura para jovens no segundo semestre. São muitos planos, eu tinha que voltar e falar dos livros que tenho lido. Então vamos agora com “O sol na cabeça”, de Geovani Martins.

A voz do novo realismo

Acabei de ler “O sol na cabeça”, li numa sentada, são treze contos do escritor carioca, Geovani Martins, histórias de crianças e adolescentes, mas, um aviso, não é um livro infantojuvenil. A primeira vez que ouvi falar desse escritor foi em um artigo da Fernanda Torres, na Folha de S. Paulo, meu pai leu a matéria e me mostrou, lá ela diz que ele é “um milagre literário saído da violenta Rocinha”. O Geovani nasceu em Bangu, bairro da zona oeste do Rio, morou na Rocinha e hoje vive no Vidigal, favelas da zona sul carioca.

Depois disso, soube que um conto dele tinha sido publicado na revista Piauí, fui atrás da revista e li o “Rolézim”, que conta a história de uma turma de adolescentes que resolve ir à praia, num dia quente do verão carioca de 2015, quando a polícia perseguia os meninos da favela, que queriam “ficar tranquilão, só palmeando as novinha, dando uns mergulho pra refrescar a carcaça”. Tem muitas palavras desse conto, que eu não sei o que significam, mas dá pra imaginar. Fiquei a fim de ler mais, dias depois saiu matéria grande no jornal, com entrevista e anúncio do lançamento de seu livro. Ele viria à São Paulo, lançar o livro e participar de um bate-papo com o Antonio Prata. Eu tinha que ir… E fui!

No bate-papo, Geovani disse que aprendeu a ler com sua avó, Aparecida, ela lhe contava histórias em quadrinhos, ele decorava, saía pra rua com a revista e fingia para os amigos que estava lendo. Foi assim que começou a pegar gosto pela leitura e passou a pedir livros de presente. Lia sempre e muito, no começo os best-sellers, depois foi ler Machado de Assis, Carlos Drummond de Andrade, Graciliano Ramos… Com o Graciliano aprendeu que escrever é um trabalho com diversas etapas. Hoje, Geovani primeiro pensa na história, faz algumas anotações, depois escreve o texto à mão, bate na máquina (sim, na máquina de datilografia! – ele ganhou uma quando seu computador quebrou e a mantém até hoje), e só no final passa para o computador.

Filho de uma cozinheira e um jogador de futebol amador, ele trabalhou desde pequeno, distribuiu papéis, carregou placas de propaganda com uma bicicleta pela orla de Copacabana, entregou comidas, foi garçom em casas de festa e em barracas de praia, e abandonou a escola no nono ano. Até que se inscreveu em uma oficina literária com o poeta Carlito Azevedo, na Biblioteca Parque da Rocinha, em 2014, e começou a escrever para a revista literária “Setor X”, que era produzida por essa oficina. No ano seguinte, em 2015, participou de oficinas na Flupp (Festa Literária das Periferias), onde conheceu alguns escritores, e foi à Flip (Festa Literária de Paraty), apresentar a “Setor X”.

Na Flip, muita gente lhe perguntou se ele tinha algum texto já pronto, contos, romance, e ele não tinha nada, achou que havia perdido a grande oportunidade de sua vida. Chegou ao Rio, pediu para voltar a morar com a mãe e passou a trabalhar, de seis a oito horas por dia, todo dia, escrevendo. Foi assim que saíram os contos desse livro. E o final feliz aconteceu, mesmo, em 2017, ele foi novamente à Flip, o Antonio Prata que já conhecia alguns de seus textos, o indicou à Companhia da Letras, que o contratou, e ainda vendeu os direitos do livro, na Feira de Frankfurt, para diversas editoras estrangeiras.

No final do bate-papo o Antonio Prata perguntou ao Geovani Martins o que estava lendo no momento. Ele respondeu que apesar dos dias corridos, com os lançamentos do livro, relia “Memorial de Aires”, de Machado de Assis, e lembrou uma fala de seu amigo Carlito Azevedo, que diz que quando não sabe o que ler, lê Shakespeare.  “Eu leio Machado, Machado é meu Shakespeare”, ele disse.

“Rolézim” e outros contos

Quando fui ler o livro, pensei que todos os contos fossem como “Rolézim”, na linguagem dos meninos do morro, mas não são, e a quarta capa já me preparou para a leitura. Lá o João Moreira Salles diz que o “Geovani pula da oralidade mais rasgada para o português canônico como quem respira”, outro texto diz que ele é a “voz do novo realismo”, e o Chico Buarque, então, contou que ficou “chapado” ao ler o livro. Confesso que também fiquei, gostei muito de “O sol na cabeça”! O Geovani disse que agora está escrevendo um romance. Vou esperar, e quero ler também!

Gostei de todos os contos, alguns mais que os outros, e adorei o jeito como ele termina as histórias, deixa uma sensação de que ela não acaba no final de cada conto, mas continua, em algum outro lugar da vida de seus personagens. Como no “Caso da borboleta”, por exemplo, que fala da infância e conta a história de Breno, um menino de nove anos, que chega em casa, com fome, e sua “avó cochilava de frente para a novela das sete, justamente aquela durante a qual ela mais gostava de cochilar”. Tem também o “Primeiro dia” que conta a história de André e do seu primeiro dia de aula na escola do sexto ano.

“A viagem”, que fala de uma relação amorosa entre o narrador e Nanda, e de suas descobertas na primeira viagem que fizeram juntos, foram ao Arraial do Cabo. “Estação Padre Miguel”, um grupo de amigos conversando na linha do trem, são abordados por dois homens numa moto, e vivem momentos de terror, com ameaça de morte. “O cego” que conta como fazia para viver o seu Matias, que “nasceu cego, nunca viu o mar, armas ou mulheres de biquíni”.

Mas o que eu mais gostei mesmo foi de “O mistério da vila”, que conta a história de “dona Iara, uma das senhoras mais antigas da rua, que já vê a terceira geração de sua família crescer no pedaço de terra que ajudou a desbravar”. Dona Iara fazia macumba numa vila onde crescia o número de igrejas evangélicas, as crianças ficavam apavoradas com o que ouviam da vizinhança. Para contar essa história simples, Geovani constrói uma narrativa em que se destacam os sentimentos de amizade e lealdade entre as crianças e, no meio de muita contradição, a grande admiração e respeito que todos tinham por dona Iara.

Compartilhe:
  • Facebook
  • Twitter

Li “O Anibaleitor”, do escritor português Rui Zink

Gosto de livrarias pequenas, nelas encontro livros que não têm nas grandes, sempre vou à do meu amigo Ronaldo, a Livraria do Espaço, no Espaço Itaú de Cinema da rua Augusta, também frequento a Tapera Taperá, na Galeria Metrópole e a Novesete, na rua França Pinto, na Vila Mariana, especializada em livros infantojuvenis. Outro dia conheci a Realejo, na cidade de Santos, e descobri um livro muito bom, O Anibaleitor, do escritor português Rui Zink, publicado pela própria Realejo, que também é editora. E hoje vou falar desse livro.

Um devorador de humanos e livros

O Anibaleitor, escrito por Rui Zink e publicado pela Realejo Livros, conta a história de “um jovem rebelde que se envolve por acidente na caça a um ser mítico, devorador de humanos e livros”. Essa obra foi recomendada pelo Plano Nacional de Leitura de Portugal e, como diz o texto de orelha, “consegue equilibrar de maneira brilhante o ritmo e a emoção dos livros de aventura com uma profunda reflexão sobre a importância da leitura”. O livro não traz nenhuma indicação de que seja juvenil, enquanto lia, em algumas partes, achei que fosse um livro para jovens, em outras, pensei ser para adultos, mas ao final, em suas notas, o autor esclarece: “que o adulto o leia como se fosse um relato para jovens, e o jovem como se fosse uma novela para adultos”.

Os pais do menino, narrador dessa história, tinham acabado de se divorciar e, ocupados com suas brigas pessoais, não tinham tempo de cuidar do filho, que só via vantagens nisso, pois assim, “faltava às aulas, pintava a manta e fazia trinta por uma linha”. Achei engraçado, gosto de descobrir expressões antigas, e o autor usa outras, bem portuguesas. Quanto a essas duas, ele tenta esclarecer: “Ainda hoje não sei o que pintar a manta ou fazer trinta por uma linha querem dizer, mas não faz mal. Mesmo sem saber de onde vêm, sabemos bem ao que vêm, tanto o raio da manta como a treta da linha.”

O menino fazia parte de um grupo de pequenos ladrões, que atuava na zona do cais, onde, todos os sábados, havia um mercado. Nesses dias, a galera aproveitava a confusão para bater umas carteiras, roubar frutas, linguiças e outros produtos que, trocados, rendiam algum dinheiro. Certa manhã, foram ao mercado alguns soldados para dar uma batida, corria o boato de que um grande ladrão tinha dado um golpe, e que foi visto nas imediações do cais. Como o menino também era ladrão, embora de “meia-tigela”, entrou em pânico e tentou se esconder. Mas os esconderijos já estavam todos ocupados por seus amigos, então, ele se sentiu em “mauslençois” e acabou se enfiando, por engano, dentro de uma embarcação, que saía a caça de um animal fantástico e feroz, um “bruto peludo que lê”, o Anibaleitor.

Clandestino por pouco tempo, logo foi descoberto e, graças a sua agilidade e esperteza, virou o mascote da tripulação do navio e passou a prestar pequenos serviços. Sua maior habilidade era a de ficar como observador, em cima, no cesto da gávea, até que uma tempestade pegou a embarcação, o rapaz foi arremessado ao mar e foi parar em uma ilha.

Acordo numa caverna imensa, de cuja abóbada pingam fileiras de estalactites, feito mísseis de cera, nas quais se reflete a luz da lua, que deve estar cheia. A caverna, ou gruta, parece uma catedral pré-histórica. Todavia (reparo com horror), ao longo do chão há algo de muito diferente do que seria de esperar num santuário sagrado: centenas, talvez  milhares de ossadas. Tíbias, clavículas, caveiras. Um mar de ossos. E livros. Livros, livros, livros

Era nesse lugar que vivia o Anibaleitor, uma “desmesurada criatura, sentado, tinha a altura de três andares, parecia um gorila, mas um gorila do tamanho de três elefantes”. A partir daí começa a parte que eu mais gostei dessa história, as conversas do menino com o monstro, suas leituras e reflexões sobre livros, como num dia em que o menino, sem paciência, não estava entendendo nada de um livro que o Anibaleitor lhe recomendara e, irritado, fez a seguinte pergunta:

“Mas afinal, ler serve para quê?” “Para nada”, respondeu, objetivo, seu mestre. E no final de um diálogo longo e divertido, o Anibaleitor ainda acrescenta: “Um dia meu jovem e desmiolado amigo, aprenderás que as coisas mais importantes na vida são aquelas que não servem para coisa nenhuma”.

O autor

Rui Zink nasceu em Lisboa, em 1961, é escritor – autor de ensaios e ficção, tradutor e professor na Universidade Nova de Lisboa. Entre outros livros, publicou Hotel Lusitano (1986), Apocalipse Nau (1996), o romance interativo Os Surfistas (2001), Dádiva Divina (prêmio Pen Clube 2004), O Destino Turístico (prêmio Ciranda 2009). A sua obra foi traduzida em várias línguas e o romance A Instalação do Medo teve diversas adaptações para o teatro em Portugal, na Alemanha e na França. Além de O Anibaleitor, um livro que pode ser lido pelo jovem, como se fosse uma novela para adultos, como sugere seu autor, Rui Zink também escreveu outros livros para crianças.

 

Clube de leitura com O Alienista

O próximo e último encontro do ano do clube de leitura da Biblioteca de São Paulo, para jovens de 11 a 14 anos, será no próximo dia 25 de novembro, sábado, às 14h30, com o livro O Alienista, de Machado de Assis. Inscrições pelo e-mail: agenda@bsp.org.br, ou no balcão da biblioteca, que fica na avenida Cruzeiro do Sul, 2630, ao lado da estação Carandiru do metrô, em São Paulo.

 

 

Compartilhe:
  • Facebook
  • Twitter

Clube de leitura com “Um bolo no céu”

 

Neste post vou falar do segundo encontro do clube de leitura da Biblioteca de São Paulo, para jovens de 11 a 14 anos. Conversamos sobre o livro Um bolo no céu, escrito por Gianni Rodari, ilustrado por Francesco Altan e publicado pela Editora Biruta. A ideia é que esse encontro continue aqui no blog, portanto, quem já leu esse livro, mesmo que não tenha participado da reunião, e quiser deixar seu comentário aqui, vamos adorar. Mesmo quem não leu, mas tiver algum palpite pra dar, também pode.

O clube tem que continuar

Aos poucos vamos ampliando a turma e fortalecendo o nosso clube de leitura, já somos seis, comigo: Eu (Heitor), Jorge, Gabriely, Tiphany, Henrique e Néstor. Como havia novos integrantes, começamos essa reunião com a rodada de apresentações, todos disseram seu nome, idade, escola que estuda, o ano, se gosta de ler, se lê livros além dos indicados pela escola, se frequenta bibliotecas, etc., etc..

O Henrique disse que os livros que escolhemos não são suas leituras prediletas, expliquei porque fizemos essa seleção, que são livros em que os personagens participam da história de Os meninos da biblioteca, o primeiro livro que lemos no clube, mas que se o clube de leitura continuar no próximo ano, todos vão poder sugerir títulos para leitura, ele disse que quer ler e discutir com o grupo, algum livro de ficção científica, sua leitura preferida, um de Júlio Verne, por exemplo; o Jorge, apesar de estar se divertindo muito com as nossas leituras, também já tem um título para indicar, Terra de Histórias – O feitiço do desejo, de Chris Colfer. Anotei as sugestões e já começamos a nossa campanha com a biblioteca: O CLUBE TEM QUE CONTINUAR!

Um bolo no céu

O livro Um bolo no céu conta a história de uma espécie de disco voador misterioso, que apareceu em Borgata del Trullo, um bairro de periferia da cidade de Roma, na Itália. Os adultos pensaram que fosse uma invasão extraterrestre, chamaram o exército e recrutaram cientistas e pesquisadores. Já as crianças enxergaram o óbvio, era um simples bolo gigante caindo do céu, eles só tinham que avisar os seus amigos, para darem conta de comer todo esse bolo. Essa história nasceu na Escola Elementar Collodi, que fica em Borgata del Trullo, entre os alunos da quinta série, da professora Maria Luisa Bigiaretti, em 1964, e foi publicada em capítulos pelo jornal Corriere dei Piccoli, nesse mesmo ano.

Começamos conversando sobre essa divergência que aparece no livro, do olhar da criança com o olhar do adulto, se quando a criança cresce, vira adulto, perde a capacidade de fantasiar, e qualquer tentativa, pode ser reprimida. Sobre isso, alguém chamou a atenção para um trecho que aparece na página 22, um diálogo entre Dédalo, o piloto do helicóptero, que observava o bolo do alto, e o Diomedes, o general que comandava a operação:

Sim senhor. A superfície superior apresenta um maravilhoso panorama de cor branco-chantili. Um espetáculo soberbo!

– Deixe de lado os pontos de exclamação – esbravejou Diomedes. – Você não é um vendedor de geladeiras. Diga o que está vendo e só. Câmbio.

– Entendido, senhor. Vejo esferas vermelhas colocadas a distâncias regulares na superfície branca. São muitas centenas. Parecem grandes cerejas em calda, se me permite a comparação.

– Você não tem permissão! – enfureceu-se o general. – Poupe-nos das comparações. Em vez disso, conte as esferas.

O flautista de Hamelin

Quem assumiu a missão de espalhar pela cidade a notícia de que havia um bolo no céu foram os irmãos Paulo e Rita, mas era Rita, a irmã mais nova, quem mais sofria com a incompreensão das pessoas. Internada no hospital, por suspeita de envenenamento pelo bolo, ela descobriu como as crianças se entendem com mais facilidade, isso está em outro trecho do livro, na página 86:

– É verdade que em Borgata del Trullo tem um bolo doce e grande como uma montanha? – interrompeu um loirinho com um braço na tipoia.

– É verdade, sim. Mas os doutores não querem acreditar em mim.

– Escute, é bom esse bolo?

– Gostaria que vocês pudessem comer tanto quanto eu comi. É o melhor bolo do mundo, eu garanto. Aliás, é um bolo espacial. Chegou ontem mesmo o céu.

Para avisar as crianças de Roma, Rita e seus amigos usaram um recurso, que no livro foi comparado à flauta mágica e no rodapé da página 90, o autor fala do Flautista de Hamelin, que é um conto folclórico popularizado pelos irmãos Grimm e sugere a sua leitura. Lemos o Flautista de Hamelin na reunião, é um conto curto, com um final que pode ser interpretado como trágico. Essa leitura rendeu uma conversa bem divertida sobre contos de fadas, ficamos comparando as terríveis versões originais com as versões “fofas” (como disse a Gabriely), de alguns contos famosos. Ainda falamos de muitas outras coisas que percebemos na leitura de Um bolo no céu e trocamos opiniões. Foram duas horas conversando sobre livro e leitura e nem percebemos o tempo passar, ainda bem que no final deste mês tem mais (informações no final deste post).

O autor e o ilustrador

 

Gianni Rodari (1920-1980) nasceu na cidade de Omegna, na Itália, formou-se em Magistério com apenas 17 anos e em 1941, foi aprovado no concurso para professor. Logo depois, começou sua carreira em escolas elementares do norte da Itália, o que lhe deu a oportunidade de estudar o universo infantil e testar novos métodos de ensino. Nesse tempo, escreveu contos para crianças e jovens e, em 1950, é chamado à Roma para dirigir a revista infantil “Il pioniere”.

Em dezembro de 1958, passou a trabalhar no jornal “Paese Sera” e, finalmente, realizou seu maior sonho: conjugar o trabalho de escritor para crianças com o de jornalista político. Em 1960, começou a publicar pela Editora Einaudie e sua fama espalhou-se por toda Itália. Em 1970 recebeu o Prêmio Andersen, o mais importante prêmio internacional de literatura infantil, que o tornou famoso no mundo inteiro.

 

Francesco Altan é autor de histórias em quadrinhos, cartunista, ilustrador e nasceu em 1942, na Itália. Em 1970, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde criou sua primeira história em quadrinhos para crianças, “Kika”, publicada no Jornal do Brasil.

Em 1975, de volta à Itália, cria o cachorrinho Pimpa, seu personagem mais famoso. A sua biografia no livro diz que “ao ilustrar os textos de Gianni Rodari, Altan sintetiza, com seu desenho irônico e provocador, toda a mensagem humana e social neles contida, além de comentar e dar vida às propostas lúdicas do escritor.”

O próximo encontro

O próximo encontro do clube de leitura da Biblioteca de São Paulo, para jovens de 11 a 14 anos, será no dia 28 de outubro, sábado, às 14h30, com o livro Os meninos da rua Paulo, do escritor húngaro Ferenc Molnar, traduzido por Paulo Rónai e publicado pela Companhia das Letras. Inscrições pelo e-mail: agenda@bsp.org.br, ou no balcão da biblioteca, que fica na avenida Cruzeiro do Sul, 2630, ao lado da estação Carandiru do metrô, em São Paulo. A editora cedeu alguns exemplares do livro para empréstimo, corra e garanta já o seu.

Compartilhe:
  • Facebook
  • Twitter