Na semana passada eu fui à biblioteca para pegar um livro emprestado e saber das novidades da “nossa luta” contra o fechamento. A prefeitura quer fechar a biblioteca do meu bairro para construir um prédio no terreno. Já falei disso em outros posts. Chegando lá, encontrei o meu amigo João Gabriel, o bibliotecário da Anne Frank.
– Oi, João. Tudo bem? Vim pegar um livro do Pedro Bandeira e saber como estão as coisas.
– Do Pedro Bandeira?! Ele me perguntou, espantado.
– Sim. Por quê? Eu respondi e devolvi a pergunta.
– Você não vai acreditar… Outro dia eu fui à Câmara falar sobre a Biblioteca Anne Frank e advinha quem estava lá?
– O Pedro Bandeira?!
– Sim, em pessoa! Ele também foi falar e falou depois de mim. Fiquei ao lado dele!
– E você conversou com ele?
– Conversei. Contei da biblioteca e disse que eu estava muito feliz em conhecê-lo pessoalmente.
– Ele é legal? Ele vai apoiar a nossa luta?
– Ele é muito legal e está do nosso lado.
– Então agora eu vou ler um livro dele com mais gosto! Você me ajuda a escolher.
– Claro que eu ajudo, Heitor. Estou aqui pra isso!
– Legal, João! Mas antes me conta. Como andam as coisas por aqui?
– Não sei se você já sabe, mas na outra semana tivemos uma vitória. A prefeitura tentou impedir, mas o Ministério Público decidiu manter o inquérito civil para a investigação sobre a venda do quarteirão. Com isso vamos ganhando tempo. Tem também o projeto de tombamento, se o processo for iniciado, por um bom tempo, até que o projeto seja avaliado, ninguém vai poder mexer com a nossa biblioteca.
– Que legal, João! Eu acho que vamos conseguir vencer.
– Eu também estou otimista, Heitor, mas temos que continuar lutando. Também tem um pessoal organizando um seminário e convidando uns especialistas para falar. Se for marcado, eu te aviso o dia. Acho que vai ser bacana!
– Me avisa, mesmo. Não posso faltar nesse dia. Outra coisa, você me falou que tem umas pessoas mais velhas, que frequentaram a biblioteca quando eram crianças. Queria conversar com elas. Você pode me apresentar alguma?
– Claro que eu posso. Sabe que também tem uns depoimentos escritos e guardados aqui, de pessoas que fizeram parte da história da Biblioteca Anne Frank. Você quer ver esses depoimentos?
– Oh, se quero! Vamos marcar um dia! Quero vir aqui para ler todas essas histórias.
– É só você me falar. Elas estão aqui, guardadas…
– Sim, Heitor, tem mais uma coisa… Outro dia uma amiga mandou um e-mail me perguntando se você existe, mesmo, ou se é um personagem. O que eu digo pra ela?
– Deixa eu pensar… Já sei, vamos enganar a sua amiga… Diz pra ela que eu não existo e que tudo que está escrito aqui no blog é invenção minha.
O João Gabriel riu e disse:
– Você não existe, Heitor!!!
Ele disse isso daquele jeito que as pessoas falam, quando acham alguém muito bacana. Gostei! Além de existir, acho que sou um menino legal.
– Agora vamos lá, então, João, escolher o meu livro do Pedro Bandeira.
Entramos nas salas dos livros e o João me mostrou uma estante.
– Tudo isso é Pedro Bandeira. O que você quer levar?
– Nossa! Quanto livro ele escreveu! O que você sugere?
– Pra começar você pode ler A marca de uma lágrima. Acho que você vai se apaixonar por essa história.
O João tinha razão, eu me apaixonei pela história e pela Isabel, a personagem principal deste livro. A história de A marca de uma lágrima (Editora Moderna) começa com uma conversa entre a Isabel e seu pior inimigo, “o mais cruel, o mais cínico, o mais impiedoso, o inimigo que falava a verdade, sempre a verdade”: o espelho do banheiro do seu quarto. Isabel se achava feia, tinha 15 anos e se apaixonou pelo seu primo Cristiano, que não via desde que os dois eram crianças. Mas Cristiano começou a namorar sua melhor amiga, a Rosana. Isabel lia bastante, adorava escrever e escrevia muito bem, até poesia ela fazia.
Antes de ti, Cristiano,
Eu nem sabia sequer,
Fui metade de mim, mesma,
Fui pedaço de mulher…
Estes versos ela escreveu para sua amiga Rosana entregar ao Cristiano, como se fossem da Rosana, e ajudá-la a conquistar o amor do seu primo, que também era a sua grande paixão.
Vou deixar meu peito aberto,
Rosana de amor sem fim,
Sem porteiro, sem vigia,
Para que entres em mim…
E estes foram para o Cristiano entregar a Rosana e retribuir todo amor que recebia pelas cartas e poemas de sua amada.
Isabel se meteu nessa confusão e nem conseguia enxergar e suportar as declarações de amor de outro menino da escola, o Fernando, que gostava das mesmas coisas que ela e também adorava livros.
No final o Cristiano vai ficar muito apaixonado pela Rosana. Não pelo que ela é, mas pelo que ela escreve. Isso vai dar muita confusão! E a história continua… a diretora da escola aparece morta e todos pensaram em suicídio. Isabel será a testemunha chave para desvendar esse crime. E tem muito mais… Gostei do Pedro Bandeira, parece que todas as suas histórias são cheias de emoção. Vou voltar na biblioteca e pegar mais livros dele.
Pedro Bandeira nasceu em Santos em 9 de março de 1942, morou em São Paulo de 1961 até 1999 e depois se mudou para São Roque (SP), onde mora atualmente. Estudou Ciências Sociais, trabalhou como professor e ator de teatro, publicitário, jornalista e editor. A partir de 1983 começou a publicar seus primeiros livros, a se dedicar somente a literatura e virou um grande escritor. Além de A marca de uma lágrima, escreveu também A droga da obediência, Pântano de sangue, Anjo da morte, Agora estou sozinha, O medo e a ternura, O grande desafio, A hora da verdade, Prova de fogo, Brincadeira mortal, entre muitos outros. Ele diz que os trabalhos em jornais e revistas o ajudaram na sua carreira de escritor. “O jornalista é obrigado a estar preparado para escrever sobre quase tudo”. Já a inspiração para cada história, ele fala que vem dos livros que leu e dos acontecimentos de sua própria vida. Ele é o autor de literatura juvenil mais vendido do Brasil. Ao todo já vendeu mais 21 milhões de exemplares dos seus livros.
Conversa engraçada
A biografia do Pedro Bandeira me fez lembrar uma conversa muito engraçada, que eu ouvi outro dia, parece uma piada.
Uma pessoa que queria escrever um livro, e também estava interessada em ganhar dinheiro perguntou a outra:
– Esse negócio de escrever livro dá dinheiro?
A outra respondeu:
Depende. Não basta escrever, tem que vender. Eu, por exemplo, conheci um cara que escreveu um livro e vendeu tudo…
Vendeu carro, vendeu casa…