A Semana de 22, minha luta política e Hugo Cabret

Hoje eu vou falar de três assuntos. 1º – Assisti a uma palestra e li um livro sobre a semana de 22. Fazia tempo que eu queria saber mais sobre esse grande evento que aconteceu em fevereiro de 1922, no Teatro Municipal, aqui de São Paulo. 2º – Assisti a um filme bem legal de um livro que eu já tinha lido e contado aqui no blog. 3º – Li e ouvi boas notícias sobre a nossa luta política, a luta em defesa da biblioteca e do quarteirão do meu bairro e vou começar por este.

Notícias da nossa luta política

Na semana passada saiu uma notícia no jornal sobre a minha luta política, que me deixou feliz: “Prefeitura desiste de vender quarteirão no Itaim, sub de Pinheiros e mais 16 áreas”. Mas a minha felicidade durou muito pouco… Li a matéria e o secretário da prefeitura dizia que neste ano não daria tempo de fazer as licitações para a venda e por isso estava desistindo, mas disse que continuaria defendendo esse projeto e que iria deixar tudo pronto para a próxima administração da cidade.

No dia seguinte saiu outra notícia: “Troca de área do Itaim fica para sucessor, diz prefeito”. Desta vez quem falou foi o próprio prefeito. Ele admitiu que pode não conseguir concluir neste ano e que vai deixar para o próximo prefeito continuar o projeto. Depois o secretário também deu uma entrevista para a rádio e disse que não desistiu coisa nenhuma, e que só não vai fazer isso agora, pois tem que esperar a resposta do Condephaat sobre o tombamento.

É uma grande vitória, mas a nossa luta tem que continuar. “Foi um recuo da prefeitura, mas pode ser só um recuo estratégico”. Foi o que disse um “analista” do nosso movimento. Lutar politicamente é complicado, temos que fazer a nossa parte e sempre avaliar as reações do adversário, mas é legal. Estou adorando! Da nossa parte, vamos continuar o trabalho para convencer os conselheiros do Condephaat.

Os técnicos e especialistas do nosso movimento já mandaram as informações para o Condephaat, e sempre que aparece alguma novidade mostrando a importância de tombar o quarteirão, eles mandam pra lá. O quarteirão precisa ser tombado como patrimônio histórico e cultural. Só assim estaremos tranquilos e nenhum prefeito vai poder mexer nele. Nunca mais! A biblioteca, o teatro, a creche, as duas escolas, os dois centros de saúde e a Apae ficarão lá pra sempre, servindo a população.

Na semana passada tivemos outra reunião do nosso movimento. Comemoramos essa vitória parcial e organizamos a continuidade da nossa luta. Agora em março vai fazer um ano da nossa passeata. Aquela foi a minha primeira passeata e eu contei isso aqui no blog (http://blogdoleheitor.sintaxe.com.br/?p=863). Daquela vez, caminhamos pelo bairro, demos as mãos e abraçamos todo o quarteirão.

No próximo dia 21 de março, ao meio dia, vamos “repetir a dose” e promover o nosso segundo abraço. Vamos comemorar esse ano de luta e mostrar para a prefeitura que o quarteirão é nosso. Quem estiver em São Paulo e puder vir, venha ao grande “Abração do Quarteirão”. O encontro vai ser na esquina das ruas Cojuba e Salvador Cardoso, aqui no bairro do Itaim Bibi. Venham todos, lutar com a gente!

A Invenção de Hugo Cabret

Na semana passada eu fui assistir ao filme “A Invenção de Hugo Cabret”, de Martin Scorsese. Gostei muito! Eu já tinha lido o livro e falei dele aqui, no post “Livro é quase um filme de cinema” (http://blogdoleheitor.sintaxe.com.br/?p=225). E não é que virou filme, de verdade! Mas já estava na cara… Lendo o livro a gente já percebe. O filme é bem legal, em cada cena eu me lembrava do livro. É tão bom ver um filme baseado em um livro, depois de ter lido o livro! A gente fica vendo como o diretor imaginou os personagens, as cenas… Acho que foi mais ou menos assim, que eu imaginei, também. O livro foi escrito e ilustrado por Brian Selznick e eu peguei emprestado da biblioteca, na primeira vez que eu fui lá sozinho, e contei aqui no blog. Foi indicação do meu amigo bibliotecário, o João Gabriel. Ele só me dá dica boa! Foi lá no começo do blog. Faz tempo! Naquela época a prefeitura nem pensava em vender o terreno e transformar tudo em prédios de apartamentos. Meu blog já tem história!

A semana de 22 e a turma do sítio

Desde que eu fui à Flip no ano passado, fiquei interessado em saber mais sobre a semana de 22. O homenageado foi o Oswald de Andrade, ouvi muitas coisas sobre ele e contei no post Notícias da Flip (http://blogdoleheitor.sintaxe.com.br/?p=1360). Lá em Paraty eu encontrei um monte de amigos e conheci muita gente nova. Uma delas foi a Marcia Camargos. Assisti a mesa da Marcia lá na Flip e ela falou sobre o Oswald de Andrade e a semana de 22. Foi ouvindo ela que aumentou, ainda mais, a minha curiosidade. Ela fala de um jeito tão legal sobre essa semana, parece que também esteve lá.

Daí o tempo passou e eu me esqueci. Outras coisas pra ler, matérias na escola… Acabei deixando de lado a “semana”. Até que um dia desses, eu recebi um e-mail de uma livraria. Ia ter o evento de encerramento das comemorações dos 90 anos da semana de 22 e a Marcia ia falar. Essa eu não podia perder! Era só pegar um ônibus, que ele me deixaria na porta da livraria e na volta eu iria até a rua de trás, que o mesmo ônibus me traria pra casa. Meus pais deixaram e eu fui. Sozinho!

Cheguei lá, tinha acabado de começar e a Marcia ia falar. Ela contou tudo sobre a semana. Como foi, quem participou, quem patrocinou – eles alugaram o teatro para fazer esse evento e um grande empresário paulistano pagou as despesas -, ela falou das polêmicas, dos aplausos, das vaias –  disseram que uma turma da faculdade de Direito foi contratada especialmente para vaiar, “jogada de marketing da época” -, ela também contou como foram as exposições e as apresentações – quem foram os artistas aplaudidos e os vaiados. Enfim, ela contou todos os detalhes da festa que teve em fevereiro de 1922, no Theatro Municipal de São Paulo.

No final eu fui conversar com a Marcia. Eu já sabia do livro que ela escreveu sobre a semana de 22, com a turma do sítio contando essa história, e estava muito a fim de ler. Eu disse a ela que ia comprar o livro e perguntei se ela poderia autografar pra mim. Ela me respondeu:

– Eu tenho um exemplar aqui comigo e posso dar pra você, autografado.

– OBA! Eu respondi.

Ela me deu, eu já li e adorei. Ele se chama A turma do sítio na semana de 22 – uma aventura modernista. Foi escrito pela Marcia Camargos, ilustrado pelo Roberto Fukue e publicado pela Editora Globo. O livro é bem legal, a turma do sítio – a Emília, a Narizinho, o Pedrinho, a Dona Benta, a Tia Nastácia e o Visconde, com a ajuda do pó de pirlimpimpim conseguem voltar àquela época e participar da festa. A história começa com um sonho da Emília, que pinta um quadro cubodadafuturista – mais do que modernista – que também fica em exposição no saguão do teatro e ela acaba até dando entrevista. Com a turma do sítio, a Marcia conta neste livro as histórias da semana de 22. Vocês precisam ler!

Além da Marcia tinha outra escritora chamada Carla Caruso. A Carla escreveu uma biografia para o público juvenil sobre a Anita Malfatti, que foi uma pintora muito famosa dessa época. Nesse dia ela contou muitas histórias da Anita Malfatti! Quem apresentou as palestras foi o Marcelino Freire, um escritor pernambucano que mora em São Paulo. No final ele disse que gostou muito da conversa, pois as duas falaram com muita paixão sobre a semana de 22. Eu também achei, e foi por isso que eu adorei, a palestra e o livro!

Marcia Camargos é jornalista com pós-doutorado em História pela USP e especialista na história da formação cultural paulistana. Além do livro A turma do Sítio na Semana de 22: uma aventura modernista, ela também escreveu sobre essa época, Villa Kyrial: crônica da Belle Époque paulistana; A Semana de 22: entre vaias e aplausos e A Semana de 22: revolução estética?. Ela é biógrafa do criador do Sítio do Picapau Amarelo e escreveu, em co-autoria, Monteiro Lobato: Furacão na Botocúndia, Juca & Joyce, memórias da neta de Monteiro Lobato, além de À mesa com Monteiro Lobato. Ela também é curadora da Mostra Cinema: Oriente Médio e tem dois livros sobre a região para a qual viajou em 2008 e 2010: A travessia do albatroz e O Irã sob o chador (em co-autoria). Escreveu e publicou muitos outros livros, entre eles, A imagem e o gesto – fotobiografia de Carlos Marighella (em co-autoria), História do Presídio Tiradentes: um mergulho na iniquidade, Micróbios na cruz, e Em que ano estamos?, que conta a história da construção de São Paulo, a “metrópole do café”, para o público infanto-juvenil.

Roberto Fukue é ilustrador e trabalhou por muitos anos na Editora Abril e nos Estúdios Disney, onde desenhou e criou vários personagens Disney. Começou a trabalhar na Abril na década de 1970. Além dos quadrinhos Disney, Fukue já trabalhou nas revistas Senninha, Sítio do Pica Pau Amarelo e A Turma do Arrepio. Roberto e o seu irmão Paulo Fukue iniciaram a carreira na década de 1960 e foram os responsáveis pela introdução do estilo mangá no Brasil. Na Editora Abril, seu primeiro trabalho foi com o personagem Superpateta, mas trabalhou com várias histórias do Zé Carioca. Possui cerca de 470 histórias publicadas com seus desenhos. Sua primeira história na Disney foi “Quem Inventa É Inventor” na revista Almanaque Disney 18, de 1972, com o Professor Pardal. Atualmente ele trabalha em estúdio próprio.

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Li contos mineiros e Fernando Pessoa

Hoje vou falar de duas amigas e um conhecido. O conhecido eu encontrei, pela primeira vez, em uma visita que fiz ao Museu da Língua Portuguesa, aqui em São Paulo. É o poeta português, Fernando Pessoa. Conhecer Fernando Pessoa deu um sentido à minha vida. Quando eu soube que ele criou os heterônimos, que são personagens que escreveram, tinham estilo próprio e até biografia, descobri, definitivamente, a minha verdadeira identidade: Eu também sou um personagem e tenho a minha biografia, pequena, mas tenho. Tenho o meu jeito de escrever e contar as minhas histórias aqui no blog. Então, eu também sou um heterônimo! Fiquei muito feliz quando descobri isso e contei no post “O Machado, o Museu e o Pessoa” (http://blogdoleheitor.sintaxe.com.br/?p=361).

As amigas são a Maria Viana e a Rosinha. A Maria sempre deixa comentário no blog e me ajudou a fazer um post especial sobre o Murilo Rubião. A Rosinha é de Recife, eu já fui a um lançamento dela aqui em São Paulo, e ela também acompanha o meu blog. Encontrei as duas no Jabuti e contei aqui. Nesse dia a Rosinha até ganhou um prêmio com ilustração. Hoje eu vou falar da Maria, da Rosinha, do Fernando Pessoa e de três livros que eu li. Dois do Fernando Pessoa – um de quadras e outro de poesias – organizados pela Maria Viana e ilustrados pela Rosinha, e outro de contos mineiros, escritos pela Maria Viana e ilustrados pela Denise Nascimento.

Mas antes eu vou contar uma coisa bem legal que aconteceu comigo na semana passada. Uma colunista de um jornal de São Bernardo do Campo falou do meu blog na sua coluna.

O blog do Le-Heitor na mídia

O pessoal da Sintaxe postou um texto sobre o blog no Facebook, em um grupo chamado Rainhas do Livro. Esse grupo é formado por mães que trocam informações sobre livros para orientar a leitura dos seus filhos. Eles colocaram lá o link para o post do Tolstói. Algumas mães curtiram, outras deixaram comentário e rendeu muitas visitas ao blog. Eu fiquei feliz! E teve mais, a Penélope Martins, que também faz parte desse grupo e tem uma coluna no jornal ABCD Maior sobre literatura infantojuvenil, viu o meu blog e resolveu falar dele na sua coluna. A matéria ficou bem legal! Eu adorei! Gostei do jeito que ela escreve e das coisas que ela falou de mim. Ela disse que eu sou um garoto “sui generis” e tenho uma disposição inesgotável para o conhecimento. Que sou um “rato de biblioteca”, que não fico satisfeito com informação terceirizada e vou atrás do que quero, fuço, investigo e descubro. Ela disse, também, que eu leio “até o último ponto, depois dos créditos finais”. Este é o link para a matéria da Penélope: http://www.abcdmaior.com.br/noticia_exibir.php?noticia=38366. Acho que eu vou pedir para o pessoal da Sintaxe colocar no grupo do Facebook, o link deste post, também. Soube que as Rainhas do Livro gostam de contos populares e hoje eu vou falar de três contos mineiros bem legais.

Mais do blog na mídia

Eu já estava escrevendo o texto deste post, quando o pessoal da Sintaxe me mandou um e-mail com links para outras matérias que falam do meu blog. É o resultado daquela entrevista, que a assessoria de imprensa do movimento em defesa do quarteirão do meu bairro fez comigo, e eu contei no post anterior. Eles mandaram o release para a imprensa e já conseguiram “emplacar” três matérias: Uma no site do Cesar Giobbi (http://www.cesargiobbi.com/?page=materias&id=16022); a outra na Gazeta de Santo Amaro (http://www.gazetadesantoamaro.com.br/atualidades/personagem-infantil-estimula-a-leitura-e-a-participacao-em-defesa-da-cidade), e a outra no site Podcultura (http://www.podcultura.com.br/personagem-infantil-estimula-a-leitura-e-a-participacao-em-defesa-da-cidade.98.3943). As matérias estão bem legais, vocês precisam ver! Elas falam do meu blog e divulgam o nosso movimento. Por falar do nosso movimento, no começo de março vai ter outra reunião. E eu vou! Vou buscar novidades sobre a nossa luta. Ela continua! Não podemos deixar a prefeitura derrubar a biblioteca, o teatro, duas escolas, uma creche, dois serviços de saúde, a Apae, que ficam num quarteirão do meu bairro, para construir um prédio de apartamentos.

Histórias mineiras

O livro A lenda dos diamantes e outras histórias mineiras foi publicado pela Editora Scipione e traz três contos da tradição oral, da época da mineração, na região de Diamantina, em Minas Gerais. As histórias foram recontadas e escritas por Maria Viana, e as ilustrações do livro foram feitas pela Denise Nascimento. Tem uma ilustração da Denise, que foi baseada em uma peça de cerâmica, que está em um museu e foi feita pelos índios de uma das histórias do livro. Ganhei este livro da autora, a Maria Viana, com uma dedicatória.

A primeira história se chama “A Lenda dos diamantes” e conta como apareceram as pedras preciosas. Dois índios de duas tribos diferentes se casam. A Cajubi pertencia ao grupo puri-coropó, e o Iepipo era da tribo puri-coroado. Antes essas duas tribos eram do mesmo grupo, mas brigas por terras separaram as duas famílias. Depois da festa, os índios enfrentam os bandeirantes paulistas, que já estavam na região, atrás das pedras preciosas. Para os índios tudo era precioso. Os índios perdem a luta e o grande pajé Piracaçu se vinga, fazendo surgir os diamantes, e junto uma grande maldição.

O segundo conto se chama “O tesouro de Isidoro” e foi o que eu mais gostei. Quem conta essa história é o Pedro. Ele diz que é um segredo, que guardou durante muito tempo, e que na época era um “rapazote metido a valente.” Ele e o seu amigo Chico eram tropeiros, e um dia, depois do trabalho, resolveram tomar “umas e outras”. Na saída da venda viram um grupo de homens conversando. Pararam, e um deles contava a história de Isidoro. É muito legal o jeito como a Maria conta a história do homem, que contava a história do Isidoro, contada pelo Pedro. Isidoro tinha um segredo sobre uma gruta e um tesouro e morreu sem revelar. Pedro e Chico resolvem ir atrás desse segredo e vivem uma história de medo com um final bem legal.

O terceiro se chama “O príncipe encantado” e conta a história de um príncipe-porco. A rainha desejava muito ter um filho. Um dia, ela vê um porco no colo do cozinheiro e diz: “- Oh, meu Deus, concedei-me a graça de ter um filho, ainda que seja um leitãozinho!” A rainha ficou grávida e nasceu um porquinho. O rei não conseguia entender o motivo daquela desgraça, mas com o tempo a rainha se acostumou com a ideia de ter um filho porco. Só foi mais difícil educar, ensinar regras de etiquetas e boas maneiras. Ele cresceu e quis se casar. A mãe disse que moça alguma ia querer se casar com ele, mas, mesmo assim, conseguiu pretendentes. Primeiro foi a Isabel, que não aguentou, depois, a Florisberta, que também não deu certo. Só a Rosalinda que se apaixonou pelo porco e lutou até o final para desfazer esse encanto.

Gostei muito das histórias que a Maria contou neste livro. Acho que os mineiros são muito bons pra contar histórias, e a Maria é mineira. Meu pai me disse que quando ele era criança, os seus amigos se reuniam na rua, à noite, para contar histórias. O trato era o seguinte: todos tinham que contar histórias de medo pra ver quem aguentava ficar até o final. A brincadeira começava, e logo um deles já dizia. “Preciso ir embora, minha mãe está me chamando!” Um por um, iam saindo todos. Só ficava o Tim, um amigo de infância do meu pai, mineiro e que tinha muitas histórias pra contar – uma “pior” que a outra!

Fernando Pessoa

Os livros com poesias do Fernando Pessoa que eu li são dois: Eros e Psique e outros poemas e Quadras ao gosto popular. Um eu ganhei da Maria e o outro da Rosinha, com dedicatória e tudo. A Maria Viana fez a organização das poesias e a Rosinha ilustrou essa coleção, que foi publicada pela editora Larousse Júnior. A coleção tem outros títulos, mas eu só li esses dois. Fazia tempo que eu não lia poesia. Quando eu era criança, hoje sou um adolescente – outro dia li que a adolescência começa aos doze anos – eu lia muitas histórias contadas em verso. Tem muitos de escritores que escrevem para crianças e contam histórias em verso. Depois que eu cresci, eu li menos essas histórias e não tenho encontrado outras. Vou procurar mais e também vou arriscar a ler os poetas que escrevem pra gente grande. Quem sabe, eu entenda!  Já comecei por Fernando Pessoa. Disseram que é um bom começo!

Gostei muito das poesias do Fernando Pessoa que a Maria escolheu para colocar nesses livros. E as ilustrações da Rosinha me ajudaram a entender, melhor, as poesias. Olho pra elas, leio as poesias e tento adivinhar que parte da poesia a Rosinha colocou nos desenhos. É bem divertido! É difícil entender poesia, ainda mais essas, que tem muitas palavras difíceis. Eu li muitas vezes, a mesma poesia. Acho que poesia é pra ler assim, mesmo. Muitas vezes! E ler em voz alta, é melhor ainda. Vou colocar aqui, duas que eu escolhi. Uma de cada livro.

Redemoinha o vento,
Anda à roda o ar.
Vai meu pensamento
Comigo a sonhar.

Vai saber na altura
Como no arvoredo
Se sente a frescura
Passar alta a medo.

Vai saber de eu ser
Aquilo que eu quis
Quando ouvi dizer
O que o vento diz.

(Do livro Eros e Psique e outros poemas)

Duas horas te esperei
Dois anos te esperaria.
Dize: devo esperar mais?
Ou não vens porque inda é dia?

Duas horas vão passadas
Sem que te veja passar.
Que coisas mal combinadas
Que são amor e esperar!

Dias são dias, e noites
São noites e não dormi…
Os dias a não te ver
As noites pensando em ti.

(Do livro Quadras ao gosto popular)

Fernando Pessoa nasceu no dia 13 de junho de 1888, em Lisboa, Portugal. Ficou órfão de pai quando tinha apenas cinco anos e sua mãe casou-se novamente dois anos depois. Seu padrasto era cônsul em Durban, África do Sul, para onde a família mudou-se em 1895. Nessa cidade, Fernando Pessoa teve profundo contato com a língua e literatura inglesas. Em 1905, o poeta retorna definitivamente à Lisboa e matricula-se no Curso Superior de Letras e nessa época entra em contato com a produção literária em língua portuguesa e escreve muitos poemas, além de colaborar com artigos e ensaios para várias revistas e traduzir obras de poetas ingleses. A partir de 1908, começa a se dedicar à tradução de correspondência comercial, que foi sua profissão até a sua morte em 1935, com apenas 47 anos. Sua obra, praticamente inédita em vida, começou a ser publicada a partir de 1943, e Fernando Pessoa se transformou em um dos maiores poetas da língua portuguesa de todos os tempos.

Maria Viana nasceu em Carangola, Minas Gerais, em 1965, mas desde 1987 mora em São Paulo. Estudou Artes Cênicas na UFMG e Letras na Universidade de São Paulo, onde atualmente faz o mestrado no IEB (Instituto de Estudos Brasileiros). Foi atriz, contadora de histórias e educadora, além de trabalhar em várias editoras com edição de livros didáticos e literatura para crianças e jovens. Já organizou várias antologias de contos e criou algumas das histórias que contou como atriz, mas A lenda dos diamantes e outras histórias mineiras é a sua primeira publicação em livro.

Rosinha nasceu em Recife, em 1963, e atualmente mora em Olinda. É formada em Arquitetura pela UFPE, profissão que exerceu até o dia que se apaixonou pela literatura para crianças e jovens e escolheu trabalhar com ilustração e formação de leitor. Há dois anos um novo desafio que tem dado muito prazer é o de escrever para esse público. Já recebeu vários prêmios, inclusive um Jabuti, em 2011, pela ilustração da coleção Palavra rimada com imagens, que ela também fez o texto.

Denise Nascimento nasceu em Belo Vale, interior de Minas Gerais, em 1969. Designer, graduada pela Universidade Estadual de Minas Gerais, trabalha também como ilustradora desde 1998. Seu trabalho faz parte dos catálogos da FNLIJ, organizados para as Feiras do Livro de Bolonha de 2007 e 2009, assim como do catálogo Patrimônio e Leitura, elaborado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN, em 2007.

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Li Tolstói

Na semana passada continuei minhas buscas por escritores consagrados, que ficaram famosos escrevendo para adultos, mas que também publicaram livros infantojuvenis. Procurei na internet e encontrei um livro infantil de Liev Tolstói. Eu já tinha ouvido falar do Tolstói e já tinha lido alguma coisa sobre os grandes escritores russos. O livro se chama De quanta terra precisa o homem?. Fiquei curioso pelo título e louco pra ler um livro do Tolstói. Fui procurar na minha biblioteca – aquela que a prefeitura quer derrubar, junto com todo um quarteirão do meu bairro, pra construir um prédio de apartamentos – mas não encontrei. Então fui à livraria com o meu pai e comprei o livro. Quando fomos ao caixa pagar, a moça me perguntou, espantada: – É um infantil do Tolstói?! – Sim, eu respondi, já posso ler Tolstói! – Ler e entender, ela completou. Rimos e saí feliz de lá, com o meu livro do Tolstói na mão.

Não via a hora de chegar em casa e ler. No caminho já fui pensado no post que eu iria escrever pra contar que eu tinha lido esse livro. Já fiquei imaginando o título do post: LI TOLSTÓI! Perguntei ao meu pai se ele não achava esse título muito óbvio e ele respondeu: – Sim, é obvio, mas é impactante, meu filho. Quando cheguei em casa, nem quis comer, sentei, li o livro todinho, reli, vi as ilustrações e fiquei muito feliz. Era minha primeira vez com Tolstói. Lembrei da primeira vez que eu li Machado de Assis. Eu também fiquei feliz, assim, e até contei isso aqui. É uma sensação tão boa, “uma felicidade que não cabe dentro de mim” – uma vez eu ouvi isso, e era exatamente o que eu estava sentido naquela hora. Precisava dividir a minha felicidade e contar pra mais alguém que eu tinha lido Tolstói. – Vou ligar pro pessoal da Sintaxe.

– E aí, pessoal, beleza?

– Beleza, Heitor. Alguma novidade?

– Li Tolstói!

– É mesmo?! Que livro você leu?

De quanta terra precisa o homem? e já vou falar dele no próximo post.

– Você não vai acreditar…

– No que?

– Agora mesmo nós estávamos conversando e pensando em mandar um livro do Tolstói pra você.

– Esse mesmo livro?

– Não. Outro… é um livro do Tolstói que tem algumas histórias para crianças. Ele se chama Contos da Nova Cartilha: Segundo Livro de Leitura.

– Que legal! O Tolstói escreveu mais histórias pra crianças?

– Sim, ele foi um escritor muito preocupado com a educação, criou uma escola para crianças pobres e escreveu as cartilhas e os livros que eram usados na sala de aula. E a editora Ateliê vai publicar um desses livros.

– Eu quero ler esse livro também.

– E tem mais… foram alguns alunos de uma escola russa que fizeram as ilustrações, especialmente para essa edição.

– Manda logo esse livro pra mim, então. Quero ler e falar dele, também, no próximo post.

– Mas o livro ainda não está pronto…

– Só se eu esperasse, então, e fizesse esse post depois… mas eu estou tão animado e louco para falar do Tolstói.

– Faz o seguinte… nós vamos conversar com a editora e ver se dá para mandar o PFD pra você.

– Que PDF?

Quando os jornalistas querem escrever sobre um livro antes de ele ser impresso, nós mandamos uma prova ou o PDF, que é um arquivo com as imagens do livro. Daí ele pode imprimir ou ler na tela do computador. Os jornalistas, muitas vezes, leem um livro, antes, mesmo, de ele ser publicado.

– Então eu também vou poder ler um livro, como um jornalista, antes dele ficar pronto?!

– Vamos ver, se o PDF estiver aprovado, nós mandamos pra você.

– OBA!

– Me fala, Heitor, e a sua luta política, como anda?

– O Condephaat está analisando o tombamento do quarteirão…. mas eu estou com medo. E se eles resolverem não tombar? O que nós vamos fazer? Vou ligar pro Helcias pra saber quando vai ser a nossa próxima reunião.

– Isso, liga, mesmo e depois avisa a gente. E tem mais novidades?

– Tem sim, tem uma novidade bem legal! A assessoria de imprensa do movimento em defesa do quarteirão me entrevistou.

– É mesmo? E pra que eles entrevistaram você?

– Pra fazer um release e mandar pra imprensa. Eles vão divulgar o movimento, e vão aproveitar, e falar do meu blog e da minha participação na luta.

– Que bom! E quando vai rolar isso?

– Eu já respondi a entrevista e eles me mandaram um e-mail dizendo que já vão “disparar o release para imprensa.” Eles disseram também, “que fizeram alguns contatos pra conseguir emplacar a pauta, e acham que vão conseguir.” Isso é bom?

– Isso é ótimo, Heitor!

– Tomara que saia matéria no jornal pra eu contar aqui no blog.

– Se tiver alguma novidade, conta pra gente, viu?

– Claro! Vocês serão os primeiros a saber.

Dois livros de Tolstói

O pessoal da Sintaxe conversou com a editora Ateliê e me mandaram o PDF. O livro do Tolstói Contos da Nova Cartilha: Segundo Livro de Leitura nem está impresso ainda, e eu já li. Li também o De quanta terra precisa o homem?, que foi o meu primeiro Tolstói. Já li dois livros do Tolstói e hoje vou falar deles aqui.

De quanta terra precisa o homem, escrito por Liev Tolstói, ilustrado por Cárcamo, que também fez a tradução e a adaptação, e publicado pela editora Companhia das Letrinhas conta uma história que começa com uma visita que a irmã mais velha faz para a irmã mais nova. A mais velha morava na cidade e era casada com um comerciante rico, a mais nova morava numa aldeia e era casada com um camponês. Elas se sentaram para tomar chá e conversar. A mais velha começou a se gabar das vantagens de viver na cidade, do conforto e da boa vida. Ela e as crianças se vestiam muito bem, comiam e bebiam a vontade, passeavam iam às festas, assistiam a espetáculos de teatro e muitos outros divertimentos.

A mais nova, que morava na aldeia, ficou ofendida e começou a criticar a vida na cidade e a defender a vida no campo. Disse que não trocaria a vida dela por nada, que viviam humildemente, mas pelo menos não viviam com medo. “Sua vida pode ser melhor que a nossa, podem ganhar muito dinheiro, mas também podem perder tudo.” E acrescentou: “Hoje, você está rica e, amanhã está pedindo esmolas.” E ainda continuou: “A vida no campo é mais segura. Não vamos ficar ricos, mas tiramos da terra o suficiente para não passarmos fome.” E a irmã mais velha deu o troco: “O suficiente para não passar fome? Claro! Se dividem o alimento com as vacas, os porcos e as galinhas. O que sabem vocês de moda e elegância? Por mais que seu marido trabalhe, vão viver e morrer no meio do esterco. E assim vão continuar os seus filhos.”

E a discussão foi esquentando: E o que você tem com isso? Perguntou a mais nova e disse que sua vida era rude, mas era segura. “Vocês vivem cercados de tentações. Hoje pode estar tudo bem, mas amanhã o diabo pode tentar o seu marido com cartas e vinho, e todo esse encanto de que você se pavoneia estará arruinado.” Pahkóm, o dono da casa, marido da mais nova, que estava sentado perto da lareira e ouvia as duas irmãs tagarelarem, pensou: “É a pura verdade. Desde a infância ocupado com a terra, um caipira como eu não tem tempo de encher a cabeça com bobagens. Nossa única preocupação é a falta de terra. Se eu tivesse muita terra, não temeria nem mesmo o próprio diabo.” Este é só o começo da história, depois disso Pahkóm vai atrás de mais terras, passa por alguns testes e no final o livro mostra De quanta terra precisa o homem.

Contos da Nova Cartilha: Segundo Livro de Leitura, escrito por Liev Tolstói, traduzido por Aurora F. Bernardini e Belkiss Rabello, ilustrado pelas crianças da Escola Infantil de Artes N. 9, da cidade de Ijevsk, e publicado pela Ateliê Editorial tem 38 histórias. São fábulas, histórias reais, contos folclóricos, e outros textos, que eram usados na sala de aula da escola rural que o escritor russo criou. Tolstói se preocupava com a educação das crianças e dos pequenos camponeses e por isso produziu livros de histórias para crianças e também cartilhas. Graças ao apoio de Nádia Wolkonsky, Lev Rodnov e Elena Vássina, essa edição da Ateliê conseguiu juntar algumas crianças de uma escola russa, que leram os textos originais, discutiram entre elas e depois fizeram os desenhos. Cada história tem uma ou mais ilustrações dessas crianças com o nome e a idade de quem fez. Cada desenho conta pra gente o que aquela criança russa entendeu da história. Isso é bem legal!

Macha Góreva, 8 anos

Tem a história da menina e os cogumelos que caíram nos trilhos do trem; do burro que se vestiu de leão; da andorinha e a galinha, que chocou os ovos da serpente; do índio, que prende um inglês e mesmo tendo seu filho morto por ele, deixa-o ir embora; do veadinho e do cervo que tinha medo dos cães; do mercador que perdoa o ladrão, que já tinha sido seu amigo; da raposa e as uvas, que ainda estavam verdes; dos homens que buscavam pedras preciosas e o que menos trabalhou foi quem pegou a maior; das empregadas, que mataram o galo pra não acordarem tão cedo e se deram mal; do camponês que queria construir um moinho que não precisasse de água, vento ou cavalo; do pescador que pescou um peixinho miudinho; do tato que desmente a visão e vice-versa; da raposa e o bode que bebeu muita água; do camponês que descobre um jeito bem fácil de tirar uma enorme pedra do meio da praça; e muitas outras.

Génia Lupatchiov, 12

Tem uma história, foi a que eu mais gostei. Ela me fez lembrar de outra história que aconteceu comigo. Faz tempo, eu era bem pequeno.

Um passarinho – acho que era um pardal – fez o seu ninho na caixa de relógio, que fica no terraço da minha casa. Eu o via trazendo os galhinhos pra dentro da caixa e acompanhei toda a sua rotina. Depois de alguns dias, ele botou os ovos no ninho, e ficava quase o tempo todo chocando, mas quando saía pra comer, eu podia ver que os ovinhos eram bem pequenos. Um dia os filhotes nasceram. Eram feinhos e peladinhos. A mãe saía pra buscar comida e eu podia ver bem de pertinho. Com o tempo criaram penas, ficaram bonitos, cresceram, aprenderam a voar e foram embora.

Essa minha história, que lembra a do Tolstói, tem um final feliz, apesar de eu ter sentido falta dos passarinhos, que foram os meus companheiros por muitos dias. Já a do Tolstói, que se chama “Titia conta como um pardal chamado Vivinho foi domesticado”, é bem triste, mas é muito bonita.

Uma história inteira

Adel Siniáguina, 12 anos

Eu já tinha fechado o texto do post, quando pensei que poderia publicar aqui uma história inteira para dividir com vocês, o privilégio de ler um livro, ou pelo menos parte dele, antes mesmo de ficar pronto. Falei com o pessoal da Sintaxe e eles conversaram com a Ateliê, que autorizou a publicação. Escolhi uma bem curtinha, é uma fábula. Ao lado coloquei a  ilustração da história, de Adel Siniáguina, que tem 12 anos, mora na Rússia e também estuda na Escola Infantil de Artes N. 9, na cidade de Ijevsk.

“Três broas e uma rosca”

Um mujique sentiu vontade de comer. Ele comprou uma broa e a comeu; mesmo assim, continuava com fome. Comprou outra broa e a comeu; continuava com fome. Comprou uma terceira broa e a comeu; mesmo assim, continuava com fome. Depois, comprou uma rosca e a comeu, ficou satisfeito. Então, o mujique bateu na testa e falou:

— Que bobo eu sou! Para que fui comer três broas à toa? Podia ter comido a rosca logo de cara.

Liev Tolstói nasceu na Rússia em 1828, numa grande propriedade chamada Iasnaia Poliana (campina clara). Filho de uma importante família ligada aos czares, ficou órfão ainda criança. Na universidade, na cidade de Kazan, estudou línguas orientais e direito. Em 1847 recebeu como herança a Iasnaia Poliana. Em seguida viajou por vários países da Europa e regressou à Rússia para administrar as terras e dedicar-se à literatura. Em 1859 criou nesse lugar uma escola rural para crianças pobres, e ele mesmo escreveu as cartilhas e os livros usados em sala de aula. Escreveu Guerra e paz e Anna Karenina, duas das maiores obras literárias de todos os tempos. Perseguido e excomungado pela Igreja, seus últimos anos são de engajamento social. Tolstói morreu em 1910, aos 82 anos de idade.

Gonzalo Cárcamo nasceu em 1954 no Chile, mora no Brasil desde 1976 e colabora nas principais publicações. Já recebeu alguns prêmios por seu trabalho, entre eles o de melhor caricatura nos salões internacionais de Humor do Piauí (1987) e de Piracicaba (1988), e o prêmio HQMIX de melhor ilustração de livro infantil (2002, 2004 e 2005). É autor de cinco livros infantis e de um livro de aquarelas sobre Paraty. Ganhou o prêmio FNLIJ 2007 de Melhor Ilustração pelo livro Thapa Kunturi – Ninho do condor. Tem profunda admiração pelos escritores russos e para ele, foi uma realização ter ilustrado De quanta terra precisa o homem, do Tolstói.

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Li 13 contos de medo

Outro dia eu recebi um e-mail do Almir Correia dizendo que leu meu blog. Esse blog só me dá alegria! Já conheci tanta gente por causa dele. O Almir é escritor e mora em Curitiba. Ele criou uma série de animação, que passa na tevê e que se chama Carrapatos e Catapultas. Ele escreve poemas para crianças e tem um monte de ideias! Eu o conheci na FELIT, aquela feira de literatura de São Bernardo do Campo, e já falei dele aqui. Também tem um livro do Almir que faz parte do nosso clube de leitura. É O menino com monstros nos dedos. Por falar no clube de leitura, preciso conversar com o pessoal da Sintaxe e ver com a escola, se a gente vai continuar o clube neste ano. Ainda temos quatro livros pra ler e o nosso clube é tão legal!

Mas voltando ao e-mail do Almir, eu aproveitei e perguntei se ele tinha algum livro novo para eu ler e ele me disse que estava lançando um de contos de terror, com poemas de Augusto dos Anjos. Ele até me mandou a capa por e-mail. O nome do livro é 13 Contos de Medos e Arrepios. Só de ver a capa já me deu medo e eu respondi para o Almir: – Deve ser muito legal esse seu novo livro! Não vejo a hora de ler. Já li e hoje vou contar tudo aqui.

O livro 13 Contos de Medos e Arrepios, escrito por Almir Correia, inspirado em poemas de Augusto dos Anjos, ilustrado por Alexandre Jubran e publicado pela Editora Noovha América conta cada história, uma melhor que a outra e todas de botar medo. A primeira chama-se A bota do cemitério e conta a história do Gaspar, um mendigo que dormia junto ao muro do cemitério e numa manhã, quando acorda, encontra um par de botas ao seu lado. Ele calça a bota, passa o dia todo com ela e à noite tira, para dormir e aliviar o chulé, que veio junto com a bota. Nessa hora uma fumacinha começa a sair das botas e vai aumentando, aumentando até cobrir todo o cemitério de uma neblina fedorenta. Chega a cobrir toda a cidade, o prefeito vai a tevê explicar e lê um soneto de Augusto dos Anjos, que tem uma estrofe que diz o seguinte: Quando a faca rangeu no teu pescoço / Ao monstro que espremeu teu sangue grosso / Teus olhos – fontes de perdão – perdoaram! Ninguém entendeu nada do que o prefeito disse, a história segue, e até morte tem no final.

Tem outro conto que se chama O caixão fantástico e foi baseado em outra poesia do Augusto dos Anjos, que também tem esse nome. Ele conta a história do Raul, que morava em frente ao cemitério e adorava filmar os caixões entrando pelo portão principal. Todo dia entravam pelo menos cinco e ele já tinha filmado mais de 100. Ele planejava um dia colocar tudo no YouTube. Um dia ele filmou um caixão diferente, muito grande e todo feito em ouro 18 quilates. Isso atraiu a atenção de muita gente que pretendia roubar o caixão para ficar com o ouro. Mas o defunto era um milionário mafioso que teve muito poder em vida e depois de morto parece que ganhou um poder sobrenatural.

Tem a história da noiva suicida que é abandonada na igreja pelo noivo no dia do seu casamento – “maior humilhação não existe e nem inventaram”. E depois de morta ela aparece apavorando as pessoas. Tem a do carro-fantasma que transforma o adolescente Maicon em um cruel assassino. Tem também a história do dedo, encontrado pelo Afonso dentro de um vidro de maionese e que ele guarda numa caixinha de madeira. O polegar se transforma no “dedo sangrento” e o Afonso, misteriosamente, vai encontrando pessoas que perderam o dedo. Li todas as histórias do livro do Almir Correia, comecei e não parei mais, até acabar. Elas são mesmo de botar medo, mas são muito divertidas. As ilustrações do Alexandre Jubran são muito boas: a velha sem nariz, o bebê macabro, a caveira da capa. Foi desse jeito, mesmo, que eu imaginei as figuras assustadoras das histórias do Almir.

Almir Correia mora em Curitiba, no Paraná. Escritor e professor, escreve poemas, e contos e já publicou mais de 25 livros por diversas editoras. Além do livro 13 Contos de Medos e Arrepios, já publicou Poemas malandrinhos; Poemas sapecas – rimas traquinas; que recebeu o prêmio de melhor livro de poesia infantil pela APCA, e Altamente Recomendável pela FNLIJ, em 1997; Meu poema abana o rabo, que foi selecionado para a Feira de Bolonha, em 2005; Anúncios amorosos dos bichos, que foi indicado como Altamente Recomendável pela FNLIJ, em 2006; O Leão Camaleão, Enrola bola língua e vitrola, O menino com monstros nos dedos, entre outros. Almir é também roteirista, criador e diretor da série de animação Carrapatos e Catapultas (Projeto AnimaTV – Rede Cultura de Televisão; TV Brasil).

Alexandre Jubran é professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Ilustrador e autor do livro Um curso de desenho à mão livre. É autor de infografias para as revistas Superinteressante, Mundo Estranho e Aventuras na História, da Editora Abril; design gráfico de embalagens e HQs para Marvel, Image, Innovation. Recebeu três prêmios Hqmix, além de prêmios Esso, Abril e Ângelo Agostini. Pela Editora Noovha América também ilustrou o livro Amazonas do Sem Fim.

Augusto dos Anjos nasceu em Pau D’Arco, na Paraíba, em 1884, e morreu de pneumonia, em 1914, com apenas 30 anos, em Leopoldina, Minas Gerais. Foi um dos maiores poetas brasileiros e pertenceu a um movimento chamado pré-modernista. Ele ficou famoso pelos temas das suas poesias, que trazem sentimentos de pessimismo e desânimo, além de inclinação para a morte. Com relação à estrutura, pode-se dizer que suas poesias apresentam rigor na forma e rico conteúdo metafórico. Seu livro Eu e Outras Poesias foi publicado dois anos antes de sua morte e foi a sua única obra. Formado em Direito, foi promotor público e professor.

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Li Clarice Lispector

Ontem o pessoal da Sintaxe me ligou.

– Como é, Heitor, não vai escrever mais? Suas férias do blog já acabaram!

Às vezes eles pegam no meu pé e ficam me pilhando, mas eu gosto deles.

– Vou escrever, sim. Li um monte de livros nas férias e amanhã vou publicar um post novo.

– É mesmo? E de que livro você vai falar?

– Vou falar de três livros da Clarice Lispector.

– Você leu Clarice Lispector?! Gostou?

– Sim, eu li e adorei!

Ainda estou de férias da escola, mas já voltei de viagem e estou em casa. Fui com os meus pais e uns amigos deles para uma cidade no sul de Minas, na Serra da Mantiqueira. Lá tem montanhas e um monte de cachoeiras. Estava bem gostoso! Como eu já contei aqui, antes de viajar, no começo das férias, fui à biblioteca procurar livros de escritores que ficaram famosos escrevendo pra gente grande, mas que também escreveram para crianças. Peguei alguns emprestados, depois voltei e peguei mais. No post anterior falei do Moacyr Scliar e hoje eu vou falar da Clarice Lispector. Peguei três livros dela, já li, adorei e hoje vou falar deles.

Casa Bandeirista

Mas antes vou contar um passeio que fiz na semana passada. Fui conhecer uma casa bem antiga, do século XVIII, que fica aqui no meu bairro e que acabou de ser restaurada. É uma casa bandeirista, que no final do século XIX foi a residência da família que fundou o Itaim Bibi e, depois, até a década de 1970, foi uma clínica psiquiátrica, o Sanatório Bela Vista. Vou falar desse passeio, pois ele tem tudo a ver com a minha luta política. A mesma turma que hoje defende a biblioteca e o quarteirão, também defendeu a preservação dessa casa, que conta parte da história do nosso bairro.

Lá eu conheci o Alberto Magno de Arruda, o arquiteto responsável pela restauração. Conversei com o Alberto e ele me disse que também está fazendo a restauração de uma capela em São Luiz do Paraitinga, que foi destruída pelas enchentes do ano passado. Gostei do Alberto! Gosto das pessoas que se preocupam em preservar a história e a memória e não gosto das que saem derrubando tudo que veem pela frente, para construir prédios, e só pensam em ganhar dinheiro. O Helcias que é meu amigo e presidente do Grupo de Memórias do Itaim me disse que “a Casa Bandeirista deverá receber um Centro de Referência Cultural, com o objetivo de apresentar e manter as memórias e histórias da região.” Que legal!!!

Lá eu também conheci a Nereide Schilaro Santa Rosa, que é escritora e vai lançar um livro contando a história da Casa Bandeirista do Itaim. A Nereide nasceu no bairro, já publicou mais de 30 livros e recebeu muitos prêmios, até um Jabuti. Além de contar a história da Casa Bandeirista, esse livro vai falar da restauração e também vão ter alguns depoimentos da mãe dela, a dona Guiomar, que tem mais de 90 anos e é uma das mais antigas moradoras do Itaim Bibi. Quero ler o livro da Nereide!

Eu conversei com a dona Guiomar, ela é bem legal e se lembra de muitas histórias do bairro, desde o tempo em que era criança e já morava aqui. Também conversei com o seu Dacunto, que tem mais de 80 anos e sempre morou no Itaim. Ele me disse que se lembrou com saudades daquele lugar, de quando era menino e fazia suas aulas de reforço na escola da dona Olga, que ficava atrás do Sanatório Bela Vista, na antiga rua Sertãozinho.

Depois desse passeio, fiquei muito animado e otimista com a nossa luta em defesa da biblioteca e do quarteirão do meu bairro. Se com o nosso movimento, conseguimos preservar a Casa Bandeirista, que é uma propriedade particular, tenho certeza que vamos conseguir preservar o quarteirão, que é um patrimônio público. Meu pai está preocupado com a minha animação e tem medo que eu me decepcione. Ele disse para eu não contar muito com a vitória e que tenho que estar preparado pra tudo: “Ao contrário dessa construtora que restaurou a Casa Bandeirista, tem muitos empresários gananciosos, que só pensam no lucro, e se esquecem da história da cidade e do patrimônio público. A grana tem muita força, meu filho!” Ele anda meio pessimista.

Ninguém escrevia como Clarice Lispector

Desde que eu comecei a fazer o blog, ouço falar muito da Clarice Lispector. Eu nunca tinha lido um livro dela antes, mas já a conhecia de nome. Depois que eu conheci alguns escritores e passei a conversar com eles – graças ao meu blog – descobri que ela é muito querida nesse meio. Acho que todo escritor gosta da Clarice. Li na orelha de um dos seus livros, que o Alceu de Amoroso Lima, que foi um grande crítico literário e tinha o pseudônimo de Tristão de Ataíde, disse que “ninguém escrevia como Clarice Lispector”. Fiquei curioso para ler um livro dela.

Quando estava na biblioteca procurando livros infantis de autores que ficaram conhecidos por escrever para adultos, encontrei uns livros da Clarice e descobri que ela também escreveu para crianças. Eu não sabia! Peguei três – A vida íntima de Laura, A mulher que matou os peixes e O mistério do coelho pensante. Já li todos e adorei. O Tristão tinha razão, ninguém escrevia como Clarice.

A Vida íntima de Laura, publicado pela Editora Nova Fronteira conta a história de uma galinha orgulhosa, que gostava de andar bem arrumada. Clarice começa o livro explicando o quer dizer “vida íntima”, que é “aquilo que se passa dentro da casa da gente e são coisas que não se dizem a qualquer pessoa”. Mas mesmo assim, ela conta a vida íntima da galinha, que era um pouco burra, “mas tem lá os seus pensamentozinhos e sentimentozinhos. Não muitos, mas que tem, tem.” Era uma galinha muito simpática, que vivia com outras aves, no quintal da dona Luísa. Era casada com um galo chamado Luís, que gostava muito dela, embora às vezes brigassem. “Mas briguinha à-toa”.

Laura era a galinha que mais botava ovos no galinheiro da dona Luísa e por isso era a protegida. Quando começou a ficar velha, a cozinheira disse para dona Luísa apontando para Laura: “- Essa galinha já não está botando muito ovo e está ficando velha. Antes que pegue alguma doença ou morra de velhice a gente bem que podia fazer ela ao molho pardo.” A dona Luísa respondeu à cozinheira: Essa aí não mato nunca.  Laura ouviu tudo, e mesmo assim, sentiu medo e passou a se disfarçar para fugir da cozinheira. A Clarice escreve como se conversasse com a gente: “Quando eu era do tamanho de você, ficava horas e horas olhando para as galinhas. Não sei por quê. Conheço tanto as galinhas que podia nunca mais parar de contar.” E ela conta, mesmo, um monte de intimidades da sua galinha Laura.

Em A mulher que matou os peixes, ilustrado por Carlos Scliar e publicado pela Editora Sabiá, Clarice Lispector conta que essa mulher é ela, mesma, mas que foi sem querer. “Logo eu! Que não tenho coragem de matar uma coisa viva! Até deixo de matar uma barata ou outra.” Ela dá sua palavra de que é uma pessoa de confiança, seu coração é doce, e não deixa criança nem bicho sofrer perto dela. Promete contar no final do livro como aconteceu essa tragédia e por enquanto só diz que os peixes morreram de fome, “…esqueci de lhes dar comida. Depois eu conto, mas em segredo, só vocês e eu vamos saber. Tenho esperanças que até o fim do livro vocês possam me perdoar.”

Daí ela começa a falar da sua relação com os bichos, que sempre gostou deles e teve sua infância rodeada de gatos. Sua casa também tinha bichos naturais, “aqueles que a gente não convidou, nem comprou”. Baratas (ela conta um monte de histórias de baratas), lagartixa, que gosta de comer moscas e mosquitos, que também são bichos naturais. Depois ela fala dos bichos convidados e também dos bichos comprados. Dois coelhos que foram morar com ela. Ela diz que o coelho tem uma história cheia de segredos e que até já contou a história de um, em um livro. Esse livro é o outro dela que eu li e vou falar dele em seguida. Ela também fala dos patos e que teve dois, fala das galinhas dos pintos, dos cachorros, – desses, ela fala bastante – fala dos micos e muito mais. No final eu perdoei a Clarice pela morte dos peixes. Você perdoaria?

Sobre O mistério do coelho pensante, ilustrado por Leila Barbosa e publicado pela Editora Rocco, Clarice Lispector diz que só serve para criança que simpatiza com coelho e que foi escrito a pedido-ordem de seu filho Paulo, quando ele era menor e ainda não tinha descoberto simpatias mais fortes. É uma homenagem a dois coelhos que pertenceram aos seus dois filhos, Pedro e Paulo, e que lhes deram “muita dor de cabeça e muita surpresa de encantamento.” Este livro é uma conversa sobre coelho e ela diz que “esse ‘mistério’ é mais uma conversa íntima do que uma história”.  E para ela “conversar sobre coelho é muito bom”.

O coelho dessa história chamava-se Joãozinho e ele pensava mexendo o nariz. Mexia muito rápido, mas pensava devagar. Para conseguir cheirar uma só ideia, precisava franzir quinze mil vezes o seu nariz, que chegava até a ficar cor-de-rosa. Um dia o Joãozinho cheirou uma ideia muito boa, até parecia ideia de menino. Ele ficou encantado, a ideia que ele tinha cheirado era tão boa quanto o cheiro de uma cenoura fresca. Daí ele começou a trabalhar nessa ideia, e pra isso, precisou mexer tanto o nariz, que quase ficou vermelho. Ele descobriu como sair da sua casinhola! Mas como podia sair lá de dentro, se as grades eram estreitas, ele era gordo, não podia passar e nem levantar o tampo, que era feito de um ferro pesado. Aí está o mistério do coelho pensante. Será que vamos adivinhar? A Clarice diz pra gente começar a franzir o nariz para ver se dá certo.

Clarice Lispector nasceu na Ucrânia, em 1920 e com pouco mais de um ano, veio com a família para o Brasil. Moraram em Maceió e depois em Recife, onde passou a sua infância. Com a morte da mãe, quando tinha 12 anos, a família se mudou para o Rio de Janeiro e ela começou a escrever os seus primeiros contos. Depois fez faculdade de Direito e passou a escrever em jornais. Em 1943 publicou o seu primeiro livro, Perto do coração selvagem, e já fez muito sucesso, pelo seu jeito de escrever, diferente de tudo o que existia. Como o seu marido era diplomata, Clarice viveu uns quinze anos fora do Brasil. Nesse tempo se dedicou só à literatura. Separou-se do marido, voltou ao Brasil e morou no Rio de Janeiro até morrer de câncer em dezembro de 1977. Clarice Lispector foi uma das mais importantes escritoras brasileiras. Escreveu romances (Perto do Coração Selvagem, A Paixão segundo G.H., Uma Aprendizagem ou Livro dos Prazeres, Água Viva, A hora da estrela; entre outros); contos (Alguns contos, Laços de família, A legião estrangeira, A via crucis do corpo, entre outros); crônicas, cartas e muito mais; além dos livros infantis O mistério do coelho pensante, A mulher que matou os peixes, A vida íntima de Laura, Quase de verdade, e Como nasceram as estrelas.

Bartolomeu Campos de Queirós

Nesta semana li a notícia de que o escritor Bartolomeu Campos de Queirós morreu. Fiquei muito triste. Sempre fico triste quando morre um escritor. No ano passado foi o Moacyr Scliar e neste, o Bartolomeu. O que me consola são os livros deles, que eu ainda posso ler. Assisti a uma palestra do Bartolomeu na Bienal e contei aqui no blog. Eu me lembro que nessa palestra ele disse que preferia ler a escrever. Quando ele escrevia se sentia muito vaidoso, e quando lia, era generoso. Ele também disse que quando era criança ouvia muitas histórias contadas pela sua avó e que aprendeu a ler e escrever com o seu avô. Uma vez o seu avô lhe disse que “o alfabeto só tem 26 letras e com elas podemos escrever tudo que quisermos.” A partir desse dia o Bartolomeu ficou procurando alguma coisa que não pudesse escrever com as letras. Já li alguns livros do Bartolomeu Campos de Queirós e vou falar deles em um dos próximos posts.

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Li dois livros de Moacyr Scliar

Fui à biblioteca, peguei quatro livros para ler nas férias, já li dois e hoje vou falar deles. Também vou falar da minha luta política, mas antes, como este é o último post do ano – vou viajar e só vou escrever o próximo, depois do dia 10 de janeiro – quero desejar um Feliz Ano Novo pra todos, cheio de coisas boas.

Da minha parte, tenho muitos projetos para o blog em 2012. Tive uma ideia bem bacana, que eu até já combinei com o pessoal da Sintaxe, mas ainda não posso falar nada. É segredo! Mas, se der certo, o nosso blog vai ficar mais legal ainda, e eu vou ficar muito feliz. Aguardem! Quero continuar junto com vocês, no ano que vem.

Nesta semana fui à biblioteca pegar uns livros pra ler nas férias. Sempre que vou à biblioteca, o meu amigo João Gabriel, o bibliotecário, me ajuda a escolher os livros. Mas desta vez ele não estava lá. Eu ainda não tinha contado pra vocês. O João Gabriel não trabalha mais na minha biblioteca e me explicou o que aconteceu: Ele faz parte da diretoria eleita para dirigir o sindicato. Ele continua funcionário da biblioteca, mas está de licença para ser diretor e trabalhar no sindicato. Eu disse a ele que perdi um amigo bibliotecário, mas ganhei um amigo sindicalista.

Ele riu e disse que sempre será bibliotecário. O João já me contou um monte de coisas do sindicato, ele é como eu, adora uma luta política. Mas, como já fiz novos amigos na biblioteca, desta vez quem me ajudou foi a Maricy e o Gustavo. Eu queria uns livros juvenis, escritos por autores famosos, que escrevem para adultos. Eles me mostraram uma lista de livros no computador e eu fui com a Maricy até a estante procurar aqueles que eu queria levar. Peguei quatro, já li dois e hoje vou falar deles. São dois livros do Moacyr Scliar. Eu já falei do Moacyr Scliar uma vez aqui no blog.

Nas férias do ano passado brincamos de Flip e eu também contei isso aqui.  Fizemos uma roda e cada um lia um trecho do livro que estava lendo e falava um pouco dele. Eu falei do Alienista, que li nas férias. Minha mãe estava lendo um livro do Moacyr Scliar chamado Eu vos abraço, milhões, e eu falei aqui, o que minha mãe contou pra gente nesse dia, desse livro. Logo depois, em fevereiro deste ano, eu li a notícia que ele tinha morrido. Fiquei muito triste!

Eu não sabia que o Moacyr Scliar também tinha escrito livros juvenis. Na biblioteca tinha um monte e eu peguei dois: Memórias de um aprendiz de escritor, em que ele conta como virou escritor e Uma história só pra mim, que tem um personagem que é filho de escritor. Tirei da estante da biblioteca, li o resumo deles na capa e de cara gostei. – Vou levar mais esses dois, Maricy.

O primeiro livro do Moacyr Scliar que eu peguei pra ler foi o Memórias de um aprendiz de escritor. Esse assunto me interessa muito! Neste livro, ilustrado por Eduardo Albini e publicado pela Companhia Editora Nacional, ele contou que já escrevia há muito tempo. Disse que “se ainda não aprendi – e acho mesmo que não aprendi, a gente nunca para de aprender – não foi por falta de prática.” Ele disse que começou a escrever muito cedo e todas as suas recordações estavam ligadas a ouvir e contar histórias. As histórias dos personagens que ele lia nos livros e as suas próprias histórias, “as histórias de meus personagens, estas criaturas reais ou imaginárias com quem convivi desde a infância.” Ele ainda se lembrava de uma autobiografia que escreveu quando tinha seis anos de idade. Sua mãe era professora e ele aprendeu a ler e escrever muito cedo. Lembrava-se de uma frase desse seu primeiro texto: “Logo depois que nasci correu pela vizinhança que eu me chamava Mico…” Ele escreveu essa história em um papel de embrulho.

O Moacyr Scliar conta que suas primeiras histórias eram muito tristes. Seu primeiro conto fala de um menino que morre tentando impedir que um ônibus caia numa ponte danificada: “heroico, mas triste.” Ele era muito sério! Mais tarde descobriu o humor que já estava dentro dele, o humor judaico, “aquele humor agridoce, de meio sorriso, apenas”. Ele era judeu e foi criado num bairro judaico de Porto Alegre chamado Bom Fim. Meu pai me disse que aqui em São Paulo tem um bairro com uma história bem parecida ao Bom Fim de Porto Alegre, é o Bom Retiro. O Moacyr Scliar conta uma história bem engraçada, de um escritor e seu vizinho, e diz que literatura nem sempre parece trabalho. “O vizinho olhava o escritor que estava sentado, quieto no jardim, e perguntava: Descansando, senhor escritor? Ao que o escritor respondia: Não, trabalhando. Daí a pouco o vizinho via o escritor mexendo na terra, cuidando das plantas: Trabalhando? Não, respondia o escritor, descansando.

O outro livro do Moacyr Scliar que eu li foi Uma história só pra mim. Ilustrado por Roberto Barbosa e publicado pela Atual Editora, este livro conta a história de um menino chamado João, que morava só com a mãe e não via o pai há mais de 11 anos. Ninguém sabia direito o que tinha acontecido, mas se falava que o pai tinha deixado a família quando o João ainda era muito pequeno. Quem conta essa história é o Rodrigo, amigo do João. Tem outro personagem, que também faz parte da turma, que é o Rafael. João era meio esquisito, ficava sempre isolado, lendo e parecia muito triste. Com o tempo os amigos descobriram que o motivo da sua tristeza era a falta que ele sentia do pai. Um dia o João em conversa com o Rodrigo e a Fernanda (outra personagem do livro) decide contar a sua história: Seu pai era um médico, cirurgião plástico, rico e famoso, que um dia decidiu largar tudo pra cuidar dos índios do Amazonas.

Ele e sua mãe acompanharam o pai e foram viver no interior da Amazônia. No final dessa história contada pelo João, o pai é assassinado pelos capangas de um fazendeiro que queria as terras dos índios. Em pouco tempo essa história do João se espalhou pelo condomínio. Um dia, o Rafael que era metido a detetive ouve falar de um livro que contava uma história muito parecida com a história contada pelo João. Vai à biblioteca da escola e encontra esse livro: Irapi, meu amigo. O escritor chamava-se Brandão Monteiro. Rafael liga para o Rodrigo e pelo telefone lê trechos do livro. Lá estavam todos os detalhes da história contada pelo João. Os dois resolvem investigar, vão à editora do livro e depois de muito esforço conseguem o endereço do autor. Ele morava em uma praia isolada, longe de tudo. Vão até lá e descobrem uma história muito legal e ajudam o João a escrever o final da história deste livro.

Moacyr Jaime Scliar nasceu em Porto Alegre em 1937 e morreu em 2011. Foi escritor, médico especialista em saúde pública e professor universitário. Publicou mais de setenta livros, entre crônicas, contos, ensaios, romances e literatura infantojuvenil. Recebeu muitos prêmios literários como o Jabuti (1988, 1993 e 2009), o Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) (1989) e o Casa de las Américas (1989). Em 2003 foi eleito para a Academia Brasileira de Letras. Também ficou conhecido por suas crônicas publicadas nos principais jornais do país.

Luta política em assembleia permanente

Na semana passada teve reunião da organização do movimento em defesa do quarteirão do meu bairro. Eu fui! Fui com o pessoal da Sintaxe, eles também estão na luta e já tem um monte de gente participando. Tinha mais de vinte pessoas nessa reunião, que aconteceu num escritório bonito e muito grande aqui no Itaim. Fizemos uma avaliação da nossa apresentação no Condephaat. Estamos otimistas, muitos conselheiros estão do nosso lado, mas não podemos contar só com o tombamento. Por isso estamos nos organizando mais, para garantir a defesa do nosso quarteirão do ataque da prefeitura, que quer derrubar todo esse espaço público para construir prédios de apartamentos.

Nessa reunião criamos grupos de trabalho e cada grupo vai ser responsável por uma área. Eu também faço parte de um grupo! É o grupo que vai cuidar das diversas produções culturais que estamos organizando para um grande evento que vamos promover em março do ano que vem. Nesse grupo estão também, o Helcias, o Luiz e o Aerton. Vamos ter uma reunião desse nosso grupo, depois do dia 15 de janeiro. Vou viajar com os meus pais, mas nesse dia já estou de volta e quero participar dessa reunião. Outra coisa: nessas férias estamos em assembleia permanente e de olho em tudo que acontece lá no quarteirão. Outro dia derrubaram um muro… A gente nunca sabe o que mais eles podem fazer!

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O Velho e o mar – O livro e o vídeo

Encontrei um vídeo de um desenho animado de O Velho e o Mar na internet, adorei, descobri que tinha o livro em casa, li Hemingway, descobri uns segredos do meu pai e publiquei o vídeo aqui no blog

Na semana passada eu encontrei um vídeo na internet. É um desenho animado que conta a história de O Velho e o Mar, de Ernest Hemingway. Assisti, adorei e fiquei a fim de ler o livro. Mostrei o vídeo para o meu pai, ele também gostou e disse que leu esse livro quando tinha mais ou menos a minha idade. Ele foi até a estante de casa, procurou e encontrou o exemplar que leu quando tinha 14 anos. É uma edição da Editora Civilização Brasileira e tem uma apresentação do Ênio Silveira, o editor, em que ele diz que essa história é “uma das mais belas obras da literatura contemporânea.”

Meu pai disse que o Ênio Silveira foi um homem elegante e um dos maiores editores brasileiros. Ele nasceu em 1925 e morreu em 1996, foi filiado ao Partido Comunista e durante a ditadura militar editou muitas publicações contra o regime. Meu pai também me falou de uma revista que ele lia, quando estava na faculdade chamada “Encontros com a Civilização Brasileira”, que também era editada pelo Ênio Silveira e que “fez a cabeça de muita gente daquela época”, inclusive a dele.

Mas vamos voltar ao velho e ao mar… São tantas coisas que eu descubro e aprendo que às vezes me perco um pouco. O vídeo que eu encontrei de O Velho e o Mar, como já disse, é um desenho animado, mas parece de verdade. Foi feito pelo Alexandr Petrov, um desenhista russo. Ele desenha as pessoas, os animais, as paisagens e faz suas animações “de uma forma muito realista”. Ele pintou O Velho e o Mar no vidro, quadro por quadro, diz que durante esse trabalho ele pintava, fotografava, apagava e pintava o próximo. Eu peguei o vídeo na internet e publiquei aqui, está lá no final deste post. São duas partes de mais ou menos dez minutos cada. Para a internet, dizem que é longo, mas é muito bonito, vocês vão ver. Mas antes terminem de ler o meu post, que eu ainda vou contar uns segredos do meu pai.

Peguei o livro do meu pai e antes de começar a leitura, fui ler a apresentação e dar uma folheada. Vi que tinham algumas partes sublinhadas por ele. Apesar de ter apagado, ficaram as marcas e os vincos no papel. Ele sublinhou a primeira vez em que aparecem os nomes dos personagens: Santiago, o velho e Manolin, o menino. Depois ele sublinhou outro trecho em que o autor faz uma descrição do velho: “O velho pescador era magro e seco e tinha a parte posterior do pescoço vincada de profundas rugas. As manchas escuras que os raios do sol produzem sempre nos mares tropicais, enchiam-lhe o rosto, estendendo-se ao longo dos braços, e suas mãos estavam cobertas de cicatrizes fundas que haviam sido causadas pela fricção das linhas ásperas enganchadas em pesados e enormes peixes. Mas nenhuma destas cicatrizes era recente.”

Esta minha leitura foi diferente de todas as outras que eu tive até hoje. Foram duas! Uma foi a leitura do próprio livro. Eu entrei e viajei na história do Hemingway! Estava lá, junto com o velho pescador lutando contra o peixe e os tubarões. Sofri com ele. Senti as suas dores, torci e festejei a sua superação. Os pensamentos do velho durante o combate são muito bonitos e o final da história é emocionante. Confesso que chorei no final. A outra leitura foi imaginar como o meu pai leu esse livro quando tinha 14 anos. As suas sublinhadas e anotações no livro me revelaram um pouco do meu pai menino.

Algumas anotações do meu pai eu vi que foram para ajudar no trabalho da escola. Descrição dos personagens, dos lugares, do mar, dos peixes e das aves. Mas outras não tinham nada a ver com a escola. Acho que eram as suas preocupações daquela época. Ele já me contou como era sua casa da infância e eu fiquei imaginando o meu pai menino, na casa dele, lendo esse livro. “Além disso, pensou, tudo mata tudo de uma maneira ou de outra. Pescar mata-me tal como me faz viver. O rapaz é que me mantém na vida, pensou. Não é bom que eu tenha ilusões”. Ele sublinhou essa parte e mais outra: “É uma estupidez não ter esperança, pensou. Além disso acho que é um pecado perder a esperança. Mas não devo pensar em pecados. Já tenho muitos problemas para começar a pensar em pecados. Para dizer a verdade também não compreendo bem o que são os pecados.” E sublinhou muito mais… Perguntei ao meu pai porque ele sublinhou essas partes do livro e depois apagou. Ele disse que não se lembrava, mas vou insistir. Quero descobrir mais coisas do meu pai menino.

Ernest Miller Hemingway nasceu em 1899, em Oak Park, Illinois (EUA). Filho de um médico da zona rural, cresceu em um ambiente pobre e rude, que conheceu ao acompanhar o trabalho do pai na região. Trabalhou como repórter, alistou-se no exército italiano em 1916 e foi gravemente ferido na frente de batalha. Ao deixar o hospital, passou a trabalhar como correspondente em Paris. Em 1926, publicou O Sol Também Se Levanta, livro que fez muito sucesso. Em 1929, publicou Adeus às Armas, que descreve sua experiência militar na Itália. Foi para a Espanha e escreveu Morte à Tarde (1932), sobre as touradas; fez caçadas na África Central, que contou em As Verdes Colinas da África (1935); participou da Guerra Civil Espanhola e escreveu Por Quem os Sinos Dobram (1940); foi pescador em Cuba e escreveu O Velho e o Mar (1952), e ganhou o Prêmio Pulitzer com este livro. Ganhador do Nobel de Literatura (1954), Hemingway suicidou-se em sua casa de Ketchum, em Idaho (EUA), em 1961.

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Fui ao Jabuti e ao Condephaat e fiz a minha primeira panfletagem

Esta semana que passou foi bastante agitada. No dia 30 fui à entrega do Prêmio Jabuti, no dia 1º fiz panfletagem no meu bairro e no dia 5 fui ao Condephaat, e hoje eu vou contar todas essas minhas aventuras

– Oi, Heitor. Tudo bem? É a Otacília.

– Oi, Ota! Eu estou bem. E você?

– Estou com saudades…

– Eu também, nunca mais a gente conversou.

– Pois é. Eu levei você naquele lançamento da Silvana Salerno, quando você começou a fazer o blog, e depois te abandonei.

– Que nada! Você me apresentou a um monte de gente bacana e me mostrou tantos livros… Por falar nisso, você tem algum livro legal pra me indicar?

– Não. Hoje eu tenho um convite pra você!

– É mesmo? Convite do que?

– Você quer ir comigo amanhã à entrega do Prêmio Jabuti?

– OBA! Se quero! Mas antes eu preciso falar com a minha mãe pra ver se ela deixa.

– Ela está aí?

– Tá

– Chama que eu converso com ela.

– MANHÊ! A OTACÍLA QUER FALAR COM VOCÊ!

Faz tempo que eu conheço a Otacília, ela é amiga do pessoal da Sintaxe, e é minha amiga também. Ela me levou a minha primeira sessão de autógrafos e eu contei esse passeio aqui, está lá, bem no começo do blog, é o quarto post. Ela é editora de livros infantojuvenis e trabalha na Planeta.  Bem, ela conversou com a minha mãe e nós fomos à festa de entrega do 53º Prêmio Jabuti, e agora eu vou contar aqui um pouco do que eu vi por lá.

A festa foi na Sala São Paulo, na entrada tem um saguão enorme e antes de começar a entrega dos prêmios, que foi dentro da sala, ficamos nesse saguão encontrando e conversando com as pessoas. Estava cheio, a Otacília conhece muita gente e foi me apresentando pra todo mundo.  “Esse é o Heitor, ele tem um blog de literatura, o Blog do Le-Heitor.” Levei uns cartõezinhos com a minha foto, o meu nome e o endereço do meu blog e quem se interessasse em conhecer, eu dava um cartãozinho desses. Disseram que isso se chama network. Eu distribuí um monte de cartõezinhos e fiz a minha network! Fique muito feliz por conhecer um monte de gente nova e encontrar alguns amigos.

Encontrei a Maria Viana. Eu já falei dela aqui, ela sempre deixa comentário no blog e uma vez me ajudou a fazer um post muito especial de um escritor mineiro, que ela gosta e conhece bastante, o Murilo Rubião. Encontrei também a Rosinha, ela é de Recife e veio aqui pra receber um Jabuti! Ganhou terceiro lugar em “Ilustração de Livro Infantil e Juvenil” com uma coleção chamada Palavra rimada com Imagem. Eu já falei de um livro dessa coleção da Rosinha aqui no blog, o livro se chama A história da Princesa do Reino da Pedra Fina. Eu fui ao lançamento dessa coleção aqui em São Paulo e tenho esse livro autografado por ela. É um reconto de um folheto de literatura de cordel do Leandro Gomes de Barros e o texto também é da Rosinha. As ilustrações são muito bonitas, são xilogravuras, que é uma técnica muito usada para ilustrar os folhetos de literatura de cordel.

Encontrei também o André Neves. Ele ganhou dois Jabutis com o livro Obax: segundo lugar em “Ilustração de Livro Infantil e Juvenil” e primeiro lugar, melhor livro “Infantil”. Eu li o livro Obax, adorei e levei o meu exemplar para ele autografar. Ele escreveu uma dedicatória bem bacana pra mim: “Heitor. Para chover imaginação. Com Carinho, André Neves.” Conheci o André Neves na FELIT, aquela feira de literatura de São Bernardo do Campo e lá aconteceu uma coisa bem legal que eu ainda não tinha contado aqui. Conheci o André na quarta-feira e ele me disse que tinha lançado esse livro, mas eu ainda não tinha lido. Na sexta eu fui novamente à feira, o André já tinha voltado para sua casa em Porto Alegre, e nesse dia o Lula visitou a FELIT. Sim, esse mesmo, o ex-presidente! Ele andou pela feira, conversou com as crianças, foi uma festa. Depois ele resolveu pegar um livro e contar a história para um grupo de crianças que sentou em sua volta. E adivinhem que livro ele leu? O livro do André, o Obax! Eu vi o Lula lendo o livro do André! Ele lia e ia explicando a história, parecia que até já conhecia. Nesse dia eu fui procurar o livro na feira, para eu ler também. E quem disse que eu encontrei. Estava esgotado! No dia seguinte eu não resisti. Como eu tinha o e-mail do André, mandei uma mensagem pra ele: “Oi, André. Você acaba de ganhar um leitor ilustre: o Lula leu o seu livro!” Agora eu também já li e vou contar um pouco da história dele aqui.

Obax, escrito e ilustrado por André Neves e publicado pela Editora Brinque-Book, conta a história da menina Obax, que vivia em uma aldeia isolada na África, num lugar seco de vegetação escura e rasteira. Durante o dia os homens cuidavam da terra e as mulheres dos afazeres domésticos e das crianças. À noite era o silêncio e um ótimo momento para compartilhar boas histórias. Obax era muito solitária, tinha poucos amigos e vivia inventando histórias. Corria pela planície em busca de aventuras e depois voltava com os “olhinhos brilhantes” cheia de histórias para contar: Caçou ovos de avestruz, conheceu girafas, apostou corria com antílopes e enfrentou ferozes crocodilos. Ninguém acreditava em Obax.

Uma vez ela contou que viu cair do céu uma chuva de flores. As crianças caçoaram dela, os velhos duvidaram, e a mãe abraçou a filha, protegendo-a, mas também não acreditou na menina. “Como poderiam chover flores onde pouco chove água?” Depois disso Obax ficou muito triste correu pelas savanas e jurou nunca mais contar suas aventuras. Mas como ela ia conseguir guardar aquilo tudo. Então, um dia ela tropeçou numa pequena pedra em forma de elefante e teve uma grande ideia. Ia sair pelo mundo para encontrar novamente uma chuva de flores e provar que sua história era verdadeira. E não é que Obax conseguiu! É muito bonito o jeito como o André conta essa história e suas ilustrações são lindas. E a Obax, então, é uma gracinha. Eu disse pro André: – Essa Obax tem tudo a ver comigo, me apaixonei por ela!

André Neves nasceu em Recife e mora em Porto Alegre. Ilustrador e escritor de livros infantis, estudou Artes Plásticas, é arte-educador e promove palestras e oficinas sobre literatura infantil e juvenil. Já ganhou muitos prêmios, Prêmio Luís Jardim, Prêmio Jabuti, Prêmio Açorianos, e o Prêmio Speciali, do Concurso Lucca Comics e Games, na Itália. Também participou de mostras e exposições de ilustração no Brasil e no exterior.

Notícias da minha luta política

No domingo de manhã eu sempre fico com o meu pai lendo jornal e conversando.

– Filho, eu nem perguntei… como foi a sua panfletagem na quinta?

– Foi muito legal, pai! Foi a minha primeira panfletagem. Gostei muito e quero fazer mais.

– Por que você gostou tanto assim?

– Sei lá, é tão legal, eu fiquei conversando e convencendo as pessoas de que preservar o quarteirão e a minha biblioteca é importante para a história do bairro e da cidade. Eu achei muito bom defender as minhas ideias e ainda convencer algumas pessoas. Acho que a gente vai ganhar essa briga!

– Calma, meu filho, ainda temos que convencer o Condephaat. Quando vai ser a apresentação?

– Amanhã.

– Você vai?

– Claro que eu vou, pai.

– E como você vai? Eu não posso ir e nem posso te levar.

– Pode deixar, pai, eu vou de ônibus. Vai sair um ônibus às nove horas da frente da biblioteca. Vamos todos juntos. Vai ser uma festa!

– Que bom! Vou torcer por você e pelo nosso quarteirão.

– Valeu, pai!

Essa foi a minha segunda visita ao Condephaat, da primeira vez fui ver a apresentação da prefeitura e desta vez fomos assistir a nossa apresentação, a nossa defesa pelo tombamento do quarteirão. Eu já disse da outra vez que essas reuniões do Condephaat são abertas ao público, a gente pode assistir, mas não pode participar. No máximo, podemos aplaudir e foi o que a gente mais fez desta vez. A nossa apresentação começou com o professor Ivani Abreu, que é arquiteto e especialista em “Escolas Parque”, que são diversos serviços públicos no mesmo espaço, assim como é o nosso quarteirão. Lá tem educação, cultura e saúde! Ele falou da história e da importância em manter esses espaços preservados na cidade. Depois veio a Vanessa Kramel, que também é arquiteta. Ela mostrou fotos e contou a história das construções que tem lá. No final veio o Jorge Rubies, que é presidente do Preserva São Paulo. Ele mostrou as falhas do projeto da prefeitura e fez um discurso emocionado defendendo o tombamento do nosso quarteirão.

A Luciana Parisi que é uma batalhadora e moradora do bairro, e que já deixou um comentário aqui no blog, também falou. A atriz Eva Wilma que mora há 31 anos na rua do quarteirão falou da sua emoção em ouvir as crianças da escola cantando o Hino Nacional. A nossa apresentação foi bem legal, teve “informações técnicas”, e também foi muito emocionante. Eu gostei, teve uma parte que eu quase chorei. Eu acho que os conselheiros do Condephaat também gostaram, pelo menos os que se manifestaram. No final, a presidente abriu para as perguntas deles, e uns cinco conselheiros levantaram a mão, e desses, só um perguntou, mesmo. Todos os outros só pediram a palavra para dizer que apóiam nossa luta. Que acham bonito ver uma “comunidade organizada defendendo os seus direitos”. Um deles, que trabalha com crianças e adolescentes, disse, emocionado, que a gente podia contar com ele. No total são mais de 20 conselheiros, a maioria não se manifestou, e a gente não sabe como todos pensam. Temos que continuar lutando e convencendo as pessoas. Por isso, vou continuar a minha panfletagem!

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Li três livros do Caio Riter

Hoje, além dos livros do Caio Riter, vou falar da minha luta política, que tem dois eventos importantes nos próximos dias, e também do clube de leitura, que já tem comentários no post de alguns alunos da escola

Outro dia eu falei aqui da FELIT, uma feira literária que aconteceu em agosto, na cidade de São Bernardo do Campo. Eu estive lá e conheci um monte de escritores. Um deles foi o Caio Riter. Eu já tinha lido um livro dele, As luas de Vindor, que eu contei aqui, e ele deixou um comentário bem bacana, quando eu comecei a fazer o blog. Eu assisti a uma palestra do Caio lá na FELIT, ele falou que os personagens dos seus livros sempre têm que ter algum sofrimento e contou como inventa as suas histórias. Ele disse que uma vez ouviu uma frase de um aluno – o Caio também é professor – que disse para os pais que o adotaram: “Vocês mudaram a minha história.” Ele gostou tanto dessa frase, que escreveu um livro a partir dela. O livro se chama O rapaz que não era de Liverpool. Eu ganhei esse livro e peguei um autógrafo do Caio. Ele escreveu uma dedicatória bem legal pra mim: “Ao Heitor, que já é meu leitor, desejando que este tanto de dor possa suscitar momento de amor aos livros. Abração. Caio.” Eu li o livro, adorei e vou falar dele aqui.

Mas antes vou contar outra história: Um dia desses, eu estava na livraria com o meu pai e encontrei outro livro do Caio Riter, que eu não conhecia. O livro se chama A cor das coisas findas. Tirei o livro da estante e li o que estava escrito na capa: “Uma biblioteca ameaçada. Esse é o motivo que leva um grupo de jovens a descobrir o mistério que cerca o desaparecimento de parte da história da cidade, e revela o valor da leitura e a importância que os livros podem ter.” Parecia a minha história! Minha biblioteca também está ameaçada, se derrubarem o quarteirão onde ela fica, parte da história da minha cidade também vai desaparecer… Pensei. Preciso ler esse livro! Já sei. Vou ler O rapaz que não era de Liverpool, leio este também e vou falar de dois livros do Caio Riter no blog. Já tinha até pensado no título do post: “Li dois livros do Caio Riter”, até que o pessoal da Sintaxe me ligou.

– Tudo bem, Heitor? Como anda a sua luta política?

– Tudo… Ela está na fase decisiva e vai ter dois eventos importantes. Na quinta-feira, dia 1º, vamos fazer uma caminhada pelo bairro para comemorar o aniversário de um ano da nossa luta. A gente vai se encontrar na esquina da avenida Faria Lima com a Juscelino Kubitschek, às 11h30. Apareçam lá pra ajudar a gente.

– Vamos, sim. E o outro evento qual é?

– Este vocês não podem faltar… No dia 5 de dezembro vai ser a nossa apresentação no Condephaat. Vamos lá torcer e mostrar para os conselheiros que tem muita gente que quer proteger o quarteirão. Se o Condephaat tombar o quarteirão, a minha biblioteca, o teatro, as duas escolas, a creche, as duas unidades de saúde e a Apae estarão protegidos para sempre.

– Estaremos lá.

– Convida mais pessoas pra gente encher o Condephaat.

– Pode deixar… Nós vamos, mesmo, e vamos arrastar mais pessoas. Pode contar com a gente. E o clube de leitura, como está?

– Tá bombando! Os alunos já colocaram uns comentários. Dá uma olhada lá no post… a professora Rose disse que vai ter mais.

– Legal! E qual vai ser o próximo post?

– Eu li dois livros do Caio Riter e vou falar deles.

– Do Caio Riter?!

– Sim, eu até já tenho o título do post. “Li dois livros do Caio Riter”.

– Acho que você vai ter que mudar o título desse seu próximo post.

– Por quê? Vocês não gostaram? É muito óbvio, não é?

– Gostamos, mas é que nós temos aqui um livro do Caio Riter que acabou de sair pela Editora Biruta e estávamos pensando em mandar pra você.

– É mesmo? Qual é o nome do livro?

Eu e o silêncio do meu pai. Nesse livro ele conta um pouco da história dele e mistura realidade com ficção.

– Gostei! Quero ler. Pode mandar que eu mudo o título do post para “Li três livros do Caio Riter”. Tá bom assim?

– Está ótimo!

O rapaz que não era de Liverpool

“- Não, Marcelo, você não nasceu de mim! Ela disse. Falou o que eu queria-temia escutar. Falou. As palavras foram claras. Sem sombras. Sem dúvidas. A confirmação ali, naquela frase tão simples. Tão. Não era minha mãe. Não era. E, no entanto. Estendeu a mão. A mão que muito carinho já me fizera. A mão. Tremia? Queria ser toque. Acarinhar meu cabelo, daquele jeito calmo que eu tanto gosto. Gostava. Leve toque em meu braço. Fugi.” Assim começa o livro O rapaz que não era de Liverpool, publicado pela Editora SM e que ganhou o prêmio Barco a Vapor em 2005.

Marcelo tinha sido adotado pelos seus pais e não sabia dessa parte da sua história. Era o filho mais velho, depois dele a mãe teve a Maria e o Ramiro. Ele gostava dos Beatles – aprendeu com o pai – e no seu quarto tinha a foto da capa de um disco, em que eles aparecem atravessando uma rua de Londres. “Se os rapazes de Liverpool eram quatro, nós éramos cinco.” O Marcelo duplicou o Paul McCartney e colocou o rosto de todos da sua família, na ordem, seu pai, Pedro Paulo; sua mãe, Inês; ele; sua irmã Maria; e o seu irmão mais novo, o Ramiro.

Ele começou a desconfiar que não tinha nascido da sua mãe, quando aprendeu a Lei de Mendel na escola. (Eu fui pesquisar e entendi mais ou menos como é essa lei. As ervilhas amarelas e as ervilhas verdes.) Um dia o professor perguntou se filhos de pais de olhos azuis poderiam nascer com olhos castanhos. O Marcelo respondeu que sim, pois ele tinha olhos castanhos e seus pais, azuis. O professor disse que estava errado: “- Olhos azuis são recessivos.” Ele foi confirmar com sua mãe e soube toda a verdade. “Só hoje, a desconfiança se faz certeza: os garotos de Liverpool são quatro. Apenas quatro. Eu não sou de Liverpool.” O Marcelo recortou sua foto do quadro e sofreu muito para entender essa sua história.

A cor das coisas findas

A cor das coisas findas, publicado pela Editora Artes e Ofícios, que ganhou o Prêmio Açorianos de Literatura de melhor livro infantojuvenil em 2004 conta a história de Eduarda, Carlo, Pedro, Beatriz e Dante, que estudavam na mesma escola. Eles tinham uma professora chamada Liana, que sempre entrava na sala com uma sacola de brim, decorada com flores e cheia de livros. Livros de todos os tamanhos, de prosa e de poesia. Ela era apaixonada por livros. Na aula lia poesias, trechos dos livros e passava alguns desafios para a classe descobrir pesquisando na biblioteca.

A biblioteca da cidade ficava num prédio antigo e enorme. Tinha dois pisos e um pequeno sótão. Ficava no centro e disputava espaço com construções modernas. “A cidade começava a perder sua cara de interior, sobretudo pelo progresso que o prefeito dizia estar executando.” Na biblioteca trabalhava a dona Santinha, que era a bibliotecária e o Tirésias, que era o porteiro e dizia coisas muito estranhas. O prefeito sempre estava por lá, acompanhado da sua secretária conversando com dona Santinha. Ninguém sabia o que eles tanto conversavam.

O prefeito era novo na cidade. Chegou, montou uma construtora, deu emprego para um monte de gente e virou prefeito. Nas visitas à biblioteca, a turma começou a perceber coisas estranhas. Do sótão eles observavam que a cidade, aos poucos, ia sumindo. O rio, a planície, até a igreja desaparecia. Foram investigar e descobriram um livro misterioso. Também revelaram a verdadeira identidade do prefeito e ficaram sabendo que ele ia derrubar a biblioteca para construir um shopping center. Vou pedir ajuda pra turma desse livro do Caio Riter pra defender a minha biblioteca, quem sabe a gente não descobre algumas coisas por aqui, também, e salva a nossa biblioteca.

Eu e o silêncio do meu pai

Quem conta a história do livro Eu e o silêncio do meu pai, que foi publicado pela Editora Biruta, fala como se fosse a sua própria história, parte dela é contada na primeira pessoa. O menino nasceu no dia 24 de dezembro e sua mãe sempre lhe dizia que ele foi o melhor presente de Natal que ela ganhou. O Caio Riter também nasceu no dia 24 de dezembro, em Porto Alegre, que é a cidade onde se passa essa história. Sobre isso ele diz que este livro “traz algumas das minhas verdades, pintadas um pouco com as tintas da fantasia.”

O menino conta a história de sua relação com o pai. “Poucas palavras ouvi do meu pai e o mais estranho disso tudo é que – embora poucas – não me recordo delas. Um homem feito de não verbos.” O pai bebia e o menino sofria com isso. Quando ele estava bêbado, o menino sentia vergonha, e quando estava sóbrio, o pai parecia triste e não dizia uma palavra. Uma vez a professora perguntou ao menino: – Se pudesse mudar algo em sua família, você mudaria o quê?  O menino: Eu fazia o meu pai parar de beber. A mãe contou para o pai e essa foi a primeira vez que ele viu o pai chorar.

O menino que já adorava os livros não gostava das férias, pois a biblioteca da escola fechava e ele ficava “em casa, sem livros, sem viagens, um ou outro domingo na casa do tio Jorge, tão pobre quanto eles”. E o retorno às aulas também não agradava o menino. Não pelas aulas, mas pelo tema da redação: “Minhas férias”. Nessa hora o menino inventava umas aventuras no sítio do avô: andar no cavalo alazão, pescar lambari no açude, tomar banho de rio, colher frutas no pomar, o pai firme, carregando o filho na cacunda e contando as mais incríveis histórias. O menino, que depois virou escritor, acha que foi aí, nessas redações fantasiadas, que começou o seu desejo de escrever.

Caio Riter é um escritor muito premiado, nasceu e vive em Porto Alegre. Ganhou os prêmios Açorianos, Barco a Vapor, Orígenes Lessa e Selo Altamente Recomendável da FNLIJ. É professor, mestre e doutor em Literatura Brasileira pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Faz palestras e dá cursos de capacitação de professores.

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Bullying no Clube de Leitura

O Clube de Leitura do Blog do Le-Heitor é organizado pela EMEF Itaim A, uma escola municipal que fica no bairro do Itaim Paulista, em São Paulo, e pelo pessoal da Sintaxe, e tem como “sócios” cento e oitenta alunos do sexto e do sétimo anos dessa escola. A Editora Biruta, a Editora DCL e a Editora Noovha América apoiaram esse projeto e doaram os livros para a escola. Cada editora doou dois títulos e dez exemplares de cada título, que os alunos estão lendo em “sistema de revezamento.”

Os livros escolhidos foram: O Cachecol, de Lia Zatz, ilustrado por Inácio Zatz; e A Bailarina Fantasma, de Socorro Acioli; da Editora Biruta. Bullying – Vamos sair dessa?, de Miriam Portela, ilustrado por Toni D’Agostinho, e O menino com monstros nos dedos, de Almir Correia, ilustrado por Victor Tavares; da Editora Noovha América. Robinson Crusoe, de Daniel Defoe, recontado por Fernando Nuno e ilustrado por Marcelo Ribeiro; e A Odisseia, de Homero, recontada por Silvana Salerno e ilustrada por Dave Santana e Maurício Paraguassu; da Editora DCL.

Quem quiser saber mais sobre o funcionamento do nosso clube de leitura pode ler em http://blogdoleheitor.sintaxe.com.br/?p=1156. E quem quiser ver a postagem do primeiro livro que lemos (O Cachecol) e os comentários de mais de quarenta alunos pode ler em http://blogdoleheitor.sintaxe.com.br/?p=1520.

Bullying – Vamos sair dessa?

Hoje vou falar do segundo livro, Bullying – Vamos sair dessa?, e vou esperar os comentários dos alunos da escola, e quem mais quiser participar. Depois vamos sortear alguns brindes entre os alunos que comentarem.

Como eu fiz com o primeiro livro do clube de leitura, pedi para o meu amigo Lipe também ler o Bullying pra gente conversar e descobrir mais coisas do livro. Foi assim que fizeram os alunos da EMEF Itaim A. Depois de ler, eles se reuniram em “rodas de conversa” para falar do livro. Como sempre, no começo o Lipe reclamou: – Poxa, já tem tanto livro pra gente ler pra escola e ainda você fica inventando essas coisas. Mas depois de ler, ele gostou e veio correndo, fazer a nossa roda de conversa.

– Li rapidinho esse livro, Le. Ele é muito bom! Você já leu?

O Lipe me chama de Le, antes ele me chamava de Heitor, mas depois que apareceu esse apelido lá na escola, ele começou a me chamar de Le e se acostumou.

– Li e também gostei muito.

– Achei o Gustavo meio parecido com você.

– Por quê?

– Ele também gostava de ler e por isso era zoado na escola.

– Mas eu não sou zoado…

– Claro que é! Até apelido arrumaram pra você.

– É, mas eu nem ligo.

– No começo você ficou mal. Lembra? Até veio conversar comigo…

– É, mas passou. Só ficou o apelido.

– “Le!” Até que é um apelido legal. Você não acha, Heitor.

– Fazia tempo que você não me chamava de Heitor, Felipe.

– E você nunca tinha me chamado de Felipe, Heitor.

Eu ri muito e o Lipe também e continuamos conversando e descobrindo um monte de coisas deste livro.

A história do livro Bullying – Vamos sair dessa?, escrito por Miriam Portela (eu conheço a Miriam Portela! Já contei isso aqui no blog), ilustrado por Toni D’Agostinho e publicado pela Editora Noovha América começa com uma confusão em frente ao colégio. O trânsito estava lento, viaturas de polícia cercavam o quarteirão, seguranças revistavam os carros e as aulas tinham sido suspensas. A Beatriz e a Silvana, que estudavam lá, conseguiram atravessar a multidão para conversar com o porteiro e souberam que um aluno havia desaparecido. Achavam que ele tinha sido sequestrado.

Depois elas descobriram que o aluno desaparecido era o Gustavo, que era da sala da Beatriz. Ele era muito estranho e apaixonado por livros. “As coisas que ele dizia, o jeito educado e o ar desligado faziam dele um cara diferente de todos os outros. Ele era tão fora de moda! Tão nerd.” A Beatriz gostou do jeito dele e ficou muito amiga do Gustavo, mas as suas amigas não conseguiam entender porque ela perdia tempo com um cara tão sem graça. A maioria do colégio pensava assim, e ele era muito zoado por isso.

Ao lado dessa escola, que era particular, tinha uma escola pública onde estudava o Antônio. Todo dia ele atravessava um terreno baldio que separava sua casa da escola. Ele tinha 12 anos e morria de medo de fazer esse caminho sozinho. Já tinha visto policiais removendo corpos ou dando tiros de manhã bem cedo. Nesse dia ele cruzou um bando de rapazes calçando tênis caros e camisetas de marca. Não gostou da cara deles e tentou desviar.

– Onde você pensa que vai, seu marginalzinho? Eram alguns alunos encrenqueiros do colégio particular. – Você não tem nenhuma irmãzinha bonitinha pra gente se divertir? Eles pegaram seu material escolar, chutaram suas pernas e puxaram seus cabelos. – Te manda, moleque. Da próxima vez que você atravessar na nossa frente, vai levar uma surra. Ele entrou na escola correndo. Nessa escola estudava o Tiago, que era alto demais, gordo, pele cheia de espinhas e meio desajeitado. Ganhou diversos apelidos, Geleia, Sherek, Nutella, Cocô, e era muito zoado.

As duas escolas, a particular e a pública sofriam com o bullying e os professores, pais e alunos precisavam fazer alguma coisa. Nessa história a escritora Miriam Portela fala do preconceito, mostra o sofrimento, as causas e as consequências do bullying e conta como essas escolas enfrentaram esse problema.

Miriam Portela nasceu em Florianópolis (SC) e começou a escrever ainda criança, quando descobriu que podia criar histórias e inventar personagens. Jornalista, trabalhou em jornais, revistas e televisão. Escreveu quatro livros de poesia e depois percebeu que queria contar histórias para crianças. Tem muitos livros publicados: Alguém muito especial, Onde andará a alegria e Histórias do encantado, pela Editora Moderna; Alice passou por aqui, pela Editora Terceiro Nome; e Minha família não para de crescer, Bichorro e Louco por bichos, entre outros, pela Editora Noovha América.

Toni D’Agostinho é sociólogo, caricaturista, ilustrador, escritor e diretor teatral. Ele já fez vários trabalhos para as principais editoras do país. Participou da exposição de caricatura “Futebol Pensado”, durante a Copa de 2006 no Sesc Vila Mariana, em São Paulo, e criou para o Banco do Brasil a mostra “Nanquim no Machado” com personagens de Machado de Assis caricaturadas. Na televisão fez caricaturas para o programa Show do Tom, da Record e Raul Gil da Bandeirantes.

Minha luta política

Na semana passada eu fiz um passeio da hora! Fui conhecer todas as unidades que ficam no quarteirão do meu bairro. Aquele que a prefeitura quer derrubar e que nós estamos lutando para impedir esse “crime contra o patrimônio”, como eu ouço falar nas assembleias. Lá tem a biblioteca, o teatro, duas escolas, uma creche, duas unidades de saúde e a Apae. Eu só conhecia o teatro e a biblioteca, onde eu sou freguês de carteirinha. Quem me convidou para esse passeio foi o Helcias, que é o presidente da Associação Grupo de Memórias do Itaim Bibi.

Fomos com o pessoal de uma produtora e uma agência de publicidade. Eles vão gravar um vídeo para divulgar a nossa luta, com depoimentos de pessoas que defendem o quarteirão. E vocês não vão acreditar… Eu fui convidado para dar o meu depoimento, também! Achei mó legal! E agora, depois de ver tudo aquilo e conhecer as pessoas que trabalham e frequentam esses lugares, estou mais do que convencido: não podemos deixar a prefeitura cometer esse crime contra o patrimônio do meu bairro e da minha cidade. Vamos lutar até o fim!

Antes de começar o passeio eu conversei com o pessoal da produtora para combinar o meu depoimento.

– Quem é você?

– Meu nome é Heitor, tenho 12 anos, moro no bairro, frequento a biblioteca, gosto muito de ler e tenho um blog.

– Legal! Quero conhecer o seu blog.

Ele olhou o meu blog, achou muito bacana, mas fez um comentário

– Pena que você não é um personagem animado, seria melhor para gravar o seu depoimento…

– Sou animado, sim, principalmente se for pra defender a minha biblioteca!

– Não é desse tipo de animação que eu estou falando, essa eu já percebi que você tem de sobra.

Fiquei confuso, não sei como eles vão gravar o meu depoimento e se ele será animado. Da minha parte podem ter certeza que o ânimo estará garantido.

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