Li um livro do Paul Auster

– Vou à livraria. Quer ir comigo, Heitor?

Meu pai sabe que esse tipo de convite eu sempre aceito.

– Claro que eu quero, pai. Vambora!

No caminho fomos conversando e ele me perguntou um monte de coisas e quis saber do blog.

– E o clube de leitura, vai sair, mesmo?

– Oh se vai. Eu já li o primeiro livro. Só estou esperando o pessoal da Sintaxe me avisar quando eu posso colocar o post. Assim que os alunos da escola terminarem de ler eu publico. Eles estão se revezando na leitura.

– E quando eles vão terminar?

– Até o final da semana. Eles também vão fazer rodas de leitura e conversar sobre o livro.

– E até lá você não vai escrever nada no blog?

– Então, eu vou dar uma olhada na livraria… Se eu encontrar um livro legal, você compra pra mim.

– Tudo bem, eu compro. Você merece!

– OBA!!!

– E os brindes para sortear, eles conseguiram?

– O pessoal me disse que uma empresa de material escolar já deu três kits e que duas escritoras prometeram dar uns livros para sortear. Depois eles vão me passar o nome da empresa e das escritoras para eu colocar no blog.

– Que bom! Está dando tudo certo, não é mesmo, Heitor?

– Se tá!

Chegamos na livraria, meu pai foi para a seção dele e eu fui para a seção dos juvenis. Comecei a fuçar nas estantes e vi um livro de um autor que eu já tinha ouvido falar. Peguei o livro, dei uma folheada e corri para falar com o meu pai.

– Pai, esse não é aquele escritor que você gosta e viu na Flip?

– Sim, é o Paul Auster.

– E ele escreve livro juvenil? Eu peguei lá na estante dos juvenis…

– Deixa-me ver. Contos de Natal de Auggie Wren. Eu não conhecia… Capa dura, tem ilustrações… É, parece juvenil. Vamos perguntar para a vendedora.

Voltamos para a seção dos juvenis e eu perguntei pra moça.

– Esse livro é juvenil?

– Sim, ele está classificado como juvenil. É um conto de Natal do Paul Auster, uma história muito bonita. É para você?

– É.

– Quantos anos você tem?

– Doze.

– Pode levar. Você vai gostar.

Contos de Natal de Auggie Wren, escrito por Paul Auster, com ilustrações de Isol e publicado pela editora Companhia das Letras, conta uma história bem legal. O jornal The New York Times convidou o Paul Auster para escrever um conto para ser publicado no dia de Natal. Ele pensou em dizer não, mas a pessoa insistiu tanto, que no final da conversa ele disse que ia tentar e logo depois entrou em pânico. “O que eu sei de conto de Natal? O que eu sei sobre escrever contos por encomenda?” Ele tinha medo que o seu conto ficasse muito sentimental, mentiroso e cheio de “bobagens melosas”. Ele não queria escrever uma coisa assim e foi salvo pelo seu amigo Auggie Wren, que trabalhava numa tabacaria aonde o Paul Auster ia com frequência. “Um conto de Natal?” Disse o amigo a ele. “É só isso? Se me pagar um almoço, vou contar para você a melhor história de Natal que já ouviu. E garanto que cada palavra dessa história é pura verdade.” Foi o amigo que contou a história que ele conta neste livro.

A história começa mais ou menos assim. Era o verão de 1972 e um rapaz apareceu e começou a roubar as coisas da loja onde o amigo de Paul Auster trabalhava. O rapaz estava na frente da estante de livros enchendo os bolsos de sua capa de chuva. Quando Auggie percebeu o que o rapaz estava fazendo, ele gritou, o rapaz pulou e saiu correndo pela avenida. Ele ainda correu atrás por meio quarteirão, mas depois desistiu. Quando voltou à loja viu que o rapaz havia perdido sua carteira. Não tinha dinheiro, mas tinha sua carteira de motorista e quatro fotografias. Ele podia ter chamado a polícia e mandado prender o rapaz, pois na carteira de motorista tinha o seu nome, Robert Goodwin e o endereço. Mas ele ficou com um pouco de pena do rapaz. “Não passava de um vagabundo de rua.” Numa das fotos da carteira ele estava de pé, com os braços por cima da mãe ou da avó em outra com nove ou dez anos de uniforme de beisebol. Ele ficou comovido. “Um garoto pobre do Brooklyn que vivia comendo o pão que o diabo amassou, e afinal por que dar tanta importância assim a dois ou três livros de bolso à toa?”

Então Auggie ficou com a carteira e de vez em quando vinha o impulso de devolver a carteira para o rapaz, mas ele vivia adiando e nunca fazia nada. Aí veio o Natal e ele não tinha nada para fazer. Estava de manhã em casa, sozinho e sentindo um pouco de pena dele mesmo. Viu a carteira de Robert Goodwin em cima de uma prateleira na cozinha e pensou: “Que diabo, por que não fazer uma coisa boa só para variar.” Daí ele vestiu o casaco e saiu pessoalmente para devolver a carteira. Agora, o que acontece depois eu não vou contar. Não quero estragar a surpresa de quem ainda não leu este livro. Só posso adiantar um trecho, quase no final do livro, em que o Paul Auster começa a desconfiar que o amigo inventou essa história, mas ele sabia que se o amigo tivesse inventado, mesmo, nunca iria confessar. E então ele concluiu: “Enquanto houver uma pessoa que acredite, não existe história que não possa ser verdadeira”.

Paul Auster nasceu em 1947, em Newark, Nova Jersey, nos Estados Unidos. Estudou literatura francesa, inglesa e italiana na Universidade de Colúmbia, em Nova York. Viveu em Paris de 1971 a 1975. Voltou para Nova York e se mudou em 1980 para o bairro do Brooklyn, onde vive e trabalha até hoje. Poeta, romancista, roteirista de cinema, tradutor, e crítico de cinema e literatura, tem diversos livros publicados.

Isol nasceu em 1972, em Buenos Aires, a capital da Argentina. É ilustradora e autora de livros para crianças, e recebeu muitos prêmios. Em 2006 e 2007, foi finalista do prêmio de literatura infantojuvenil Hans Christian Andersen, um dos mais importantes do mundo.

Vamos à Flip

Eu já falei aqui um pouco da Flip. A Flip é uma festa literária que acontece todo ano na cidade de Paraty. Vai um monte de escritores famosos, brasileiros e estrangeiros. Meus pais já foram lá e neste ano vão de novo. E eu vou também!!! Será no mês que vem, de 6 a 10 de julho. Os amigos dos meus pais, com quem brincamos de FLIP nas férias e eu contei aqui no blog (http://blogdoleheitor.sintaxe.com.br/?p=674), também vão. Eu vi a programação na internet, além da Flip, também tem a Flipinha e a Flipzona de literatura infantil e juvenil. Alguns escritores que eu conheci na Bienal estarão lá. Quero conversar com eles e contar aqui no blog..

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