Hoje, além dos livros do Caio Riter, vou falar da minha luta política, que tem dois eventos importantes nos próximos dias, e também do clube de leitura, que já tem comentários no post de alguns alunos da escola
Outro dia eu falei aqui da FELIT, uma feira literária que aconteceu em agosto, na cidade de São Bernardo do Campo. Eu estive lá e conheci um monte de escritores. Um deles foi o Caio Riter. Eu já tinha lido um livro dele, As luas de Vindor, que eu contei aqui, e ele deixou um comentário bem bacana, quando eu comecei a fazer o blog. Eu assisti a uma palestra do Caio lá na FELIT, ele falou que os personagens dos seus livros sempre têm que ter algum sofrimento e contou como inventa as suas histórias. Ele disse que uma vez ouviu uma frase de um aluno – o Caio também é professor – que disse para os pais que o adotaram: “Vocês mudaram a minha história.” Ele gostou tanto dessa frase, que escreveu um livro a partir dela. O livro se chama O rapaz que não era de Liverpool. Eu ganhei esse livro e peguei um autógrafo do Caio. Ele escreveu uma dedicatória bem legal pra mim: “Ao Heitor, que já é meu leitor, desejando que este tanto de dor possa suscitar momento de amor aos livros. Abração. Caio.” Eu li o livro, adorei e vou falar dele aqui.
Mas antes vou contar outra história: Um dia desses, eu estava na livraria com o meu pai e encontrei outro livro do Caio Riter, que eu não conhecia. O livro se chama A cor das coisas findas. Tirei o livro da estante e li o que estava escrito na capa: “Uma biblioteca ameaçada. Esse é o motivo que leva um grupo de jovens a descobrir o mistério que cerca o desaparecimento de parte da história da cidade, e revela o valor da leitura e a importância que os livros podem ter.” Parecia a minha história! Minha biblioteca também está ameaçada, se derrubarem o quarteirão onde ela fica, parte da história da minha cidade também vai desaparecer… Pensei. Preciso ler esse livro! Já sei. Vou ler O rapaz que não era de Liverpool, leio este também e vou falar de dois livros do Caio Riter no blog. Já tinha até pensado no título do post: “Li dois livros do Caio Riter”, até que o pessoal da Sintaxe me ligou.
– Tudo bem, Heitor? Como anda a sua luta política?
– Tudo… Ela está na fase decisiva e vai ter dois eventos importantes. Na quinta-feira, dia 1º, vamos fazer uma caminhada pelo bairro para comemorar o aniversário de um ano da nossa luta. A gente vai se encontrar na esquina da avenida Faria Lima com a Juscelino Kubitschek, às 11h30. Apareçam lá pra ajudar a gente.
– Vamos, sim. E o outro evento qual é?
– Este vocês não podem faltar… No dia 5 de dezembro vai ser a nossa apresentação no Condephaat. Vamos lá torcer e mostrar para os conselheiros que tem muita gente que quer proteger o quarteirão. Se o Condephaat tombar o quarteirão, a minha biblioteca, o teatro, as duas escolas, a creche, as duas unidades de saúde e a Apae estarão protegidos para sempre.
– Estaremos lá.
– Convida mais pessoas pra gente encher o Condephaat.
– Pode deixar… Nós vamos, mesmo, e vamos arrastar mais pessoas. Pode contar com a gente. E o clube de leitura, como está?
– Tá bombando! Os alunos já colocaram uns comentários. Dá uma olhada lá no post… a professora Rose disse que vai ter mais.
– Legal! E qual vai ser o próximo post?
– Eu li dois livros do Caio Riter e vou falar deles.
– Do Caio Riter?!
– Sim, eu até já tenho o título do post. “Li dois livros do Caio Riter”.
– Acho que você vai ter que mudar o título desse seu próximo post.
– Por quê? Vocês não gostaram? É muito óbvio, não é?
– Gostamos, mas é que nós temos aqui um livro do Caio Riter que acabou de sair pela Editora Biruta e estávamos pensando em mandar pra você.
– É mesmo? Qual é o nome do livro?
– Eu e o silêncio do meu pai. Nesse livro ele conta um pouco da história dele e mistura realidade com ficção.
– Gostei! Quero ler. Pode mandar que eu mudo o título do post para “Li três livros do Caio Riter”. Tá bom assim?
– Está ótimo!
O rapaz que não era de Liverpool
“- Não, Marcelo, você não nasceu de mim! Ela disse. Falou o que eu queria-temia escutar. Falou. As palavras foram claras. Sem sombras. Sem dúvidas. A confirmação ali, naquela frase tão simples. Tão. Não era minha mãe. Não era. E, no entanto. Estendeu a mão. A mão que muito carinho já me fizera. A mão. Tremia? Queria ser toque. Acarinhar meu cabelo, daquele jeito calmo que eu tanto gosto. Gostava. Leve toque em meu braço. Fugi.” Assim começa o livro O rapaz que não era de Liverpool, publicado pela Editora SM e que ganhou o prêmio Barco a Vapor em 2005.
Marcelo tinha sido adotado pelos seus pais e não sabia dessa parte da sua história. Era o filho mais velho, depois dele a mãe teve a Maria e o Ramiro. Ele gostava dos Beatles – aprendeu com o pai – e no seu quarto tinha a foto da capa de um disco, em que eles aparecem atravessando uma rua de Londres. “Se os rapazes de Liverpool eram quatro, nós éramos cinco.” O Marcelo duplicou o Paul McCartney e colocou o rosto de todos da sua família, na ordem, seu pai, Pedro Paulo; sua mãe, Inês; ele; sua irmã Maria; e o seu irmão mais novo, o Ramiro.
Ele começou a desconfiar que não tinha nascido da sua mãe, quando aprendeu a Lei de Mendel na escola. (Eu fui pesquisar e entendi mais ou menos como é essa lei. As ervilhas amarelas e as ervilhas verdes.) Um dia o professor perguntou se filhos de pais de olhos azuis poderiam nascer com olhos castanhos. O Marcelo respondeu que sim, pois ele tinha olhos castanhos e seus pais, azuis. O professor disse que estava errado: “- Olhos azuis são recessivos.” Ele foi confirmar com sua mãe e soube toda a verdade. “Só hoje, a desconfiança se faz certeza: os garotos de Liverpool são quatro. Apenas quatro. Eu não sou de Liverpool.” O Marcelo recortou sua foto do quadro e sofreu muito para entender essa sua história.
A cor das coisas findas
A cor das coisas findas, publicado pela Editora Artes e Ofícios, que ganhou o Prêmio Açorianos de Literatura de melhor livro infantojuvenil em 2004 conta a história de Eduarda, Carlo, Pedro, Beatriz e Dante, que estudavam na mesma escola. Eles tinham uma professora chamada Liana, que sempre entrava na sala com uma sacola de brim, decorada com flores e cheia de livros. Livros de todos os tamanhos, de prosa e de poesia. Ela era apaixonada por livros. Na aula lia poesias, trechos dos livros e passava alguns desafios para a classe descobrir pesquisando na biblioteca.
A biblioteca da cidade ficava num prédio antigo e enorme. Tinha dois pisos e um pequeno sótão. Ficava no centro e disputava espaço com construções modernas. “A cidade começava a perder sua cara de interior, sobretudo pelo progresso que o prefeito dizia estar executando.” Na biblioteca trabalhava a dona Santinha, que era a bibliotecária e o Tirésias, que era o porteiro e dizia coisas muito estranhas. O prefeito sempre estava por lá, acompanhado da sua secretária conversando com dona Santinha. Ninguém sabia o que eles tanto conversavam.
O prefeito era novo na cidade. Chegou, montou uma construtora, deu emprego para um monte de gente e virou prefeito. Nas visitas à biblioteca, a turma começou a perceber coisas estranhas. Do sótão eles observavam que a cidade, aos poucos, ia sumindo. O rio, a planície, até a igreja desaparecia. Foram investigar e descobriram um livro misterioso. Também revelaram a verdadeira identidade do prefeito e ficaram sabendo que ele ia derrubar a biblioteca para construir um shopping center. Vou pedir ajuda pra turma desse livro do Caio Riter pra defender a minha biblioteca, quem sabe a gente não descobre algumas coisas por aqui, também, e salva a nossa biblioteca.
Eu e o silêncio do meu pai
Quem conta a história do livro Eu e o silêncio do meu pai, que foi publicado pela Editora Biruta, fala como se fosse a sua própria história, parte dela é contada na primeira pessoa. O menino nasceu no dia 24 de dezembro e sua mãe sempre lhe dizia que ele foi o melhor presente de Natal que ela ganhou. O Caio Riter também nasceu no dia 24 de dezembro, em Porto Alegre, que é a cidade onde se passa essa história. Sobre isso ele diz que este livro “traz algumas das minhas verdades, pintadas um pouco com as tintas da fantasia.”
O menino conta a história de sua relação com o pai. “Poucas palavras ouvi do meu pai e o mais estranho disso tudo é que – embora poucas – não me recordo delas. Um homem feito de não verbos.” O pai bebia e o menino sofria com isso. Quando ele estava bêbado, o menino sentia vergonha, e quando estava sóbrio, o pai parecia triste e não dizia uma palavra. Uma vez a professora perguntou ao menino: – Se pudesse mudar algo em sua família, você mudaria o quê? O menino: Eu fazia o meu pai parar de beber. A mãe contou para o pai e essa foi a primeira vez que ele viu o pai chorar.
O menino que já adorava os livros não gostava das férias, pois a biblioteca da escola fechava e ele ficava “em casa, sem livros, sem viagens, um ou outro domingo na casa do tio Jorge, tão pobre quanto eles”. E o retorno às aulas também não agradava o menino. Não pelas aulas, mas pelo tema da redação: “Minhas férias”. Nessa hora o menino inventava umas aventuras no sítio do avô: andar no cavalo alazão, pescar lambari no açude, tomar banho de rio, colher frutas no pomar, o pai firme, carregando o filho na cacunda e contando as mais incríveis histórias. O menino, que depois virou escritor, acha que foi aí, nessas redações fantasiadas, que começou o seu desejo de escrever.
Caio Riter é um escritor muito premiado, nasceu e vive em Porto Alegre. Ganhou os prêmios Açorianos, Barco a Vapor, Orígenes Lessa e Selo Altamente Recomendável da FNLIJ. É professor, mestre e doutor em Literatura Brasileira pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Faz palestras e dá cursos de capacitação de professores.