Editora nova e novo amigo escritor

Outro dia fui ao lançamento de um livro da minha amiga escritora e ilustradora Aline Abreu. O livro dela se chama Menina Amarrotada, e conta a história da relação de uma menina com o seu pai. Essa história que a Aline escreveu e ilustrou, às vezes, é um pouco triste – que é quando a menina fica amarrotada, mas é muto bonita. Ganhei o livro e ainda peguei um autógrafo da autora. Já li e adorei.

Esse livro foi publicado pela Jujuba, a editora da minha outra amiga, a Daniela, que também estava lá. O lançamento foi bem gostoso e encontrei muitos amigos – a Raquel, a Lúcia, a Maria, a Sônia, o Cláudio, a Cecília, o Peter, e a Gizele e o Manu, que contaram a história do livro, e ainda conheci a Silvia Fernandes, que também tem uma editora, a Dedo de Prosa. Tudo isso graças ao meu blog. Depois que comecei a fazer este blog, conheci tanta gente legal!

No final conversei com a Silvia, ela me falou de um escritor que ela gosta muito e disse que eu precisava conhecer, o Gil Veloso. Ele tem dois livros publicados pela Dedo de Prosa, O menino arteiro e A pedra encantada. Ela me deu os livros, li e também virei fã deste escritor. Já fui a um bate-papo com ele, peguei autógrafo, o conheci pessoalmente, e hoje vou falar dos seus livros, mas antes vou contar duas novidades dos nossos clubes de leitura.

Coletiva de imprensa nos clubes de leitura

Os dois próximos livros dos nossos clubes de leitura serão Os herdeiros do Lobo, de Nelson Cruz, que vamos ler com os alunos das professoras Luciana e Ana Paula, de Belo Horizonte, e O gênio do crime, de João Carlos Marinho, que será lido com os alunos do professor Carlos, de São José dos Campos. A novidade é que vamos entrevistar os autores, sim, vamos, eu e os alunos das escolas. Vou mandar as perguntas por e-mail e publicar a entrevista nos posts dos livros.

O pessoal da Sintaxe me disse que o que vamos fazer é uma “coletiva de imprensa”. Não é legal?! Vamos ter coletiva de imprensa no blog! Já mandei e-mail para os dois autores e eles concordaram em dar a entrevista. O Nelson Cruz, que eu já conhecia – o encontrei na entrega do prêmio Jabuti – nos agradeceu por fazer esse trabalho com o seu livro. O João Carlos Marinho, que a Silvia da Dedo de Prosa me passou o contato, retornou dizendo que será um prazer responder as nossas perguntas.

Um escritor que brinca com as palavras

Gilmar França Veloso é o seu nome completo. Foi o escritor Caio Fernando Abreu, que o batizou de Gil Veloso, misturando o nome dos dois compositores baianos. Gil Veloso foi amigo, confidente e secretário de Caio Fernando Abreu, e também trabalhou com outros dois escritores importantes, o João Silvério Trevisan e a Lygia Fagundes Telles. Também conheceu Hilda Hilst, que uma vez o convidou para morar em sua casa, a Casa do Sol, em Campinas.

Ele conheceu esses escritores muito antes de começar a mostrar seus textos e publicar livros. Convivia diariamente com a Lygia Fagundes Telles e ela só foi descobrir que ele escrevia no dia do lançamento de seu primeiro livro, o Fábulas Farsas, que, inclusive, traz um conto inspirado em uns cupins que naquele tempo apareceram na casa da Lygia. Eu li esse conto e gostei muito! O Gil adora brincar com as palavras e buscar os seus diversos significados. Foi o que ele fez nesse conto e também nos dois livros que li e que vou contar aqui.

A pedra encantada, escrito por Gil Veloso, com ilustrações de Nara Amelia e publicado pela Dedo de Prosa conta a história de Pedrita, uma menina que colecionava pedras. Na verdade, Pedrita era seu apelido, seu nome era outro, que a gente só descobre no final do livro, e que tem tudo a ver com as coisas que acontecem nessa história. Pelo menos foi o que eu entendi, perguntei ao Gil Veloso se era isso mesmo e ele me disse que não pensou assim quando escreveu o livro. É engraçado isso! Tem histórias que cada um entende de um jeito diferente (diferente até de quem escreveu), por isso que é bom conversar sobre os livros e fazer clubes de leitura. Uma vez eu ouvi dizer que quando o escritor publica seu livro, o livro deixa de ser do escritor e passa a ser do leitor. Então, na parte que me cabe deste livro do Gil Veloso, a história acontece do jeitinho que eu entendi, e pronto.

Desde pequena a menina gostava de pedras, tinha uma porção delas, de cores, formatos e tamanhos variados. Para qualquer lugar que fosse, sempre trazia uma lembrança, ao menos uma pedrinha. Todos na família pensavam que ela era “louquinha de pedra” e queriam que ela parasse com aquela mania. O seu quarto (“quartzo” como dizia o irmão, que vivia lhe zoando) parecia uma pedreira, não havia espaço pra mais nada. Além das pedras que pegava por aí, também ganhava de presente, algumas sujinhas, outras embrulhadas em papel de seda, com fitas, caixinha e tudo, como se fosse uma joia. Pedrita não era elegante e nem bonita, como os especialistas costumam classificar, mas tinha seu estilo. Ela também escrevia e Pedro, seu ex-namorado, achava seus textos bicho-grilos demais. E a história segue, com a Pedrita se transformando e enfrentando todas as pedras de seu caminho.

O menino arteiro, escrito por Gil Veloso e publicado pela Dedo de Prosa faz uma homenagem ao artista Guto Lacaz, apresenta alguns de seus trabalhos e conta uma história bem legal. Este livro é outro exemplo daqueles que a gente entende uma coisa, mas que pode ser outra, e neste caso, é outra, mesmo. Eu pensei que fosse uma pequena biografia do Guto Lacaz quando menino, mas a história contada é pura invenção de Gil Veloso. A história começa assim, como no livro anterior, com o autor brincando com as palavras e buscando outros significados.

“Era, desde pequeno, um artista verdadeiro. Estava sempre ocupado com coisas, troços, trecos e cacarecos, fazendo dos objetos gato-sapato, parecia possuído pelo bicho-carpinteiro. Quando bebê já se notava, tinha parafuso a menos. Ou a mais? Até seu choro continha algo diferente, gutural, parecia chorado de trás pra frente. Mal começou a engatinhar já tentava correr, quebrando recordes e coisas que estavam em seu caminho. Tão logo aprendeu a falar fazia perguntas sobre perguntas sem deixar espaço para as respostas. Isto quando não respondia ele mesmo; às vezes a pergunta já vinha com a resposta embutida. (…) Assim o menino, arguto e loquaz, vivia aprontando, xeretando por todas as partes, o tempo inteiro fazendo artes.”

Gil Veloso contou numa entrevista que deu para o site Estudos Lusófonos (http://etudeslusophonesparis4.blogspot.fr/2013/05/o-novo-so-e-possivel-no-olhar-do-leitor.html): “O Menino Arteiro nasceu de uma brincadeira-homenagem ao Guto, artista que muito admiro, pencas e quilos; era apenas um agrado, não pretendia se tornar livro, tampouco ilustrado. Mas aí o Guto gostou e pediu para expor no blog… Eu, que nem sabia que ele tinha isso, considerei então a possibilidade de editar. A Silvia Fernandes topou e fez-se book, pela editora Dedo de Prosa.”

Gil Veloso nasceu no Paraná e vive em São Paulo desde 1983 . Além de O menino arteiro e A pedra encantada, escreveu o livro de contos Fábulas Farsas e também o Travessuras, histórias para anjos e marmanjos. Publicados pela editora Ópera Prima, estes dois foram premiados pelo PROAC – Projeto de Ação Cultural da Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo – concurso de apoio a projetos de publicação de livros. Fábulas Farsas também foi selecionado pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil para o catálogo da Feira de Bolonha em 2010.

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Manifestação, lutas e livro sobre livros

– Pai, posso ir à manifestação de hoje?

– Eu não posso te levar…

– Eu vou com o Lipe, vai ser aqui perto, no largo da Batata. Deixa, vai…

– Tudo bem, mas toma cuidado…

– Pode deixar, hoje a passeata vai ser tranquila, li no jornal.

E foi tranquila, mesmo! Uma multidão se encontrou no largo da Batata, em Pinheiros, e caminhou pela Faria Lima. Eu e o Lipe fomos no meio dessa multidão, gritando as palavras de ordem, principalmente as que eram contra o aumento do busão e pela educação. Eu nunca tinha participado de uma passeata tão grande! Seguimos com ela até aqui, no nosso bairro, depois, uma parte desceu pra marginal e a outra subiu pra Paulista, e nós voltamos pra casa, com nossa missão cumprida. Além de melhor amigo, o Lipe é meu companheiro de luta.

Todos já devem ter lido um monte sobre as manifestações, não se falou em outra coisa na semana passada. Eu estou contando isso também, só pra dizer que estive lá, e que não acordei agora, como disseram por aí. Quem acompanha meu blog, sabe disso. Sei de muita gente que luta desde a ditadura, algumas, até antes. É injustiça com essas pessoas dizer que o “gigante acordou”. Estamos acordados há muito tempo, apesar de só ter 12 anos, minha luta política também é antiga.

Lutei contra o prefeito da minha cidade, que queria derrubar a biblioteca do nosso bairro, essa luta foi vitoriosa, derrotamos o prefeito e protegemos a nossa biblioteca do ataque da especulação imobilária. Agora estou participando de uma luta maior, a luta pela implantação do PMLL na cidade de São Paulo. PMLL quer dizer Plano Municipal do Livro e da Leitura, eu já falei dele aqui no blog. Nesta semana participei de uma reunião para organizar um grande encontro e discutir o PMLL.

Esse encontro vai acontecer no próximo dia 13 de setembro no Centro Cultural São Paulo e vai reunir as pessoas que trabalham com livro, leitura e biblioteca ou simplesmente interessadas nesses assuntos. Em breve vou fazer um post especial pra falar disso. Cida Fernandes, coordenadora executiva do Centro de Cultura Luiz Freire, que participou da elaboração do PMLL em Pernambuco, estava nessa reunião e contou pra gente como foi a experiência de lá. Conversei com a Cida no final da reunião, ela conhece a Rosinha, minha amiga escritora e ilustradora, que mora em Olinda. Ela é sua vizinha! Esse mundo é mesmo pequeno.

Clube de leitura

Vocês viram? O post anterior teve 147 comentários! Isso tudo foi graças ao sucesso do nosso clube de leitura com os alunos das professoras Luciana e Ana Paula, da Escola Municipal Luiz Gatti, da cidade de Belo Horizonte, em Minas Gerais. Todos os alunos comentaram e contaram o que acharam do livro. Teve até comentário do autor, o Márcio Vassallo! E esse nosso clube ainda vai continuar, vamos ler outros livros, o próximo será Os herdeiros do Lobo, de Nelson Cruz.

Adoro fazer clube de leitura, com ele conheço um monte de gente que gosta de livro, assim como eu. Além do clube com a Luiz Gatti, estamos preparando outro, será com os alunos do professor Carlos, de uma escola municipal de São José dos Campos, interior de São Paulo. Até já escolhemos o livro, gênio do crime, de João Carlos Marinho. Vou conversar com o professor Carlos pra ver se dá pra gente falar desse livro, logo depois das férias, em agosto.

Três livros em um

Conheço um editor que faz coleção de livros que falam de livros. Também adoro esses livros! Sempre que descubro um que conta uma história que tem escritor, biblioteca ou qualquer coisa relacionada ao livro, já quero ler. Outro dia recebi um e-mail de uma editora – ela já tinha deixado um comentário no blog -, dizendo que estavam lançando um livro novo e me perguntou se eu teria “interesse em ler”. Junto, ela mandou um texto sobre o livro, dizendo que nele “o autor conduz o leitor por uma narrativa metalinguística que conta a história de dois livros que se encontram numa mesma estante, separados apenas por um Dicionário de Português.” Já gostei, de cara e respondi ao e-mail da editora. “Oi, Gabriela, por favor, me manda esse livro, que eu quero ler, adoro histórias assim”, e passei o meu endereço. Gabriela é o nome da moça da editora, ela já me mandou, li e adorei.

Bruno e Amanda: histórias misturadas, escrito por Pedro Veludo, ilustrado por Henrique Koblitz e publicado pela Editora Quatro Cantos conta uma história, misturando duas, que no final se transformam em três. É a história de dois livros, Os mapas de Bruno e O mistério do sumiço do sorriso da princesa Amanda. Como já tinha lido naquele texto, eles ficavam em uma estante, separados por um dicionário de português. Eram muito parecidos, os dois contavam histórias que não terminavam.

Os mapas de Bruno conta a história de um menino, que sonhava acordado e adorava inventar histórias. Ele sempre passava suas histórias para o papel e buscava palavras pra isso. Às vezes as palavras certas não apareciam e ele aproveitava outra, que passasse perto, ou inventava alguma. Bruno também colecionava mapas de lugares que acreditava existirem, mas que não eram muito fáceis de serem encontrados. Muitas vezes seus pensamentos iam longe, ele chegava até as últimas páginas de sua história e, nos breves momentos em que o dicionário não estava entre eles, conseguia enxergar a capa do livro de Amanda.

O mistério do sumiço do sorriso da princesa Amanda começa assim: “Numa manhã, pouco depois de acordar, o sorriso da princesa Amanda começou, bem devagarzinho, a sumir.” E não parou de sumir, a cada dia ela foi ficando cada vez mais triste. As pessoas ficaram com medo e não acreditaram no que viam: Como podia o sorriso da princesa estar sumindo? Ela sofria de um vazio no coração e sentia uma dor aguda e tão profunda, que não sabia explicar de onde vinha. Até que um dia seu sorriso sumiu de vez. Surgiram muitas explicações para o mal da princesa e as respectivas soluções salvadoras, mas nenhuma delas conseguia trazer de volta o seu sorriso. Depois de várias tentativas, o rei concluiu que o remédio poderia estar em outra história. Seu conselheiro, que só aparecia no final, preocupado com a princesa, caminhou até as primeiras páginas do livro.

Então, numa noite, em que o dicionário de português não foi devolvido à estante, não foi colocado no lugar entre os dois livros, as duas histórias sem finais se encontraram e formaram uma terceira, com muitos finais imaginados.

Além desse, também ganhei da Editora Quatro Cantos, outro livro de Pedro Veludo, Da guerra dos mares e das areias – fábula sobre marés, ilustrado por Murilo Silva. É uma história bonita que junta mar, areia, búzios, lua, e depois dessa guerra se formam os golfos, as enseadas, as ilhas, as penínsulas e as praias.

Pedro Veludo nasceu na cidade do Porto, em Portugal, foi ainda criança para Moçambique, onde cresceu, se formou em Engenharia de Telecomunicações, fez teatro e teve um conjunto musical. De lá veio para o Brasil, onde reside atualmente. Cursou Formação de Ator na UNI-RIO e, em 1986, abandonou a engenharia para se dedicar a escrever. Tem textos de teatro premiados pelo INACEN e teve peças montadas no Brasil, México, Portugal e EUA. Além de Bruno e Amanda: histórias misturadas e Da guerra dos mares e das areias – fábula sobre as marés, é autor de vários livros infantojuvenis, crônicas, um romance para adultos (A sétima maldição), e roteiros para jogos educativos em CD-ROM. Seu livro Viagens de Raoni ganhou o Prêmio FNLIJ – O Melhor para Criança, em 1990.

Henrique Koblitz desenha intensamente desde os catorze anos. Trabalha como designer gráfico,ilustrador e editor gráfico, criando interfaces para jogos de celulares. Participa de vários projetos culturais ligados à arte visual, como o “Olho de Bolso”, patrocinado pela Fundação de Cultura da Cidade do Recife, que já lançou 22 artistas gráficos, e o “Na Rua!”, exposição de diversos quadrinistas do Recife no formato de pôsteres urbanos (lambe-lambes) espalhados pelos muros da cidade.

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A professora encantadora no clube de leitura

Como já havia anunciado, hoje vamos inaugurar um novo clube de leitura no blog. Esse clube será feito com alunos do 6º ano, da Escola Municipal Luiz Gatti, da cidade de Belo Horizonte, em Minas Gerais. Quem está coordenando o clube, lá na escola, são as professoras de Língua Portuguesa, Luciana e Ana Paula – já contei aqui, como conheci a professora Luciana e como surgiu a ideia de fazer o clube. No total, vão participar 170 alunos, aproximadamente.

Hoje vou publicar o post do primeiro livro do nosso clube: A professora encantadora, de Márcio Vassallo, ilustrado por Ana Terra. Nos próximos dias, aos poucos, os alunos vão deixar, aqui, os comentários sobre suas leituras. A professora Luciana me contou que eles já leram, conversaram e desenvolveram algumas atividades em sala de aula. Depois quero saber tudo o que eles fizeram.

Roda de conversa

Eu li no site da editora, a Abacatte Editorial, algumas sugestões de temas para conversar sobre esse livro e chamei o meu amigo Felipe, o Lipe, pra fazer uma “roda de conversa”. O Lipe sempre me ajuda nos clubes de leitura, já falei dele aqui no blog, é o meu melhor amigo, a gente mora na mesma rua e estuda na mesma escola. Antes ele me chamava de Heitor, mas depois que apareceu esse apelido na escola, ele também me chama de Le.

– Gostei da história desse livro, Le. Me lembrou daquela nossa professora do 5º ano, a professora Rose. Você se lembra dela?

– Claro que eu me lembro, Lipe. Ela era maior legal! Era apaixonada pelo escritor Bartolomeu Campos de Queirós. Eu já falei dela no blog, no post que fiz sobre o Bartolomeu.

– Sabe Le, acho que foi ela que me ensinou a gostar de leitura. Ela falava dos livros, dos escritores e das histórias de um jeito tão gostoso, que dava maior vontade de ler.

– Ela dizia que ler era a coisa mais gostosa da vida! Lembra?

– Claro que eu lembro.

Adorei o livro A professora encantadora, a história é muito bonita e emocionante. Na roda de conversa com o Lipe, além de lembrar da nossa professora, conversamos sobre o livro e descobrimos muitas coisas. Por enquanto, só vou contar um pouco da história do livro, depois, nas respostas aos comentários, vou revelando as nossas descobertas.

Uma professora diferente

A professora encantadora, de Márcio Vassallo, ilustrado por Ana Terra e publicado pela Abacatte Editorial conta a história da professora Maísa, que “olhava para tudo com olho de assombro e estranheza.” Suas aulas eram assombrosas, estranhas e surpreendentes, e ela se derretia de amor pelas palavras, pelas frases e pelos livros.

Mas o que ela mais gostava era de gente, dos seus alunos. Suas aulas eram muito estranhas. Dava aula de esticar suspiros, por exemplo, e a classe inteira suspirava com ela. Nessas aulas ela pendurava um aviso na porta: “Não entre agora. Estamos suspirando.”

Outra aula estranha da professora Maísa era a que ela ensinava a catar perguntas novas dentro das histórias, das pessoas e de outros lugares. A Maísa dizia que pergunta nova é aquela que desdobra seus alunos por dentro, e ela gostava de desdobrar gente por dentro. A professora Maísa também ensinava a diminuir medos no coração, dividir silêncio na frente de uma beleza e multiplicar poesia no pensamento.

Com isso, seus alunos aprendiam muitas coisas, que naquela escola, só ela sabia ensinar. Mas nem todo mundo aprovava as aulas de Maísa, alguns diziam que ela não preparava os alunos para o futuro. Os alunos adoravam, principalmente um, o mesmo que conta essa história pra gente.

Márcio Vassallo é jornalista, escritor e faz palestras e oficinas sobre educação e formação de leitores. Foi repórter dos jornais O Globo e Tribuna da Imprensa, colaborador da Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo e Jornal do Brasil, editou o jornal literário Lector e colaborou com as revistas Você S/A, Crescer e Leituras Compartilhadas. Além de A professora encantadora, publicou Mario Quintana (biografia), Mães: o que elas têm a dizer sobre educação, A princesa Tiana e o sapoGazé,O príncipe sem sonhos, Valentina, A fada afilhada, Da minha praia até o Japão, O menino da chuva no cabelo e Minha princesa africana.

Ana Terra é ilustradora, escritora e contadora de histórias. Tem mais de quarenta livros publicados e suas ilustrações participaram da 5ª e da 6ª Traçando Histórias e da Bienal de Ilustrações Bratislava 2009. Também receberam o selo de Altamente Recomendável pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juveni (FNLIJ).

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Uma sugestão e dois clubes de leitura

Hoje vou falar de uma sugestão de leitura que recebi da professora Luciana: Papel-manteiga para embrulhar segredos: cartas culinárias, de Cristiane Lisbôa. A Luciana é professora de Língua Portuguesa em Belo Horizonte e leu esse livro com seus alunos. Ela disse que “amou” o livro e que a autora conversou com os alunos dela pelo skype.  A professora Luciana conheceu meu blog quando foi trabalhar com o livro Carol, em sala de aula, leu a postagem que fiz aqui sobre as histórias em quadrinhos do Laerte e deixou um comentário.

Mas antes de falar desse livro, vou anunciar dois novos clubes de leitura que vamos fazer aqui, em breve. Um será com os alunos do professor Carlos, de São José dos Campos. Conheci o professor Carlos, pessoalmente, na Bienal do Livro. Além de professor, ele também é escritor e eu já falei de um livro dele aqui no blog, o Jogadas bem-assombradas da série Histórias da Lua-Cheia. Depois desse, ele já publicou outro da mesma série: O dia em que tentaram virar os pés do Curupira, que ainda não li, mas quero ler!

O professor Carlos sugeriu um título bem legal pra gente ler no clube, O Gênio do Crime, de João Carlos Marinho. Ele disse que leu O Gênio do Crime aos 12 anos de idade e foi um dos livros que o incentivou à leitura. O meu amigo Lipe já está lendo, ele sempre me ajuda nos clubes de leitura, lê também e depois conversamos, antes de eu publicar o post. Aprendi isso com a professora Rose, que fazia rodas de conversa com os alunos. Aqui, eu faço minha roda com o Lipe.

O outro clube de leitura que vamos fazer será com os alunos da professora Luciana, de Belo Horizonte, a mesma que me deu a sugestão do Papel-manteiga para embrulhar segredos. Quando a professora Luciana deixou o comentário no blog, alguns alunos dela também comentaram e disseram que minhas postagens tinham ajudado na leitura dos livros. Teve uma que disse até que o post lhe ajudou tanto, que achava que ia tirar nota dez no trabalho.

Fiquei muito feliz com os comentários, perguntei quais seriam os próximos livros que iriam ler, dei a ideia do clube de leitura e pedi a eles que conversassem com a professora. No final, troquei e-mails com a professora Luciana, ela gostou da ideia e sugeriu uma lista de livros para o nosso clube de leitura. Vamos começar pelo A professora encantadora, de Márcio Vassallo, ilustrado por Ana Terra e depois vamos ler Os herdeiros do Lobo, de Nelson Cruz.

Romance epistolar

Papel-manteiga para embrulhar segredos: cartas culinárias, de Cristiane Lisbôa, publicado pela editora Memória Visual é um romance epistolar, em que a história é contada por meio de cartas. Epístola é carta em latim. O livro tem também receitas culinárias escritas pela gastrônoma e redatora publicitária Tatiana Damberg.

Pesquisei e descobri que o objetivo do romance epistolar é dar maior realismo a história e que esse estilo teve seu auge nos séculos XVIII e XIX, com Montesquieu (Cartas persas), Samuel Richardson (Pamela), Honoré de Balzac (Memórias de duas jovens esposas), entre outros. Mas há romances recentes, como A cor púrpura (1982), de Alice Walker, e A caixa preta (1987), de Amos Oz, que também usaram essa técnica.

As cartas de Papel-manteiga para embrulhar segredos são escritas por Antônia e endereçadas a sua bisavó.

Bisa Ana

Estou em alguma parte do mapa. Não posso dizer qual, pelos motivos que nós duas sabemos. Espero eu, e imagino, espera a senhora, que estejamos fazendo a coisa certa. Chegamos de carro na casa onde também funciona o restaurante. É inteira de pedras com janelas enormes, que em alguns casos vão até o teto. Temos, cada uma, um quarto minúsculo. O único cômodo espaçoso e arejado da casa é a cozinha, o que era de se esperar. Tudo me assusta. Sobretudo ter que confiar apenas na minha memória “degustativa”. Senhorita Virgínia revisou minha mala e tirou de lá o gravador de fitas pequenas, os blocos, os lápis e meu relógio. Disse que não devolveria jamais, o que me causou péssima primeira impressão. (…) Se isso for um castigo divino por estar desobedecendo a Mamãe, imagino que será cumprido nos mínimos detalhes.

Já com saudades, Antônia

Antônia fugiu de casa para fazer um curso de gastronomia e não deixou carta alguma para sua mãe, foi aprender a cozinhar com a Senhorita Virgínia, num país onde nem sabia falar a língua. Ela tinha divergências com a mãe, que nunca a perdoou “por aprender a fazer bolo antes de entender o que significava submissão.” Sua mãe era professora universitária e não aprovava o fato de sua filha amar “o ambiente doméstico e, sobretudo, as cozinhas.” Antônia achava que isso não era uma vergonha e que para ser mulher moderna ela não precisava mentir que não gostava de panos de prato.

As cartas de Antônia para sua bisavó, que no final foram escritas em papel-manteiga, traziam no verso as misteriosas receitas da Senhorita Virgínia, escritas por Tatiana Damberg, e algumas lembranças curiosas e surpreendentes de sua professora.

Cristiane Lisbôa nasceu em Uruguaiana (RS), é escritora e, além de Papel-manteiga para embrulhar segredos: cartas culinárias, ela também publicou Pequenos pedaços soltos de histórias de amor às vezes verdadeiras (Fina Flor), que foi traduzido para o inglês e espanhol; Deles e quase o resto (Fina Flor), adquirido pela grife paulistana Madalena, que aplicou os contos em saias, vestidos e blusas de uma coleção chamada Literatura inclusa; Sylvia não sabe dançar (Mercuryo) e Duas pessoas são muitas coisas (Memória Visual). Ela edita um blog: www.cristianelisboa.zip.net

Tatiana Damberg é gastrônoma por vocação, desde pequena, quando acompanhava o pai à feira e decorava as tortas de sua mãe. Estudiosa de todas as coisas comestíveis, adora cozinhar e escrever a respeito. Além da paixão pelos sabores, gosta das palavras e trabalha com redação publicitária. Ela também edita um blog: www.mixirica.com.br

Contador zerado

Na quarta-feira passada, o contador de visitas do meu blog zerou sozinho. Ele já marcava mais de 43.200 visitas. A partir desse dia, ele registrava algumas visitas e zerava novamente. Agora, ele não está contando nada, não sai do número 1. Já reclamei, disseram que isso aconteceu, também, com outros blogs hospedados lá e estão tentando resolver o problema.

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A dura vida de um escritor

Martin Eden sofreu muito pra virar escritor e viver de literatura e quando, finalmente, conseguiu, já era tarde

Antes de começar a fazer este blog, achava que vida de escritor era uma maravilha. Ler, escrever e passear pelas feiras e bienais de livros, conversando com os leitores. Que vida poderia ser melhor do que essa? Mas depois que conheci, com meu blog, um pouco do mundo da literatura, descobri que a realidade é diferente do que eu imaginava, escritor também sofre. Sofre para publicar seu livro e depois que consegue uma editora, sofre para vender. A maioria dos escritores não vive só de literatura, muitos têm outras profissões, são jornalistas, professores, tem até médico escritor.

Não sei como arrumam tempo para escrever, devem escrever de madrugada ou nos finais de semana. Mas acho que o maior sofrimento, mesmo, é na hora de publicar o livro. Mandam o original para as editoras e tempos depois recebem de volta, com alguma observação do tipo: “o texto é bom, mas não tem o perfil da nossa editora”. As editoras também recebem tantos textos, que nem conseguem ler todos. Com o meu blog já conheci muitos escritores que sofreram para publicar seu livro, mas até hoje nunca tinha visto um escritor sofrer tanto como sofreu Martin Eden.

A primeira vez que ouvi falar de Martin Eden foi lendo o jornal. Martin Eden é o nome de um livro de Jack London. Li um artigo do escritor Sérgio Telles n’O Estado de S. Paulo, contando que ganhou esse livro de seu filho, que lhe presenteou, dizendo que a história o fez lembrar de quando era criança e via o pai “escrevendo, mandando originais para as editoras e aguardando suas respostas.” O Sérgio Telles se lembrava de Jack London das suas leituras de infância, mas não conhecia esse livro. No artigo ele fala um pouco do livro, e só de ler o que ele escreveu, já gostei da história.

Não conhecia o Jack London, fui procurar o livro e pesquisar a obra do autor. Encontrei outro livro dele na estante de casa, O Lobo do Mar, depois soube que é um clássico da literatura. A edição que tem em casa de O Lobo do Mar é da Companhia Editora Nacional e foi traduzida por Monteiro Lobato. É um livro importante! Já separei pra ler depois, mas antes queria, mesmo, era ler o Martin Eden, a história dele me interessava muito. Já li, adorei e hoje vou contar um pouco a dura vida do escritor Martin Eden.

Martin Eden, de Jack London, traduzido por Aureliano Sampaio e publicado pela Editora Nova Alexandria conta a história da luta de um marinheiro pobre, que queria ser escritor e viver de literatura. Li que o Jack London fez sucesso escrevendo livros de aventura, como O Lobo do Mar e que este romance é diferente de tudo que ele escreveu, é “semi-autobiográfico” – a vida de Jack London foi bem parecida com a de Martin Eden.

Convidado por Arthur para jantar em sua casa, Martin Eden conhece sua irmã, Ruth, “uma criatura pálida e etérea, com uns olhos azuis grandes e espirituosos e abundante cabeleira loira. Comparou-a a uma pálida flor de ouro sobre uma haste delicada. Não; era um espírito, uma divindade, uma deusa. Tal beleza não podia ser da Terra.” Ruth estudava Literatura na universidade e Martin já tinha muito interesse pelo assunto, apesar de só ter lido poucos livros.

Conversaram e Ruth lhe falou de Swineburne, um poeta de quem Martin só tinha lido alguns versos. Ficou tão impressionado com o discurso da moça que chegou a seguinte conclusão: “Isto é que é vida intelectual, isto é que é beleza viva, maravilhosa, como nunca sonhei que existisse. Eis uma coisa por que valia a pena viver, uma coisa que merecia ser conquistada com luta, enfim, pela qual valia a pena morrer. Os livros diziam a verdade.” Ficou apaixonado por Ruth e pela literatura e decidiu lutar pelas duas.

Não foi nada fácil a luta de Martin Eden para conquistar suas duas paixões. A Ruth, depois de algum tempo e muita dedicação, ele começou a namorar, contra a vontade da família dela, que não aprovava a união da filha com um rapaz que pertencia a outra classe social e não tinha uma profissão definida. Depois que decidiu virar escritor abandonou o trabalho de marinheiro e só fazia alguns bicos para pagar sua comida, o aluguel do quarto onde morava e da máquina de escrever.

Só dormia quatro horas por dia e nas outras vinte lia e escrevia. Escrevia ensaios e contos, que mandava para as revistas literárias publicarem, por isso também gastava grande parte de seu dinheiro em selos do correio. Mas as revistas recusavam todos os seus textos. Depois escreveu livros, que também foram recusados. Um dia Ruth tentou convencer Martin a deixar seu sonho um pouco de lado e procurar um emprego: “Por que não tenta um lugar num jornal, se sente assim tanto gosto em escrever? Por que não experimenta a carreira de repórter?” “Estragaria meu estilo. Não faz ideia de quanto trabalhei para apurar meu estilo” – ele respondeu.

Depois o assunto da conversa passou para os editores, que viviam recusando os textos de Martin. Ele devia estar com tanta raiva dos editores, que disse: “A principal qualidade de noventa e nove por cento de todos os editores é o fracasso. Fracassaram como escritores. Tentaram escrever, mas falharam. E aqui está o maldito paradoxo da questão. Cada porta de acesso ao êxito literário encontra-se vigiada por esses cães de guarda – os fracassados da literatura.” No final da história Martin Eden conquista os editores que tanto odiava, consegue publicar todos os seus livros, vender e fazer muito sucesso como escritor, mas aí, já era tarde.

Jack London nasceu em São Francisco, nos EUA, em 1876, e morreu em 1916. Viveu uma infância pobre em Oakland e na adolescência trabalhou dezesseis horas por dia numa fábrica. Depois se alistou por algum tempo numa escuna, virou marinheiro e conheceu o Japão e a Sibéria. Voltou a ser operário para largar tudo novamente, levou uma vida de andarilho e chegou a ser preso. Terminou os estudos formais e matriculou-se na Universidade de Berkeley. Mas o preconceito contra estudantes pobres o fez sair da faculdade e tentar a sorte na “corrida do ouro” do Alasca. Ainda tentou ser carteiro e aos 25 anos largou tudo e decidiu ser escritor. Publicou mais de cinquenta livros, entre eles O filho do lobo (1900), O chamado da floresta (1903), O povo do abismo (1903), O lobo do mar (1904), Caninos brancos (1906), A estrada (1907), O tacão de ferro (1907), Martin Eden (1909), A travessia de Snark (1911), John Barleycorn (1913) e O Vale da lua (1913), além de mais de cem contos publicados em revistas.

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Biblioteca pública, livro, leitura e o Cine Bijou

– Como foi a reunião de ontem, Heitor?

– Foi legal, pai!

– Foi sobre o mesmo assunto daquela, na biblioteca do Tatuapé?

– Não, aquela foi em defesa das bibliotecas públicas.

– E essa, não foi também?

– Não, essa foi em defesa do Plano Municipal do Livro e da Leitura, o PMLL. Você sabia que São Paulo ainda não tem um PMLL?

– Sabia… São Paulo não tem muita coisa, meu filho. Motivo pra lutas políticas não faltam na nossa cidade.

– Se lembra de quando eu fui àquela passeata e você disse que era a minha primeira luta política?

– Claro que eu me lembro, a passeata era pra defender o quarteirão e a biblioteca do nosso bairro.

– E nós vencemos!

– E você gostou da ideia!

– Gostei!

– Gostou tanto que não parou mais.

– E nem quero parar, pois a luta continua… Não é mesmo, pai?

Meu pai riu, pegou um livro da mesa e me deu.

– Olha… Vi este livro na livraria e comprei pra você.

– Obrigado! “Cine Bijou”?

– Sim. Como o autor deste livro, eu também assisti a muitos filmes nesse cinema. Leia, acho que você vai gostar. Eu gostei!

Tive essa conversa com o meu pai na quinta-feira passada e hoje vou falar um pouco do debate sobre as bibliotecas públicas, da manifestação em defesa do Plano Municipal do Livro e da Leitura da cidade de São Paulo, e do livro sobre o Cine Bijou.

As bibliotecas públicas e o Plano Municipal do Livro e da Leitura

No post anterior eu falei de uma reunião que eu ia, na Biblioteca Hans Christian Andersen, para assistir a um debate sobre Bibliotecas Públicas. Pois eu fui, e gostei muito. Conheci a Lucina Melo, coordenadora dessa biblioteca, que fica no bairro do Tatuapé, aqui em São Paulo, e encontrei os meus amigos, o escritor Jeosafá e o Plínio.

Nesse debate se falou de muita coisa. Disseram que hoje a gente não vai mais à biblioteca pra fazer pesquisa pra escola, encontramos tudo na internet, e que a biblioteca não serve só pra isso. Eu, por exemplo, vou à biblioteca pra ler, pegar livros emprestados e encontrar os meus amigos. Tem muita coisa que a gente pode fazer lá. Depois, o pessoal que estava debatendo levantou uma questão: Que biblioteca é essa que devemos ter?

Eles acham que a gente tem que ter uma biblioteca mais receptiva e acolhedora e que seja aberta à comunidade. “A biblioteca como um espaço de democratização da informação”. No final do debate eles concluíram que tem que ser criada uma política de Estado para as bibliotecas e decidiram elaborar um documento com algumas sugestões.

Depois desse debate eu ainda fui a outro evento, que aconteceu no dia 27 de março, no quarteirão literário, em frente à Biblioteca Monteiro Lobato, que fica na Vila Buarque, região central de São Paulo. Fui convidado! Esse evento era para apoiar a criação e implantação do Plano Municipal do Livro e da Leitura da cidade de São Paulo. No final desse evento, que teve contação de histórias, música, dança, distribuição de livros; aconteceu um debate no auditório do Senac, que fica na rua ao lado do quarteirão.

A plateia estava cheia, e na mesa estavam o Paulo, da Bibliaspa; a Sueli, da Biblioteca Monteiro Lobato; e a Bel, do LiteraSampa. Eu ouvi e também li num cartaz que o PMLL deve ser criado para garantir a promoção do acesso ao livro, à leitura, à literatura e às bibliotecas públicas, escolares e comunitárias a todos os cidadãos e cidadãs do município. E para participar é só procurar o Grupo de Discussão e Estudo do PMLL e assinar a Petição de apoio ao PMLL, nos encontros do Grupo e na internet.

A Bel, do LiteraSampa, disse que esse debate deve acontecer mais vezes na cidade, para dar mais visibilidade e chamar mais pessoas para o movimento. O meu amigo Jeosafá também estava lá e pediu a palavra. Ele disse que participa de um grupo, que vem discutindo essas questões desde o ano passado. Eles elaboraram um documento que já tem mais de mil assinaturas.

O Fernando Haddad e a Nádia Campeão assinaram esse documento, no final do ano passado, durante a campanha eleitoral. O documento tem o apoio do prefeito e da vice-prefeita! No final do debate, os dois grupos se juntaram e o nosso movimento em defesa do livro e da leitura, pela criação e implantação da PMLL de São Paulo vem crescendo a cada dia.

Um cinema e uma época

A história do livro Cine Bijou, escrito por Marcelo Coelho, ilustrado por Caco Galhardo e publicado pela editora Cosac Naify e Edições SESC SP começa assim:

“Quando eu tinha quinze ou dezesseis anos, me achava extremamente inteligente na maior parte do tempo. No resto do tempo, eu me achava extremamente idiota. Não sei se idiota é a palavra. Ser um pateta não é igual a ser um imbecil, por exemplo. O imbecil tem mais profundidade; o pateta é mais avoado, mais feliz até. Ser um crianção tem cura; já um babaca é babaca pelo resto da vida. O burro é burro desde que nasceu, mas o idiota só é idiota de vez em quando. Isso eu dizia pra me consolar.”

Nesse livro o autor Marcelo Coelho conta um pouco da sua história, quando tinha essa idade, na década de 1970. Ele diz que uma das “atividades inteligentes” que fazia era ir ao cinema e os filmes que queria ver eram proibidos para menores de 18 anos. “Naquela época, 1974, 1975, a censura por faixa etária era levada bastante a sério.” Ele conta, também, que alguns filmes nem os adultos podiam ver, pois eram proibidos pela censura.

O Brasil vivia uma ditadura militar e o governo proibia filmes mesmo para quem tinha mais de dezoito anos. Ele disse que nessa época tinha cara de criança e o único cinema que o deixavam entrar era o Cine Bijou, que ficava no centro de São Paulo, na praça Roosevelt. Ele diz que o Cine Bijou exibia sempre filmes de arte e festivais de diretores famosos.

E assim segue a história desse livro, com o autor contando um pouco dos filmes que viu no Cine Bijou, da história dessa época, e de sua história, quando tinha quinze ou dezesseis anos.

Para criar as ilustrações desse livro, Caco Galhardo recuperou cartazes de filmes clássicos como, Laranja mecânica, de Stanley Kubrick e o Último tango em Paris, de Bernardo Bertolucci . Ele também se inspirou em cenas marcantes dos filmes A morte em Veneza, de Luchino Visconti e Os amantes de Maria, de Andrey Konchalovsky, e a capa foi baseada em Viver a Vida, de Jean-Luc Godard.

Marcelo Coelho nasceu em São Paulo, em 1959. Formado pela Universidade de São Paulo (USP) em ciências sociais, é mestre em sociologia.  Ensaísta, escritor, e jornalista – dedicado, sobretudo à área de cultura, assina uma coluna no jornal Folha de S. Paulo, no caderno Ilustrada, desde 1990. O livro Tempo medido (Publifolha, 2007) reúne suas melhores crônicas publicadas no jornal. Traduziu obras de Voltaire e Paul Valéry e escreveu dois romances, Noturno (Iluminuras, 1992) e Jantando com Melvin (Imago, 1998). Também publicou os livros infantis A professora de desenho e outras histórias (1995) e Minhas férias (1999), os dois pela Cia das Letrinhas.

Caco Galhardo nasceu em São Paulo, em 1967. Formado em Comunicação pela FAAP, iniciou sua carreira como cartunista na década de 1980. É autor dos livros O banquete – As gostosas de Caco Galhardo (Barracuda, 2004), em parceira com o escritor Marcelo Mirisola, Dom Quixote em Quadrinhos (2005), Crésh (2007) – ambos publicados pela Editora Peirópolis – e Bilo (Girafinha, 2008). Suas tirinhas podem ser vistas no jornal Folha de S. Paulo.

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Vou a um debate sobre bibliotecas

Hoje vou fazer um post diferente, não vou contar nenhum livro, vou falar de um debate sobre bibliotecas públicas. Perguntei ao meu amigo Lipe, o que ele achava de eu fazer um post assim.

– Acho legal! ele respondeu.

– Mas eu não vou falar de nenhum livro, Lipe!

– Ora, se você fala de bibliotecas, fala de todos os livros! ele disse, como se estivesse me explicando o óbvio.

Tenho muitas divergências com o Lipe, mas às vezes a gente se entende. Ele é o meu melhor amigo, já falei dele aqui no blog.

Tive a ideia de fazer este post, pois, outro dia, recebi um e-mail de Luciana Melo, coordenadora da Biblioteca Pública Hans Christian Andersen. Ela disse no e-mail, que acompanha e adora o meu blog, e me convidou para um debate. O nome do debate é “Biblioteca pública como instrumento de cidadania e inclusão social” e será na terça-feira que vem, dia 12 de março, lá na biblioteca, mesmo, que fica no bairro do Tatuapé, aqui em São Paulo. A programação está aí embaixo, com o número de telefone e tudo. Quem quiser participar é só ligar e fazer a inscrição. Eu já fiz a minha!

Ainda não conheço a Luciana, pessoalmente, fiquei muito feliz por ela me convidar para esse debate, mas fiquei pensando: Por que será que ela me convidou? Justo, eu?! E fui conversar com minha mãe:

– Ela não disse que acompanha o seu blog, Heitor?

– Disse.

– Então é por isso! Além de saber que você gosta muito de livros, ela deve ter acompanhado sua luta em defesa da biblioteca do nosso bairro.

– É, mesmo!

Depois falei com meu pai e ele me explicou como eu faço pra chegar ao Tatuapé. Preciso pegar um ônibus e o metrô. Na terça, assim que chegar da escola, almoço correndo e saio. Não quero chegar atrasado ao debate.

Fórum de debate

“Biblioteca pública como instrumento de cidadania e inclusão social”

Cronograma

14h00 – Abertura: Luciana Melo (Coordenadora Biblioteca Hans C. Andersen)

Mediação: Rosely Daltério (Socióloga Biblioteca Cassiano Ricardo)

14h30 – Atividade artística: Contos populares com Tatiana Felix (Pedagoga Seduc – Praia Grande)

15h00 – Palestra: “Retratos da Leitura no Brasil” com Zoara Failla (Socióloga, coordenadora da área de projetos do Instituto Pró-Livro – IPL – organização criada e mantida pelas entidades do livro (Abrelivros, CBL e SNEL)

16h00 – Mesa redonda: “Bibliotecas Públicas como instrumento de cidadania e inclusão social”

Izilda Patti (Sistema Municipal de Bibliotecas de São Paulo), Durvalina Soares (Sistema Municipal de Bibliotecas de São Paulo), Ricardo Queiroz (Sistema Municipal de Bibliotecas de São Bernardo), e Professora Maria Edith Giusti (Coordenadora da Especialização em Bibliotecas Públicas / UNIFAI)

Mediação: Rosely Daltério (Socióloga Biblioteca Cassiano Ricardo)

17h30 – Café e atividade musical com os ex-alunos do Vocacional em Música da Secretaria Municipal de Cultura MC Dayse Liguori e Giorgio Arthur Passerino (Flauta e violão)

Quando: dia 12 de março de 2013, às 14h00

Local: Auditório da Biblioteca Hans Christian Andersen

Av. Celso Garcia, 4142, Tatuapé, São Paulo, SP

Inscrições pelo telefone: (11) 2295-3447

Com certificado validado pela Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo

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Livro que ganhou Oscar e uma contação de história

– Você desistiu de seu blog, Heitor?

– Eu não, mãe! Por quê?

– Já acabaram suas férias e você ainda não publicou nada…

– É verdade…

– Você nunca ficou tanto tempo, assim, sem escrever no blog. O que está acontecendo?

– É que estou bolado com essa história do meu projeto que não sai…

– Eles não responderam nada, ainda?

– Ainda não.

– Tem que ter paciência, meu filho… O pessoal da Sintaxe não disse pra você que essas coisas são assim, mesmo?

– Tá bom, mãe, vou ter paciência, então…

– Faz isso, meu filho, a parte mais difícil você já fez, agora só resta esperar.

Depois dessa conversa, resolvi obedecer minha mãe e ter paciência, não posso estragar tudo com esse meu jeito de “querer sempre pra agora”, como vive dizendo o meu pai. Depois, o pessoal da Sintaxe tem sido muito cuidadoso e eu só tenho que ficar na minha e deixar que eles resolvam tudo. Sendo assim, vou voltar a escrever aqui, afinal, o ano já começou, o Carnaval já passou, logo vai chegar a Páscoa e o meu blog ainda estava no ano passado.

Hoje vou falar de um livro que descobri lendo o jornal, li uma entrevista com o autor e fiquei sabendo que esse livro começou como um aplicativo, virou um curta-metragem, ganhou o Oscar em 2012 e agora é livro, de verdade. Também vou falar de uma contação de história que fui no final das minhas férias. Eu adoro contação de histórias! Quando eu ainda não sabia ler era assim que eu descobria o que estava escrito nos livros. Hoje, quando assisto a uma contação de história, fico curioso e corro atrás do livro pra ler a história contada.

Declaração de amor ao universo dos livros

Já contei algumas vezes aqui, que adoro ler jornal, aprendi com o meu pai. O meu amigo Lipe diz que isso é coisa de velho e que ele vê as notícias na internet. Eu também vejo as notícias na internet, mas o que eu gosto, mesmo, é de ler as notícias no jornal de papel. Outro dia li uma entrevista com o escritor e ilustrador William Joyce, saiu na Folha de S. Paulo e quem fez a entrevista foi o jornalista Cassiano Elek Machado. O William Joyce criou, um tempo atrás, um aplicativo para celular que se chama The Fantastic Flying Books of Mr. Morris Lessmore. Depois ele adaptou esse aplicativo e fez um filme, um curta de animação e esse filme ganhou o Oscar no ano passado. Para terminar, ele adaptou essa história, mais uma vez, e fez o livro, que foi lançado no final do ano passado aqui no Brasil, pela editora Rocco, com o nome de Os fantásticos livros voadores de Modesto Máximo. Já li o livro e adorei!

Nessa entrevista ele diz que apesar do seu projeto ter começado como um aplicativo e um filme, é um projeto sobre a importância dos livros. No começo ele teve a ideia de fazer um livro, depois pensou que seria interessante produzir um curta de animação para promover o livro. Enquanto produzia o curta, o iPad foi lançado e ele achou que seria uma boa “plataforma” para essa história. Então ficou assim: primeiro saiu o aplicativo, depois o filme e no final, o livro, o grande homenageado. Ele diz que tudo que faz no seu estúdio, vê primeiro como um livro.

Ele também contou que o Modesto Máximo foi inspirado num amigo, Bill Morris, “um amante dos livros e um grande cavalheiro da área da publicação de livros infantis”. Ele confessa que sempre foi apaixonado por bibliotecas e sempre tenta escrever histórias nas quais elas apareçam. Sei que ele escreveu uma série de livros chamada “Guardiões”, vou procurar pra ler. Gostei do Willian Joyce, ele gosta das mesmas coisas que eu gosto. Quem me conhece sabe que eu também sou apaixonado por bibliotecas. Arrisquei minha vida para defender a biblioteca do meu bairro e falei um pouco disso aqui. Um dia ainda vou contar essa história, com todos os detalhes.

William Joyce nasceu em 11 de dezembro de 1957 nos Estados Unidos. É escritor, ilustrador e cineasta. Foi eleito uma das 100 personalidades de destaque do novo milênio pela revista Newsweek. Além de Os fantásticos livros voadores de Modesto Máximo, escreveu a série “Os guardiões da infância”: O homem da Lua, Nicolau São Norte e a Batalha contra o rei dos pesadelos e Coelhoberto Paschoal e os ovos guerreiros no centro da terra.

Veja o curta-metragem. Se não conseguir assistir aqui, procure no Youtube.

Fiz novos amigos

Este blog só me traz alegria! Preciso lembrar sempre disso para não ficar tanto tempo sem escrever aqui. Com ele já conheci muita gente, escritores, ilustradores, editores e, principalmente, leitores. Outro dia fui à livraria assistir a uma contação de histórias e conheci os dois contadores, eles são muito legais! Também conheci a autora do livro, que eles contaram a história, e agora ela já é minha amiga! Mas o mais incrível de tudo foi que eu conheci… acho que vocês não vão acreditar… conheci os dois personagens desse livro!!! Eles também estavam lá! Preciso explicar melhor essa história, senão vão pensar que eu estou mentindo.

No final das minhas férias recebi um convite da Daniela Padilha. Já falei da Daniela aqui no blog, ela é minha amiga, já trabalhou em muitas editoras e agora tem a editora dela, a Jujuba. Ela me convidou para a contação de história de um livro novo: Eu (não) gosto de você!, escrito e ilustrado por Raquel Matsushita e publicado pela Jujuba Editora.

Fui, cheguei mais cedo e os contadores já estavam por lá, fazendo a maquiagem. Me apresentei e fiquei conversando um pouco com eles, Gizele Panza e Manu Costa são casados. Além de contar histórias, eles fazem muitas outras coisas, a Gizele é atriz, produtora e costureira; o Manu é fotógrafo, músico e jornalista. A conversa com eles foi muito gostosa, enquanto eles se maquiavam a gente foi conversando. Eles me contaram como é a preparação da contação de cada história, e disseram que o que eles mais gostam é ver a reação das crianças quando ficam encantadas com as histórias. Confesso que eu também fiquei encantado, não só com a história que eles contaram, mas também com a nossa conversa.

Depois chegou a minha amiga Daniela e me apresentou para a autora do livro, a Raquel Matsushita. Conversei com a Raquel e fiquei sabendo que antes de virar escritora, ela era designer gráfico e já fazia livros. Ela continua designer gráfico e fazendo livros, inventa as capas, escolhe os tipos de letras e monta tudo no computador. Ela disse que adora fazer livros e já fez muitos livros de outras pessoas e agora resolveu escrever, ilustrar e fazer o seu próprio livro. Antes desse, ela já tinha escrito Fundamentos gráficos para um design consciente, publicado pela Musa Editora, que fala do seu trabalho. Ela tem um estúdio, Entrelinha Design, e trabalha junto com a minha outra amiga, a Aline Abreu, já falei da Aline aqui no blog – esse mundo é pequeno, mesmo!

O livro Eu (não) gosto de você começa assim: “Um dia, todo mundo ficou feliz. Foi porque minha mãe ficou grávida. Eu não notei nada de diferente, a não ser que mamãe ficou meio cinza.” O livro conta a história de uma menina que sente ciúme do irmão que está pra nascer. Quando o irmão nasce, ela sente raiva, mas depois vai aprendendo a gostar dele. A Raquel me disse que essa história é baseada em fatos reais e que tudo isso aconteceu com ela, quando o seu filho mais novo estava pra nascer. “Eu vivi todos aqueles momentos e os vivo até hoje. A relação de pais e filhos muda a todo instante. Quando achamos que já sabemos lidar com nossos filhos, eles crescem e temos que aprender tudo de novo”, ela me disse. No final eu conheci os seus filhos, Lia e Nino, os dois personagens desse livro. Tá vendo como não era mentira?

Raquel Matsushita é designer e escritora. Fez faculdade de Publicidade e Propaganda na Universidade Metodista de São Paulo, e depois estudou designer gráfico, cor e tipografia na School of Visual Arts de Nova York. Trabalhou nas editoras Abril e Globo, e hoje é sócia do escritório Entrelinha Design. Além do livro Eu (não) gosto de você!, escreveu Fundamentos Gráficos para um Design Consciente, que foi publicado em 2010, pela Musa Editora.

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Bartolomeu Campos de Queirós

Este é o último post do ano. Volto no final de janeiro, com novidades. Logo no começo do ano vamos ter um clube de leitura com uma escola municipal de São José dos Campos, combinei com o professor Carlos e já contei aqui no blog. A outra novidade eu ainda não posso contar, mas já está praticamente certa. O pessoal da Sintaxe me disse que só falta assinar o contrato. “Essas coisas são demoradas, mesmo” – eles me explicaram, e me pediram para eu ter paciência e esperar mais um pouco pra contar. Nessas coisas eu não me meto, minha função é ler e contar, e assim que eles autorizarem eu venho aqui e conto tudo. É a realização de um sonho meu!  Agora vou falar de um escritor que eu gosto tanto, que li sete livros dele, de uma vez. O post ficou maior grandão, mais ficou legal, vocês vão ver. Então é isso… Bom Natal pra todos e feliz Ano Novo!

Prosa poética

Hoje vou falar do escritor Bartolomeu Campos de Queirós. Conheci o Bartolomeu, pessoalmente, na Bienal do Livro de SP do outro ano, assisti a uma palestra dele e contei aqui no blog. Ele estava junto com a minha amiga escritora, Katia Canton. Eu já tinha lido um livro do Bartolomeu na escola, no 5º ano. O livro se chama Até passarinho passa. Eu me lembro de que a nossa professora fez uma coisa bem legal com esse livro, lemos durante a aula. Alguém lia um parágrafo em voz alta e todos diziam o que tinham entendido daquele pedaço da história.

O nome da nossa professora daquele ano era Rose. A professora Rose era “apaixonada pelo Bartolomeu” e não se cansava de ler em voz alta tudo o que ele escrevia. “Isso é prosa poética, meus queridos alunos, ler Bartolomeu faz bem pra alma” – ela dizia. Na época não entendi muito bem, mas hoje eu sei o que é prosa poética e concordo com a professora Rose: ler Bartolomeu é muito bom! Bartolomeu Campos de Queirós morreu no início deste ano. Além de escritor, com mais de quarenta livros publicados, ele foi um grande educador e liderou diversos movimentos pela valorização do livro e pelo incentivo à leitura.

Resolvi falar hoje do Bartolomeu, pois num dia desses vi a minha mãe lendo um livro bonito, de capa dura e vermelha, e perguntei a ela:

– O que você está lendo, mãe?

Vermelho amargo, de Bartolomeu Campos de Queirós.

– Não foi esse livro que ganhou o prêmio São Paulo de Literatura?

– Foi este, mesmo!

– É juvenil?

– Não, este ele escreveu para adultos. É o primeiro livro do Bartolomeu para adultos.

– Que pena, eu queria ler… Eu li o Até passarinho passa na escola e depois li O olho de vidro do meu avô e gostei muito do jeito que o Bartolomeu escreve, é prosa poética!

– Este aqui é pura prosa poética, meu filho. Leia este, também.

– Não é difícil? Será que eu vou entender?

– Entende, sim… Faz como você fez quando leu o Machado de Assis pela primeira vez, usa o dicionário.

– Boa ideia! Quando você acabar, me empresta.

Enquanto eu esperava minha mãe terminar de ler o Vermelho amargo, fui atrás de outros livros do Bartolomeu e corri à biblioteca do meu bairro, aquela que o prefeito queria demolir. Encontrei um monte de livros dele e trouxe mais quatro pra casa: O peixe e o pássaro, Ciganos, Indez e Tempo de voo. Li todos, li sete livros de Bartolomeu Campos de Queirós – e não é conta de mentiroso, como dizia o meu avô. E hoje vou falar um pouquinho de cada um.

O peixe e o pássaro

O peixe e o pássaro foi publicado pela Editora Miguilim, tem fotos de Haroldo Carneiro, ganhou prêmio da Prefeitura de Belo Horizonte, e é o primeiro livro do Bartolomeu Campos de Queirós, que o escreveu no início da década de 1970, quando estudava na França. Ele morava perto de um jardim que tinha um lago. No final de semana ele se sentava nesse jardim para ler e sentia saudades do Brasil, “de comer feijoada, de dormir na cama com lençol passado, dos meus amigos”. No lago sempre aparecia “um peixe e botava a cabeça do lado de fora.” Também “havia várias gaivotas que mergulhavam no lago e tornavam a sair.” Ele começou a olhar aquela cena e percebeu que cada coisa tinha o seu lugar: se o peixe saísse da água, “morreria afogado no ar” e se “a gaivota ficasse dentro da água, morreria afogada”. Também percebeu que tanto o peixe quanto o pássaro não deixam rastros por onde passam. Ele nunca tinha pensado em ser escritor, mas ficou tão encantado com tudo isso, que resolveu escrever O peixe e o pássaro para aliviar suas saudades e contar essa história.

A Liberdade
O ar é imenso. A água é imensa. Pode-se viajar no ar e na água por muito tempo. Mas o peixe e o pássaro estão ali, parados.
A liberdade permite isso.
(Trecho de O peixe e o pássaro)

Ciganos

Ciganos, de Bartolomeu Campos de Queirós, publicado pela Editora Miguilim conta a história de um menino que observava os ciganos que apareciam em sua cidade, imaginava um monte de coisas e torcia para ser roubado por eles. “Ah, ser roubado era o mesmo que ser amado e ele sentia que só roubamos o que nos faz falta.” Naquele tempo se acreditava que ciganos roubavam crianças e com a chegada deles, o medo passava a ser companheiro dos meninos da cidade. Ninguém sabia de onde os ciganos vinham e para onde iam, e se as crianças fossem roubadas por eles, ficariam perdidas para sempre. O menino se sentia sozinho e pensava ser um cigano, “esquecido em porta de família alheia”. “Foi de seu pai que ele herdou essa mania calada, esse jeito escondido e mais a saudade de coisas que ele não conhecia, mas imaginava. Sua vontade de partir veio, porém, do desamor. Tudo em casa já andava ocupado: as cadeiras, as camas, os pratos, os copos. Mesmo o carinho distribuído.”

“Assim, revelando desejos, confirmando anseios, realizando a fantasia, os ciganos passavam a ser silenciosamente amados. E os seus nomes – Normano, Amália, Nuno, Bonança, Árias, Lourença – passavam a viver secretamente no sonho de todos daquele lugar. Carentes de emoções, tramavam fugas, sonhavam estradas, pensavam ilimitado amor. Quem sabe fugir para se conhecer o mundo de que só se tinha notícia, raramente…” (Trecho de Ciganos)

Indez

Indez é o nome do ovo deixado no ninho para que as aves continuem a botar outros ovos naquele mesmo lugar. Meu pai me disse que a minha avó fazia isso com as galinhas e patas que passeavam pelo quintal da casa da infância dele. Indez também é o nome de outro livro do Bartolomeu Campos de Queirós, que peguei emprestado da biblioteca e li. Publicado pela Editora Miguilim, o livro conta a história da infância do personagem Antônio, e é meio autobiográfico, pois também conta um pouco da infância do próprio autor. No tempo do Bartolomeu e da minha avó, quando o umbigo de uma criança recém-nascida caía, a parteira o enterrava em um lugar escolhido. Se fosse enterrado num jardim com flores, a menina seria bela e boa jardineira; se enterrassem na horta, o menino seria lavrador, e no curral, boiadeiro. “O destino era assim escolhido sem outros inúteis anseios. Assim sendo, nascer era tão bonito que acreditar em outra vida era coisa muito simples.” Já o umbigo de Antônio foi jogado na correnteza! Ele nasceu antes do tempo e veio na “estação das águas”.

“Nasceu tão fraco que recebeu o batismo em casa, na correria, sem festas. Para padrinhos escolheram casal de amigos bem próximos, com muitas desculpas. A morte sem batismo condenaria o menino, mesmo inocente, a viver eternamente no limbo, lugar sem luz.”

Antônio sobreviveu e o livro conta a história dele e mostra de um jeito muito bonito, os costumes daquela época, numa cidade do interior de Minas Gerais.

Tempo de voo

– Nossa! Você está tão trincadinho!

Ele me disse isso com um olhar escorrendo espanto. Sua pele me lembrava as águas se o vento dorme: lisa e mansa. Sua mão, cruzada a minha, amarrava um abraço entre a primavera e o inverno. Respirei o ar inteiro, para depois dar nome ao meu susto.

– É o tempo, meu menino, é o tempo!

Assim começa Tempo de voo, escrito por Bartolomeu Campos de Queirós, ilustrado por Alfonso Ruano e publicado pela Editora SM / Comboio de Corda. Este livro mostra a conversa de um homem mais velho e uma criança curiosa e continua assim:

– O tempo? Eu nunca vi o tempo.

– Também não. Ninguém vê o tempo. O tempo não para. Passa ligeiro e ninguém consegue tocá-lo. Ele tem medo de não atender aos nossos pedidos, por isso não nos escuta.

– Passa mais depressa que voo de passarinho?

– Muito, muito mais. Passarinho pousa, repousa, dorme, torna a voar e volta ao ninho. O tempo não tem ninho. Ele está sempre acordado, viajando e vigiando tudo…

E assim essa conversa segue e vai mostrando os mistérios do tempo que passa.

Até passarinho passa

Como disse no começo do post, o livro Até passarinho passa eu já tinha lido na escola, no 5º ano. Reli agora pra poder falar dele aqui. Até passarinho passa foi escrito por Bartolomeu Campos de Queirós, ilustrado por Elisabeth Teixeira, publicado pela Editora Moderna, e conta uma história que lembra a infância de um menino. Ele morava em uma casa que já não existe mais. “Como tantas outras coisas, ela passou.” Essa casa tinha uma “pequena varanda forrada de ladrilho xadrez, frio e limpo.” Os passarinhos vinham visitar a varanda para “colher as migalhas dos bolos, que caíam de propósito de nossas mãos…” Os passarinhos bicavam apressados as migalhas, como garimpeiros.

Era um menino triste que observava e amava esses passarinhos. “Quando eles surgiam, em bando ou solitários, meu coração deixava de bater para não assustá-los.” Ele pensava que para amar os passarinhos só os olhos bastavam. “Mas eu sofria de uma coceira incômoda na palma da mão. Vontade de pentear suas penas com meus dedos.” Entre o bando havia um passarinho que ele amava mais que todos. “Pousava sobre a grade da varanda, olhando por todos os lados. Parecia querer estar só comigo, eu pensava com vaidade.” E a história segue contando de um jeito muito bonito e um pouco triste a história do amor do menino pelo passarinho.

O olho de vidro de meu avô

Assim começa a história do livro O olho de vidro do meu avô, de Bartolomeu Campos de Queirós, publicado pela Editora Moderna:

Era de vidro o seu olho esquerdo. De vidro azul-claro e parecia envernizado por uma eterna noite. Meu avô via a vida pela metade, eu cismava, sem fazer meias perguntas. Tudo para ele se resumia em um meio-mundo. Mas via a vida por inteiro, eu sabia. Seu olhar, muitas vezes, era parado como se tudo estivesse num mesmo posto. E estava. Ele nos doava um sorriso leve com meio canto da boca, como se zombando de nós. O pensamento vê o mundo melhor que os olhos, eu tentava justificar. O pensamento atravessa as cascas e alcança o miolo das coisas. Os olhos só acariciam as superfícies. Quem toca o bem dentro de nós é a imaginação.

E o seu avô imaginava sempre, o menino acreditava. O avô morava em Bom Destino e dizem que viajou para São Paulo para comprar “esse olho que não via”. “Naquele tempo, São Paulo ficava quase em outro país.” Quem conta essa história é um homem, que fala do tempo em que era menino. Fala do avô e do seu olho de vidro, da avó, do pai, da mãe dos tios e de toda sua família.

Ele tinha vontade de saber se o seu avô retirava o olho na hora de dormir, pois havia sempre, sobre o criado-mudo um pires, que poderia servir de berço para “um olho cansado de nada ver”. E o menino continuava a pensar:

Eu também gostaria de possuir um olho assim, que ficasse distante de mim, sobre o criado. Ter meu olho me espiando de longe. Quem sabe, eu me conheceria melhor? Conheceria minha superfície sem precisar de espelho. Um olho capaz de vigiar meu sono, me protegendo dos fantasmas que nos visitam se descuidamos de nós. E dormir e descuidar-se de si mesmo. Dormir é ficar desarmado, é não ser mais proprietário do próprio corpo. Ah! Como o olho do meu avô me enchia de dúvidas!

Vermelho amargo

Depois de ler esses seis livros de Bartolomeu Campos de Queirós, eu estava pronto para encarar o Vermelho amargo. Peguei-o da estante, sentei na minha poltrona predileta, deixei o dicionário ao alcance das mãos, abri o livro e comecei a leitura:

Mesmo em maio – com manhãs secas e frias – sou tentado a mentir-me. E minto-me com demasiada convicção e sabedoria, sem duvidar das mentiras que invento para mim. Desconheço o ruído que interrompeu o meu sono naquela noite. Amparado pela janela, debruçado no meio do escuro, contemplei a rua e sofri imprecisa saudade do mundo, confirmada pela crueldade do tempo. A vida me parece inteiramente concluída. Inventei-me mais inverdades para vencer o dia amanhecendo sob névoa. Preencher um dia é demasiadamente penoso, se não me ocupo das mentiras.

Vermelho amargo também foi escrito por Bartolomeu Campos de Queiros, e foi publicado pela Editora Cosac Naify. Pelo que li depois, o livro é meio autobiográfico, conta um pouco da história do próprio autor, e é pura prosa poética, como disse minha mãe. Quase todos os parágrafos eu li mais de uma vez, alguns em voz alta. Para entender melhor o que estava escrito e também para ouvir a beleza do som das palavras. É muito bonito o jeito como o Bartolomeu escrevia! A mãe morreu aos 33 anos, ele tinha 6. Ela teve câncer, e quando sofria de dores cantava, cantos líricos. Foram criados pela madrasta – ele, seu irmão e sua irmã. A madrasta cortava fatias fininhas de tomate para as refeições e ele sentia saudades da mãe:

Sem o colo da mãe eu me fartava em falta de amor. O medo de permanecer desamado fazia de mim o mais inquieto dos enredos. Para abrandar minha impaciência, sujeitava-me aos caprichos de muitos. Exercia a arte de me supor capaz de adivinhar os desejos de todos que me cercavam. Engolia o tomate imaginando ser ambrosia ou claras em neve, batidas com açúcar e nadando num mar de leite, como praticava minha mãe – ilha flutuante – com as mãos do amor.

Bartolomeu Campos de Queirós nasceu em 1944 e viveu a infância em Papagaio, interior de Minas Gerais. Escritor com mais de 40 livros publicados, alguns deles traduzidos para o inglês, espanhol e dinamarquês. Formado em Educação, estudou Filosofia e Estética e utilizou a arte como parte integrante do processo educativo. Cursou o Instituto de Pedagogia em Paris e participou de importantes projetos de leitura no Brasil como o ProLer e o Biblioteca Nacional, dando conferências e seminários para professores de leitura e literatura.

Foi presidente da Fundação Clóvis Salgado/ Palácio das Artes e membro do Conselho Estadual de Cultura, ambos em Minas Gerais, sendo também muito convidado para participar de júris e comissões de salões, além de curadorias e museografias. Idealizou o Movimento por um Brasil Literário, do qual participava ativamente. Por suas realizações, Bartolomeu colecionou medalhas: Chevalier de l’Ordre des Arts et des Lettres (França), Medalha Rosa Branca (Cuba), Grande Medalha da Inconfidência Mineira e Medalha Santos Dumont (Governo do Estado de Minas Gerais). Recebeu, ainda, prêmios literários importantes, como Grande Prêmio da Crítica em Literatura Infantil/Juvenil pela APCA, Jabuti, FNLIJ e Academia Brasileira de Letras. Faleceu em 16 de janeiro de 2012, na cidade de Belo Horizonte.

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Li três livros de Pauline Alphen

Outro clube de leitura

No post anterior falei do professor Carlos e do convite que ele me fez para visitar sua escola e conhecer seus alunos. Ele mora em São José dos Campos, interior de São Paulo. Trocamos alguns e-mails e deixamos essa visita para o começo do ano que vem. Na escola dele já vai começar o calendário de avaliação final e este final de ano está cheio de feriados. Num dos e-mails que mandei pra ele, perguntei:

Professor, o que você acha de escolher um livro pra eu ler e os seus alunos também, e depois publicar no blog? Tipo aquele clube de leitura que fiz com a escola daqui.

E ele respondeu:

Gostei muito da ideia, Heitor! Vou colocar essa atividade no meu planejamento de 2013, para acontecer logo no início. Juntamente com os estudantes escolheremos um livro bem legal. Vai ser muito motivadora essa atividade.

OBA! No começo do ano vamos ter outro clube de leitura aqui no blog.

Uma escritora meio francesa e meio brasileira

Pauline Alphen nasceu no Rio de Janeiro. De pai francês e mãe brasileira, ainda criança, foi morar na França. Só voltou pra cá aos onze anos, veio passar férias na casa da madrinha brasileira, em Alagoas. Veio sozinha! Pauline morava em Metz, fronteira com a Alemanha. Primeiro ela foi com sua mãe, de trem, até a capital, Paris, para pegar o avião. No aeroporto foi entregue a uma aeromoça que pegou a sua mão. A mão da aeromoça era quente e dizia para Pauline: venha venha venha.

E ela foi para dentro do avião. “Minha mãe já ficou longe, minha mãe de olhos brilhando, que chorava e ria quando me abraçou. Ficou lá no país onde cresci. (…) Estou no avião que vai me levar para o Brasil, o país onde nasci, mas pouco sei.” Assim começa a viagem de férias no Brasil de Pauline Alphen, que ela conta no livro Do outro lado do Atlântico, que tem ilustrações de Maria Eugenia, foi publicado pela Companhia das Letrinhas e faz parte da Coleção Memória e História.

Conheci a Pauline Alphen na Bienal do Livro e assisti a sua palestra. Ela contou que foi um professor de francês que despertou nela o desejo de escrever e ela tinha dez anos quando isso aconteceu. Ela disse que escreve para despertar emoção no leitor e que todo escritor quer que o seu livro seja lido pelo maior número de pessoas. Para escrever o texto de Do outro lado do Atlântico ela conta que convocou a sua memória. Concentrou-se e pediu à menina de onze anos que viesse lhe contar com tinha sido aquela viagem. Misturou memória e imaginação e já não sabia o que era “verdade” e o que era “mentira”. Daí percebeu que isso não tinha importância, porque era tudo isso, “menina, mulher, verdade e mentira”. E isso é história.

Peguei um autógrafo da Pauline Alphen! Mais um livro para minha coleção de livros autografados. Ela escreveu que era “uma dedicatória comovida”, pois “é a primeira vez que escrevo para um personagem”. Eu também fiquei comovido… E isso sempre acontece comigo quando encontro um escritor de verdade.

Gostei tanto desse livro de Pauline Alphen e do jeito que ela escreve que fui procurar outros livros dela pra ler. Peguei mais dois, A porta estava aberta e A odalisca e o elefante. Já li, adorei e também vou falar deles.

O livro A porta estava aberta, escrito por Pauline Alphen, ilustrado por Jean-Claude Alphen, irmão de Pauline, e publicado pela Companhia das Letrinhas começa com o enterro do “Vovô Tuca”. Paulo tinha ido ao enterro e contava pra sua prima Clara como foi.

– Foi a maior confusão! Primeiro a gente demorou pra caramba para achar o lugar da cremação…

– Da que?

– Cre-ma-ção. Quer dizer que em vez de ser enterrado, o vovô foi queimado.

– Ai! – fez Clara, com uma careta. – Doeu muito?

– Que boba! Ele não sentia mais nada. Foi só o corpo dele. O vovô Tuca já não estava ali.

– Ah… E onde ele estava então?

O Paulo suspirou, ele tinha nove anos, Clara tinha sete e fazia um milhão de perguntas por minuto.

Para tentar resolver essa questão e acalmar a curiosidade da prima, o Paulo disse:

– É que ninguém sabe direito dessas coisas, Clarinha. O que acontece depois que alguém morre ou antes de alguém viver… É assim… um mistério.

E a conversa continuou, com o Paulo contando todos os detalhes da historia do enterro e a Clara interrompendo toda hora com suas perguntas. Até chegar na história do irmão do Paulo que estava pra nascer. A mãe dele grávida teve que ser levada às pressas do cemitério para a maternidade. O Paulo fez de tudo para explicar pra Clara, mas ela não conseguiu entender esse outro mistério da vida.

Esse é só o começo dessa história, um dia Paulo estava brincando de esconde-esconde com sua prima e procurando um lugar na casa para se esconder, quando encontra aberta a porta do escritório do avô. “O cômodo proibido, fechado, onde ele nunca tivera permissão para entrar!” A partir daí começa a parte mais legal desse livro, Paulo descobre a árvore genealógica de sua família, construída pelo seu avô e encontra muitos outros mistérios da vida dentro do escritório proibido.

A odalisca e o elefante, escrito por Pauline Alphen e publicado pela Cia das Letras conta a história de amor de Hati e Leila. Hati era um elefante branco que quando criança vivia nas savanas da África e tinha sonhos estranhos. “Quando todos os seus estavam dormindo, gostosamente aninhados uns nos outros, ele acordava aflito como se alguém ou alguma coisa o estivesse chamando. Alongava as magníficas orelhas, afinava o olhar, procurava, procurava…”, mas não encontrava nada.

Leila era uma menina muito pequena e muito bonita, que herdara do seu pai a mania de pensar: “ela pensava um bocado.” Vivia no castelo do sultão e aprendia com um eunuco muito gordo e muito rosa a profissão de odalisca: “Não façam isso, façam aquilo. Baixem os olhos… Assim, garotas, assim! A mão, a mão! Leve! Discreto o sorriso, sinuosos os quadris… Aprender a profissão de Odalisca não é bolinho.”

“Acontece que o tempo fez o que já então não se cansava de fazer: passou. Passou, passou e passou.” Hati foi parar no castelo do sultão, Leila cresceu e os dois se apaixonaram. Sobre isso, a odalisca, que como já sabemos gostava de pensar, pensou:

“Odaliscas não costumam se apaixonar por elefantes. Nos contos de Sherazade, moças se apaixonam o tempo todo, parece até que não fazem outra coisa na vida. É só aparecer um rapaz de um certo jeito que tchabum! Provavelmente, se tivesse sentido frio e calor e todas essas coisas que já sabemos por um mancebo esbelto como um bambu, pele da cor da tâmara mais fresca, sobrancelhas que se beijam e, num cantinho dos lábios, um sinal como uma gota de âmbar…” Mas um elefante branco! A partir desse amor impossível entram na história de A odalisca e o elefante, outros casais famosos da literatura, que também tiveram seus amores impossíveis.

Pauline Alphen é escritora, roteirista, tradutora e jornalista. Filha de pai francês e mãe alagoana, nasceu no Rio de Janeiro em 1961 e ainda criança foi morar na França. Aos treze anos voltou a morar no Brasil e viveu a adolescência em São Paulo. Estudou jornalismo e depois retornou à França e mora lá até hoje, mas sempre vem passar umas temporadas por aqui. Além de A odalisca e o elefante, Do outro lado do Atlântico e A porta estava aberta, publicados pela Companhia das Letras, escreveu também Cabeça de Sol em parceria com seu irmão Jean-Claude R. Alphen, publicado pela Editora Rocco, e neste ano lançou Os gêmeos, também publicado pela Companhia das Letras. Em francês ela escreveu Gabriel et Gabriel e Salicande, da série Les Eveilleurs, que recebeu dois prêmios – Les Imaginales e  Elbakin – de melhor romance de fantasia para jovens em 2010.

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