O bibliotecário do imperador e uma conversa com o autor

Já faz muito tempo que não escrevo aqui, tanto tempo, que devo explicações. Vou tentar… Como disse no post anterior, eu andava em crise, foi difícil me acostumar com esse lugar (como diz minha mãe) de personagem e narrador de um livro. Não sabia mais como me portar, antes eu vivia sossegado aqui no meu cantinho, podia fazer e escrever o que quisesse, planejava meus passeios, buscava minhas leituras, sem ter que dar satisfação a ninguém.

Claro que nunca fui irresponsável, fiz clubes de leitura, por exemplo, com algumas escolas, e acho que os professores não têm nenhuma queixa de mim. Lógico que eu fiquei muito feliz com a publicação do livro, afinal, ele também é meu, mas me gerou muitos conflitos e uma forte crise de identidade. Eu tinha que fazer alguma coisa, não estava mais suportando essa situação.

Como sempre acontece nessas horas, um livro me salvou, e olhem que foi um livro para adultos, que me deu muito trabalho de ler e entender. Mas como eu aprendi que nada na vida é fácil, eu encarei o desafio. Peguei esse livro emprestado do meu pai, ele leu e me contou um pouco da história, o livro se chama “O bibliotecário do imperador”, adorei o título, no final do post vou falar um pouco mais dele, agora só vou adiantar uma passagem, que me encorajou a tomar uma decisão.

Tem uma parte da história em que o personagem vem conversar com o autor do livro e ainda tira umas satisfações, nunca tinha visto isso acontecer, e me deu uma boa ideia: Vou conversar com o autor do meu livro, vou ter uma conversa com ele, de homem pra homem, ou melhor, uma conversa de personagem pra autor.

Outros dois personagens presentes ao lançamento, Helcias, à esquerda, e o bibliotecário João Gabriel, já lendo o livro

A nossa conversa

– O que está pegando, Heitor?

Ele me conhece, só de olhar pra mim, já percebe que não estou bem.

– Eu queria conversar umas coisas com você.

– Pode se abrir… Você sabe que entre a gente não tem segredo, não sabe?

– Sei.

E contei tudo pra ele, tudo que eu estava sentindo. Fui duro em algumas partes, precisava reconquistar o meu espaço, o acusei de me deixar de lado, nesse período de lançamento do livro, fui esquecido. E ele também não deixou por menos, disse que eu estava “viajando”, que o espaço foi sempre meu e se andei sumido, foi por minha culpa.

– Você participou de todos os eventos, foi ao Rio, esteve no lançamento da Biblioteca Mario de Andrade, que foi um sucesso, vendemos 141 exemplares naquele dia e teve até fila para o autógrafo. Não entendo por que não contou tudo isso no seu blog.

– É que eu estava meio perdido, crise de identidade é fogo. Vai me dizer que você nunca sentiu isso?

– Senti, mas você tem que reagir. Nunca ouviu nenhum autor falar que seus personagens tem vida própria?

– Ouvi.

– Então, você é o maior exemplo disso, Heitor, a vida é sua, cuide bem dela! Conversa com seus amigos, vai na editora Biruta, na biblioteca Anne Frank, na Monteiro Lobato, combina algum evento pra gente fazer e levar o livro. Não fique aí chorando as pitangas, vamos divulgar o nosso livro.

Segui os conselhos do meu amigo, o autor de Os meninos da biblioteca, o nosso livro e já comecei a fazer alguns contatos. No próximo post vou contar muitas novidades.

O bibliotecário do imperador

O bibliotecário do imperador, escrito por Marco Lucchesi e publicado pela Editora Globo conta a história de um personagem real, o Inácio Augusto César Raposo, bibliotecário responsável pela coleção de livros do imperador dom Pedro II. Como já disse, é um livro para adultos e que foi difícil de ler. Algumas partes, li mais de uma vez, outras, em voz alta, pesquisei sobre os autores que são citados no livro, tudo pra ver se conseguia entender melhor.

Fiz todo esse sacrifício, pois gostei do assunto e fiquei muito interessado pela história, já sabia que o dom Pedro II tinha uma biblioteca valiosa e eu quis saber o que tinha acontecido com ela, depois da Proclamação da República, quando o imperador foi exilado.

Além da conversa estranha do personagem com o autor, que eu disse e já já vou citar um trecho, o livro começa de um jeito bem diferente, o primeiro capítulo é um prefácio do revisor. Ele detona o livro que a gente está começando a ler, achei muito engraçado isso. O revisor diz que entende muito pouco de literatura moderna, e pelo que tem visto, quer entender cada vez menos.

Diz que esse livro “sofre os mesmos sintomas” da literatura moderna, que o seu autor deixa tudo pela metade, e ainda ri do trabalho do leitor, “este sim, paciente e laborioso, fazendo o que caberia à narrativa, abrir caminhos e atalhos que levam a uma clareira.” Foi o que eu fui lendo esse livro, “paciente e laborioso”, mas gostei do resultado, principalmente porque essa leitura me tirou da crise de identidade.

Trecho salvador

O trecho que me salvou está no capítulo 27, quase ao final do livro. O personagem principal da história, Inácio Augusto César Raposo, o bibliotecário do imperador, morto em 12 de maio de 1890, seis meses depois da Proclamação da República, bate à porta do autor, entra em seu escritório e diz: “Eis-me aqui, Marco Lucchesi”.

E protesta “contra a sem-cerimônia deste livro, a desfaçatez de viver dos outros, sem prejuízo de si mesmo, sanguessuga da história, curioso como as comadres de Windsor, pérfido e desleal como um Iago, cheio de ciúmes de um passado que jamais desnudou e possuiu.”

Eu nunca achei essas coisas do autor do meu livro, mas também tinha as minhas queixas. E se o personagem bibliotecário pôde dizer esses desaforos para o seu autor, por que eu também não poderia dizer umas verdades para o meu? – Eis-me aqui, João Luiz Marques.

Marco Lucchesi

Nasceu no Rio de Janeiro, escritor, poeta, ensaísta, tradutor, e membro da Academia Brasileira de Letras. Além de O bibliotecário do imperador, publicou Nove cartas sobre a divina comédia, O dom do crime, Ficções de um gabinete ocidental, A memória de Ulisses, Sphera, Meridiano celeste & bestiário, entre outros. Traduziu diversos autores como, Rûmî, Khlébnikov, Rilke e Vico, e foi traduzido para diversas línguas. Ganhou duas vezes o Prêmio Jabuti, o Prêmio Alceu Amoroso Lima, pelo conjunto de sua poesia, o Prêmio Marin Sorescu, na Romênia, e o prêmio do Ministero dei Beni Culturali, na Itália.

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Minha primeira entrevista

Fui ao Salão FNLIJ no Rio de Janeiro para lançar Os meninos da biblioteca, no dia 30/6 tem lançamento aqui em São Paulo, na Biblioteca Mário de Andrade, e já dei minha primeira entrevista

– Você está se achando com esse seu livro.

Esse é o meu amigo Lipe! Não sei por que ele me diz essas coisas. O Lipe é meu amigo desde criança, meu melhor amigo, já falei dele, muitas vezes. O Lipe sempre me ajuda nos clubes de leitura que faço aqui no blog, no livro tem participação especial, é o personagem coadjuvante mais importante da história e me acompanhou em todos os momentos importantes da nossa luta.

Ele ficou assim depois que leu a entrevista que dei para o blog da editora Biruta, minha primeira entrevista. Se eu apareço mais é só porque sou o narrador da história, vou conversar direitinho com o meu amigo, ele tem que deixar de lado essas questões pessoais, como diz a minha mãe, é “pura vaidade”. Temos que pensar que a luta em defesa da biblioteca do nosso bairro, que é o tema desse nosso livro, é de todos nós, é uma luta coletiva.

Crise de identidade

Ao invés de ficar dizendo essas coisas, o Lipe devia me ajudar a entender e superar a crise que estou passando. Sou um personagem que escreve um blog e agora virei também um personagem que conta a história de um livro. No blog sou o autor, no livro sou apenas o narrador. Estou vivendo uma crise de identidade! No faz de conta do blog, sou um menino que escreve, de verdade. Mas o faz de conta do livro tem os seus limites, posso dizer que escrevi esse livro, como de fato escrevi e está contado lá na história, mas não posso dizer que sou o autor.

Todo livro tem que ter um autor de verdade, para assinar o contrato e receber os direitos, posso até sair por aí dando entrevistas, mas nunca vou poder dizer que sou o autor do livro. O autor do meu livro, como já disse no post anterior, é o meu amigo João Luiz Marques, o mesmo que me deu este blog de presente, e o ilustrador é o Rômolo, adorei o jeito como o Rômolo me desenhou, acho que ele também vai poder me ajudar a resolver minha crise de identidade.

Lançamento

Na semana passada fui com o autor para o Rio de Janeiro, ele participou do Salão FNLIJ do Livro para Crianças e Jovens, foi lançar o nosso livro em um bate-papo na Biblioteca FNLIJ para Jovens. Lá eu encontrei muitos amigos, o Luiz Antônio Aguiar, a Luciana Savaget, a Rosinha, a Anna Claudia Ramos, a Sandra Pina, o Maurício Veneza, a Lenice Gomes, a Sonia Rosa e a Flávia Côrtes.

Já fui outras vezes ao Salão, mas desta vez foi diferente, das outras vezes fui só como leitor e blogueiro, desta vez fui também como personagem e narrador de um livro que foi lançado lá. Saí pelo Salão encontrando os amigos e exibindo Os meninos da biblioteca, estava muito feliz, quer dizer, continuo feliz, pois no próximo dia 30 o lançamento será em São Paulo, na biblioteca mais importante da minha cidade, a Mário de Andrade.

Minha primeira entrevista

Papeando com o Heitor

(do blog da Editora Biruta)

Esse garoto fez o que muitos leitores já desejaram: encontrar pessoalmente os personagens de seus livros favoritos. Todos os detalhes estão lá no livro “Os meninos da biblioteca”, que será lançado no dia 30/06, em São Paulo. Enquanto você se prepara para esse grande lançamento, conheça um pouco mais sobre o jovem (Le) Heitor, com quem papeamos essa semana.

Quem quiser ler minha primeira entrevista, ela está no blog da Editora Biruta no link: http://www.blogbirutagaivota.com.br/papeando/papeando-com-heitor/

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Vou virar personagem de livro!

Agora eu posso contar, já saiu até no jornal

Folha de S. Paulo – sábado, 23 de maio de 2015 – Painel das Letras por Raquel Cozer: Biblioteca – O movimento de moradores do Itaim Bibi que culminou, em 2012, com a desistência do então prefeito Kassab de demolir a biblioteca Anne Frank, em terreno que seria entregue a construtora, originou um romance. Será o primeiro juvenil do jornalista João Luiz Marques. “Os Meninos da Biblioteca” sai pela Biruta em junho.

Uma vez ouvi uma professora dizer uma frase, que me fez ficar horas pensando: “Quando Pedro me fala de Paulo, sei mais de Pedro que de Paulo.”  Lembrei dessa frase, pois no post de hoje vou falar de mim. Não gosto de ficar falando só de mim e acho muito chatas essas pessoas que só falam de si. Mas será que quando eu falei dos livros que li, dos escritores que conheci, e dos passeios e amigos que fiz, não estava falando mais de mim, também? Vou pensar… Enquanto isso, peço licença pra falar de mim e do meu livro! Acho que hoje eu posso, tenho direito, pois daqui uns dias, vou realizar o maior sonho da minha vida: Vou virar personagem de livro! Quer dizer, já virei, vi o PDF, está lindo, o livro já está na gráfica e fica pronto no começo de junho.

Os Meninos da Biblioteca

O livro em que sou o personagem principal e o narrador se chama Os Meninos da Biblioteca, foi escrito pelo meu amigo João Luiz Marques, o mesmo que me deu de presente e ajuda a divulgar este blog; ilustrado pelo Rômolo, que ainda não o conheço pessoalmente, mas estou louco pra conhecer – adorei o jeito como ele ilustrou a mim e toda história; e editado pela Biruta, que já conheço quase todos que trabalham lá, e adoro os livros que eles publicam.

Os Meninos da Biblioteca conta a história da luta que participei, minha primeira luta política, a luta em defesa da biblioteca do meu bairro, a Anne Frank. O prefeito queria demolir todo o quarteirão onde ela fica e entregar o terreno a uma construtora, para fazer prédios de apartamentos de luxo para poucos. Algumas cenas dessa história eu contei aqui no blog, na época em que ela aconteceu, mas no livro é “outra história”, lá eu conto todos os seus detalhes, que foi até notícia de jornal, e conto também a outra parte da história, que só eu e meus amigos conseguimos ver.

Travamos uma verdadeira guerra com os homens do prefeito para defender nossa biblioteca do ataque inimigo! Além dos meus amigos da escola e da biblioteca, também participaram das batalhas personagens de outros livros, que trouxeram para nossa luta, todo o conhecimento que adquiriram nas suas próprias histórias. A ajuda desses personagens foi fundamental para colocar em prática nossa estratégia de luta. Nos próximos posts, conto mais.

O dia que recebi uma homenagem da Câmara Municipal de São Paulo por minha “contribuição para preservação das memórias e defesa da qualidade sócio-cultural da região.” Esta história também estará no livro!

Lançamento

O lançamento de Os Meninos da Biblioteca será no dia 30 de junho, terça-feira, às 19h30, na biblioteca Mário de Andrade. Vamos mandar convites para todos os nossos contatos, mas já vai reservando o dia.

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Três livros de Jorge Miguel Marinho e as plenárias do PMLLLB

Depois de algumas semanas longe daqui, volto pra falar de três livros de Jorge Miguel Marinho, e da elaboração do Plano Municipal do Livro, Leitura, Literatura e Biblioteca de São Paulo, que tenho acompanhado e participado. O Plano será finalizado e nos próximos dias vão acontecer plenárias regionais por toda cidade.

Antes, uma conversa com minha mãe

– Você vai abandonar seu blog, Heitor?

Toda vez que fico um tempo sem escrever aqui, minha mãe me faz esta pergunta.

– Não, mãe! É que estava ocupado com trabalhos da escola e um pouco chateado, também.

– Chateado com aquela resposta que não saía?

– É.

– Mas agora já saiu… Você não disse que conseguiram a última autorização?

– Disse.

– Então… Logo você vai poder realizar seu sonho, de que tanto fala.

– Tanto falo… Até parece… Nunca contei nada no blog.

– Por que te proibiram! Mas aqui em casa você não fala de outra coisa.

– Quer saber? O que eu queria, mesmo, era contar tudo no blog, mas me pediram pra esperar “só mais um pouquinho”.

– Espera, meu filho… O mais difícil já passou!

– Não sei por que, na minha vida, tudo é sempre tão difícil!

– Reclama de barriga cheia… Depois, você vai ver que sua espera, valeu a pena.

As mães sempre dizem essas coisas e a minha é meio exagerada.

Um infantil, um Jabuti e uma Cantada Literária

Como prometi no post anterior, hoje vou falar do livro infantil, Um passarinho me contou, de Jorge Miguel Marinho, ilustrado por Flávio Pessoa, mas não vou falar só deste; reli o Lis no peito, pra contar aqui, um juvenil do Jorge Miguel, que já tinha lido um tempo atrás; e li também o Escarcéu dos Corpos, um livro de contos do Jorge, que fez parte de uma coleção antiga, da Editora Brasiliense, chamada “Cantadas Literárias”, este eu peguei emprestado da estante dos meus pais. Vou falar de três livros de Jorge Miguel Marinho, um infantil, um Jabuti (Lis no peito ganhou Jabuti!) e uma Cantada Literária.

Isso é assunto pra criança?

Como contei no post anterior, fui ao lançamento desse infantil do Jorge Miguel, que teve um bate-papo com o autor, com o ilustrador Flávio Pessoa, e outros dois escritores, Edson Gabriel Garcia e Marcelo Donatti, dos quais já falei um pouco, naquele post. O Flávio disse que enquanto criava as ilustrações para o texto do Jorge, comentava com amigos sobre o assunto do livro, e todos ficavam espantados. O livro trata de suicídio e fala de morte! Como escrever um livro infantil com esse tema? Isso é assunto pra criança? Foram as perguntas que fiz a mim mesmo, assistindo ao bate-papo, e fiquei curioso pra ler o livro.

Um passarinho me contou, escrito por Jorge Miguel Marinho, ilustrado por Flávio Pessoa e publicado pela Edições de Janeiro começa assim:

“Esta é uma história triste demais, mas eu tenho que contar. Agora, você precisa ler com bastante cuidado, descobrindo palavra por palavra e, se for o caso e precisar, pode até mudar o final ou alguma coisa da história para ela nunca acontecer… Ah…, queria pedir também para você esperar um pouco só, que eu me apresento já, já… Combinado? Então me escute e preste toda a atenção.”

Esse é o narrador dessa história vivida pelo passarinho Par Dal, que, apesar de ser um pássaro discreto – não se metia na vida alheia e não gostava de ouvir conversas dos outros – por puro acaso, pousou na beirada da janela de dona Berta, uma velha senhora, e escutou tudo o que ela falava à sua amiga íntima, Isaltina, que estava do outro lado da linha do telefone. Elas tinham um compromisso para aquele dia, iam “lá fazer aquela visita para a dona Morte”.

O que acontece depois, eu não vou contar, o próprio narrador pediu para que não contasse: “deixa os outros descobrirem sozinhos esta história e não conte para mais ninguém”. Só posso dizer que gostei muito dessa nova história do Jorge e acho que dá pra falar, sim, desse assunto num livro pra criança. Como disse o Flávio Pessoa, que criou as ilustrações que fazem a gente entrar ainda mais no clima da história: “O texto do Jorge tem um humor leve, mas o tema da morte é muito denso, um contraste que confere tom poético à leitura.”

Um livro que pede perdão

Quando conheci o Jorge Miguel Marinho, entre muitas coisas que ele me disse, uma nunca mais esqueci: O escritor escreve para ser amado! Ele me contou que essa frase é de Mário de Andrade. Adorei, e confesso que saí por aí, repetindo essa explicação. Depois, quando li o Lis no peito, decobri que ele cita essa frase no livro, numa versão mais completa:

“Ninguém escreve para si mesmo a não ser um monstro de orgulho. A gente escreve para ser amado, para atrair, para encantar”.

Esta citação está no começo da história, em um diálogo entre o narrador, que é escritor e escreve esse livro, e o personagem principal, Marco César. Não sei se o Jorge também escreveu esse livro para ser amado, só sei, – e é o que conta essa história – que ele foi escrito, a pedido do personagem principal, que pede perdão por um crime que cometeu.

Lis no peito – Um livro que pede perdão, escrito por Jorge Miguel Marinho e publicado pela Editora Biruta, recebeu diversos prêmios, Jabuti, Orígenes Lessa, White Ravens, e Altamente Recomendável pela FNLIJ. O livro conta a história de Marco César, um rapaz de 17 anos (ou mais), “tão jovem no corpo e quase velho nos acidentes do coração”, que se torna amigo do escritor e a ele conta toda sua história. Marco César havia cometido um crime, se arrependeu, confessou tudo ao seu amigo escritor e implorou para que ele escrevesse sua história.

O começo da amizade entre os dois não foi nada fácil, se viram pela primeira vez num encontro do escritor com os alunos da escola, Marco César não demonstrou nenhum interesse pela conversa do escritor, sentado bem na frente, “rabiscava uma página com um desprezo muito próximo da agressão”. Com o tempo foram se conhecendo, Marco César pôde se abrir com o personagem-escritor e dessa amizade nasceu esse livro.

A escritora Clarice Lispector percorre toda a história do livro, os nomes dos capítulos são frases suas: “Este livro nada tira de ninguém”; “Você me quer como amigo mesmo assim?”; “Tudo estava guardado dentro de mim”; “Nasci de graça”; “É preciso ser maior que a culpa”; etc.; e outra personagem da história, que também se chama Clarice, tem a escritora como sua preferida. Marco César se apaixona por Clarice (a menina), se sente muito atraído por ela, mas adia o primeiro beijo, vive essa espera com alegria e com a certeza de que ele vai acontecer.

Um acidente de percurso leva Marcos César a cometer um crime e esse livro é o seu pedido de perdão. Leiam e depois me contem se o Marco César deve ser perdoado ou condenado. Eu ainda estou em dúvida.

A Cantada de Jorge Miguel

Descobri esse livro de Jorge Miguel Marinho, quando estava escrevendo o post do clube de leitura da Escola Luiz Gatti, sobre o livro As Frangas, de Caio Fernando Abreu. Meu pai, que também leu As Frangas e participou do clube, me falou de outro livro do Caio F., o Morangos Mofados, que fez parte de uma coleção antiga, da Editora Brasiliense, chamada “Cantadas Literárias”, e que devia estar perdido na estante de casa. Procurei, não encontrei o Morangos Mofados, – ele deve ter emprestado pra alguém que não devolveu -, mas encontrei o Escarcéu dos Corpos, do Jorge Miguel, que foi lançado em 1984 e também fez parte dessa coleção. Fiquei curioso pra ler.

Escarcéu dos corpos, o livro de Jorge Miguel Marinho, publicado pela Editora Brasiliense, da coleção “Cantadas Literárias”, traz sete contos do autor: “A mulher azul”, conta a história de Dona Rebeca, que de repente começa a ficar azul e provoca a maior confusão; “Fornada”, é a história de um casal que não para de ter filhos, chegam a ter a cada três meses; “O complexo de Ephedron”, é a história de outro casal em que o marido acha que a mulher está se transformando em homem;

“Forquilhas” é a história de uma velha, com uma doença bem estranha, presa num quarto, refletindo sobre a vida; “A gorda do Carandiru” é a história de Norma, que começa a engordar por uma felicidade, depois busca diversos regimes, mas não para de engordar; “Circunstâncias de uma harmonia” é a história de uma mulher que tenta escrever um conto sobre seu marido, Anselmo, consegue isso e muito mais; e “Alívio”, a história de um velho, que vai morar com a filha e vive aventuras fantásticas com o neto.

Gostei de todos esses contos do Jorge, apesar de não ter entendido direito algumas partes, realismo fantástico, às vezes, é difícil de compreender. Mas, outro dia, ouvi dizer que não é preciso entender pra gostar, dá pra gostar, mesmo assim, não entendendo tudo. A gente pode gostar de como a história é contada, pelo som das palavras… É muito bonito o jeito como o Jorge escreve esses contos, li em voz alta e o texto ficou mais bonito ainda. Gostei mais de dois, do primeiro, “A mulher azul”, e do último, “Alívio”. O primeiro é muito engraçado e o último, triste.

O autor

Jorge Miguel Marinho nasceu no Rio de Janeiro e logo veio morar em São Paulo, onde vive até hoje, é escritor, cursou Letras e fez mestrado em Literatura na USP, professor de literatura brasileira e língua portuguesa, coordenador de oficinas de criação literária, roteirista e ator. Escreveu e publicou livros infantis, juvenis, contos, poesia e ensaio.

Entre outros, é autor de, Um passarinho me contou; Uma história, mais outra e mais outra; Advinha o que tem dentro do ovo; A ideia que se esquecia; O menino e o fantasma do menino; Na curva das emoções; A visitação do amor; A maldição do olhar; Na teia do Morcego; Escarcéu dos corpos; e o premiado Lis no peito – Um livro que pede perdão, que em 2006, ganhou o Jabuti, recebeu o prêmio Orígenes Lessa, o prêmio White Ravens, e o Selo Altamente Recomendável da FNLIJ.

Plenárias regionais discutem o PMLLLB de SP

Como muitos já devem saber, a cidade de São Paulo está elaborando o seu Plano Municipal do Livro, Leitura, Literatura e Biblioteca (PMLLLB). Desde 2012, pessoas que atuam nas áreas do livro e da leitura, vêm se reunindo para discutir a necessidade desse plano. Em abril de 2014 foi formado um grupo de trabalho composto por representantes da prefeitura, da câmara e da sociedade civil para elaborar o projeto. Desde então, já foram realizados mais de 30 debates setoriais, envolvendo diversos segmentos do livro e da leitura, em que foram apresentadas diversas propostas.

Na próxima etapa, que começa neste sábado, dia 28 de março, vão acontecer as plenárias regionais, com consultas à comunidade de seis regiões da cidade (Centro, Norte, Sul, Sudeste, Leste e Oeste)

“Esta será mais uma oportunidade de toda a população debater e construir um Plano que reflita o direito ao livro, à leitura e à literatura, que não se restrinja a interesses corporativos e localizados. Essas plenárias regionais e o Encontro Municipal que definirá em abril a redação final do PMLLLB representam as últimas etapas do processo”.

Segue cartaz com o calendário das plenárias regionais. Eu vou à da regional oeste, que acontece no bairro Butantã, que fica na região onde moro. Também quero ir à do centro, que será na Biblioteca Mário de Andrade.

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Meus amigos escritores

Outro dia recebi um e-mail do escritor Jorge Miguel Marinho me convidando para o lançamento de seu novo livro, Um passarinho me contou. O Jorge Miguel foi o primeiro escritor de verdade que conheci, isso aconteceu quando visitei, pela primeira vez, uma editora, nesse dia aprendi como se faz um livro e de quebra, ganhei este blog. Quem me deu ele de presente e até hoje me ajuda a administrá-lo é o pessoal da Sintaxe, que na época fazia assessoria de imprensa para essa editora.

Com o blog conheci muitos escritores, ilustradores, editores, leitores e fiz muitos amigos. Na outra semana fui ao lançamento do novo livro do Jorge e na dedicatória que fez pra mim, ele escreveu: “Heitor, eu sou amigo do João e quero ser seu amigo também. Maior abraço do Jorge. Espero que você goste dessa história”. O João trabalha na Sintaxe, foi quem me apresentou ao Jorge Miguel e a outros escritores. Eu gostei muito do novo livro do Jorge, já quero contar no próximo post e vou adorar ser seu amigo!

No lançamento do Jorge, encontrei a Nice Ferreira, que trabalha na Edições de Janeiro, a editora que publicou esse seu livro, e conheci a Renata Nakano, a moça que editou Um passarinho me contou. Também conheci o ilustrador, o Flávio Pessoa, e dois escritores, amigos do Jorge, o Edson Gabriel Garcia e o Marcelo Donatti. O Edson tem um monte de livros juvenis, e o Marcelo escreveu um livro infantil. Um dia quero falar dos livros deles!

Fiz essa introdução para contar o assunto do post de hoje. Vou falar de dois livros, o De João para seis irmãos, da Roberta Asse, e o As mentiras do zodíaco, do Marcelo Jucá, dois escritores que conheci no final do ano. Adoro conhecer escritores e fazer novos amigos, meu amigo Lipe me chama de “comédia” quando começo a falar dos “meus amigos escritores”. As aspas são dele, que faz sinal com os dedos indicador e médio, fala com desdém, e diz que tudo não passa de ficção. Não é ficção, não, Lipe! Pode perguntar a eles.

A história de João, o pequeno marceneiro

No final do ano fui a um evento da Editora Jujuba, no parque da Água Branca, aqui em São Paulo, e encontrei muitos amigos: Daniela Padilha, Aline Abreu, Raquel Matsushita, Lúcia Hiratsuka, André Neves, Silvia Fernandes e Cristiane Rogerio. O Claudio Fragata também estava lá e me apresentou à Roberta Asse. Li muitos livros do Claudio e já falei dele aqui no blog, além de escritor ele dá cursos e coordena uma oficina de escrita criativa, a Roberta foi sua aluna nessa oficina.

O projeto do livro que eu vou contar hoje foi analisado em aula, o Claudio me disse que a Roberta tem outros textos, tão bons quanto esse, que também podem virar livro. Soube que a Roberta tem um jeito bem legal de trabalhar, ela viaja pelo Brasil, visita algumas comunidades, presta atenção no que as crianças comem, como brincam, cantam e dançam; e depois transforma tudo isso em histórias curtas. Adorei essa história que a Roberta escreveu, a história de João, e quero ler outras.

De João para seis irmãos

No dia que conheci a Roberta, ela me contou que tinha acabado de publicar esse livro, e eu falei do meu blog. Na outra semana, ela me mandou um e-mail, dizendo que gostou muito do blog, e me perguntou se podia me mandar um exemplar do livro, de presente. E eu respondi que sim. Claro, adoro ganhar livros!

O livro De João para seis irmãos, publicado pela Pólen Livros, foi escrito e ilustrado pela Roberta Asse, o projeto gráfico também é dela, ela é arquiteta e trabalha como designer gráfico. A história foi inspirada em seu pai, o livro é dedicado a ele, o pai da Roberta se chama João e é marceneiro. Gostei de saber disso, pois meu avô também foi marceneiro, não o conheci, quando nasci, ele já tinha morrido, mas meu pai me fala dele. Na nossa casa tem alguns móveis feitos pelo meu avô, inclusive uma estante de livros, aquelas de madeira trabalhada e portas de vidro.

Como já diz o título do livro, o João tinha seis irmãos, ele era o mais velho, cuidava e se dedicava tanto a todos, que às vezes parecia um pai. Quando criança, trabalhava fazendo vassouras, depois do almoço e da escola, e aos 12 anos aprendeu a marcenaria. Um dia pensou em fazer um presente para cada um dos irmãos. “Um presente lindo. Um presente de madeira. Um presente para sempre.”

Seus seis irmãos eram Alva (linda e sonhadora), Chico (travesso e aventureiro), Miro (gostava de assistir, era observador), Tito (atencioso e reclamador), Elizabeth (alegre, gostava de companhia) e Bento (esperto e engraçado), e os presentes que João fez para cada um tinham a cara deles.

Gostei muito do jeito como a Roberta escreve e como foi construindo essa história, é muito bonito ver cada presente se encaixar em cada irmão. Acho que a Roberta herdou isso de seu pai, pois o presente que ela me deu, esse livro, também se encaixou direitinho em mim. No final do livro tem um quadro com as técnicas de marcenaria usadas para fazer os presentes.

Um caçador de mentiras

Já fazia tempo que eu vinha conversando com o Marcelo Jucá, por e-mail, nosso papo começou quando ele descobriu o meu blog e me passou uma dica de leitura, um livro que tinha acabado de lançar, em formato e-book, pela Editora Pipoca, A Coleção de Maya. Ele me contou que esse livro tem narração, e recursos de animação e interação. O leitor pode brincar com a história do livro, compartilhar com os amigos e trabalhar com os professores, em sala de aula, ou com os pais, em casa. A Maya da história é doida pra começar uma coleção, e de foma curiosa, brincando, ela descobre algo bem divertido.

Eu não li esse livro do Marcelo Jucá, não tenho um tablet e meu pai é meio conservador com essa história de e-book. O Marcelo me disse que também dá pra baixar o aplicativo iBooks e ler A Coleção de Maya e outros livros da Editora Pipoca, no smartphone. A Coleção de Maya eu não li, mas li outro livro do Marcelo e adorei, As mentiras do Zodíaco, fui ao lançamento no final do ano, conheci o Marcelo, pessoalmente e ganhei um super-autógrafo:

Caro Heitor, fico muito feliz em finalmente te conhecer! Seu sorriso é sincero e revela muita sabedoria. Espero que esse livro faça você rir. Rir é a coisa mais gostosa do mundo. Então, a cada rima, ria muito. Não sei qual é o seu signo, e pra falar a verdade, eu sou ruim em lembrar as características de cada um. Mas, para este texto, estudei bastante e tentei criar uma história divertida com misteriosos seres do zodíaco. Espero revê-lo em breve pra trocarmos mais histórias. Um grande abraço! Marcelo Jucá. 6/12/14

As mentiras do zodíaco – 13º o signo da serpente

Eu também quero rever o Marcelo e trocar mais histórias com ele! Acabei de ler um livro da Socorro Acioli, A cabeça do Santo, é um livro para adultos. Fui ao lançamento e tenho um exemplar autografado por ela, no autógrafo ela escreve que é para eu ler daqui a dez anos. Fui desobediente! Já li, adorei e não vi nada que uma pessoa da minha idade não possa ler. Soube que o Marcelo Jucá também leu esse livro, quero marcar de tomar um suco com ele e compartilhar essa leitura.

O Marcelo Jucá é jornalista e mestre em comunicação, já trabalhou na Folha de S. Paulo, Editora Abril, Editora Escala e algumas agências de conteúdo. A história de seu livro, As mentiras do zodíaco, publicado pela Editora Patuá, começa com Gael, o personagem principal, deitado na grama, olhando o céu: “Há exatos 13 anos, Gael estava deitado na grama admirando as estrelas no céu. Olhava com os seus óculos binóculos as dezenas de luzinhas daquela infinita escuridão, buscando as respostas para as suas perguntas, para os acontecimentos, para a vida. E morte.”

Essa grama ficava no jardim da casa de seu avô Euclides, numa cidade do interior. Seu avô estava doente e de cama e esta notícia inconformou Gael, que ficou emburrado, sem muita reação. Gael gostava de se perder em pensamento, admirador do céu, seu passatempo era reconhecer cada constelação ou planeta, “ou até um avião sobrevoando se achando o dono de tudo”. De repente ele sentiu um vento estranho vindo de cima, parecia um chacoalhão.

Desse vento veio um brilho, e do brilho, uma serpente. O Marcelo conta essa parte de uma forma muito bonita, como é todo o livro. Fiquei totalmente envolvido na história do Gael, é bonita e engraçada, tem trechos que parecem poesia. A serpente conversou com o Gael, lhe fez uma proposta e passou 12 tarefas ao menino. Ele tinha que fazer 12 pessoas (uma de cada signo) contar 3 mentiras. Com isso seu avô ficaria curado e a serpente seria reconhecida como o 13º signo do zodíaco. Esse é só o comecinho da história, Gael sai para cumprir suas 12 tarefas e salvar o seu avô. Será que ele vai conseguir? Sim, o Marcelo perguntou o meu signo… Sou de escorpião!

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As perguntas da Mafalda

Hoje vou escrever o último post do ano e vou falar da Mafalda, do Quino, li dois livros e uma reportagem no jornal, e visitei uma exposição sobre ela. Depois vou sair de férias, mas pretendo voltar ao blog, logo no começo de janeiro, tenho muita coisa pra contar, nesses dias conheci dois escritores novos, a Roberta Asse e o Marcelo Jucá, e quero muito falar deles. Também tem outros livros que já li, que peguei na Bienal e na Flip e ainda não tive tempo de escrever aqui.

Estou ansioso pra chegar janeiro, no mês que vem, vou esperar a última resposta que pode mudar a minha vida, já foram quatro respostas positivas, falta a quinta, que se for positiva, também, vou ter um 2015 muito feliz, será a realização de um sonho, mas ainda não posso contar nada, me pediram segredo até a resposta final, assim que puder, venho aqui e conto tudo. Agora, vamos ao post de hoje, mas antes de começar, aproveito pra desejar boas festas a todos e um feliz Ano Novo.

Mafalda invade a Folha

Nunca tinha visto uma personagem fazer isso em um jornal, na semana passada a Folha de S. Paulo fez uma reportagem com a personagem Mafalda, e ela invadiu as páginas da “Ilustrada”! Fez perguntas para os colunistas Marcelo Coelho e Keila Jimemez, para o Marcelo, Mafalda perguntou, “com que idade ficamos velhos?”, e da Keila, que escreve sobre TV, ela quis saber se tem coisa boa em algum canal. O jornal ainda reservou uma página inteira com alguns ilustradores respondendo às suas “peguntas desconcertantes”.

Laerte, Caco Gualhardo, Mauricio de Sousa, Liniers, João Montanaro, Adão Iturrusgarai, Allan Sieber, Alexandre Moraes e Fernando Gonsales, desenharam seus autorretratos ao lado da Mafalda e reponderam a todas as perguntas da menina. Teve também uma análise do professor Waldomiro Vergueiro, especialista em quadrinhos, falando da importância dessa personagem do quadrinista Joaquín Salvador Lavado, o Quino. Tudo isso para comemorar os 50 anos da Mafalda, que apareceu pela primeira vez, em setembro de 1964, e anunciar a mostra “O mundo segundo Mafalda”, que chegou a São Paulo, além do lançamento de alguns livros.

O mundo segundo Mafalda

Fui visitar a exposição “O mundo segundo Mafalda”, que está acontecendo aqui em São Paulo, na Praça das Artes, que fica na avenida São João, 281, no centro da cidade, funciona das 9h00 às 20h00, vai até o dia 28/2, nesses dias de festa está fechado, reabre no dia 6/1, e é grátis. A mostra, que já passou pela Argentina, Costa Rica, México e Chile, tem diversos ambientes, que contam a história da Mafalda, da sua família e dos seus amigos. Logo na entrada tem o carro do pai da Mafalda, com toda família dentro, um Citroen, que fez sucesso na Argentina nos anos 1960/70, como o Fusca fez no Brasil. Depois vem outra parte que mostra as invenções da Mafalda e dos seus amigos, como o garfo, que foi transformado em antena telepática para captar as boas ideias.

Tem um apartamento montado, com sofá, móveis, televisão, vitrola, igual aos apartamentos da classe média argentina dessa época, os objetos são todos originais. Tem uma oficina com papel e carimbos dos personagens da Mafalda pra gente criar os nossos próprios desenhos. Tem uma seção com os gostos e os desgostos da Mafalda, o que ela adora, e o que ela odeia, como sopa. Tem outra, com todos os mundos que a Mafalda imagina, como o “mundo doente” e “o mundo suicida”. Tem outra seção que descreve todos os personagens das histórias, o pai da Mafalda, Pelicarpo, a mãe, Raquel, o Felipe, o Manolito, a Susanita, o Gui, o Miguelito, e a Liberdade. Todas as seções têm galerias de tiras, passei a tarde toda vendo a exposição e lendo as tirinhas.

Li dois livros da Mafalda

Li dois livros da Mafalda, de uma coleção que a editora Martins Fontes, selo Martins, acabou de lançar, a coleção tem quatro livros e se chama “A pequena filosofia da Mafalda”. Eu li Como vai o planeta? e Injustiça, os outros dois títulos são Assim vai o mundo! e Guerra e paz.

Em Como vai o planeta?, Mafalda começa a refletir sobre a evolução do mundo, cobra de sua mãe por chorar ao descascar uma cebola, motivo tão pouco “altruísta”; olha para um globo terrestre e percebe que ele está enfraquecendo de tanto desgosto; coloca um aviso em outro globo, que ali há “irresponsáveis trabalhando”; e fica imaginando qual seria o aviso para colocar o mundo à venda, “seria bem difícil fazer um comercial convincente”.

Em Injustiça, depois de lamentar o desastre que é o mundo, Mafalda diz ao seu pai, que lê o jornal: “Sou toda ouvidos, papai. Pode me explicar por que em vez de mudar as estruturas todos só ficam remendando as peças”. Pede ao mundo que dure até ela crescer e diz que vai trabalhar como interprete da ONU. E ainda faz à mãe, uma de suas perguntas desconcertantes: “Mamãe, por que tem gente pobre?”. Quino criou seus personagens e histórias, quando a maioria dos países da América Latina vivia sob ditaduras, mas muitas das reflexões de Mafalda, ainda são bem atuais.

Joaquín Salvador Lavado, o Quino

Quino, ou Joaquín Salvador Lavado, nasceu no dia 17 de julho de 1932 na cidade de Mendoza, na Argentina, recebeu o mesmo nome de seu tio, Joaquín Tejón, pintor, desenhista e publicitário, com quem descobriu sua vocação. Ganhou o apelido de Quino, quando ainda era criança. Na década de 1940, perdeu sua mãe e seu pai, terminou a escola primária e decidiu se inscrever na Escola de Belas Artes de Mendoza, mas logo abandou o curso para se dedicar aos quadrinhos de humor.

Em 1954 se mudou para Buenos Aires e percorreu as redações de todos os jornais e revistas, a procura de emprego. Publicou pela primeira vez na revista Esto Es e, desde então, seus quadrinhos saem em diversos jornais e revistas da América Latina e da Europa. Em 1960 se casou com Alicia Colombo, a sua lua de mel foi no Rio de Janeiro, na primeira vez que saiu da Argentina. O Quino não teve filhos.

Em 1963 lançou seu primeiro livro de humor, Mundo Quino; em 1964 apareceu a Mafalda; depois disso, lançou vários livros na Argentina e no exterior; viajou pra muitos países divulgando seu trabalho; e ainda recebeu diversos prêmios, entre eles o de desenhista do ano, em 1982.

Mafalda é a obra-prima de Quino, com a personagem de uma menina aparentemente inocente e de seus amigos, o desenhista reflete sobre a política, a economia e a sociedade em geral, sempre com humor. Mafalda foi traduzida pra dez idiomas, exportada pra vários países, foi garota-propaganda de campanhas da UNICEF, e inspirou cartões-postais e selos argentinos.

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Caio Fernando Abreu no clube de leitura

Hoje vamos começar mais um clube de leitura com os alunos da Escola Municipal Luiz Gatti, de Belo Horizonte, desta vez será com duas turmas do sexto ano, no total são sessenta alunos do 6ºA e do 6ºB, e o livro é As Frangas, de Caio Fernando Abreu.

Quem organiza o nosso clube na escola e a professora Luciana, de Língua Portuguesa mas, nesta edição, a professora Gláucia, de artes, também participou, os alunos fizeram, na aula dela, galinheiros de massinha, inspirados na leitura do livro. A professora Luciana me mandou umas fotos e disse que os alunos adoraram fazer esse trabalho, publiquei algumas neste post.

Acho que não preciso contar como funciona o nosso clube de leitura, pois está tudo explicadinho no post anterior.

O sumiço dos Morangos Mofados

A escolha do livro As Frangas, de Caio Fernando Abreu, para o clube de leitura, aconteceu do mesmo jeito que a do Beatriz em trânsito, de Eloí Bocheco. A professora Luciana me mandou a lista dos livros do 6º ano, vi, e logo escolhi esse, por dois motivos. Primeiro é que há muito tempo ouço falar de Caio Fernando Abreu, mas nunca tinha lido um livro dele, nem sabia que tinha escrito livro infantojuvenil.

Meu pai me falou um pouco de Caio Fernando Abreu, e contou que nos anos 1980 havia uma coleção de livros da Editora Brasiliense, chamada “Cantadas Literárias”. Vários escritores que apareceram nesse tempo, publicaram seus livros nessa coleção, inclusive o Caio F., que era assim que muitas vezes ele assinava.

Paulo Leminski, Marcelo Rubens Paiva, Chacal, Ana Cristina César, e muitos outros autores, a coleção teve mais de quarenta títulos. O Jorge Miguel Marinho, que eu conheço e já falei dele aqui no blog, também escreveu pra essa coleção, o livro do Jorge se chama Escarcéu dos Corpos.

Tem livros que meu pai diz que nunca mais se esqueceu, como Porcos com Asas, Marcou, Dançou! e Feliz Ano Velho. Meu pai tem uns vinte títulos da coleção “Cantadas Literárias”, guardados na estante aqui de casa, e jura que tinha também o Morangos Mofados, o que o Caio publicou nessa coleção. “Devo ter emprestado pra alguém que não me devolveu”, ele ficou lamentando.

A vida íntima de Laura

O outro motivo que me fez escolher esse livro é que ele foi inspirado em um da Clarice Lispector, que eu já li. Uma vez estava pesquisando escritores que ficaram famosos, escrevendo para adultos, mas também publicaram livros infantojuvenis e encontrei diversos: Moacyr Scliar, João Ubaldo Ribeiro, entre outros, até Tolstoi escreveu para crianças, também. Foi nessa pesquisa que descobri a Clarice Lispector, li três livros dela e contei aqui, no post “Li Clarice Lispector”. Um desses livros é o A vida íntima de Laura, que inspirou As Frangas, de Caio Fernando Abreu.

Nesse livro, depois de contar a história de Laura, a galinha do quintal da dona Luísa, que mais botava ovos e por isso, era aprotegida, Clarice Lispector faz um convite ao leitor: “Se você conhece alguma história de galinha, quero saber. Ou invente uma bem boazinha e me conte”. Caio Fernando Abreu, que leu o livro da Clarice, resolveu contar a dele e escreveu As Frangas. Ele disse que gostava muito da Clarice e queria agradá-la um pouco. Ela já tinha morrido, mas ele achava que a gente também pode agradar as pessoas que já morreram, “é só fazer coisas de que ela gostava”.

Uma roda a três e outra história de meu pai menino

Sempre que tem clube de leitura, peço para o meu amigo Lipe ler o livro, pra gente fazer, em dois, uma roda de conversa, e compartilhar nossas leituras.  Mas desta vez, nossa conversa teve mais um participante, meu pai também leu As Frangas e pediu pra entrar na roda.

– Não sabia que o Caio Fernando Abreu tinha escrito um livro infantojuvenil, li, gostei muito e só quero falar duas coisas.

– Pode falar quantas quiser, pai.

– A primeira é sobre o próprio autor, ele é o tipo de escritor que escolhe as palavras certas para compor uma frase, fica gostoso de ler, é muito prazeroso ler suas histórias.

– Que legal, tio, eu adorei esse livro, também! – O Lipe chama meu pai de tio, eu também chamo o pai dele, assim.

– Agora quero contar uma história de galinha, mas é bem rapidinha…

– A que a Clarice pediu, tio?

– Sim, Felipe, a que a Clarice pediu. A história do livro As Frangas me lembrou de minha casa na infância, ela tinha um quintal bem grande, com pés de frutas e muitos bichos, tinha galinhas, e também tinha patos. Minha mãe colocava os ovos da pata pra galinha chocar, principalmente nos tempos de chuva, ela achava que a pata andava muito pelo barro e os patinhos sofriam pra seguir a mamãe pata. Era muito engraçado, depois que os patinhos nasciam, ver um bando deles, junto dos irmãozinhos pintinhos, seguindo a mamãe galinha.

– Vovó devia ser uma figura!

– E era, Heitor… Mas às vezes era meio intrometida… Onde já se viu querer mudar a natureza dos patos?

Depois foi nossa vez de falar, contamos, eu e o Lipe, tudo que percebemos na leitura que fizemos do livro. Meu pai prestava muita atenção e sorria, a cada revelação que a gente fazia. Quer saber? Uma das coisas que mais gosto no meu pai é esse interesse que ele tem por nossas opiniões.

As oito frangas de Caio F.

O livro As Frangas, escrito por Caio Fernando Abreu, com ilustrações de Suppa e publicado pela Editora Vida Melhor começa com o autor dizendo que a melhor história de galinha que ele conhece é a da Clarice Lispector, contada no livro A vida íntima de Laura. Depois ele explica porque prefere chamar a galinha de franga:“Olha, para dizer a verdade, nem sei direito. Quando olho para uma galinha, acho ela muito mais com cara de franga. Acho mais engraçado.”

Então ele começa a falar da casa onde nasceu, tinha um pátio enorme, (que aqui a gente chama de quintal), tinha uma porção de árvores, “tinha também formiga, passarinho e cachorro”, o Faruque e a Cadeluda. No jardim tinha hortênsia, um jasmineiro e umas margaridas. Também tinha uma bergamoteira, que dava bergamotas, (que aqui a gente chama de mexerica).

Ele diz que o bom quando a gente conta uma história, “é poder chamar as coisas como a gente quer chamar, não como todo mundo chama.” E pede pra gente experimentar… Ele ainda continua contando muito mais sobre essa sua casa, de quando era criança e do seu pátio enorme, até chegar na história das suas frangas, que eram oito:

A Ulla; a Gabi; as três Marias, Maria Rosa, Maria Rita, Maria Ruth; a Otília; a Juçara e a Blondie. Cada franga tem sua história; a Ulla, por exemplo, nasceu na Suécia; a Gabi nasceu na Paraíba, mas foi encontrada no Rio de Janeiro; as três Marias são irmãs e vivem grudadas; a Otília, o Caio ganhou num parque de diversões.

A Juçara, ele acha a mais bonita, mas as outras não podem saber disso, senão rola um ciúme; e a Blondie, que quer dizer lourinha em inglês, é norte-americana, e por isso tem esse nome, pois ela é lourinha, também. Mas elas não vivem nessa casa do Caio, com um pátio enorme, suas oito frangas moravam em seu apartamento, em São Paulo e na maior parte do tempo, ficavam em cima de sua geladeira.

Caio Fernando Abreu (1948-1996) foi jornalista, crítico literário e escritor, considerado um dos representantes de sua geração, nasceu na cidade de Santiago, no Rio Grande do Sul, estudou Letras e Artes Cênicas na UFRGS, mas abandonou esses cursos para trabalhar como jornalista em revistas, como a Nova, Manchete, Veja e Pop.Também escreveu para os jornais Correio do Povo, Zero Hora, Folha de S. Paulo e O Estado de S. Paulo. Em 1968, durante a Ditadura, foi perseguido e refugiou-se em São Paulo, na casa da escritora Hilda Hilst. Nesse tempo morou na Espanha, Suécia, Países Baixos, Inglaterra e França, retornando a Porto Alegre em 1974.

Em 1983 mudou-se para o Rio de Janeiro, depois, em 1985, veio viver e trabalhar em São Paulo. Convidado pela Casa dos Escritores Estrangeiros, voltou à França, em 1994, mas quando descobriu que era portador do HIV, foi morar na casa de seus pais, em Porto Alegre, onde ficou até sua morte, no dia 25 de fevereiro de 1996. Escreveu romances, contos, peças de teatro, novelas, crônicas, e ainda fez traduções. Além de As Frangas e Morangos Mofados, publicou Onde Andará Dulce Veiga?, Pequenas Epifanias, Os Dragões não Conhecem o Paraíso, A Maldição do Vale Negro, Limite Branco, O Ovo Apunhalado, e muitos outros. Seus livros foram traduzidos para diversas línguas e receberam muitos prêmios, inclusive dois Jabutis.

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Eloí Bocheco no clube de leitura e mais PMLLLB

Hoje vamos começar outra edição do clube de leitura com os alunos da Escola Municipal Luiz Gatti, de Belo Horizonte, falaremos do livro “Beatriz em Trânsito”, de Eloí Bocheco, também vou publicar uma entrevista coletiva que fizemos com a autora. E, no final do post, vou pedir licença aos meus amigos da Luiz Gatti, para ocupar o espaço do nosso clube e contar algumas novidades do PMLLLB, o Plano Municipal do Livro, Leitura, Literatura e Biblioteca de São Paulo, e da nova amiga que fiz do mundo do livro.

O CLUBE DE LEITURA

O clube funciona assim, eu posto a resenha sobre o livro e na sequência, os alunos que leram e trabalharam esse livro, em sala de aula, escrevem seus comentários. Se alguém mais quiser comentar, também pode, mesmo não fazendo parte do clube. Esse nosso clube é formado por 100 alunos do 7º e 8º anos, turmas 7ºG, 7ºH e 8ºJ. Quem organiza o clube na escola é a professora Luciana, de Língua Portuguesa, aqui no blog, somos eu e o meu amigo Lipe, ele sempre me ajuda, lê os livros do clube, depois fazemos uma “roda de conversa” e compartilhamos nossas leituras.

Nossa roda de conversa

Faz tempo que eu não falo do meu amigo Lipe aqui no blog, mas a gente se vê quase todo dia, moramos na mesma rua e estudamos na mesma escola, ontem mesmo ele passou aqui em casa:

– E aí Le, beleza?

– Beleza Lipe! E você? Já leu o livro Beatriz em Trânsito, do clube de leitura?

– Li, achei da hora, só não gostei de uma parte.

– Que parte?

– Poxa… foi sinistro o que aconteceu com o Samuel, achei que ia rolar um lance entre ele e a Beatriz.

– E rolou…

– Mas foi curto!

– As histórias dos livros são assim mesmo, Lipe, nem sempre acontece o que a gente espera.

– Não é só nos livros, Le, na vida real também.

– Pois é…

– Mas eu não me conformo, fico revoltado com essas coisas.

Foi bem legal essa minha conversa com o Lipe, durou a tarde toda, falamos muito mais do livro e descobrimos coisas da história que sozinhos não tínhamos percebido. O Lipe é o meu melhor amigo e adoro conversar com ele!

O livro escolhido

Este é o quarto clube de leitura que fazemos com a Escola Municipal Luiz Gatti, de Belo Horizonte, já é o quarto livro que leio com as turmas da professora Luciana, e compartilhamos nossas leituras aqui no blog. Já lemos A professora encantadora, de Márcio Vassallo, Os herdeiros do Lobo, de Nelson Cruz, e Meu pai é um homem-pássaro, de David Almond, e desta vez o livro é Beatriz em Trânsito, de Eloí Bocheco, neste ano ainda pretendemos fazer mais um clube de leitura, será com As Frangas, de Caio Fernando Abreu.

Quando a professora Luciana me passou a lista dos livros do semestre para eu escolher algum para o clube, vi o da Eloí Bocheco e respondi pra ela: Quero esse! Já tinha lido um livro da Eloí, gostei muito e contei aqui no blog, foi o Olha a Cocada!, ela até deixou comentário no post! Eu disse à professora Luciana que poderia consultar a autora, e fazer uma entrevista coletiva, como fizemos com o Nelson Cruz, a professora gostou da ideia, consultei a Eloí, ela topou e esse clube tem entrevista, também!

As perdas e as conquistas de Beatriz

O livro Beatriz em Trânsito, escrito por Eloí Elisabete Bocheco, com ilustrações de João Lin, e publicado pela editora In Pacto, em 2005, já tem um currículo de sucesso, Conquistou muitos prêmios, o Mário Quintana de 2005; foi selecionado para o Catálogo White Ravens da Biblioteca Internacional da Juventude, Munique, em 2006; selecionado para o Catálogo de Bolonha, Feira Del Libro Per Ragazzi, Italia, em 2006; selecionado para o Acervo Básico da FNLIJ, Brasil, em 2006; selecionado para o Programa Mais Cultura do MINC e Biblioteca Nacional; e também selecionado para o Kit Escolar da Prefeitura de Belo Horizonte, em 2013, com isso chegou aos leitores da Luiz Gatti e ao nosso clube de leitura.

A família de Beatriz vivia mudando, de lugar, de casa, de vizinhos, de escola, de amigos… Ela dizia que até já tinha se “desacostumado do costume” de viver sempre no mesmo lugar, mas não sabia por que mudavam tanto, achava que isso era influência de seu avô. Beatriz morava com a avó e os tios, sua mãe morreu, se matou, quando ela ainda tinha um pouco mais de um ano, e seu pai sumiu, suas lembranças da mãe eram “mais inventadas”, para sua avó, as lembranças eram “de verdade”, uma vez por ano, viajavam para levar flores para a mãe no cemitério.

Beatriz tinha alguns medos, o maior deles era o de ficar sozinha, “se morrerem todos aqui em casa e só sobrar eu”, ela também tinha uns sonhos esquisitos, desses que a gente tem quando dorme, sonhava com um boi sem cabeça, com igreja que corria atrás dela – esse ela contou para o seu tio Pedro, que comentou: “Isso é sonho ou literatura?”. Outra vez ela sonhou que era duas Beatrizes, uma tinha mãe e a outra não tinha.

Beatriz gostava de pensar nas palavras, mas, às vezes, algumas a perseguiam. Em casa, era muito querida, na escola adorava a professora Guiomar, que tinha um armário bege, cheio de livros, que os alunos liam com caras de contentes e até podiam levar pra casa. Foi nessa escola que Beatriz conheceu Samuel, ficaram muito amigos, mas logo ele foi passar uns meses em outra cidade, faria uma cirurgia, nesse tempo eles se comunicaram por e-mail, conversaram sobre a vida e sobre o mais gostavam, os livros.

Entrevista Coletiva

“Meu desejo era escrever uma história em que os personagens fossem leitores, apaixonados por literatura”.

Entrevistamos a Eloí Bocheco!

Os alunos da Escola Muncipal Luiz Gatti fizeram algumas perguntas, eu e o Lipe acrescentamos outra, enviamos para a autora e ela respondeu

Clube de Leitura – Qual foi sua inspiração para escrever esse livro, ele foi baseado em uma história real?

Eloí Bocheco – Meu desejo era escrever uma história em que os personagens fossem leitores, apaixonados por literatura.  Queria construir um cenário fictício em que o livro tivesse um lugar privilegiado, fizesse parte do imaginário dos personagens, como algo indispensável, misturado à vida, à rotina. Depois desta primeira ideia, apareceu uma menina, não lembro como ela chegou. Mas vi que se chamava Beatriz e mudava o tempo todo de lugar. Daí em diante, a narrativa foi puxando os outros personagens e tudo o que aconteceu com eles.  Embora o perfil de alguns personagens seja inspirado em vivências reais, a história de Beatriz é uma história de ficção.

CdL – Por que você escolheu o nome “Beatriz” para a personagem principal?

EB – Escolhi por achar este nome muito lindo. Uma coisa curiosa é que, muitos anos depois de ter escrito o livro, fiquei sabendo que Beatriz significa “viajante”, “peregrino”, segundo os estudiosos do significado dos nomes de pessoas. Digo que é curioso, porque a Beatriz vivia (…) “mudando de casa, de vizinhos, de escola, de amigos, de vista pro pôr-de-sol, de ares, de brincares…”

CdL – Você se inspirou em alguém para criar o Samuel e a história dele?

EB – Tive um aluno cadeirante que era um grande leitor, como o Samuel. Era um menino generoso, que ajudava os colegas nas tarefas da escola e era muito admirado por sua inteligência e sensibilidade.  O Samuel tem um quê desse menino.

CdL – Por que o Samuel morreu nessa história? Foram tantas aventuras vividas por Samuel e Beatriz, quase um romance. Por que, então, Samuel morreu?

EB – Olhem, eu não queria que o Samuel partisse. Me doeu muito essa partida. Como na vida, nas histórias, também há caminhos sem volta. A narrativa foi indo para um atalho que levou Samuel embora. A morte é uma realidade inevitável, contra a qual nada podemos fazer. Perder um amigo é uma grande dor.  Foi difícil para Beatriz enfrentar essa perda. Mas, ela enfrentou com a ajuda da arte e dos amigos que ficaram. As lembranças e a saudade ficam para sempre. O tempo faz a sua parte e, pouco a pouco, cicatriza as feridas para a vida prosseguir, apesar das perdas. Os e-mails que ela trocou com Samuel gravaram a memória de uma grande e inesquecível amizade.

CdL – Por que você tratou de temas tão graves como abuso, suicídio, bullying, violência doméstica e violência familiar?

EB – Porque os temas graves devem ser levantados, discutidos, comentados,  para que se reflita sobre eles,  para que se busque prevenir, antes que aconteçam, ou para enfrentá-los sem medo ou preconceitos.

CdL – Por que Beatriz sofre tanto e tem tantos problemas nessa história?

EB – A história de Beatriz encena, recria através da linguagem, a vida. E a vida tem perdas, sofrimentos, perplexidades, dúvidas, conflitos. Apesar da perda trágica da mãe, da ausência do pai e da perda do amigo, ela tem uma família composta pela avó e tios, que são amorosos, acolhedores, e lhe transmitem legados valiosos, como o amor aos livros e às artes, além de exemplos de  ética, de  sensibilidade para com os problemas do outro. Sem contar a professora Guiomar, com quem Bia tem longas e bem-humoradas conversas sobre a vida e sobre os livros do armário bege. A vida mistura alegrias e tristezas, como diz a própria Beatriz: “Amanhã é uma coisa que mistura o que aconteceu com o que vai acontecendo na vida da gente. Umas coisas se repetem nessa mistura, que nem os adeuses, outras nunca mais acontecem. Das coisas que os amanhãs misturam, para mim, a que mais dói é a saudade e a que mais alegra é a amizade”. (Pag. 85)

CdL – Como você foi tendo ideias para escrever Beatriz em Trânsito?

EB – Primeiro surgiu a Beatriz, que era uma menina sempre “em trânsito”, visto que seus tios mudavam o tempo todo de lugar. Daí em diante, uma ideia foi puxando a outra, um personagem foi levando ao outro, e a história foi surgindo e dando voltas, e me levando junto. Acho que as histórias brotam do fundo da memória, das profundezas, dos abismos,  das coisas gravadas na alma, de sentimentos que querem tomar forma através das palavras.

CdL – Foi difícil criar esse livro?

EB – Diria que foi trabalhoso. Levei muitos meses escrevendo e reescrevendo cada capítulo do livro. Procurei reler todos os livros que são citados pelo Samuel e por Beatriz para ter as histórias bem vivas na memória (Reinações de Narizinho, Alice no país das Maravilhas, A Menina que o vento roubou, A Menina e o Vento, O Jardim Secreto, etc.) Levei muitas semanas para compor o diário de João oleiro. Esta parte foi escrita com muita lentidão e refeita numerosas vezes. Também revisitei o folclore para inventar as despedidas de Bia e Samuel nos e-mails e  para compor a mitologia da lagoa verde esmeralda. Foi um livro demorado, mas valeu a pena, pois, desde que foi editado, em 2005, segue encontrando leitores sensíveis como vocês.

CdL – Você sempre gostou de ler livros literários?

EB – Desde que li meu primeiro livro literário, que foi Clarissa, de Érico Veríssimo, nunca mais parei de ler e de procurar os livros literários na biblioteca ou onde quer que pudessem ser encontrados. Na juventude, tive uma mestra de leitura maravilhosa, que lia livros aos capítulos para a turma e formou várias gerações de leitores. Devo a essa mestra a paixão pela literatura e pela biblioteca. Fiz, tempos atrás, uma homenagem a ela, através de uma crônica chamada “Doses de Sonho”, porque era assim mesmo que ela nos oferecia a literatura, como doses de sonho para viver. A crônica pode ser lida em meu blog Sala de Ferramentas.  Essa homenagem foi premiada pela FNLIJ, em 2013, com o Prêmio Leia Comigo! e eu fiquei muito feliz, pois pude homenagear duplamente esta querida mestra. http://wwwsaladeferramentas.blogspot.com.br/2011/05/doses-de-sonho-premio-leia-comigo-da.html.

CdL – Por que decidiu trabalhar com literatura? Você pretendia ser escritora desde pequena?

EB – Meu sonho, desde os sete anos, era ser professora. Realizei esse sonho e lecionei até me aposentar do magistério. Comecei a escrever no final da carreira de professora, durante um trabalho de alfabetização que eu fazia, na biblioteca, em 1998, com crianças da comunidade. Escrevi alguns poemas para auxiliá-los ludicamente nas dificuldades que apresentavam. Foi assim que surgiu meu primeiro livro Uni…Duni…Téia (esgotado).  Alguns poemas desse livro foram resgatados recentemente no livro Tá pronto, seu Lobo? E outros poemas, (Formato, 2014). (http://cantoriando.blogspot.com.br/)

CdL – Ser professora ajudou na sua carreira de escritora?

EB – Ajudou.  Antes de escrever literatura,  fiz a  experiência de compartilhar a literatura com crianças e jovens, e essa foi uma experiência marcante. O magistério me deu uma memória de escola muito rica, muito forte. Ao lecionar, lidamos com a palavra o tempo todo. Temos que procurar a palavra mais clara, mais objetiva, mais limpa para nos comunicar com as crianças, para nos fazer entender.  Esse exercício me deu certo traquejo para lidar, também, com a palavra escrita. Quando escrevo penso que aquele texto poderá ser lido para uma classe em voz alta e capricho para que fique o máximo possível limpo e soe bem aos ouvidos. Ao ler o livro Uma Clareira no bosque – Contar histórias na escola ( Papirus, 2014), da professora Gilka Girardelo, encontrei uma passagem sobre meu livro Contra feitiço, feitiço e meio, onde a autora diz assim: (…) “descobriremos que a autora nos ajuda nesse trabalho, como se tivesse escrito o livro pensando na professora que vai lê-lo em voz alta para a turma”. Ao escrever procuro deixar o texto em estado de ser lido em voz alta por uma professora em classe. A professora que fui sempre está olhando por cima do ombro quando escrevo.

Breve biografia da autora

Eloí Bocheco mora na cidade de Bombinhas, em Santa Catarina, escritora, formada em Letras pela Universidade de Passo Fundo-RS e pós-graduada em Alfabetização e Metodologias de Leitura. Atuou como alfabetizadora, professora de Língua Portuguesa e Literatura, trabalhou como animadora da biblioteca escolar, foi coordenadora de ensino de língua e literatura, dentre outras atividades ligadas ao ensino. Iniciou na literatura escrevendo crônicas para o jornal A Notícia, de Joinville (SC), e seu primeiro infantil foi o “Uni… Duni… Téia”, um livro de poemas, que está esgotado. Depois deste já publicou diversos livros e ganhou muitos prêmios. Se quiser saber mais sobre a autora, visite seus sites: http://wwwsaladeferramentas.blogspot.com.br/ http://wwwprosaseversos.blogspot.com.br/

Extra… Extra! Fotos das turmas da Escola Municipal Luiz Gatti no Clube de Leitura

Lendo o blog e o post do livro Beatriz em Trânsito na sala de informática

PMLLLB – DEBATES REGIONAIS

Na semana passada o pessoal da Sintaxe me ligou:

– E aí, Heitor, tudo bem?

– Tudo.

– Fomos convidados a participar de um debate do PMLLLB, é um debate regional da zona leste, será amanhã, no bairro de São Mateus, na biblioteca do CEU São Rafael. Quer ir comigo?

– Claro que eu quero… Quem vai?

– A Cristiane Rogerio, ela que convidou a gente, acho que você ainda não a conhece, a Cristiane é jornalista, foi editora de educação e cultura da revista e do site Crescer, da Editora Globo, tem um livro infantil publicado pela editora Cortez, o Carmela Caramelo, e agora promove projetos de leitura, tem um site bem bacana que se chama “Esconderijos do Tempo” e trabalha  no projeto “Quem lê sabe por quê”, da prefeitura de São Paulo, é tutora em três CEUs.

– Nossa! Quanta coisa legal ela faz, quero conhecer essa Cristiane.

No dia seguinte fomos a esse debate. Como já contei aqui no blog, até o mês de setembro, aconteceram os debates setoriais, e em outubro, começaram os debates regionais do PMLLLB. Nesses encontros são discutidas as propostas que serão encaminhadas ao GT, o grupo de trabalho que vai elaborar o Plano Municipal do Livro, Leitura, Literatura e Biblioteca da cidade de São Paulo. O Plano será construído de forma democrática, com a participação da população interessada.

O debate foi muito bom, adorei conhecer a Cristiane Rogerio, depois quero ler o livro dela e saber mais de todos os trabalhos que ela faz. Além da Cristiane, também estavam no encontro a Socorro, que é a gestora desse CEU, a Eliegi, a Josi, e a Priscila, que trabalham na biblioteca, o Abner, que frequenta essa biblioteca desde criança e hoje já está no ensino médio, e o Germano Gonçalves, que mora na região e é escritor. Ele leu pra gente um poema do livro que acabou de publicar, adorei o poema, e o livro tem um nome bem bonito, e sugestivo: O Ex-excluído. Discutimos diversas propostas, e a que eu mais gostei foi a do Germano: Que as bibliotecas públicas dos bairros da periferia tenham em seu acervo livros de autores da periferia. No final, a Socorro me levou pra conhecer o CEU. Adorei!

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Clube da esquina, noite na biblioteca e meu voto

Hoje vou falar de um livro inspirado em um disco, também vou falar de um evento que acontece todo ano, é a “Noite na Biblioteca”, na Monteiro Lobato, aqui de São Paulo, e ao final do post, vou declarar meu voto para presidente

O CLUBE DA ESQUINA

Outro dia ganhei um livro de meu pai, ele viu a entrevista com o autor, na televisão, gostou do assunto e me deu de presente. Esse livro é inspirado em um disco que cresci ouvindo, vira e mexe, meu pai põe pra tocar, na verdade, são dois discos, o volume 1 e o volume 2, e se chamam Clube da Esquina.

Os discos

Quando eu era bem pequeno, só gostava de duas músicas do pessoal do clube da esquina e sempre pedia para o meu pai tocar, elas nem são desses dois discos, uma é “Bola de meia, bola de gude” e a outra, “Maria Solidária”, que começa assim: “Eu choro de cara suja, meu papagaio o vento carregou / E lá se foi prá nunca mais, linha nova que pai comprou”. Eu cantava junto e até hoje sei as letras de cor.

Mas com o tempo fui descobrindo outras músicas dessa turma; “Paisagem da janela”; “O trem azul”; “Meu menino”, “Ruas da cidade”; “Trem de doido”; “Tudo que você podia ser”; “Canoa, canoa”; “O que foi feito de Vera”; “Clube da esquina nº 1”; “Clube da esquina nº 2”, a que diz que os ‘sonhos não envelhecem’; “Maria Maria”; “Nascente”; e muitas outras. O Clube da Esquina era formado por Milton Nascimento, Lô Borges, Márcio Borges, Beto Guedes, Fernando Brant e Ronaldo Bastos, que se reuniam na esquina da rua Divinópolis com a rua Paraisópolis, no bairro de Santa Tereza, em Belo Horizonte.

O livro

O livro que li, inspirado nas músicas da turma do Clube da Esquina se chama O Segredo do disco perdido – Uma aventura ao som do Clube da Esquina, foi escrito por Caio Tozzi e Pedro Ferrarini, que também cresceram ouvindo esse disco, tem ilustrações de Leandro Oliveira e foi publicado pela editora Panda Books. O livro apresenta um monte de músicas desses e de outros discos do pessoal do clube.

A história é mais ou menos assim, Daniel vai passar as férias na casa dos avós, no interior de Minas Gerais, era a primeira vez que ele viajava sozinho, e algo lhe dizia que essas férias seriam bem diferentes. Ele tinha estado na casa de seus avós quando ainda era bem pequeno e não se lembrava de muita coisa, mas pelo que o avô lhe contava pelo telefone, sabia que havia campos, montanhas, e que as pessoas da cidade eram sempre amigas e bacanas umas com as outras. As portas ficavam sempre abertas, a mesa cheia de comida gostosa, igrejas muito bonitas e histórias diferentes das que ele já tinha ouvido. “O vovô chamava isso de causos”.

No caminho já começa a acontecer coisas esquisitas, quando o ônibus entra no Estado de Minas, um sujeito bem diferente embarca, era um velhinho magro, com uma barbicha e um chapéu enorme, vestia uma roupa amassada, carregava duas grandes malas e um violão, era estranho e também um pouco engraçado. O velhinho se sentou numa poltrona ao lado de Daniel, conversaram e o menino acabou lhe emprestando um de seus gibis, que tinha levado para ler no caminho. No final da viagem, o velhinho sumiu, levando o gibi do menino. Esse velhinho e o sumiço do gibi vão ter uma explicação no decorrer da história.

E a história segue, o nome do avô de Daniel era Borges e a avó, Lilia. Todos os personagens dessa história tem seu nome ligado à vida ou à música do Clube da Esquina. Seu Borges tinha o LP Clube da Esquina, autografado pelo Lô Borges, um dia o disco some e ele fica deprimido, desisti até de promover o baile que fazia todo o ano na cidade. Em segredo, Daniel e sua nova amiga Maria, assumem a organização do baile. Muitas coisas acontecem nessa história, que tem como trilha sonora as músicas do Clube da Esquina. Sim, esse é o primeiro livro que li com “trilha sonora”, e fiz questão de ler, ouvindo as músicas do disco.

Soube que tem um livro que se chama Os sonhos não envelhecem, foi escrito por Márcio Borges, publicado pela Geração Editorial, e é considerada a biografia oficial do grupo, sei que é para adultos, mas eu também quero ler.

Os autores

Caio Tozzi nasceu em 1984 e Pedro Ferrarin, em 1983, os dois passaram a infância entre São Paulo e a casa dos avós, no interior, onde podiam viver as aventuras contadas nesse livro. Quando era criança, o Caio descobriu que gostava de desenhar e de escrever e o Pedro, de cantar. O Caio cresceu e começou a fazer e vender revistas em quadrinhos, descobriu os heróis das grandes aventuras literárias e percebeu que queria contar histórias, o Pedro cresceu e cantou em várias bandas. O Caio fez jornalismo, o Pedro deixou a música e foi para o cinema. Trabalhando juntos em uma agência de publicidade, descobriram que ambos eram apaixonados pelo Clube da Esquina e resolveram escrever esse livro.

Caio Tozzi é formado em jornalismo pela Universidade Metodista de São Paulo e pós-graduado em Roteiro Audiovisual na PUC-SP, trabalhou com jornalismo e publicidade, fez projetos editoriais, e além deste, publicou dois livros de contos e crônicas, Postal e outras histórias e Quando éramos mais. Pedro Ferrarini é produtor e diretor, formado em Rádio e TV pela Universidade Metodista de São Paulo e pós-graduado em Cinema, Vídeo e Fotografia pelo Centro Universitário Belas Artes de São Paulo. Dirigiu alguns documentários, entre eles “Ele era um menino feliz – O Menino Maluquinho, 30 anos depois”.

NOITE NA BIBLIOTECA

No dia que eu estava no debate do PMLLLB do LiteraSampinha, que aconteceu na Biblioteca Monteiro Lobato e que contei no post anterior, encontrei a Sueli Nemen, que foi diretora dessa biblioteca e hoje coordena todo o sistema municipal de bibliotecas da cidade de São Paulo. Conversei com a Sueli e ela me convidou para conhecer um evento que acontece todo ano na Lobato, a “Noite na Biblioteca”. Todo dia 11 para o dia 12 de outubro, Dia da Criança, um grupo de crianças passa a noite na Monteiro Lobato, com leituras, contação de histórias e brincadeiras. Eu fui, não fiquei a noite toda, mas vou contar um pouco do que vi e do que fiquei sabendo, depois.

Logo que cheguei, encontrei a Muriel Scott, que cuida da programação da biblioteca e me passou um papel com todo o programa do evento, ela também me apresentou a Manu Fernandes, que é a nova diretora da Lobato. Conversei com a Edna e a Adriana, que fizeram a contação de histórias. Participaram do evento, 35 crianças de 7 a 11 anos.

Também conversei com a Bubby Fernandes, ela trabalha na biblioteca como jovem monitora cultural e estava fotografando o evento. Perguntei se não podia mandar algumas fotos para eu publicar no blog, ela me mandou um montão de fotos, eu escolhi algumas, e lá vão…

Quando chegaram todos os participantes, teve uma recepção para as crianças e seus pais, no teatro da biblioteca, foi um espetáculo de música, com uma pequena orquestra do municipal e apresentação de algumas crianças.

Depois da recepção, os pais se despediram das crianças, foram embora e as deixaram sozinhas para passar essa noite na biblioteca. A primeira atividade foi uma visitação guiada, a Sueli apresentou os espaços da Lobato, mas precisou da ajuda do Ale, que além de promover brincadeiras com as crianças, teve que ajudar a Sueli a conter a euforia da turma. Também, uma noite toda, fora de casa e sem os pais, ninguém vai conseguir ficar quieto.

Quando acabou a visitação eu tive que ir embora, não podia ficar toda a noite, conversei com a Adriana e a Edna, que fariam a contação de histórias e elas me contaram como seria. Mas antes teve o lanche.

A Edna recebeu a turma recitando poema de Manuel Bandeira.

A Adriana contou a história do Macaco e a Velha e as de Pedro Malazarte.

As crianças escolheram personagens das histórias, se vestiram com eles…

E foram para a Baladinha Literária com discotecagem.

E ainda teve cinema, com suco, pipoca e outras guloseimas e ao final, descanso, pois ninguém é de ferro.

MINHA DECLARAÇÃO DE VOTO

Meu pai me disse para eu não falar de eleições aqui, que meu blog não é espaço pra isso. Estava difícil de evitar, pois, nesses dias, só se fala dessas coisas, mas eu vinha resistindo, até que vi uma charge do Laerte e não consegui mais me controlar. Eu conheço o Laerte, pessoalmente, já fui a dois lançamentos de livros dele, falei aqui no blog, e ainda publiquei uma entrevista que fiz com ele. A charge é uma declaração de voto para presidente.

Meu pai também falou para eu não declarar meu voto. Eu não voto, ainda, nem tenho idade pra isso! Mas quer saber? Se eu votasse, votaria na Dilma, pelos mesmos motivos do Laerte e também por outros motivos, como a nossa luta pelo livro e pela leitura. Pronto, falei! Meu pai que me perdoe e espero que ele não me demita. E quer saber mais? Lá em casa todos vão votar na Dilma.

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O PMLLLB e um concurso literário

No post de hoje vou contar umas novidades do Plano Municipal do Livro, Leitura, Literatura e Biblioteca (PMLLLB), que estou acompanhando de perto, e também vou falar de um concurso literário e mostrar os trabalhos vencedores

DEBATE COM CRIANÇAS E ADOLESCENTES AJUDA A CONSTRUIR O PLANO DE SÃO PAULO

Já falei aqui do PMLLLB da cidade de São Paulo e disse que voltaria ao assunto quando tivesse novidade. Na outra semana participei, com o LiteraSampinha, de um debate na Biblioteca Infantojuvenil Monteiro Lobato. Nesse encontro foram discutidas as propostas, que serão encaminhadas ao Grupo de Trabalho (GT) para ajudar a construir o Plano.

O que é o PMLLLB

“A cidade de São Paulo está elaborando o seu Plano Municipal do Livro, Leitura, Literatura e Biblioteca para promover o acesso de todos. Os objetivos do plano são: estabelecer políticas públicas claras para o livro, a leitura, a literatura e as bibliotecas e garantir recursos para sua implementação; assegurar o acesso aos livros e a inclusão de todos; promover a integração entre escolas, bibliotecas e outros espaços; debater e promover a formação de mediadores e a bibliodiversidade (diversidade de temas, títulos, editoras e autores na produção editorial e nos acervos); desenvolver e apoiar ações de literatura; incentivar escritores, editores e livreiros.”

O GT e os debates do PMLLLB

Quatro secretarias da Prefeitura de São Paulo (Cultura, Educação, Governo e Direitos Humanos) e diversas entidades ligadas ao livro e à leitura participam do GT, e o LiteraSampa é uma delas. O GT, junto com a população da cidade, está realizando um diagnóstico da situação existente e realizando “debates setoriais” para levantar as propostas de mudança, em outubro começam os “debates regionais”. A ideia é “promover a construção coletiva do Plano, que deve espelhar a diversidade e a dimensão da cidade de São Paulo”.

O PMLLLB tem cinco eixos de discussão (democratização do acesso, fomento à leitura e à formação de mediadores, valorização institucional da leitura e incremento de seu valor simbólico, desenvolvimento da economia do livro, e literatura), e quem quiser pode (e deve) participar dos debates, as informações estão no site http://pmlllbsp.com/. Se preferir também pode mandar sua proposta pelo site em “Dê sua contribuição”. Participe da construção do PMLLLB da cidade de São Paulo!

O debate do LiteraSampinha

Já é o quarto ano consecutivo que o LiteraSampa promove o LiteraSampinha na Biblioteca Infantojuvenil Monteiro Lobato, crianças de 3, até adolescentes de 14 anos se encontram para ler, contar e ouvir histórias, e conversar sobre livros, leituras e bibliotecas. Neste ano, o encontro serviu como debate, e o resultado da conversa será transformado nas propostas, que o LiteraSampa vai encaminhar ao GT, para ajudar a construir o PMLLLB. Minha amiga Bel, do LiteraSampa me convidou para participar do encontro deste ano. Eu fui, adorei, e hoje vou falar um pouco desse encontro.

Cheguei mais cedo, antes de começar e encontrei a minha amiga Neide, ela trabalha no Museu Afro Brasil, no Ibirapuera, e estava com o Daniel, que nasceu no Congo e mora no Brasil há nove anos. Eles fizeram a abertura do evento, que foi no auditório da biblioteca, contaram histórias e cantaram músicas africanas. Também encontrei a Bel, a Val, a Sueli, e os “escritureiros” do LiteraSampa, o Rodrigo, o Eduardo, o Rafael, o Bruninho, a Sidinéia, a Ketli, a Silvani, e a Tamiris, que coordenaram os debates. Eram quatro grupos de debates, divididos por faixas etárias (3 a 5, 6 a 8, 9 a 11 e 12 a 14 anos). No total, havia mais de cem crianças e adolescentes, eu fiquei no grupo da minha faixa etária e quem coordenou a nossa turma foram Eduardo e Tamiris.

Rodas de conversa

Nossa turma foi para uma das salas da biblioteca, sentamos no chão, em roda, e nos apresentamos. Depois, o Eduardo fez um monte de perguntas e nós fomos respondendo, uma a uma: Tem biblioteca no seu bairro? Você vai? O que você mais gosta na biblioteca (no espaço)? O que mais chama sua atenção quando entra na biblioteca? Para onde você olha primeiro? Qual é o canto, a estante, o lado da biblioteca que você mais gosta? O que prende o seu olhar quando entra na biblioteca? Por quê? O que você gostaria que tivesse na biblioteca?

Você gosta de ler? Quais temas? Quais autores? Que tipo de livro? Você já leu para alguém? Pra quem? O que você leu para essa pessoa? Quem foi a primeira pessoa que leu para você? O que você achou da leitura? Gostou? Não gostou? Por quê? O que você gosta de fazer na biblioteca? Quem tem uma história bacana que aconteceu numa biblioteca? Fora da biblioteca, onde mais você costuma encontrar livros? Onde você acha que deveria ter livros também? Na sua biblioteca, o que você mais gosta em seu mediador de leitura? Qual foi a mediação de leitura que você mais gostou?

O Eduardo anotou todas as nossas respostas, leu a poesia “Paraíso”, do livro Poemas para brincar, de José Paulo Paes, em seguida, a Silvani dividiu nossa turma em quatro grupos, distribuiu cartolina, giz de cera e lápis de cor, cantamos a música “Se esta rua fosse minha”, conversamos sobre o tema “Se esta biblioteca fosse minha” (O que teria? Como seria? O que você gostaria de ver nesta biblioteca?), no final colocamos nossas ideias no papel, em forma de desenhos. Foi bem legal!  Depois fomos tomar lanche para nos preparar para os trabalhos da tarde.

Contação de histórias

Depois do lanche voltamos para o auditório, os grupos iriam apresentar, “em plenária”, os resultados dos debates, mas antes teve contação de histórias com Giba Pedroza. Gostei do jeito que ele se apresentou: “Para quem não me conhece meu nome é Giba Pedroza, e para quem me conhece, meu nome, também, é Giba Pedroza”.

O Giba Pedroza é contador de histórias, estudioso e pesquisador da tradição e da literatura infantil. Desde 1987 trabalha com contos e literatura infantil, realizando apresentações e oficinas para crianças e educadores. Participou de diversos encontros e festivais de contadores de histórias no Brasil e no exterior. É também escritor e roteirista. Participou do elenco do especial infantil A menina trança rimas, produzido e exibido na TV Cultura. Ele conta as histórias de um jeito tão gostoso, que emociona. Eu gosto muito de ouvir histórias e adoro as pessoas que sabem contar, bem.

Plenária final

No final, os representantes de cada grupo subiram ao palco, foram oito grupos de debates, mostraram seus trabalhos e falaram de suas propostas e “reivindicações”. Foram muitas, anotei algumas, como: fazer mais bibliotecas na cidade, bibliotecas maiores, mais legais, mais divertidas, com mais livros interessantes, e que todos cuidem bem dos livros.

Também pediram mais brincadeiras e mais conversas nas bibliotecas, que a biblioteca seja um lugar legal, divertido e aconchegante, com muito mais livros. Que a biblioteca seja um lugar para entrar e sair a hora que quiser, e que as pessoas tivessem mais interesse pela leitura. E teve muito mais… Os coordenadores dos grupos vão “sistematizar” todas as propostas para encaminhar ao GT do PMLLLB. Depois quero ver esse relatório!

Participaram desse encontro crianças e adolescentes das seguintes instituições: Associação Maria Flos Carmeli, Instituto Criança Cidadã- ICC, Centro Comunitário Casa Mateus, Instituto Brasileiro de Estudos e Apoio Comunitário – IBEAC, Programa Comunitário da Reconciliação e a EE Belkice Manhães Reis.

CONCURSO LITERÁRIO

Nesse dia também aconteceu o anúncio e a entrega dos prêmios aos vencedores do 1º Concurso Literário “Esta Comunidade Também é minha”, promovido pelo Polo de Leitura LiteraSampa. O Polo de Leitura LiteraSampa é um coletivo de organizações sociais, que mantém bibliotecas comunitárias e desenvolve práticas de incentivo à leitura literária.

Segundo o LiteraSampa, entre outros, o concurso tem dois objetivos principais: o de promover oportunidades de desenvolvimento pessoal e social de crianças, adolescentes e jovens por meio do estímulo ao hábito da leitura e escrita literárias; e o de favorecer a troca de conhecimentos e a integração entre as crianças, adolescentes e jovens das bibliotecas comunitárias do Polo LiteraSampa.

O Concurso Literário selecionou 37 produções de crianças, adolescentes e jovens das instituições integrantes do LiteraSampa (Associação Maria Flos Carmeli, Centro Comunitário Casa Mateus, Instituto Criança Cidadã – ICC, Instituto Brasileiro de Estudos e Apoio Comunitário – IBEAC, Programa Comunitário da Reconciliação e EE Belkice Manhães Reis), a partir de um gênero único – o diário – e tomando como base a obra “Quarto de despejo: diário de uma favelada” da autora Carolina Maria de Jesus.

Coube a uma Comissão Julgadora, composta por especialistas em educação e literatura, indicar os 12 finalistas, os 03 premiados de cada categoria: Diário ilustrado (03 a 05 anos); Diário I (06 a 09 anos); Diário II (10 a 13 anos); Diário III (14 a 24 anos).

Resultado final

No final do evento, fui conversar com a Bel, disse a ela que estava pensando em publicar no blog os trabalhos dos primeiros colocados de cada categoria, e perguntei o que ela achava, e se podia. Ela adorou a ideia, foi conversar com os autores, que me autorizaram a publicar, e adoraram, também. Segue a lista dos ganhadores com os links para os trabalhos dos primeiros colocados, eu li todos e gostei muito, são trabalhos literários de verdade, e de gente grande. Vocês vão ver…

Lista dos ganhadores e os trabalhos dos primeiros colocados

Diário ilustrado (03 a 05 anos)

3° – Maria Eduarda Pantoja (Associação Maria Flos Carmeli)

2° – Vitor da Conceição de Oliveira (Associação Maria Flos Carmeli)

1º – Leandra Vitória Soares do Nascimento (Associação Maria Flos Carmeli) – Baixada do Glicério – Essa Comunidade Também é Minha

Baixada do Glicério – Esta Comunidade

Baixada do Glicério – texto

Diário I (06 a 09 anos)

Menção honrosa: Matheus Henrique Pereira da Silva (Instituto Criança Cidadã – ICC) – Diário do vampiro

3° – Thayná Dantas Barbosa (Centro Comunitário Casa Mateus) – Diário da Thayná

2° – Marina Franco Leon (Centro Comunitário Casa Mateus) – O dia a dia de Marina

1º – Mayane Caroline Luz do Nascimento (Centro Comunitário Casa Mateus) – Meu Bairro, Minha Infância

Meu Bairro, Minha Infância

Diário II (10 a 13 anos)

Menção honrosa: Nina Mayara Franco Leon (Centro Comunitário Casa Mateus) – O mundo da Nina em um diário

3° – Mariana Dias (Programa Comunitário da Reconciliação) – O diário de uma garota top

2° – Bruna Rosa da Silva (Programa Comunitário da Reconciliação) – Minha vida ao avesso

1º – Bianca Rocha de Martino (Centro Comunitário Casa Mateus) – Alguns dos meus dias

Alguns dos meus dias

Diário III (14 a 24 anos)

3° Rafael Santana da Silva (Centro Comunitário Casa Mateus) – Meu querido bairro

2° Giulia Aiko Nishigama Mucheroni (Programa Comunitário da Reconciliação) – Dias de outono

1º – Eduardo Alencar (Instituto Brasileiro de Estudos e Apoio Comunitário – Ibeac) – A Parelheiros da ternura

A Parelheiros da Ternura

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