Biblioteca Nacional, Bienal e prefeito condenado

Na outra semana o pessoal da Sintaxe foi ao Rio de Janeiro para Bienal do Livro, – a Sintaxe é a assessoria que me deu este blog de presente, me apresentou a escritores, ilustradores, editores e leitores, e orientou os meus primeiros passos por aqui. Meu pai também tinha um trabalho no Rio, aproveitei a oportunidade, viajei com ele, fiz uma visita guiada à Biblioteca Nacional e passeei na Bienal. No final deste post também vou mostrar porque o prefeito que queria demolir a biblioteca do meu bairro, história que contei no livro Os meninos da biblioteca, acaba de ser condenado pelo Tribunal de Justiça de São Paulo.

Biblioteca Nacional

A ideia de visitar a Biblioteca Nacional foi do meu pai, minha mãe já tinha feito essa visita guiada. Estou pesquisando um assunto que é quase uma investigação, – mas ainda não posso falar nada dela, só posso adiantar que é sobre livro, óbvio – e meu pai achou que a Biblioteca Nacional seria o lugar ideal para encontrar o que estou procurando. Nesse aspecto, a visita foi mais do que bem sucedida, lá conheci uma equipe especialista nesse assunto, e foi por acaso. Um dia antes, tinha acompanhado meu pai no trabalho dele, e lá apareceu um problema para minha pesquisa, mas logo no dia seguinte, veio a possibilidade de solução, com esses mesmos especialistas que eu conheci na biblioteca. Já me disseram que, nesses assuntos, é assim mesmo que acontecem as coisas. Bem, para quem não podia falar nada, já falei demais, então vamos à visita.

Biblioteca Nacional 34 km de estantes

Bíblia de Mogúncia

O Gabriel foi o monitor que nos guiou nessa visita, ele é estagiário da Biblioteca e estuda História. Nossa conversa começou no saguão de entrada, ele contou um pouco da história da Biblioteca, que ela surgiu em 1808, com a chegada da Família Real Portuguesa, ainda com o nome de Real Biblioteca, que um decreto do Príncipe Regente, de 1810, determinou que fosse construída sua primeira sede, fixando o dia 29 de outubro de 1810, como a data de fundação da Real Biblioteca, mas que só foi aberta ao público em 1814, e que só depois da Independência, passou a se chamar Biblioteca Nacional. Já a atual sede, começou a ser construída em agosto de 1905, durante o governo de Rodrigues Alves, e foi inaugurada em 29 de outubro de 1910, quando a Biblioteca fez 100 anos, hoje tem mais de 200.

Depois fomos passando pelos diversos setores da biblioteca, primeiro pelo setor de periódicos, todos os jornais, revistas, etc., publicados no Brasil estão lá, inclusive as edições da Tico-Tico, primeira revista brasileira a publicar HQs, e que circulou entre 1905 e 1962. Depois fomos para o setor de obras de referência, que são os dicionários, enciclopédias e todo material para pesquisa, e finalmente visitamos o setor de obras gerais, o maior setor da Biblioteca Nacional, se colocadas uma depois da outra, seriam 34 km de estantes, 17 de cada lado da biblioteca. Tudo que é publicado no Brasil tem que ser depositado na Biblioteca Nacional (lei do Depósito Legal), pois sua função é de preservar a memória.

Faltou conhecer o setor de obras raras, que fica no terceiro andar e está em reforma, mas o Gabriel mostrou algumas, digitalizadas. O primeiro livro impresso, de 1455, a Bíblia Gutenberg, ou Bíblia de Mogúncia, só há 12 exemplares no mundo e dois estão na Biblioteca Nacional, uma vez a Biblioteca de Nova York quis comprar um exemplar, mas o Brasil não vendeu. Ele também nos mostrou a primeira edição de Os Lusíadas, de Camões, de 1572; um pergaminho do século XI, com manuscritos em grego, sobre os quatro Evangelhos, o exemplar mais antigo da Biblioteca (e da América Latina), doado por D. João VI; o primeiro jornal impresso do mundo, de 1601; a primeira edição da Arte da gramática da língua portuguesa, escrita pelo Padre José de Anchieta em 1595, a crônica de Nuremberg, de 1493, considerado o livro mais ilustrado do século XV, com mapas xilogravados, os mais antigos em livro impresso; entre outras raridades.

Bienal do Livro do Rio

Depois de perguntar muito, – parece que ninguém sabe direito como se vai para esse Riocentro – pegar Metrô e BRT, finalmente cheguei à Bienal, e enviei mensagem para o meu amigo Lipe, mandando notícias e reclamando: “Muito grande, muita gente, crianças gritando, mó barulho”, e até me deu vontade de dar meia volta e ir embora. Mas não podia fazer essa desfeita para os meus amigos, eles me levaram, me arrumaram credencial, destacaram editoras para eu visitar e alguns eventos para assistir. Então resolvi enfrentar, peguei minhas anotações, o mapa da Bienal, a programação do dia e saí caminhando pelos três pavilhões do Riocentro. Andei mais de três horas, visitei diversos estandes, depois parei um pouco para assistir a um bate-papo de um amigo, sobre um tema da hora.

Achei que ler era chato

No ano passado, na Bienal do Livro de São Paulo, conheci um escritor que mora no Rio de Janeiro, o Luis Eduardo Matta, foi a minha amiga, Susana Ventura, quem me apresentou a ele, esse bate-papo era com Luis Eduardo e sobre um tema que me interessa muito: “Achei que ler era chato”. Eu assisti! Além do Luis Eduardo Matta, estavam Vivi Maurey e Marcelo Amaral, e a mediação foi de Afonso Solano. Os autores conversaram sobre como venceram o preconceito contra a “Literatura chata” na adolescência e a importância de se despertar o gosto pela leitura na juventude.

Achei que ler era chato – Luis Eduardo Matta, Affonso Solano, Vivi Maurey e Marcelo Amaral

 

A Vivi Maurey disse que quem despertou nela o gosto pela leitura foi o Pedro Bandeira, – em um encontro que participei com ele e contei aqui no blog, percebi que muita gente começou a gostar de ler com o Pedro Bandeira – e depois, foi com a Agatha Christie, que a Vivi virou de vez uma grande leitora. Já o Marcelo Amaral aprendeu a ler com suas irmãs mais velhas e o livro que o fez leitor de literatura foi o Feliz ano velho, de Marcelo Rubens Paiva. O Luis Eduardo Matta contou que quando era criança, não gostava de ler livros e que foi na escola que aprendeu a gostar, quando conheceu a obra do escritor Ganymédes José, principalmente a sua A inspetora, série que fez muito sucesso na década de 1980.

Livros

Trouxe da Bienal, dois livros do Luis Eduardo Matta, o Morte no colégio, seu primeiro juvenil, publicado em 2007, autografado, e o Detetive Cecília e a águia de bronze, seu mais recente lançamento. Trouxe também outros dois livros de uma escritora que já queria conhecer a algum tempo, Stella Maris Rezende, A mocinha do mercado central e Justamente porque sonhávamos, este ela lançou na Bienal. Fui ao lançamento, peguei autógrafo e conversei com ela! Vou ler esses quatro livros e depois vou contar aqui no blog.

O prefeito condenado

Enquanto caminhava pela Bienal do Rio, recebi uma mensagem do meu amigo Benjamin, de São Paulo. Ele é jornalista, assessor de imprensa do Ministério Público, leu o meu livro e sabe da minha história: “Heitor, meu caro, tudo bem? Olha só, sempre digo que os caminhos se cruzam, e às vezes acho interessante, como esses cruzamentos são feitos. Se não tivesse lhe conhecido, hoje não saberia o que, do que, ou sobre o que escrevi. Tive que fazer uma notícia para o site aqui do Ministério Público e, enquanto ia lendo do que se tratava, algo familiar foi aparecendo. Não é que a notícia refere-se exatamente a sua ação e d’Os meninos da biblioteca”.  – Não disse que nesses assuntos é assim que muitas vezes acontecem as coisas.

Quarteirão do Itaim – Ilustração de Rômolo

 

E continuava a mensagem. “Confere a notícia”: Terça-feira, 05 de setembro de 2017. Com parecer favorável do MPSP, justiça condena ex-prefeito de São Paulo (… link abaixo). E a notícia seguia, com informações técnicas e linguagem jurídica, mas ao final meu amigo cuidou de traduzir e resumir: “Em suma: além de ter sido condenado por ato ilegal, não convocou audiências públicas, também foi condenado a pagar todos os funcionários de quatro secretarias que elaboraram o projeto e mais as custas dos procuradores do município, que trabalharam de graça na causa para ele”.  E ainda brincou comigo, dizendo que na matéria, faltaram as minhas aspas – é assim que jornalista fala, quando se refere a declaração de alguém numa matéria. Não seja por isso, eu disse, e mandei minhas aspas. “Essas são impublicáveis, Heitor”, e rimos kkkkk.

Com parecer favorável do MPSP, justiça condena ex-prefeito de São Paulo: http://www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/noticias/noticia?id_noticia=17492014&id_grupo=118

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Clube de leitura com “Os meninos da biblioteca”

Neste post vou falar do primeiro encontro do nosso clube de leitura para jovens da Biblioteca de São Paulo. Nossa ideia é que o clube continue aqui no blog, portanto, quem já leu o livro, mesmo que não tenha participado da reunião, e quiser deixar seu comentário, ficaremos muito felizes. Mesmo para quem não leu e tiver algum palpite pra dar, também pode.

Roda de conversa

Toda vez que participo de um clube de leitura, o Lipe me ajuda, ele também lê o livro e fazemos uma roda de conversa. Foi sempre assim, em todos os clubes que fiz aqui no blog, meu amigo deu uma força. Mas com este foi diferente, desta vez o clube é presencial e o Lipe, às vezes, parece que não quer aparecer. Eu insisti para que ele fosse à Biblioteca de São Paulo, para falar um pouco da sua experiência, o Lipe conhece a história de cor e salteado, é um dos personagens. Mas ele disse que não podia, tinha outro compromisso. Esse meu amigo anda muito ocupado!

– E aí, Le, como foi o clube de leitura com o nosso livro?

– Foi bom, mas você fez falta…

– Eu expliquei que não dava pra ir…

– Eu sei.

– Quando vai ser o próximo?

– No dia 30 de setembro com Um bolo no céu.

– Eu já li esse livro, faz tempo…

– Eu me lembro… Foi de lá que tiramos a ideia da “flauta mágica” para nossa história.

– Foi da hora… Mas vou ler de novo, e dessa vez você pode contar comigo.

– Promessa é dívida, hem?!

– Pode deixar.

Os meninos da biblioteca

Eu mesmo fiz a mediação da conversa, falei um montão, que acabou quase virando um monólogo. Quando contei isso ao Lipe, ele disse que sou falastrão. Nunca ouvi o meu amigo usar essa palavra, não sou falastrão, não, posso ter errado, exagerado e falado um pouco demais, mas… Vou conversar com o pessoal da biblioteca pra saber o que eles acharam, e melhorar da próxima vez. Foi minha estreia em clubes de leitura presenciais, estava nervoso, mas aos poucos, vamos acertando.

Participaram do clube, o Jorge, a Gaby, o Alexis, a Bianca, a Ana Beatriz e a Júlia. Comecei explicando o que é um clube de leitura, alguns já sabiam ou tinha ouvido falar, disse que as pessoas se reúnem para conversar sobre a leitura de um livro e que estão aparecendo muitos clubes de leitura na cidade, na própria Biblioteca de São Paulo, já tem outro, para adultos.

Falei de todos os livros que vamos ler, começando pelo Os meninos da biblioteca, “que vocês já devem ter lido”, depois, em setembro, leremos Um bolo no céu, de Gianni Rodari; em outubro, Os meninos da rua Paulo, de Ferenc Molnár; e em novembro O Alienista, de Machado de Assis. Em seguida passamos para as apresentações, todos disseram nome, idade, escola que estuda, em que ano, se gostam de ler, se leem livros além dos indicados pela escola, se frequentam bibliotecas, etc., etc..

Depois comecei a falar de mim, e não parei mais rsrs… Mas o que eu posso fazer, a história desse livro se confunde com a minha própria história, quer dizer, esse livro é a minha história. Contei como comecei a escrever este blog, que ganhei de presente do assessor de imprensa de uma editora que fui visitar, a Biruta, a mesma que depois editou esse livro, falei dos primeiros posts, dos amigos que fiz, escritores, ilustradores, editores e leitores, dos passeios literários, até chegar no post que escrevi sobre a Biblioteca Anne Frank, era a primeira vez que ia sozinho à biblioteca do meu bairro.

Nesse dia fiquei amigo do bibliotecário João Gabriel, passei a frequentar a biblioteca e pegar com ele, ótimas dicas de leitura. Um tempo, depois fiquei sabendo pelo jornal, que o prefeito queria vender o terreno onde fica a biblioteca para construir prédios de apartamentos.

A prefeitura de São Paulo pretendia entregar a uma construtora um terreno de 20 mil m², no bairro do Itaim Bibi, um quarteirão inteiro onde funcionam alguns serviços públicos, incluindo uma biblioteca municipal, a Anne Frank. A comunidade do bairro se organizou para defender esse quarteirão.

Eu não queria que a biblioteca do bairro fosse demolida, então entrei para essa luta política, nela também conheci muita gente e fiz amigos, o Helcias, presidente do centro de memória, o José Eduardo, uma das lideranças do movimento, o Luiz Gabriel, outra liderança, até a atriz Eva Wilma fiquei conhecendo, além de um vereador, o Eliseu Gabriel, e um deputado estadual, o Carlos Giannazi, entre outros companheiros, todos, personagens do livro.

Cheguei a ser homenageado pela Câmara Municipal, por minha contribuição pela preservação da memória, até recebi uma placa, – levei essa placa para mostrar aos meus parceiros do clube. Com tudo isso acontecendo, percebi que tinha uma boa história para contar. Foi assim que nasceu a ideia desse livro, e com ele ainda fiz outros novos amigos, personagens ilustres da literatura.

No final do encontro lemos alguns trechos, em que esses personagens aparecem, depois vamos ler os seus livros para entender qual foi a missão de cada um. O próximo livro será Um bolo do céu, de Gianni Rodari. O personagem dele, que veio nos ajudar, é o Paulo, ele trouxe munição e suprimentos para reforçar a nossa luta.

O próximo encontro será no dia 30 de setembro e as inscrições já estão abertas, para jovens de 11 a 14 anos, pelo e-mail: agenda@bsp.org.br, ou diretamente, no balcão da Biblioteca de São Paulo, que fica ao lado da estação Carandiru do metrô, em São Paulo.

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Clube de leitura e Pedro Bandeira

Hoje vou dar uma passada rápida por aqui para dizer duas coisas. A primeira é que estou muito ansioso com o clube de leitura que vamos fazer no sábado, será minha estreia em clubes de leitura presencias, já teve muitos inscritos, mas ainda há vagas. É para jovens de 11 a 14 anos e quem quiser aparecer por lá, será muito bem-vindo. Vai ser neste sábado, dia 26 de agosto, das 14h30 às 16h30, na Biblioteca de São Paulo, que fica na avenida Cruzeiro do Sul, 2630, dentro do Parque da Juventude, ao lado da estação Carandiru do metrô. Na semana que vem vou escrever um post especial sobre esse nosso encontro.

Encontro com Pedro Bandeira

A outra coisa é pra contar que ontem participei de um encontro com o escritor Pedro Bandeira, na Universidade do Livro da Unesp, que fica no centro de São Paulo. Já li alguns livros do Pedro Bandeira, até falei de um, o “A marca de uma lágrima” em um post bem bacana que escrevi lá no começo do blog (vou deixar o link no final deste texto para quem quiser ler). Quem fez a mediação do bate-papo foi a editora de livros infantis e juvenis da Editora Moderna, a Maristela Petrili de Almeida Leite.

O Pedro Bandeira falou do início de sua carreira como escritor, contou que era jornalista, trabalhou em jornais e revistas e, incentivado pela professora Marisa Lajolo, escreveu o seu primeiro livro. Levou os originais para a própria Maristela, que aprovou, publicou e o provocou a escrever outros. Desde então, Pedro Bandeira não parou mais, em 35 anos publicou mais de cem livros. Ele disse que escreve adaptando sua linguagem ao leitor e que o mesmo tema pode ser contado para diversos públicos, que é só mudar o “foco narrativo”.

Outra coisa interessante que ele disse é que com a literatura podemos experimentar emoções antes mesmo de viver essas emoções, a literatura prepara a gente para a vida, nos ajuda a compreender e elaborar muitos sentimentos. Ele também disse que numa história, não importa tanto o seu conteúdo, o que importa, mesmo, é o narrador e como essa história é contada. Para ele, o grande desafio do escritor é encontrar o jeito de contar uma história. Ele falou que tem orgulho de ser o iniciador na formação de leitores, na plateia havia muitos adultos, emocionados, que aprenderam a gostar de ler com seus livros.

Ele também explicou que para se escrever uma boa história, o autor tem antes que criar um bom personagem, pois um personagem bem escolhido dá ao autor as ideias para o texto, na verdade, é o personagem que acaba escrevendo a história. – Isso eu já sabia! 😉 E acrescentou que às vezes um livro empaca, porque o personagem não ajuda. – E com isso eu não concordo. 🙁

Ele contou também que quando era criança, na escola, escrevia muitos poemas de amor para as meninas, mas nunca conseguiu conquistar ou namorar nenhuma delas, não porque os poemas fossem ruins, ele que era tímido e não tinha coragem de mostrar as suas declarações.

Sobre sua forma de trabalhar, ele disse que escreve e reescreve muitas vezes, e só libera o original quando tem certeza que está terminado. Pedro Bandeira escreve para crianças e jovens, nunca publicou um livro para adultos, uma vez ele começou a escrever um livro para adultos, mas abandonou. Ele contou que um dia desses foi olhar seus arquivos e o livro inacabado estava lá, com 75 laudas escritas, ele releu e decidiu retomar o texto e terminar o livro. Oba! Vamos aguardar…

Link para o post “Li um livro de Pedro Bandeira”: O livro é “A marca de uma lágrima” e quem me indicou essa leitura foi o meu amigo, o bibliotecário João Gabriel, quando trabalhava na biblioteca Anne Frank: http://blogdoleheitor.sintaxe.com.br/li-um-livro-do-pedro-bandeira-2/

Pedro Bandeira e Maristela Petrili de Almeida Leite, da Editora Moderna
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Clube de leitura para jovens

Pronto, finalmente cumpri minha promessa, reformulei o blog e estou de volta. Espero que gostem dele! Há tempos havia prometido isso, no final do post em que falei do livro “A livraria mágica de Paris”, fiz um breve inventário de tudo que vi, vivi e escrevi aqui, refleti um pouco e percebi que tinha amadurecido nesse tempo. Já não sou mais criança, acabei de fazer 14 anos e não podia continuar com a mesma cara, mas não quero mudar só na forma, meu plano é ampliar também o conteúdo do blog. Claro que vou continuar falando dos livros que leio, mas o que eu quero, principalmente, é desenvolver novos projetos de leitura, tenho algumas ideias e estou aberto a sugestões.

Pra começar, vou participar de um clube de leitura presencial! Clubes de leitura “online”, em que trocamos impressões sobre a leitura de um livro pelos comentários, eu já fiz alguns, mas desta vez vou participar de um clube de leitura diferente, cara a cara, na Biblioteca de São Paulo. Serão quatro encontros, com quatro livros: “O alienista” de Machado de Assis, “Os meninos da rua Paulo” de Ferenc Molnár, “Um bolo no céu” de Gianni Rodari, e o meu, “Os meninos da biblioteca”. Depois vou publicar posts para documentar esses encontros e continuar nosso clube de leitura por aqui, daí, mesmo quem não foi, vai poder participar.

Simão Bacamarte, Boka e Paulo são alguns dos personagens da literatura, que ajudaram a defender a biblioteca do meu bairro da ameaça de fechamento, que é a história que eu conto no meu livro. Nessa série de encontros vamos conversar sobre a leitura desses quatro livros, conhecer melhor os seus personagens e entender como eu consegui essas valiosas contribuições para minha luta.

O primeiro encontro será com “Os meninos da biblioteca”, no dia 26 de agosto, sábado, das 14h30 às 16h30, na Biblioteca de São Paulo (BSP), ao lado da estação Carandiru do Metrô.  As inscrições estão abertas, são vinte vagas e os primeiros dez inscritos terão o livro emprestado, pois a Editora Biruta, a Companhia das Letras e a L&PM Editores estão apoiando o nosso projeto.

Inscrições até 11 de agosto ou até o preenchimento das vagas. Mandem um e-mail para agenda@bsp.org.br ou dirijam-se ao balcão de atendimento da biblioteca, de terça a sexta-feira, das 10 às 18 horas. Façam suas inscrições e venham conversar comigo sobre a leitura que fizeram do livro. Espero vocês!

O pessoal da Biblioteca de São Paulo fez um cartaz anunciando o nosso clube de leitura e usou uma ilustração do livro, de quando eu tinha 12 anos. Mas tudo bem, eu não mudei tanto assim e o cartaz ficou ótimo:

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Vamos abraçar o Centro Cultural

EDIÇÃO EXTRAORDINÁRIA

Na semana passada recebi uma mensagem do João Gabriel, ele é diretor do Sindsep, o sindicato dos funcionários públicos municipais de São Paulo. Quem acompanha meu blog há mais tempo ou leu o livro Os meninos da biblioteca, já ouviu falar dele. O João é o meu melhor amigo, depois do Lipe, é claro, o Lipe é meu amigão, quase um irmão.

A mensagem era um convite para eu participar da plenária de organização da luta contra a terceirização da gestão das bibliotecas públicas e do Centro Cultural São Paulo. Todos já devem ter visto essa notícia. Alguns chamam isso de privatização, o prefeito e seu secretário da cultura se defendem e dizem que não vão privatizar como estamos declarando “erroneamente”.

Então que nome dar à transferência para iniciativa privada, da gestão de serviços, que são da responsabilidade do Estado? Se não é privatização, é quase. Claro que fui a essa plenária, lá eu aprendi isso e muitas outras coisas!

E fiquei muito feliz com o convite do João, pois já lutamos juntos em outra frente de batalha e fomos vitoriosos. Derrotamos o outro prefeito que queria fechar a biblioteca do meu bairro, a Anne Frank, (essa história eu contei em detalhes no livro “Os meninos da biblioteca”) e vamos lutar agora contra este, que quer “privatizar” o Centro Cultural São Paulo e todas as bibliotecas públicas da cidade.

Muita gente falou na plenária, fiz algumas anotações e aos poucos vou contando as coisas que aprendi. Ainda quero estudar mais sobre o assunto, já separei e comecei a ler alguns textos, a lei das Organizações Sociais (OS), o plano do livro e o plano da cultura, quero me informar e me fortalecer para essa luta política.

Já percebi que a terceirização é um assunto bem complicado, além de perigoso. O Estado paga para as OSs executarem os serviços que são da sua responsabilidade, com o tempo o Estado perde a capacidade de gerir esses serviços, que são essenciais para a população. Isso não pode ser bom!

O ABRAÇAÇO

Nesta quarta-feira, 25 de janeiro, no feriado do aniversário da cidade, haverá a primeira manifestação pública contra esse plano do prefeito e de seu secretário de cultura, um abraço simbólico ao Centro Cultural São Paulo (rua Vergueiro, 1000, Paraíso). A concentração será às 12h00 e o abraçaço, às 13h00. Estão todos convidados. Eu vou!

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A livraria mágica de Paris

Depois de muito tempo sem escrever no blog, voltei pra falar do livro A livraria mágica de Paris, da escritora alemã Nina George, que conta a história do livreiro Jean Perdu, o farmacêutico literário que receitava livros. Antes eu conto porque fiquei tanto tempo longe daqui, e no final deste post, faço uma retrospectiva da minha vida e alguns planos para o Ano-Novo. Para provar que voltei com tudo, já vou até anunciar meu próximo post: será sobre dois livros que ganhei da Editora do SESI.

VOLTEI PARA FICAR

Hoje vou falar do livro A livraria mágica de Paris, da escritora Nina George. Encontrei esse romance depois de muita pesquisa nas livrarias, bibliotecas e sebos; pois precisava ler algum livro que me fizesse voltar a escrever no blog.

Fiquei muito tempo sem escrever aqui, então, esse livro tinha que ser especial, um livro que me tirasse da inércia, que tivesse a ver com a minha história e o meu momento atual.

Acho que estou vivendo uma crise! Minha mãe disse que isso passa, mas, sei lá, está demorando muito. Quero sair logo dessa fase, e escrever, deve me ajudar.

Na pesquisa, procurei um livro que falasse dos problemas que estou vivendo, encontrei alguns, com histórias contadas por meninas, li dois, mas não é a mesma coisa. Queria ouvir de meninos que já viveram o que estou vivendo agora. Vou explicar melhor:

Sou um leitor que busco me identificar com as histórias que leio, procuro no livro aquilo que se parece comigo. Nunca quero analisar ou criticar o autor, sempre quero gostar dele. Aprendi que sou assim lendo o livro O fazedor de velhos, de Rodrigo Lacerda. (Falei desse livro aqui no blog).

Os livros sempre me ajudaram a resolver minhas dúvidas e superar minhas dificuldades. Já quando contei a história do livro Os meninos da biblioteca, do qual sou o narrador, não foram somente os livros que me ajudaram, seus próprios personagens tiveram papéis fundamentais na minha história.

Eles saíram de seus livros e vieram comigo lutar contra o fechamento da biblioteca do meu bairro.

Desculpem-me ficar repetindo esses assuntos, é que aproveitei o tempo que não escrevi aqui para reler meus posts e descobri uma coisa muito importante: Amadureci!

Meu pai também releu meus posts mais antigos, lá do começo do blog, quando eu ainda escrevia feito uma criancinha, comparou com os mais recentes e me disse: – “Seu texto está melhor, Heitor, você amadureceu, já está escrevendo quase como gente grande”.

Por tudo isso, eu queria encontrar um livro que falasse dos problemas de um menino da minha idade, que está amadurecendo e passando pelas dificuldades dessa fase. Mas só encontrei histórias de meninas. Será que os meninos tem vergonha de falar disso?

Quando estava quase desistindo, vi esse livro na livraria e seu título me chamou atenção: “A livraria mágica de Paris”. Gostei de cara! Comecei a ler o texto da orelha pra ver do que se tratava:

“Uma história emocionante de amor, de perda e do poder dos livros – Monsier Perdu se considera um ‘farmacêutico literário’. De seu barco-livraria ancorado no rio Sena, ele prescreve livros para todas as dificuldades da vida. Fazendo uma análise intuitiva dos clientes, Perdu identifica e recomenda o livro perfeito para cada um.”

Como diria minha tia, “saiu melhor que a encomenda”. Era o que eu precisava para voltar a escrever aqui!

A FARMÁCIA LITERÁRIA

O livro A livraria mágica de Paris, escrito por Nina George e publicado no Brasil pela Editora Record, já foi traduzido para mais de 28 idiomas, permaneceu mais de um ano nas listas de livros mais vendidos da Alemanha e foi best-seller na Itália, na Polônia, na Holanda e nos Estados Unidos, figurando várias semanas na lista do New York Times.

O livreiro Jean Perdu, o farmacêutico literário, tinha seu barco-livraria ancorado no rio Sena e classificava seus clientes em três categorias: “Os primeiros eram aqueles para quem os livros significavam o único sopro de ar fresco no sufoco do dia a dia”, seus clientes preferidos. “Confiavam no que Monsier Perdu lhes dizia que precisavam ou compartilhavam com ele suas vulnerabilidades”.

A segunda categoria de clientes só ia ao barco-livraria, porque era atraída pelo nome da loja: La pharmacie littéraire, ou para comprar seus cartões-postais originais com dizeres do tipo, “A leitura é o fim do preconceito”, “Quem lê, não mente – pelo menos não ao mesmo tempo”, ou para comprar livros miniaturas dentro de vidrinhos marrons de remédio, ou apenas para tirar fotos.

O terceiro tipo de clientes era o que ele menos gostava. Essas pessoas se consideravam reis ou rainhas, e com tom de censura questionavam Perdu: “O senhor não tem curativos adesivos com poemas? Não tem papel higiênico estampado com romances policias? Por que o senhor não vende travesseiros infláveis de viagem? Faria bastante sentido em uma farmácia literária.”

PERDU LEVANTA ÂNCORA

Perdu teve a ideia para batizar seu barco-livraria de “Farmácia Literária” a partir da obra do escritor alemão Erich Kästner, que em 1936 lançou a sua “Farmácia Lírica”, organizada como um armário de remédios poéticos de sua obra. No prefácio do livro, Kästner dizia: “É indicado – de preferência em doses homeopáticas – para as pequenas e grandes enfermidades da existência, e ajuda no ‘tratamento da vida íntima comum’.”

Já Perdu, o nosso farmacêutico literário, queria tratar das “sensações que não são reconhecidas como doenças e que nunca são diagnosticadas por médicos. Todas aquelas pequenas emoções e todos os sentimentos pelos quais nenhum terapeuta se interessa, porque parecem pequenos demais e intangíveis.”

Ele tratava da dor dos outros, mas não conseguia cuidar da sua própria. Uma desilusão amorosa arrastada por 21 anos teve uma revelação que o fez romper todas as suas amarras, levantar âncora e navegar com seu barco-livraria para o sul da França.

Nessa viagem Perdu é acompanhado por Max Jordan, um jovem escritor, autor de um best-seller, que estava sofrendo de um bloqueio criativo, e por Salvo Cuneo, um cozinheiro italiano à procura da barqueira misteriosa que roubou seu coração.

Essa viagem é cheia de aventuras, Perdu continua vendendo seus livros – agora com a ajuda de seus dois amigos -, às vezes até trocando por comida, fazendo suas mediações de leitura e receitando livros.

Uma coisa que eu gostei de descobrir nesse livro é que existe uma cidade, no sul da França, em que tudo se relaciona à literatura. Jean Perdu diz que “quem ama livros, deixa o coração lá, é um vilarejo onde todos são loucos por livros, quase toda loja é uma livraria, uma gráfica, uma encadernadora ou uma editora”. Essa cidade se chama Cuisery. Um dia quero ir à Cuisery!

A AUTORA

Nina George nasceu no dia 30 de agosto de 1973, em Bielefeld, na Alemanha. É jornalista, escritora e professora, já publicou mais de 26 livros, entre romances, thrillers, contos, crônicas e livros de não-ficção. Trabalhou como repórter policial, colunista e editora-chefe de várias publicações.

Ela também escreve com pseudônimos. Sobre questões de amor, sexualidade e erotismo, como Anne Oeste; romances policiais, em parceria com o marido Jens J. Kramer, assina Jean Bagnol. Já com o nome de casada, Nina Kramer, escreveu um thriller em 2008. A livraria mágica de Paris é o seu primeiro romance best-sellers.

MEUS PLANOS PARA 2017

Acho que me sinto bem melhor, agora. Depois de ler A livraria mágica de Paris e voltar a escrever no blog, já estou até pensando em fazer planos para este ano!

Enquanto relia alguns dos meus posts, desde o começo do blog, percebi outra coisa muito importante: Tenho uma história e não posso abandoná-la, simplesmente.

Com o blog fiz muitos amigos escritores, ilustradores, editores e, principalmente, leitores. Fui a muitos lançamentos de livros, passeios e festas literárias.

Com apoio e orientação de professores, organizamos vários clubes de leitura, foram mediações que fizemos com alunos de escolas públicas, lemos diversos livros, e depois conversamos sobre as nossas leituras, por meio dos comentários no blog.

Para a produção desses clubes de leitura, não posso deixar de agradecer ao meu amigo Lipe, ele sempre me ajudou, lendo o livro e participando das rodas de conversa.

Foi o Lipe quem mais me incentivou a voltar a escrever aqui, depois de listar um monte de coisas bacanas que fiz, disse que eu devo tudo ao blog.

– Antes do blog você não era ninguém, Le.

– E daí? – eu respondi. – Você também não era ninguém, Lipe. – E gargalhamos.

Outra coisa importante foi a minha participação na luta política contra o fechamento da biblioteca do meu bairro, com ela, cheguei a receber uma homenagem da Câmara Municipal de São Paulo, por minha militância. Contei essa história em detalhes no livro Os meninos da biblioteca.

Também participei de várias plenárias e acompanhei algumas discussões para elaboração do Plano Municipal do Livro, Leitura, Literatura e Biblioteca, que hoje é uma lei municipal.

Mas o mais importante foram os livros que li. Eu cresci, refletindo e escrevendo sobre essas leituras. Como eu disse no começo deste post, confirmei isso lendo meus textos mais antigos e comparando aos mais recentes.

Hoje já não tenho a mesma cara de quando comecei a escrever aqui, e agora quero mostrar como estou. Para isso, preciso reformular o blog, atualizar as ilustrações, modernizar o projeto gráfico, ampliar o conteúdo, etc… Acho que vou ter muito trabalho!

Mas tudo bem, já estou mais disposto e cheio de ideias. Vou conversar com o meus amigos, pedir ajuda e ver como que se faz tudo isso. Fiquei animado!

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Li “Lua de vinil”, de Oscar Pilagallo

Hoje vou falar do livro Lua de vinil, de Oscar Pilagallo, que acaba de ser lançado. Ganhei esse livro de presente do meu pai, às vezes ele me faz essas surpresas, sem data especial nem nada. Passa numa livraria, vê um livro que ele acha que eu iria gostar de ler e compra pra mim. No caso desse livro, acho que teve um duplo interesse da parte dele. Lua de vinil conta uma história do tipo que ele sabe que eu gosto, e a história contada nesse livro é da época de sua infância. Meu pai adora me contar ou me mostrar como era a vida no tempo em que ele era um menino!

O livro e os discos

No livro Lua de vinil, escrito por Oscar Pilagallo e publicado pelo selo Seguinte da editora Companhia das Letras, Gilberto é o personagem narrador, é ele quem conta essa história que se passa em São Paulo, no ano de 1973. Gilberto tinha dezesseis anos, morava no bairro da Vila Mariana, estudou no Colégio São Luís e se transferiu para o Objetivo da avenida Paulista. Um dos seus apelidos era Giges, dado por um professor de história, o outro era Giba. Seus amigos que moravam no mesmo prédio também tinham apelidos, alguns muito engraçados, Figura, Fariseu, Zigoto, Cabaço, Diabo, Nirvana e China.

Eles jogavam futebol de botão no salão do prédio, a maioria da turma torcia para o Santos, que ganhava todas naquela época, eles também jogavam ping-pong. Gilberto era apaixonado por Leila. Seu pai estava internado na UTI do hospital Oswaldo Cruz, que fica bem perto de onde eles moravam, e ele dividia com a mãe algumas noites de companhia ao pai, que estava inconsciente.

Em 1973, o Brasil vivia em plena ditadura, algumas informações sobre a situação política, ele aprendeu com o pai, outras, soube pelo Agnaldo, irmão mais velho do Cabaço, que já estava na Faculdade, estudava na Fefeleche da USP e era simpatizante de uma organização de esquerda. Três coisas (ou quatro) acontecem na história do livro, que transformam a vida do Gilberto, mas isso eu não vou contar, não vou cometer esse spoiler.

Como eu disse no começo deste post, meu pai me fala com tanta paixão de seus tempos de menino, que quando leio livros que contam histórias dessa época, sinto como se eu também tivesse vivido nesse tempo. É engraçado, sinto saudades de um tempo que eu não vivi.

Outra parte bacana são os discos que eles ouvem, The Dark Side of the Moon, álbum do Pink Floyd que acabava de ser lançado (And all you create / And all you destroy / And all that you do / And all that you say…), o Transa, do Caetano Veloso (Mora na filosofia / Pra quê rimar amor e dor…), o primeiro disco dos Secos e Molhados (Eu não sei dizer / nada por dizer / então eu escuto…), meu pai ainda tem esses LPs aqui em casa. Ouvi alguns e consegui entrar mais ainda na história do Lua de vinil.

O autor

Oscar Pilagallo nasceu em São Paulo em 1955. É autor de História da imprensa paulista, publicado pela editora Três Estrelas, em 2011, que ganhou o prêmio Jabuti, e roteirista da HQ O Golpe de 64, publicado em 2014, pela mesma editora. Publicou também A aventura do dinheiro, em 2000 e O Brasil em sobressalto, em 2002, esses dois pela Publifolha.

Jornalista desde 1975, trabalhou na Folha de S. Paulo e na BBC de Londres. Em 1993, recebeu um prêmio Esso de jornalismo. Nos anos 2000, criou e editou a revista EntreLivros. Lua de vinil é o seu primeiro livro de ficção.

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“Corta-Luz”, o livro feito ao vivo

Como prometi no post anterior, hoje vou falar de um livro feito ao vivo. O livro se chama Corta-Luz e os seus autores Sílvia Zatz, Michel Gorski e Eloar Guazzelli se encontraram durante dois meses, duas vezes por semana, para criar juntos esse livro. Os encontros foram promovidos pela Biblioteca Parque Villa-Lobos, e neste domingo, 26 de junho, nessa mesma biblioteca (endereço e horário abaixo), eles compartilharão com o público como foi o processo de criação do livro, e todos são convidados. Eu acompanhei vários encontros e vou adiantar, agora, com exclusividade, alguns segredos do Corta-Luz.

Ideia do livro surgiu de história real

Sílvia Zatz, uma das autoras do livro, comprou um HD novo, de fábrica, e quando foi instalar no seu computador percebeu que ele já tinha um arquivo em sua memória, reclamou, trocou diversos e-mails com o Serviço de Atendimento ao Consumidor (SAC), e no final, apagou o arquivo, sem ao menos investigar o que tinha dentro dele.

Quando a Sílvia foi contar esse caso para o Michel Gorski (seu parceiro na literatura) ficou arrependida e curiosa: “O que seria aquele arquivo que apaguei?” E dessa conversa, eles tiveram uma ideia: “Isso pode dar uma boa história!” E foi o que fizeram.

Inventaram um conteúdo para o arquivo apagado, criaram alguns personagens, escreveram um roteiro e convidaram o ilustrador Eloar Guazzelli para se juntar ao time. Duas vezes por semana, durante dois meses, os três se encontraram na Biblioteca Parque Villa-Lobos, e juntos criaram, ao vivo, um livro que vai se chamar Corta-Luz.

Encontro com os autores

Neste domingo, dia 26 de junho, às 14h30, na Biblioteca Parque Villa-Lobos (avenida professor Fonseca Rodrigues, 2001 – Alto de Pinheiros, São Paulo – SP), os três autores vão conversar com o público e apresentar o resultado desse trabalho.

A história inventada

Na história inventada para o livro Corta-Luz, quem compra o HD “virgem” ocupado por um arquivo é a Thais, mãe do Zeca. O arquivo intruso é de outro personagem do livro, o Claudinei, era a vida do Claudinei que estava nesse arquivo. A Thaís pede para o Zeca apagar o arquivo, mas, ao invés de apagar, ele começa a investigar o Claudinei e descobre muitos segredos desse personagem misterioso.

Mas o Zeca não investiga sozinho, investiga com a sua turma, formada por Nina, Afonso e Danilo. Juntos descobrem que o Claudinei trabalha na Câmara como taquígrafo e nas horas vagas é guia turístico, ofício que aprendeu com o Hiroshi. Ele promove passeios pela cidade de São Paulo e as informações dos roteiros desses passeios são registradas em código, acham os registros muito suspeitos e resolvem continuar a investigação.

O Claudinei começa a ficar desconfiado e por um acaso descobre que suas dicas de passeio foram parar na internet, que alguém estava pegando as suas coisas. Então chama duas adolescentes, feras em informática, para investigar o caso, são as filhas do Hiroshi. Assim formam a outra turma, a turma do Claudinei, com Nara, Mano e Zumi. A turma que investiga também será investigada!

Eu não li a parte do livro que eles já escreveram, só participei da conversa, eles também me contaram alguns trechos da história. Sei que tem uma sociedade secreta que investiga encontros e desencontros e acho que é por aí que vai seguir o livro. Sei também que a narrativa é no formato de um jogo, por isso o livro se chama Corta-Luz, que é uma jogada do futebol.

Outra coisa que descobri ouvindo a conversa dos três autores é que o livro vai começar com as primeiras páginas só com imagens, mas já contando a história. Será uma apresentação para entrar na narrativa, eles me disseram. O livro é um jogo, por isso os 26 capítulos serão apresentados com a palavra Jogo escrita em diversos códigos, em japonês, chinês, grego, morse, criptografia, esperanto, braile, taquigrafia, etc..

Me sinto como um personagem

Também descobri que os personagens vão circular por diversos lugares da cidade de São Paulo e que em alguns momentos, pelo livro ser quase um jogo, serão representados como personagens de games. Fiquei curioso em saber como vão ficar esses personagens!

Agora, terminando de escrever este post, me sinto como um personagem dessa história, pois também fiz a minha investigação e contei tudo pra vocês. Espero que eles não fiquem chateados comigo, afinal, não cometi nenhum spoiler, o livro será muito mais do que tudo que contei. Não vejo a hora de poder ler!

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Um livro ao vivo

Nesses dias eu estava navegando aqui, no meu próprio blog, lendo posts antigos e me deu um sentimento gostoso, de saudade, de satisfação das tantas coisas boas que já fiz. Ganhei este blog de presente só pra falar dos livros que eu lia, e as coisas foram acontecendo, conheci vários escritores, ilustradores, editores de livros e fiz muitos amigos de verdade.

Fui a lançamentos e feiras de livros, organizei clubes de leitura, participei de lutas políticas, enfim, vivi grandes aventuras, e a mais legal de todas foi que acabei virando narrador do meu próprio livro. Quer saber? Este blog mudou a minha vida! Posso dizer, com certeza, sem risco de errar ou exagerar: antes de começar a escrever nele, eu não era ninguém!

Foram tantas alegrias, que nem deu tempo de contar todas. E hoje eu vou falar de mais uma alegria, outra aventura que estou vivendo e está me deixando muito feliz.

O primeiro a saber

Adoro saber de um livro antes de ele ser publicado, isso já aconteceu comigo, algumas vezes, lembro de duas. Uma vez foi numa palestra com o escritor Ignácio de Loyola Brandão, ele disse que estava escrevendo um livro sobre umas bolinhas de gude, pra fazer uma confissão ao seu avô. Um tempo depois eu o encontrei numa Bienal, perguntei a ele desse livro, e ele me contou que já tinha acabado de escrever e que logo seria publicado. O livro já saiu e se chama “Os olhos cegos dos cavalos loucos”, mas ainda não li.

A outra vez foi com um livro do escritor Liev Tolstói, que se chama “Contos da Nova Cartilha: Segundo Livro de Leitura”, e foi mais legal ainda. Eu estava escrevendo um post sobre o Tolstói, pois tinha acabado de ler um livro dele chamado “De quanta terra precisa o homem”, era o primeiro livro que lia desse famoso autor russo. Quando a editora Ateliê soube que eu ia falar do Tolstói no blog, me contaram desse outro livro, que ele tinha sido ilustrado por crianças russas, alunas de uma escola infantil da cidade de Ijevsk. Fiquei curioso pra ler e falar dele nesse mesmo post, mas como ainda ia demorar pra ficar pronto, me mandaram o pdf do livro. Li o livro no pdf, antes de ser publicado!

Livro ao Vivo

Essa minha aventura de agora é parecida com esses dois casos, só que é bem melhor, não estou só descobrindo um livro que ainda não está pronto, mais do que isso, desta vez estou acompanhando a criação dele. Foi a Rose Riemma, uma amiga editora, que me apresentou aos três autores desse livro. Conversei com eles, mostrei meu blog, disse que gostaria de acompanhar o trabalho deles para depois contar aqui, e eles toparam. Os três autores se encontram uma vez por semana na Biblioteca Parque Villa-Lobos para fazer o livro.Vou acompanhar a criação de um livro, ao vivo! Sim, é assim mesmo que estão chamando esse trabalho: “Livro ao Vivo”. Os autores são Sílvia Zatz, Michel Gorski e Eloar Gazzelli, meus novos amigos.

Sílvia Zatz e Michel Gorski são escritores parceiros com diversos livros publicados em coautoria. Sílvia nasceu em 1969 em São Paulo, estudou cinema e trabalhou com produção de filmes e criação de jogos de tabuleiro. Antes de encontrar Michel, ela já tinha publicado mais de uma dezena de livros infantojuvenis. O Michel nasceu em São Paulo, em 1952, é arquiteto e projeta espaços de entretenimento para crianças, ele também escreve sobre urbanismo e turismo. Juntos já publicaram livros para o público juvenil, infantil e adulto.

Eloar Guazzelli nasceu em 1962 na cidade de Vacaria, no Rio Grande do Sul. É formado em Artes Plásticas pela UFRGS com mestrado na ECA-USP. Mora em São Paulo onde atua com ilustrador, diretor de arte para cinema de animação e quadrinista. Participou de exposições e foi premiado em festivais de cinema e humor na Alemanha, Argentina, Bélgica, Cuba, Espanha, França, Japão, Porto Rico, Portugal, Turquia e Uruguai.

O livro ao vivo vai se chamar “Corta-Luz”, sim, o título tem a ver com a jogada de futebol, eu já sei muitas coisas da história, e na semana que vem, na próxima visita que fizer a eles, vou descobrir ainda mais. Mas ainda não vou contar nada, contarei tudo no próximo post, que será especial, sobre essa minha mais nova aventura.

Conhecendo os autores

E para conhecer melhor os autores li dois livros deles. Um foi o “Por um Triz”, romance juvenil do Michel Gorski e da Sílvia Zatz, primeiro livro que escreveram juntos, e o outro foi o quadrinho “Apólogo brasileiro sem véu de alegoria”, de Eloar Guazzelli, adaptado de um conto de Alcântara Machado. E hoje vou falar desses livros.

Por um Triz – O enigma dos gnomos pigmeus, escrito por Michel Gorski e Sílvia Zatz e publicado pela Editora Rocco conta, por meio de dois diários escritos em épocas diferentes, que se entrelaçam, histórias misteriosas vividas em um hospital, a Santa Casa de São Paulo. Ana Rendel caiu de um muro quando tinha 11 anos, bateu a cabeça e quebrou o osso da bacia, ficou alguns meses internada no hospital, com problemas de visão e imobilizada. A história de Ana se passa em 1931 e foi contada pelo diário que passou a escrever, por sugestão de sua tia, para ocupar o tempo.

A outra história que se entrelaça com essa é a do Tadeu, um estudante de medicina que ao pesquisar os arquivos do Museu da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo encontra o diário de Ana e passa a escrever o seu próprio diário, em uma espécie de diálogo com a menina que esteve por lá em 1931, a história de Tadeu se passa em 2002. Uma terceira história aparece na narrativa, a de Paulo Nakashima, policial que irá investigar o desaparecimento de um personagem. A história ainda tem a participação de gnomos pigmeus, companheiros de Ana durante sua estada no hospital, e um final bem emocionante, mas que só lendo para descobrir.

Já o Apólogo brasileiro sem véu de alegoria é um conto do escritor paulista Alcântara Machado, adaptado para os quadrinhos por Eloar Guazzelli. Essa HQ faz parte de um livro publicado pela Editora DCL, que se chama Domínio Público – Literatura em Quadrinhos. Nesse livro, além de Alcântara Machado, foram adaptados textos de Olavo Bilac (Sete vidas), por Mário Hélio e João Lin; Lima Barreto (O homem que sabia javanês), por Júlio Cavani e Jarbas; Augusto dos Anjos (A ilha de Cipango), por Samuel Casal; Machado de Assis (A cartomante), por André Dib e Kleber Sales; e Medeiros e Albuquerque (O soldado Jacob), por Lydia Barros e Mascaro.

Li na apresentação escrita por Guazzelli, para esse quadrinho, que o conto Apólogo brasileiro sem véu de alegoria é um dos mais conhecidos de Alcântara Machado. O autor nasceu em São Paulo e morreu jovem, aos 34 anos, o tema de sua obra é bem paulista e os seus principais livros são Brás, Bexiga e Barra Funda e Laranja da China. Esse apólogo conta a história de uma rebelião dentro de um trem, motivada pela falta de luz nos vagões e quem encabeça a rebelião é um cego: “Não pode ser! Não se pode viver sem luz! A luz é necessária! Luz! Luz! Luz!”. Os quadrinhos do Guazzelli mostram muito bem o clima de escuridão e rebelião dessa história.

No próximo post vou contar tudo do Corta-Luz, o Livro ao Vivo!

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A democracia pode ser assim – um livro e um lado

Acabei de ler A democracia pode ser assim. Esse livro tem ideia e texto de Equipo Plantel, ilustrações de Marta Pina, foi publicado no Brasil pelo selo Boitatá da Boitempo Editorial e faz parte de uma série de quatro livros chamada “Livros para o Amanhã”. Dirigida a jovens leitores, série foi publicada pela primeira vez na Espanha, entre 1977 e 1978. Depois de ler esse livro e conversar com o meu amigo Lipe, escolhemos o lado que vamos combater na luta política que está acontecendo em todo o Brasil.

O livro e uma conversa com o meu amigo

Na semana passada conversei a sério com o meu amigo Lipe, ele é o meu melhor amigo, moramos na mesma rua e estudamos na mesma escola, o Lipe sempre me ajuda quando faço os nossos clubes de leitura. Falei dele algumas vezes aqui no blog, já no livro “Os meninos da biblioteca”, ele aparece direto, é o personagem coadjuvante mais importante da história e foi o meu grande companheiro na luta contra o fechamento da biblioteca do nosso bairro.

– Le (ele me chama pelo meu apelido da escola), achei arriscado você falar de política no último post.

– Por que…?

– Sei lá, o clima anda tão pesado…

– A gente tem que se posicionar, Lipe… Depois, eu não disse nada demais, meu pai que deu a opinião dele.

– E a sua opinião, qual é?

– Temos que conversar, Lipe… Tenho uma proposta: Acabei de ler um livro bem bacana que se chama A democracia pode ser assim, empresto pra você ler e depois conversamos sobre o livro e sobre a política. Você topa?

– Claro que eu topo, falar de literatura e política com você é sempre da hora! Dá aí o livro que eu vou ler hoje mesmo e amanhã volto pra conversar.

– Fechado!

O dia seguinte

No dia seguinte o Lipe voltou à minha casa, com o livro lido e uma posição tomada.

– Li o livro, Le, adorei e fiz algumas anotações. Tem uma parte que ele diz que na democracia, “(…) é preciso ser tolerante, igualitário, justo. É preciso saber ganhar e saber perder”.

– Pois é, e a oposição não aceitou até hoje a derrota nas eleições, não sabem perder.

– Em outra parte, o livro diz que “E, como o governo é eleito pela maioria, todos têm de aceitar o que o governo faz enquanto governa”.

– É claro, menos “crime de responsabilidade”, foi o que eu andei lendo nos jornais, mas a presidente não cometeu nenhum crime desses, ao contrário dos que pedem o impeachment dela, estão mais sujos que pau de galinheiro.

– Pelo jeito você já escolheu o seu lado.

– Já escolhi, sim, estou ao lado da presidente Dilma, contra o impeachment. E você, Lipe, de que lado está?

– Mais uma vez estamos do mesmo lado, juntos, em outra luta política. A da biblioteca nós ganhamos, e vamos lutar pra ganhar essa também.

– Topa ir à manifestação de domingo?

– Demorô!

– Já sei! Vamos juntos com o Book Bloc.

– Boa ideia! Eles vão se encontrar às 11h30 na praça da República, depois, vamos todos juntos para o Anhangabaú.

– Combinado! Vamos à luta, companheiro!

– Isso aí… NÃO VAI TER GOLPE. VAI TER LUTA!

Agora vou falar do livro e da série Livros para o Amanhã

A coleção Livros para o Amanhã traz uma série de quatro livros: A democracia pode ser assim, A ditadura é assim, O que são classes sociais? e As mulheres e os homens. Essa série é dirigida a jovens leitores. Por enquanto eu só li o primeiro da série, A democracia pode ser assim, quero ler os outros, também.

“Livros para o Amanhã” foi publicada pela primeira vez entre os anos de 1977 e 1978, pela editora La Gaya Ciencia, de Barcelona, na Espanha. Aqui no Brasil, a série foi publicada no final do ano passado, pela Boitempo Editorial (selo Boitatá). Quando esses livros saíram na Espanha, fazia menos de três anos que o ditador Francisco Franco havia morrido.

Franco governou a Espanha por quase quarenta anos, de 1936 até sua morte, em 1975, quando o país começou a viver um período de transição, com as primeiras mudanças democráticas. Nesse tempo o Brasil era uma ditadura, que durou mais uns anos, ainda, e esses livros, certamente, seriam censurados por aqui.

O livro A democracia pode ser assim com os textos de Equipo Plantel e as ilustrações de Marta Pina explica como funciona esse sistema político. Na democracia há liberdade, “todos podem brincar de tudo”, também podem pensar o que quiser, dizer o que quiser, encontrar e se reunir com quem quiser.

Mas existem regras e leis que devem ser obedecidas. O livro também fala de eleições e de partidos políticos, existem os conservadores e os progressistas. Cada grupo tem o seu programa, que é apresentado a toda população para ver quem serão os escolhidos para governar. O eleitor escolhe e a maioria vence.

Essas são só algumas partes, o livro tem muito mais. Achei bem legal ler e poder conversar com o meu amigo. Essa é uma leitura que merece ser compartilhada. No final do livro tem um texto do filósofo Leandro Konder, contando um pouco da história da democracia, tem também outro texto, que fala um pouco do que mudou de 1977, quando o livro saiu pela primeira vez, para os dias de hoje, e ainda tem mais, cinco questões sobre o tema para refletir e debater. Fizemos um bom debate eu e o meu amigo Lipe!

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