Notícias da minha luta política

Hoje eu liguei para o pessoal da Sintaxe* e perguntei o que eles achavam de eu fazer um post só sobre o movimento contra o fechamento da minha biblioteca. Eles responderam:

– Faz como das outras vezes, Heitor. Fala do movimento no começo do texto e depois fala de um livro, também. Você fez isso no post anterior, contou sua conversa com o bibliotecário e depois falou do livro do Pedro Bandeira. Por sinal, ficou bem legal!

– Obrigado! Mas é que desta vez eu tenho muita coisa pra contar, saiu notícia no jornal, eu participei de uma reunião… Acho que o post vai ficar muito grande!

– Tudo bem! Desta vez passa. Mas toma cuidado, o seu blog é sobre literatura e não sobre política.

Preocupado com a advertência deles, mas, motivado pela ideia de que fechar bibliotecas faz mal à literatura, eu escrevi o post de hoje.

Na semana passada eu estava lendo jornal com o meu pai. Gosto muito de ler jornal com ele, vou vendo as notícias e quando eu não entendo, ele me explica. Mas nesse dia saiu uma notícia, que eu estou entendendo muito bem e acompanhando de perto. Ele viu primeiro e me chamou.

– Venha ver, Heitor, hoje tem notícia da sua biblioteca, da sua primeira luta política.

Meu pai que inventou essa história de que participar do movimento contra o fechamento da biblioteca é a minha primeira luta política e eu estou adorando essa história.

– Que legal, pai. Deixa eu ver a notícia.

– E parece ser boa, ela está dizendo que vocês estão ganhando a luta.

– É mesmo! Deixa eu ler, então.

A notícia do jornal dizia que o processo de tombamento do quarteirão foi aberto. O Condephaat, que quer dizer Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado já começou a analisar o tombamento do lugar onde tem além da biblioteca, um teatro, duas escolas, uma creche, dois serviços de saúde e a APAE. Eu fiquei muito feliz, pois me disseram que se esse processo começasse a prefeitura não podia mexer em nada, até que ele fosse concluído. Se fosse aprovado, a minha biblioteca estaria salva, seria um patrimônio e ninguém mais poderia mexer com ela. E se não fosse aprovado, a prefeitura ainda teria que enviar o seu projeto de “tombamento” (que neste caso é derrubar, mesmo) para a Câmara Municipal para avaliação dos vereadores. A prefeitura devia esperar o resultado desse processo para continuar com seus planos, mas parece que a coisa não é bem assim. Pois, diz no jornal, que ela vai prosseguir com a sua intenção de vender a área para uma construtora, mesmo com a abertura do processo de tombamento. O jornal diz também, que “o terreno pode até ser vendido, mas toda a área e os prédios que existem nela não podem sofrer nenhum tipo de alteração.” Seria difícil alguém comprar o terreno não podendo mexer nele, mas, me disseram que nesse mundo da especulação imobiliária a gente nunca sabe direito.

Também teve uma reunião da organização do movimento e me convidaram, mandaram um e-mail me avisando e eu fui. Estavam todos felizes, mas ainda preocupados. Disseram que estamos ganhando, marcamos dois gols e está dois a zero pra gente, mas o jogo não acabou e vamos continuar lutando. Havia umas vinte pessoas nessa reunião e todos se apresentaram. Tinha um moço de uma ONG que fica no bairro, que trabalha com “políticas públicas e acompanha as câmaras municipais”, ele veio apoiar e oferecer ajuda para o nosso movimento. Uma moça da associação em defesa dos bairros dos jardins também veio oferecer ajuda. Outro moço, irmão de uma frequentadora da APAE, disse que mudar de lugar é um risco muito grande para a saúde das pessoas que se tratam lá. Também teve um moço do CAPS, que quer dizer Centro de Atenção Psicossocial, que disse que também é muito importante manter esse serviço de saúde no mesmo lugar. Outro que conhece bem a Câmara Municipal, disse o que nós devemos fazer para convencer os vereadores da importância em preservar esse patrimônio e votarem ao nosso favor, caso o processo seja encaminha pra lá. Outro que trabalha com a memória do bairro disse que toda a história desse nosso movimento está sendo documentada e pode virar um livro. (Oba! Vou ler esse livro!). A Eva Wilma também estava lá. Eu já conversei com ela uma vez, na passeata, e contei aqui no blog, no post “Fui à minha primeira passeata”. Ela disse que por ser atriz “fala emocionalmente”, e acha que devemos manter o quarteirão como está, principalmente, por ser “vital para o meio ambiente e um oásis do bairro.” Outro que falou emocionalmente foi o Helcias, que até já colocou comentário aqui no blog. Ele é da Associação Grupo Memórias do Itaim Bibi e sempre que fala anima todo mundo a continuar lutando na defesa do nosso quarteirão. Eu também me apresentei, disse que o meu nome é Heitor, tenho 12 anos e escrevo um blog. Falei que eu gosto muito de ler e que vou sempre à Biblioteca Anne Frank para pegar livros e não quero que ela seja fechada, que saia do quarteirão ou que vire um prédio. Gosto de ler no meio das árvores e lá está cheio de árvores.

– E depois, foi o Monteiro Lobato que escolheu o lugar onde ela fica e a prefeitura não pode tirar de lá. Assim eu terminei o meu “discurso”, como Helcias e Eva Wilma, também emocionado.

Quem quiser apoiar a “nossa luta” ainda pode colocar seu nome no abaixo assinado que está no link: http://www.abaixoassinado.org/abaixoassinados/7756

* Sintaxe é a assessoria de imprensa que criou e me deu de presente este blog. Eles cuidam das mudanças e também divulgam.

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  1. Este seu blog está maravilhoso!!! Os textos são muito divertidos de ler e tocam em assuntos sérios com muita descontração. Amei! O jovem não deve ter medo do conhecimento, do saber, do engajamento político, da participação cívica! Nada disso necessita ser algo muito estranho e duro ao jovem. Tudo é uma questão de querer conhecer, querer fazer a diferença, de amar o próximo. Quando os nossos jovens voltarem a desejar de coração saber e transformar aí sim o sonho de ver o Brasil tornar-se um país desenvolvido será uma realidade tangível.
    Minha única observação crítica é aconselhá-lo a sempre encarar alguns problemas próprios dos que lutam por fomentar a leitura e a participação política: é sempre preciso ter em mente que vivemos num país cujos sistemas educacionais estão falidos! Não teremos leitores enquanto não tivermos boas escolas, com bons professores, bem pagos e motivados; assim como não teremos efetiva participação política enquanto os brasileiros mal saberem ler e escrever.
    O teu blog é uma arma contra a desmoralização do conhecimento, do saber, do desejo de ler e aprender. Aí reside o maior mérito de sua iniciativa! Vivemos uma crise moral e ética profunda, uma inversão de valores e uma terrível desvalorização do conhecimento sério e sistematizado; os valore humanos estão em declínio, o respeito à vida, seriamente ameaçada, e há um silêncio e apatia generalizada dos que podem fazer a diferença dos que ainda se mantêm retos.
    Os jovens têm de se ocuparem destas questões! São eles que farão a vida, no futuro, valer ou não apena ser vivida!
    Um mega, hiper, supera braços!
    Kleber Teixeira
    Mestre em Ciências Sociais pela UNESP de Marília

  2. Oi Heitor
    Fiquei emocionada ao ler a continuação da sua primeira luta política. Fiquei me lembrando da época em que eu tinha 14 anos e já participava das reuniões da associação de bairro onde eu morava, das lutas no grêmio estudantil… Um pouco depois, vieram as passeatas pelas Diretas Já! e tantas outras lutas…
    Parabéns, Heitor! É muito importante você não apenas se preocupar com o fechamento da sua biblioteca, mas também divulgar isso no site.
    Ainda bem que o pessoal da Sintaxe deixou você dar notícias sobre o andamento das discussões, pois não adianta nada as pessoas publicarem um montão de livros se eles não chegarem nas mãos do leitor e as bibliotecas são fundamentais para se construir um país de leitores!
    Abraço da
    Maria

  3. Leitor, eu tenho um livro pra te recomendar: chama-se “É PRECISO LUTAR!” da Marcia Kupstas. Ela fala justamente de como uma menina muito nova e um senhor acabam se unindo pra impedir que uma árvore centenária da rua deles seja derrubada.

    É um livro simples, mas que vale a pena, principalmente por mostrar que nunca é tolo lutar pelo que acreditamos, já que tem muita gente por aí disposta a destruir por motivos bem mais mundanos…

    Um grande abraço!

  4. Obrigado, Kleber! Fiquei emocionado e principalmente, motivado com o seu comentário. Sobre sua observação crítica, falei com o pessoal da Sintaxe e eles me disseram que o projeto que nós teremos com uma escola pública, que eu já dei algumas dicas e vou apresentar nos próximos posts, pretende enfrentar um pouco essas questões, mostando iniciativas de professores e alunos interessados no conhecimento. Obrigado, mesmo!

  5. Obrigado, Maria! Eu também fico emocionado com os seus comentários e com a sua história. Eles me mostram que eu estou no caminho certo e quero continuar.

  6. Oi, Petra. Obrigado por divulgar “nossa luta” no twitter. Legal sua dica! Vou procurar e ler esse livro, parece que é uma história bem bacana, mesmo.

  7. Oi Heitor
    Tenho lido o Blog mas vc sabe que tenho pouco tempo na internet, e não dá para comentar.
    Mas, hoje eu negociei mais um tempo pois queria te dizer algo que tem a ver com minha vida aqui, nos aqui sabemos que toda luta é politica! E se queremos as coisas, temos que lutar muuuuuuuuito. Como somos crianças deveríamos ter só por ser nosso direito. Mas está muuuuuito longe disso acontecer. Não frequento a sua biblioteca mas sei que isso pode acontecer com outras e que devemos lutar para que não desrespeitem nossos DIREITOS. E biblioteca é educação!

  8. Gostei muito do Le ,simpático,carismático e inteligente, vou ler todos os livros recomendados por ele.Meus parabens pelos seus lúcidos comentários.
    Virei fã de carteirinha.

  9. Oi, Anônimo. Que legal! Tenho aprendido algumas coisas sobre os nossos direitos e participar desse movimento contra o fechamento da biblioteca está sendo muuuuuito bom!

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