Li livros e folhetos de cordel e saí de férias

Hoje vou escrever o último post do ano. Vou viajar com os meus pais, eles também estão de férias. Volto aqui para colocar post, só depois do dia 10 de janeiro. Mas vou dar umas entradas de vez em quando, para ver se tem comentário ou e-mail. Não consigo ficar muito tempo longe do meu blog. Ele foi o melhor presente que eu ganhei neste ano, eu já disse isso em outro post. Com ele conheci tanta gente nova e legal! Além disso, o blog tem me ajudado nas minhas leituras, estou lendo com mais atenção e descobrindo mais coisas. E também estou muito animado com os planos para o próximo ano, que eu já comentei no post anterior. Não vejo a hora de começar, mas antes, vou tirar umas férias, merecidas.

Hoje vou falar sobre literatura de cordel. Outro dia eu fui ao lançamento de uma escritora que eu conheci na Bienal do Livro. Ela me convidou. O nome dela é Rosinha Campos. Ela é pernambucana, mora em Recife e veio lançar três livros em São Paulo: A história de Juvenal e o Dragão, A história da Princesa do Reino da Pedra Fina e A história da Garça Encantada. São três histórias de literatura de cordel, publicadas pela Editora Projeto, de Leandro Gomes de Barros, recontadas pela Rosinha. Nesse dia eu me lembrei de outro livro de literatura de cordel, que eu já tinha lido, de outro escritor que eu também conheci na Bienal, o João Bosco Bezerra Bonfim. O livro dele é o Um pau-de-arara para Brasília, publicado pela Editora Biruta. Eu tenho um exemplar autografado por ele. Eu ganhei no dia em que acompanhei uma entrevista, que ele deu para uma rádio lá na Bienal. Essa história eu já contei aqui no blog (http://blogdoleheitor.sintaxe.com.br/?p=308). Nesse dia eu aprendi com o João Bosco um monte de coisa sobre o cordel!

Além desses dois escritores eu me lembrei de outra história de literatura de cordel que eu li junto com os meus colegas na escola. Era a Semana do Folclore e a professora levou um folheto de cordel pra gente ler em sala de aula, O pinto pelado, de João Ferreira de Lima. Ela pegou esse folheto na internet, no site da Casa Rui Barbosa. Ela imprimiu umas cópias e levou pra gente ler. É uma história muito engraçada, de um pinto briguento. Nós lemos em voz alta, cada um leu um pedaço e a professora foi explicando as palavras que a gente não conhecia.  É um jeito diferente de falar e de contar histórias, em versos. É muito bom! E lendo em voz alta, fica melhor ainda. Ela também contou um pouco sobre a origem do cordel, que “começou como uma manifestação cultural oral na Europa e só depois foi impresso em folhetos”. Foi maior legal essa aula!

O livro que eu li da Rosinha foi o A história da Princesa do Reino da Pedra Fina. Ela autografou o meu exemplar, mais um para a minha coleção de livros autografados. A Rosinha começa recontando esse folheto do Leandro Gomes de Barros, assim: “Certo dia, José, o mais novo de três irmãos, tem o desejo de ver as pernas das moças do Reino da Pedra Fina. Seu pai fica furioso e lhe dá umas lapadas. Desgostoso, o moço sai de casa e vaga pelo mundo.” Eu queria escolher um dos três livros que a Rosinha estava lançando para trazer para casa e ler. Quando vi o começo deste, não tive dúvida. Achei muito engraçado o José levar umas lapadas! Depois de sair vagando pelo mundo, José encontra um rio misterioso e nesse rio ele acha um brilhante muito valioso. Daí ele chega em um reino desconhecido e tenta vender a pedra. O rei fica maravilhado com o brilhante, paga muito dinheiro por ele e o coloca em sua coroa. Orientado pelo barbeiro trapaceiro e conselheiro, o rei pede mais três pedras a José, que volta ao rio para buscar e a história segue.

Li também o folheto original, de Leandro Gomes de Barros, que vem junto com o livro. O Leandro nasceu na cidade de Pombal, na Paraíba, em 1865 e morreu em Recife, em 1918. Ele produziu mais de 600 folhetos com milhares de edições. Ele lia muito e suas leituras serviam de inspiração para os seus folhetos. Foi proprietário de uma pequena gráfica que imprimia a sua obra e de outros poetas, e viajava bastante para vender os folhetos. O livro da Rosinha é muito bonito. As ilustrações também foram feitas por ela. São xilogravuras, técnica muito usada para ilustrar os folhetos de literatura de cordel. “Essa técnica consiste em entalhar na madeira o desenho ou texto que se deseja reproduzir. Entinta-se a superfície que ficou em relevo e, em seguida, é prensado sobre o papel ou outro suporte.” Com a ajuda de Meca Moreno e Davi Teixeira, a Rosinha fez as matrizes (peças de madeira entalhadas) das xilogravuras que ilustram esse livro. O texto da Rosinha é mais curto que o original e ajuda a entender a obra do poeta Leandro Gomes de Barros.

Rosinha Campos é arquiteta e especialista em literatura infanto-juvenil. Ela ilustra e escreve livros para crianças e jovens, já recebeu vários prêmios e participou de muitas exposições.

O livro do João Bosco Um pau-de-arara para Brasília se passa na época da construção da capital do Brasil. As ilustrações são de Alexandre Teles e também são xilogravuras. O João Bosco mora em Brasília. Ele nasceu no Ceará, em 1961 e em 1972, com 11 anos, mudou-se com a família para Brasília. A história começa com Assum Preto em um pau-de-arara levando toda sua fortuna dentro de uma mala. Ele é um folheteiro e sua mala está cheia de folhetos de cordel, que ele leva para Brasília. Em outro caminhão mais a frente, segue “uma moça de coragem, que largou lá pai e mãe e embarcou nessa viagem.” O nome dessa moça é Brasília. Os dois se conheceram numa feira, onde Assum Preto contava suas histórias e vendia os seus folhetos. A história continua e explica por que eles viajavam separados. A moça quer ir à Brasília para salvar a sua família da ruína, provocada por Fausto, um fazendeiro poderoso e desalmado.

Assum Preto descobre a intenção da moça e decide seguir viagem com ela. Combinaram: “Dali a uma semana, naquele mesmo lugar, cada um com um matulão, deveriam se encontrar e com destino a Brasília, começar a retirar.” Mas Assum Preto chega atrasado, perde a viagem e Brasília segue sem ele. Assum Preto segue atrás em outro caminhão. Brasília chega à capital e vestida de homem, encontra trabalho. Assum Preto chega depois dela e começa a vender os seus folhetos: “Então, eleva a voz, gritando a plenos pulmões: – Princesa da Pedra Fina, Ali Babá e os ladrões, Roldão e o Leão de Ouro, Juvenal contra os Dragões”. Vocês viram que coincidência, Assum Preto vendia folhetos do Leandro Gomes de Barros! Veio o dia da inauguração da capital, teve a festa e nada deles se encontrarem. No fim da festa, Assum Preto teve uma idéia. Cantou no alto falante do parque de diversões o folheto Coco Verde e Melancia e encontrou a sua amada Brasília.   

João Bosco Bezerra Bonfim é poeta, cordelista, pesquisador, com tese de doutorado sobre o gênero cordel. Seu livro O romance do Vaqueiro Voador fez muito sucesso e até virou filme de cinema.

Bom Natal e Feliz Ano Novo a todos! Até a volta.

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  1. Parabéns Nobre Heitor!!
    Os nossos jovens deveriam aprender o prazer de ler . Este blog propicia o desenvolvimento do senso crítico.

    Merry Xmas and Very Happy New Year!!
    God Bless you all!

  2. Olá Heitor. No dia 02 de dezembro vi uma reportagem maravilhosa sobre LiT. de Cordel, fiquei fascinada… Você saberia me dizer onde encontrar aqui em SP os folhetos de cordel? Um abraço.

  3. Heitor, adorei ter sua presença no lançamento e fico muito feliz em saber que você gostou do meu livro. Olha, adorei conhecer um pouco do livro do João Bosco, vou procurar para comprar e ler, depois dessa sua dica maravilhosa. Aproveite bem as férias, brinque bastante e leia bastante também. Que 2011 traga muitas histórias bacanas para você. Um beijo carinhoso, Rosinha

  4. Oi, Gláucia. Eu descobri um lugar onde vendem folhetos de cordel em SP. Na loja do CTN – Centro de Tradições Nordestinas, que fica na rua Jacofér, 615, no bairro do Limão. A loja só funciona de fim de semana. O telefone de lá é (11) 3488-9400.

  5. Oi, Rosinha. Obrigado. Fiquei muito feliz com seu comentário! Você está gostando das minhas dicas! Que bom!!! Sim, estou aproveitando bem as férias! Feliz Ano Novo pra você também.

  6. Oi, Fabia. Se você mora em São Paulo vai a mesma dica que eu dei para a Gláucia: tem um lugar onde vendem folhetos de cordel em SP. Na loja do CTN – Centro de Tradições Nordestinas, que fica na rua Jacofér, 615, no bairro do Limão. A loja só funciona de fim de semana. O telefone de lá é (11) 3488-9400.

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