O escritor João Ubaldo Ribeiro morreu na sexta-feira passada, já tinha lido um livro dele e contei no post “Li um imortal”, ele fazia parte da Academia Brasileira de Letras. Também vi o João Ubaldo, pessoalmente, quando fui à Flip, não consegui assistir à mesa em que ele participou, mas o vi de bem pertinho, andando pelas ruas de Paraty.
Fiquei triste, a morte é uma coisa bastante chata, muito triste pra quem fica e bem estranha pra quem vai, meu primo tem uma opinião curiosa sobre a morte, sobre a própria morte, até anotei pra não esquecer: “num instante a gente é, no seguinte, deixa de ser”, meu primo é ateu. Às vezes penso muito nessas coisas, ano passado perdi meu tio, gostava muito dele, fiquei mal, até faltei uns dias na escola, meus pais conversaram comigo, ajuda, mas não adianta muito, a morte é uma perda para sempre, e leva um tempo pra passar essa dor.
Li tudo que saiu no jornal
Neste final de semana, li no jornal tudo que escreveram sobre o João Ubaldo, e também li mais dois livros dele. Foi minha forma de fazer uma homenagem particular a um escritor que parecia feliz em viver e escrever, vi algumas de suas entrevistas na TV, ele contava histórias e ria, uma risada tão gostosa, que eu acabava rindo também, às vezes, nem tanto pela história contada, mas, principalmente, por sua voz, pelo jeito que falava e pela cara engraçada que fazia.
Li muita coisa sobre sua vida e suas obras-primas, o Viva o povo brasileiro, que vai sair uma edição especial agora, em novembro, comemorando os 30 anos da obra, o livro tem quase 700 páginas, ele quis escrever um livro grande, para responder ao pai, que não gostava de livros que não parassem em pé.
Os outros são o Sargento Getúlio, seu primeiro romance, de 1971, que ganhou o Jabuti e virou filme com o ator Lima Duarte; O sorriso do lagarto, de 1989, que virou série de TV, com Maitê Proença e Tony Ramos; o Casa dos budas ditosos, que foi para o teatro, com Fernanda Torres; entre outros. Ele deixou um livro inacabado, com histórias que se passam nos bares do Rio de Janeiro, cidade onde morava.
Muitos de seus livros foram escritos na Ilha de Itaparica, na Bahia, onde nasceu e passou a infância e a adolescência, depois se mudou para o Rio de Janeiro, se formou em Direito, fez Administração Pública, foi professor universitário, viveu um tempo nos Estados Unidos e na Alemanha, mas sempre voltava à sua cidade natal, para passar férias ou para escrever um romance. Por enquanto só li os infantojuvenis, quero crescer logo pra poder ler todos os livros do João Ubaldo.
Os livros que li
O livro do João Ubaldo Ribeiro que já tinha lido é o Vida e paixão de Pandonar, o cruel, que contei no post “Li um imortal”, e os que li nesse final de semana são Dez bons conselhos de meu pai e A vingança de Charles Tiburone. Peguei estes dois emprestados da biblioteca, fui no sábado de manhã passear na Anne Frank, encontrei meu amigo, o coordenador Gustavo, e conversamos sobre o João Ubaldo e sobre o PMLLLB, o plano municipal do livro que falei no post anterior. Adoro passear na biblioteca do meu bairro, tem muitas histórias por lá e, em breve, vou contar algumas, em detalhes, aguardem! Agora vou falar desses dois livros do João Ubaldo.
O livro Dez bons conselhos de meu pai, escrito por João Ubaldo Ribeiro, com lindas ilustrações de Bruna Assis Brasil, e publicado pela Editora Objetiva conta, em seu texto de orelha, que o autor cresceu numa casa cheia de livros, a biblioteca de seu pai ocupava todos os cômodos, e tinha de tudo, romance, filosofia, poesia, política, esoterismo. Sem que ninguém mandasse, o menino João Ubaldo vivia mergulhado em histórias, e seu pai era rigoroso, fazia o menino decorar versos, e quando não conhecia alguma palavra, tinha que correr ao dicionário.
Foi o pai que ensinou o menino a amar os livros, a gostar de estudar e aprender sempre mais, ele também lhe dava conselhos, que o João Ubaldo apresenta nesse livro. O autor explica no texto de apresentação, que os conselhos de seu pai não eram de forma sistematizada, como estão no livro, “mas deu todos, inclusive mostrando como era que se fazia”. Dos conselhos de Manuel Ribeiro – esse era o nome do pai de João Ubaldo -, o que mais gostei foi o oitavo: ‘Não seja intolerante’. “Alegre-se com a diversidade humana. Procure honestamente entender os outros. Só não seja tolerante com os inimigos conscientes e comprometidos com o seu fim.”
A edição que li do livro A vingança de Charles Tiburone, escrito por João Ubaldo Ribeiro e ilustrado com os desenhos de Gerson Conforto foi publicada pela Editora Nova Fronteira, a Editora Objetiva já está preparando uma nova edição desse livro.
Quando estava na Ilha de Itaparica, João Ubaldo gostava de passear com os filhos, sobrinhos e seus amiguinhos e ficar na beira da praia, contando histórias. A aventura desse livro pode ter sido inventada num desses passeios.
As crianças Juva, Bolota, Mino, Tonhão, Neca e Quica são agentes do Centro de Contra-Espionagem Danger People e possuem identidades secretas. “Como em toda turma que se preza, surgem implicâncias, chantagens, brigas, mas quando aparece uma missão secretíssima, prevalece a regra de ‘todos por um, um por todos’”.
São muito engraçadas as brigas e confusões dessa turma, têm a cara do João Ubaldo, mesmo. Imagino ele contando essas histórias para as crianças, na beira da praia, devia ser bem divertido. A aventura vivida por essa turma, segue caminhos “fantásticos”, com batalhas no fundo do mar, no final o autor revela o segredo que torna a história mais fantástica ainda.