Fui homenageado pela Câmara Municipal

Vocês se lembram que eu disse no outro post, que teria uma surpresa pra mim, na festa de aniversário do bairro, mas eu ainda não sabia o que era? Então… FUI HOMENAGEADO!!! Recebi uma homenagem pela minha “contribuição para preservação das memórias e defesa da qualidade sócio-cultural da região.” Ganhei placa de reconhecimento com o meu nome. Subi no palco pra receber a placa e fui aplaudido, só faltou fazer discurso. Essa homenagem não foi só pra mim, foi também para o pessoal da Sintaxe, que me deu de presente este blog e me ajuda a fazer e a divulgar. Fiquei muito feliz. Sinceramente, eu não esperava isso. Nunca poderia imaginar que eu, um simples personagem, poderia ser homenageado pelo que escreve no seu blog e até receber uma placa de reconhecimento da Câmara Municipal de São Paulo.

Minha mãe disse que está muito orgulhosa de mim, disse pra eu continuar na luta em defesa da minha biblioteca, e que “aquele lugar não pode acabar.”

– Você se lembra, Heitor, quando você ainda não sabia ir sozinho e eu te levava?

– Claro que eu me lembro, mãe, até já contei isso no blog. Às vezes tenho saudades desse tempo.

– Não seja por isso, amanhã podemos ir juntos lá.

– Legal mãe! Vamos sim, eu topo!

O pessoal da Sintaxe não foi à festa, mas eles me ligaram pra saber como foi.

– A festa estava muito legal, foi lá no Teatro Décio de Almeida Prado, primeiro teve a parte política e depois teve dois shows de música. Por que vocês não foram?

– A gente não quis atrapalhar, Heitor. O mérito desse prêmio é todo seu. Você é o responsável pelo sucesso desse blog. Você foi inventando as coisas, tendo ideias, fizemos o clube de leitura, você entrou pra essa luta política e o blog foi ganhando vida.

– Devo isso a vocês que sempre me ajudam e me apoiam. Obrigado!

– Mas não se esqueça de uma coisa importante, o seu blog é sobre livros, precisa voltar a falar deles.

– Vou falar sim. Vocês sabem que eu adoro falar de livros e nesses dias li um montão.

Meu pai também ficou feliz e disse que eu deveria escrever um discurso para ler na hora que eu recebesse o prêmio.

– Um discurso, pai?

– Sim, por que não? Nessas horas a gente tem que fazer discursos, sim. Escreve e leva pronto e se tiver uma oportunidade, você discursa.

– Mas eu não sei escrever discursos, pai.

– Claro que sabe. Faz como você faz com os posts. Senta e começa a escrever, você vai ver como o discurso sai. E quando chegar lá na festa, pergunta pra organização, se você pode ler o seu discurso.

Segui o conselho do meu pai, sentei e escrevi, coloquei o discurso no bolso e fui pra festa. Só não consegui falar com a organização, tive vergonha, e o discurso voltou do jeito que foi, no bolso, sem ser lido. Mas acho que vou colocar o discurso aqui no blog. Tenho que mostrar pra vocês, afinal de contas, este é o meu primeiro discurso.

Meu primeiro discurso

Obrigado! Eu não esperava essa homenagem, fiquei sabendo esses dias e resolvi preparar um discurso. Meu pai que insistiu para que eu fizesse isso. Eu disse a ele: Mas um discurso, pai? E ele respondeu: Se você já participa de lutas políticas tem que começar a fazer discursos, também. Tudo bem, eu concordei com ele, mas não vou tomar muito o tempo da festa. Vamos ao discurso, então.

Eu conheço este lugar desde o tempo em que eu era bem pequeno. No começo eu vinha com a minha mãe ou com as minhas professoras. Depois eu aprendi a vir sozinho e fiquei livre pra vir quando quisesse – se a minha mãe deixasse, é claro – mas pra vir aqui, ela sempre deixa.

Aqui eu fiz amigos e vivi os momentos mais felizes da minha vida, brincando e aprendendo muita coisa com os livros da minha biblioteca. Depois veio essa notícia, que a prefeitura queria vender este terreno pra derrubar tudo o que tem nele – a biblioteca, o teatro, duas escolas, uma creche, dois serviços de saúde e a Apae – e construir um prédio de apartamentos no lugar. Fiquei assustado e com medo. – Isso não pode acontecer!

Conversei com o meu amigo João Gabriel, que era o bibliotecário da Anne Frank, e ele me disse que as pessoas estavam se organizando para defender este quarteirão do ataque da prefeitura. Não foi exatamente assim que o João falou, mas foi desse jeito que eu ouvi. Como em muitas histórias que eu li, estamos sendo atacados e temos que nos defender.

Fui falar com o meu pai pra saber se eu podia participar. Ele me deu a maior força, disse que eu deveria participar, sim, e que essa seria a minha primeira luta política. Achei mó legal e comecei a participar do movimento de defesa do quarteirão do Itaim.

Nesse tempo eu li e aprendi muita coisa sobre este lugar. Hoje eu sei que a minha biblioteca foi inaugurada em 1946, é a primeira biblioteca infantil de bairro da cidade de São Paulo, e foi o Monteiro Lobato que escolheu este terreno. Aprendi também que aqui é um parque escola. Tem diversos serviços públicos no mesmo lugar. Aqui tem educação, cultura, saúde e lazer.

Naquele tempo foram construídos muitos espaços assim. Essa é uma ideia do Anísio Teixeira, um dos maiores educadores brasileiros, que nasceu em 1900 e morreu em 1971. E este é um dos últimos lugares, em São Paulo, que ainda não foram derrubados e que contam essa parte da história da nossa cidade. Não podemos deixar a prefeitura acabar com ele e destruir a nossa história.

A Câmara Municipal apóia a Prefeitura. Não são todos os vereadores, é claro, quinze estão do nosso lado, inclusive o vereador que participa dessa nossa festa e que luta com a gente, mas a maioria votou a favor da prefeitura. Trinta e três vereadores também querem derrubar o nosso quarteirão. Não entendi porque isso foi acontecer. Acho que eles não sabem a importância que tem este lugar. Não é possível! Eu li e aprendi. Acho que temos que convidar esses vereadores pra fazer uma visita à nossa biblioteca e ler um pouquinho. Quem sabe eles descobrem a importância, também.

Assinado, Heitor. Obrigado!

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  1. Que surpresa boa!
    Parabéns pela homenagem, afinal todo o seu empenho em defender a nossa biblioteca (e todo o quarteirão) está sendo reconhecido!
    Parece que a festa foi boa mesmo e gostei também do seu primeiro discurso, ainda que não possa ter lido a todos os presentes.

  2. Grande Heitor!
    Parabéns pelo merecido prêmio.
    Você é mesmo um exemplo para a sua geração!
    Grande abraço. Sônia

  3. Obrigado, Sônia!
    Eu concordo he he he he, mas minha mãe me disse que é pra eu não ficar me achando.

  4. Parabéns, Heitor!
    Você e o pessoal da Sintaxe merecem este e muitos outros prêmios,
    tanto pelo seu trabalho em defesa da biblioteca, como pela maneira divertida que encontrou de divulgar livros infantis e juvenis! Abraço da Maria

  5. Parabéns, Heitor! Mais do que merecido.
    Sua luta é muito bonita, espero que você e todas as pessoas do bairro e a população como um todo saima vitoriosos.
    Adoro bibliotecas, vivo falando delas no meu blog, frequento pelo menos três e sei da sua importância para a difusão da leitura e da cultura de um povo.
    Parabéns, mais uma vez. E, assim que puder, vou fazer uma visita a essa biblioteca. Não sei como ainda não fui. Beijos.

  6. Oi, Cecilia.
    Venha, sim, conhecer a minha biblioteca. Vi no seu blog uma frase: Se ao lado da biblioteca houver um jardim, nada faltará. (Cícero). Ao lado da minha tem um jardim…

  7. Querido Heitor, aqui é a profesora Rose da E.M.E.F Itaim A. Eu estou aqui para te parabenizar pelo prêmio tão merecido, que ele seja uma marco especial na sua vida e te dê ânimo para lutar sempre por seus ideiais. Aliás, lutar pelos ideais, nós que amamos a vida fazemos todos os dias. Não é mesmo??? Você é um menino de ouro…Quero aproveitar para dizer que nós postamos mais comentários do livro O cachecol, dos outros grupos que terminaram de ler o livro. Se vc quiser divulgar vai ser legal, beijos!!!!!
    Até breve…

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