Nosso clube de leitura vira estudo acadêmico

 

Neste post falo de um guia para clubes de leitura que encontrei em Londres e mostro um artigo científico de pós-graduação, da profª Luciana, que trata da formação do leitor literário aliada às ferramentas digitais e tem o nosso clube de leitura, como objeto de estudo

 

Estou de volta, e o que podia contar dessa minha viagem, mostrei no post anterior, o restante vai ficar para o livro que estou escrevendo, continuação de “Os meninos da biblioteca”, que pretendo acabar até o final deste ano. Espero conseguir terminar, pois com a ajuda do Lipe e de outras pessoas, de quem vou falar depois, colhemos muitas informações, agora é sentar e escrever.

Mas teve uma coisa da qual me esqueci de contar naquele post, além dos passeios turísticos, das visitas às bibliotecas, livrarias e sebos – os locais onde fizemos nossas investigações, também conheci uma papelaria maravilhosa, a Paperchase. Tem diversas lojas dela, em Londres, mas a que fui mais de uma vez, comprei diversos bloquinhos de anotações e encontrei uma preciosidade, fica na Tottenham Court Road.

213-215 Tottenham Court Road

Balde de livros

A preciosidade que encontrei nessa papelaria é um guia para clubes de leitura, que se chama “Book Bucket List – A Literary Adventure” (“lista de balde de livros – uma aventura literária”, o Lipe, ao meu lado, logo traduziu e me explicou a brincadeira do título).

O guia traz diversas páginas com fichas para catalogar e classificar os livros que lemos e escolher os nossos personagens favoritos. Ele também traz uma lista de livros clássicos, para serem lidos e assinalados. Tem outra seção para listarmos os livros que lemos por brincadeira, para escola, livros que devemos evitar, livros que nos deixam culpados (esse não entendi direito) e duas páginas para os livros que queremos ler.

Outra seção com listas de livros obrigatórios em ficção, não-ficção, fantasia, infantojuvenis, autobiografias, policiais, romance e ficção científica. Outra com espaço para agendarmos os encontros do clube, outra que trata de empréstimos de livros, com regras, livros que não devemos emprestar e os emprestados. E ainda tem outra seção com algumas perguntas que podemos fazer nas rodas de conversa sobre nossas leituras. Tenho certeza que esse guia vai ser muito útil para os nossos próximos clubes. E quem mais quiser fazer clube de leitura com o blog, as inscrições continuam abertas, é só avisar lá nos comentários.

Nosso clube de leitura vira objeto de estudo acadêmico

E por falar em clube de leitura, a professora Luciana, da Escola Municipal Luiz Gatti, de Belo Horizonte, parceira antiga do blog – já organizamos vários clubes de leitura com seus alunos -,  me mandou um artigo científico de pós-graduação, que ela escreveu e que trata da formação do leitor literário aliada às ferramentas digitais. Li, adorei e perguntei a ela se poderia publicar no blog e ela autorizou. Segue abaixo o seu artigo. O nosso clube de leitura é seu objeto de estudo!

 

LETRAMENTO LITERÁRIO E AS FERRAMENTAS DIGITAIS

LUCIANA ÂNGELA PEREIRA DOS REIS

BELO HORIZONTE – MG – 2019

Trabalho de Conclusão de Curso de pós-graduação apresentado a Faculdade IPEMIG/Faculdade Batista, como pré-requisito para obtenção do título de especialista em: Letras, Português e Literatura.

RESUMO: O presente artigo trata da formação do leitor literário aliada às ferramentas digitais. Pode-se pensar que, atualmente, a concorrência entre o livro de literatura e o mundo digital é desleal junto aos adolescentes. Entretanto, é possível tornar esses dois ambientes distintos em ferramentas concordantes a favor do crescimento do aluno. É indiscutível que a leitura e a compreensão de variados gêneros textuais se fazem necessárias para a formação de um leitor crítico e criativo, e, nesse processo, a presença do professor mediador é fundamental.  O objetivo principal desse trabalho é demonstrar as possibilidades de desenvolvimento do gosto pela leitura literária entre estudantes do 6º ao 9º ano do ensino fundamental por meio da conexão entre o livro e o blog, considerado uma mídia social, e a consequente percepção da importância dessa prática dentro e fora da escola.

Palavras-chave: letramento literário – multiletramentos – mídia social.

INTRODUÇÃO

O letramento literário consiste na capacitação do aluno para a leitura, compreensão e valorização de gêneros textuais diversos no campo da literatura. Esse letramento é uma prática social e responsabilidade da escola. Não se trata da realização de simples e esporádicas leituras no ambiente escolar, envolve mecanismos de interpretação de obras literárias, construção de sentidos para o que foi lido e consequente capacitação do leitor. 

Não há como evitar que a literatura, qualquer literatura, não só a literatura infantil e juvenil, aos se tornar “saber escolar”, escolariza-se, e não se pode atribuir, em tese, […] conotação pejorativa a essa escolarização, inevitável e necessária; não se pode criticá-la, ou negá-la, porque isso significaria negar a própria escola […].(SOARES, 2001, p.)

Graças aos avanços proporcionados pelas tecnologias e à velocidade com que ocorre a comunicação entre os sujeitos em qualquer parte do globo terrestre, é possível observar os efeitos e as mudanças originados desse desenvolvimento em todos os segmentos da sociedade atual. A internet se popularizou e seus benefícios são inegáveis. Nesse cenário, os professores convivem em sala de aula com a geração Z, que compreende os nascidos entre o fim de 1992 a 2010, ligada intimamente à expansão exponencial da internet e dos aparelhos tecnológicos.  Essas pessoas são conhecidas como “nativas digitais” por estarem muito familiarizadas com o mundo digital e sempre conectadas. Diante disso, muitas perguntas podem rondar a mente de professores atualmente: Em tempos de redes sociais em alta, é possível promover o letramento literário entre os adolescentes? Conseguiremos incentivar a leitura de livros de literatura em sala de aula, conciliando prazer e conhecimento? É possível aliar a leitura de livros às ferramentas digitais em sala de aula? Esses mundos aparentemente discordantes (livros e internet) podem ser unidos por professores e alunos? 

A resposta a essas questões é SIM. É possível promover a formação do leitor literário usando as ferramentas digitais como aliadas ao processo. A escola não pode ficar alheia às mudanças e às crescentes demandas por tecnologia, visto que uma de suas principais funções é promover uma formação sólida de seus alunos, visando fornecer mecanismos que possibilitem a eles construir e exercer plenamente sua cidadania, incorporando ao seu cotidiano novas habilidades.

Nesse cenário, o professor merece papel de destaque. Ele é um mediador importantíssimo no processo de formação do seu leitor, pois, a leitura por ele incentivada deverá ser capaz de promover prazer e saber.  A motivação é imprescindível para o sucesso do trabalho e é o professor o principal responsável por uma preparação que precede a leitura e o uso das ferramentas digitais. Libâneo ( 2009, p. 13) afirma que “A mediação do professor consiste em problematizar, perguntar, dialogar, ouvir os alunos, ensiná-los a argumentar, abrir-lhes espaço para expressar seus pensamentos, sentimentos, desejos, de modo que tragam para a aula sua realidade vivida.”.

O resultado esperado ao final do processo pode ser sintetizado nas palavras de Thaís de Oliveira (2012), em sua dissertação de mestrado sobre o letramento literário ao afirmar que uma pessoa que, ao longo de sua fase escolar, não desenvolver o letramento literário, certamente, abandonará o hábito da leitura de obras de literatura quando terminar a obrigatoriedade dessa atividade. Já o leitor letrado será ávido leitor sempre, pois terá desenvolvido sua autonomia leitora, e lerá com fruição e criticidade, pelo fato de ter estimulado sua competência leitora ao longo de sua constituição como leitor. Mas isso ocorrerá, provavelmente, pelo fato de esse leitor ter tido boas mediações leitoras e bons professores incentivadores.

O LETRAMENTO LITERÁRIO E SEUS ALIADOS

Há um consenso entre os professores de língua portuguesa no que diz respeito ao letramento literário: ele é importante e necessário. A formação de um leitor proficiente é um dos principais objetivos do ensino de língua portuguesa. Entretanto, os meios utilizados para alcançá-lo são variados e, em alguns casos, ineficazes.  

Conforme explicita Paulino (apud PINHEIRO, 2004, p. 56) “a formação de um leitor literário significa a formação de um leitor que saiba escolher suas leituras, que aprecie construções e significações verbais de cunho artístico, que faça disso parte de seus fazeres e prazeres”. Na escola não se deve incentivar apenas a leitura literária pela simples leitura, mas aquela que busca a construção do sentido, de novos sentidos, aquela que se relaciona com mundo do leitor e que lhe abre um novo mundo. Nessa perspectiva, o letramento literário se dá por meio da leitura da obra e do conhecimento sobre os autores, seus modos de pensar, valores, intuições, contexto social, previsão de interlocutores, sem, de modo algum, abandonar a fruição literária, que é a imersão no texto capaz de desvendar e expandir suas significações.  

Principalmente agora, no século XXI, com o advento da tecnologia e a inserção das novas gerações nas mídias digitais, o professor  precisará repensar sua metodologia e abrir espaço para o diálogo entre a literatura e as ferramentas digitais à disposição. Lemke (2010[1998]: s.d) afirma que “precisamos pensar um pouco em como as novas tecnologias da informação podem transformar nossos hábitos institucionais de ensinar e aprender”. Torna-se necessário, então, aproximar o letramento literário das ferramentas digitais. Nesse contexto, entra em cena o conceito de multiletramentos. Agora, o professor não tem apenas em mãos e disponível materiais impressos, considerados mídias anteriores (impressas e analógicas, como a fotografia, o cinema, o rádio e a TV pré-digitais). Rojo (2012 p.23) ressalta que convivemos no dia a dia com a mídia digital, que permite que o usuário (ou leitor/produtor de textos) interaja em vários níveis e com vários interlocutores (interface, ferramentas, outros usuários, textos/discursos etc.). Tem-se aí uma das principais características dos multiletramentos: a interatividade. As tecnologias digitais estão introduzindo novos modos de comunicação, como a criação e o uso de imagens, de som, de animação e a combinação dessas modalidades. Como os alunos da geração Z lidam fluentemente com essas novas tecnologias disponíveis, por que não aliar a leitura literária de livros físicos aos ambientes digitais?

Nesse sentido, a proposta desse trabalho é apresentar metodologias já aplicadas que facilitam a formação do leitor literário no momento em que o uso de uma ferramenta digital é introduzido em salas de aula, contribuindo para o sucesso no letramento literário de alunos do ensino fundamental. Entendemos que a leitura literária deve continuar recebendo considerável importância dentro do componente curricular. Ela não pode ser pensada como inferior aos outros conteúdos da disciplina ou desinteressante para os nativos digitais e ter reservado para ela um tempo de “sobra” no planejamento.

A Base Nacional Comum Curricular esclarece que:

Não se trata de deixar de privilegiar o escrito/impresso nem de deixar de considerar gêneros e práticas consagrados pela escola, tais como notícia, reportagem, entrevista, artigo de opinião, charge, tirinha, crônica, conto, verbete de enciclopédia, artigo de divulgação científica etc., próprios do letramento da letra e do impresso, mas de contemplar também os novos letramentos, essencialmente digitais.[…] (BNCC. p.67)

Pretende-se, então, demonstrar que é possível promover o gosto pela leitura de livros de literatura acompanhado pela construção de novos sentidos para a obra lida ao inserir ferramentas digitais em sala de aula, cooperando para a formação de um leitor que poderá expressar sua opinião crítica e produzir textos coerentes e adequados ao ambiente digital. 

PROFESSOR MEDIADOR

É importante que os professores estejam abertos para mudanças, que repensem suas metodologias, que insiram no dia a dia as novas tecnologias como aliadas.  Eles não devem relutar em desfrutar dessas ferramentas como recursos para motivar a leitura, para provocar esse hábito em seus alunos, para interferir no processo da escrita de da construção de sentidos. 

Ensinar com as novas mídias será uma revolução se mudarmos simultaneamente os paradigmas convencionais do ensino, […] A internet é um novo meio de comunicação […]que pode ajudar a rever, a ampliar e a modificar muitas das formas atuais de ensinar e aprender (MORAN, 2012, p. 63).

O professor de língua portuguesa não precisa ser um especialista em tecnologia para explorar esse ambiente, ele pode usufruir de ferramentas já existentes e criar um ambiente propício para inovações, no qual a aprendizagem é promovida pela interação de todos os participantes. 

Para promover o gosto pela leitura de livros de literatura acompanhado pela construção de novos sentidos para a obra lida, tornando o ato da leitura uma atividade social que  acompanhará o aluno por toda a vida, o professor poderá ter como aliada uma ferramenta digital conhecida e de fácil manuseio: o blog.  Ele pode ser um espaço para as práticas de leitura e escrita, proporcionando novos meios de acesso à informação, capacitando o aluno a expressar sua opinião crítica e a produzir textos coerentes e adequados ao ambiente digital. 

A proposta desse trabalho não é ensinar a fazer um blog, mas demonstrar como há professores que estão alcançando, além do letramento literário,  novos letramentos, utilizando um blog já existente.

O BLOG – UMA MÍDIA SOCIAL

É preciso esclarecer, inicialmente, a diferença entre rede social e mídia social. A rede social é o ambiente virtual on-line que facilita a interação entre as pessoas que compartilham os mesmos interesses, experiências ou ainda conexões na vida real . O Facebook é a rede social mais popular do mundo, nasceu há 15 anos como um experimento entre estudantes da Universidade de Harvard (EUA) e é a que tem maior numero de usuários, seja por si mesmo ou pelos aplicativos de sua propriedade, como Instagram e WhatsApp. 

As mídias sociais existem nos universos off-line e on-line.  Enquanto as mídias tradicionais podem ser caracterizadas como via de mão única no processo comunicativo e com pouca possibilidade de participação (jornais, revistas, TV), as mídias sociais são consideradas o resultado da difusão de conteúdo fora dos meios de comunicação de massa — ou seja, tudo aquilo que é gerado na internet e formado por indivíduos, propagando informações de forma descentralizada e com participação ativa, uma via de mão dupla, o que inclui não só as redes sociais, mas também blogs, wikis e sites de compartilhamento. Os blogs são exemplos de mídia social. Ao mesmo tempo em que disseminam conteúdos, eles oferecem um espaço para que os leitores interajam.  Seu objetivo principal é o compartilhamento de conteúdos, e não as relações interpessoais, como nas redes sociais.

O BLOG DO LE-HEITOR  

pastedGraphic.pngFonte: Disponível em: http://blogdoleheitor.sintaxe.com.br/. Acesso em: 27 mai. 2019.

A partir da busca por métodos diferentes, mais atraentes, que fossem capaz de despertar nos alunos o prazer pela leitura e  uma melhor construção do sentido para os textos que  o blog do Le-Heitor foi encontrado por uma professora de língua portuguesa da rede municipal de Belo Horizonte.

Em 2013, ao pesquisar na internet por uma resenha do livro Carol, do cartunista Laerte, um  texto chamou sua atenção  no blog do Le-Heitor. Tratava-se de um texto apropriado para alunos de sexto ano, pois fora escrito por um menino de 12 anos, o Heitor. A Linguagem era clara, de fácil entendimento e extremamente agradável. A resenha foi utilizada em sala de aula e os alunos também foram levados ao laboratório de informática para ler o texto direto no blog. 

Depois de uma leitura mais detalhada do blog, verificou-se que Heitor é um personagem criado por João Luiz Marques, jornalista e escritor que trabalha na Sintaxe Comunicação. No blog, Heitor posta resenhas sobre os livros que lê, divulga eventos literários e organiza projetos de mediação de leitura, presenciais e virtuais

pastedGraphic_1.pngFonte: Disponível em: http://blogdoleheitor.sintaxe.com.br/o-que-escrevo-neste-blog-2/. Acesso em: 27 mai. 2019.

O PROJETO “CLUBE DE LEITURA”

Da interação da professora com o idealizador do blog, diretamente no espaço destinado aos comentários, surgiu o convite para o “Clube de Leitura” no blog do Le-Heitor.

Clubes de leitura

Já fiz aqui alguns clubes de leitura com professores, li o mesmo livro que os seus alunos e depois compartilhamos as nossas leituras no blog, algumas vezes até entrevistamos os autores desses livros, foram clubes de leitura “online”, “digitais”. Nessa nova fase quero continuar com esses clubes, mas também pretendo organizar clubes de leitura “presenciais”, já tenho alguns programados. Se gostar da ideia e quiser fazer um clube de leitura comigo, é só chamar. Fonte: Disponível em: http://blogdoleheitor.sintaxe.com.br/8429-2/. Acesso em: 27 mai. 2019.

Iniciou-se, assim, em 2013, uma trajetória com alunos do ensino fundamental num projeto que visa motivar a leitura literária aliada ao uso da mídia social, por meio da leitura de resenhas postadas no blog e produção de comentários por parte dos alunos, inserindo-os no ambiente virtual também como protagonistas, na medida em que utilizam a linguagem escrita para elaborar comentários sobre a obra analisada, apresentar suas opiniões, impressões, sugerir novas leituras, questionar, dentre outras ações.

A Base Nacional Comum Curricular apresenta orientações quanto às possibilidades e necessidade de se contemplar a cultura digital em sala de aula.

“As práticas de linguagem contemporâneas não só envolvem novos gêneros e textos cada vez mais multissemióticos e multimidiáticos, como também novas formas de produzir, de configurar, de disponibilizar, de replicar e de interagir.[…]

Depois de ler um livro de literatura ou assistir a um filme, pode-se postar comentários em redes sociais específicas, seguir diretores, autores, escritores, acompanhar de perto seu trabalho; podemos produzir playlists, vlogs, vídeos-minuto, escrever fanfics, produzir e-zines, nos tornar um booktuber, dentre outras muitas possibilidades. Dessa forma, a BNCC procura contemplar a cultura digital, diferentes linguagens e diferentes letramentos, desde aqueles basicamente lineares, com baixo nível de hipertextualidade, até aqueles que envolvem a hipermídia.[…]” (BNCC. p. 67) (Grifo nosso)

O projeto realizado pela professora e que será detalhado a seguir está relacionado à proposta da BNCC em relação ao multiletramentos. 

Vamos nos deter a explicitar algumas sequências didáticas aplicadas no primeiro semestre de  2018 e no primeiro trimestre de 2019, pelo fato de que foram vivenciadas pelos mesmos alunos que estavam no sétimo ano e que agora estão no oitavo ano, acompanhados pela professora. Os procedimentos são praticamente os mesmos em todos os clubes de leitura. Entretanto, o espaço sempre fica aberto para novas experiências, atividades e desdobramentos, dependendo do livro escolhido. Não é, portanto, um trabalho “engessado”.

Num primeiro momento, como foi informado pelo próprio Heitor (personagem criado por João Luiz Marques) em seu blog, o professor escolhe o livro a ser lido por seus alunos, faz seu papel em sala de aula de motivador e mediador dessa leitura, ao mesmo tempo em que Heitor realiza a mesma leitura e prepara a resenha para a postagem. A data da postagem é combinada entre eles.

É preciso esclarecer que nesse projeto, cada professor é livre para decidir a metodologia que usará em sala de aula com seus alunos para a análise do livro escolhido, bem com os meios de avaliação. Entretanto, uma instrução não pode deixar de ser seguida, desde o primeiro momento: O “clube de leitura” é formado por dois momentos e, para participar dele,  o aluno deve ler o livro literário indicado para depois interagir no blog do Le-Heitor.

Cada estudante deve receber o livro literário tendo em mente que, na sequência, entrará em contato com uma mídia social, o blog, que usará o computador para registrar suas impressões sobre a leitura, sobre o autor, as aprendizagens. Essa informação faz parte da motivação: Ler para ir além de uma prova no papel, de uma apresentação oral. Ler para entrar em contato com um interlocutor diferente, num ambiente virtual, gera expectativas e maior interesse por parte dos alunos. A atividade pode ser realizada em dupla, para que os alunos conversem entre si sobre as postagens.

O GÊNERO TEXTUAL “COMENTÁRIO”

Em tese, a Web é democrática: todos podem acessá-la e alimentá-la continuamente. Mas se esse espaço é livre e bastante familiar para crianças, adolescentes e jovens de hoje, porque a escola teria que, de alguma forma, considerá-lo?

Ser familiarizado e usar não significa necessariamente levar em conta as dimensões ética, estética e política desse uso. […] (BNCC. p. 67) 

Não é pelo fato de estarmos em sala de aula com alunos conhecidos como “nativos digitais” que deixaremos de lidar de forma crítica com os assuntos que circulam na web. Não se pode postar tudo o que se quer. O professor precisa interferir no processo e conscientizar o aluno acerca do que é adequado e respeitoso ao interagir com um interlocutor desconhecido.

No domínio jornalístico, o comentário inclui-se na categoria dos textos opinativos. Por meio dele, o leitor expressa sua opinião, sua percepção, sobre diversos assuntos. Hoje em dia, no ambiente virtual, há ainda pessoas que pensam que podem se esconder atrás de um perfil, falso ou não, para empregar linguagem grosseira e ofensiva, sem pensar nas consequências que essas ações podem acarretar. E é justamente para evitar tais comportamentos que a escola precisa intervir, ensinando e conscientizando seus alunos.   

O blog do Le-Heitor é aberto à comunidade. Os alunos podem acessá-lo de um celular ou do computador em casa para realizar leitura ou postar comentários. Dessa maneira, é necessário haver combinados e explicações sobre o objetivo do trabalho.  

  1. Ler o livro literário.
  2. Realizar atividades de interpretação em sala.
  3. Acessar o blog para ler a resenha postada por Heitor.
  4. Usar o espaço dos comentários para interagir com o Heitor e com os colegas a respeito do livro, do autor, das análises, da resenha, do próprio blog, de outras curiosidades etc..
  5. Em outro momento, voltar a acessar o blog para ler os comentários dos colegas de sala ou da escola, bem como o retorno do próprio Heitor, que sempre acontece quanto todos os alunos já terminaram de registrar suas impressões. 

No blog, o aluno é livre para se expressar, desde que o princípio da cordialidade seja respeitado. Ele pode dizer o que realmente pensou sobre todas as fases do trabalho, sempre com respeito. Para isso, também é incentivado o registro escrito conforme a norma-padrão da língua. A linguagem pode ser informal, sem uso de gírias, abreviações, palavrões ou palavras ofensivas. 

RESULTADOS DOS CLUBES DE LEITURA

 Os alunos do 7º ano do primeiro turno da Escola Municipal Luiz Gatti participaram de dois clubes de leitura em 2018. No primeiro semestre com o livro “Visita à Baleia”, de Paulo Venturelli, e no segundo semestre com o livro “Beatriz em Trânsito, de Eloí Elizabete Bocheco. No final do ano, um questionário foi aplicado pela professora de língua portuguesa. Conforme as respostas a duas das perguntas, foi possível perceber que o clube de leitura conseguiu motivar os alunos em relação à leitura literária.

O que mudou em relação ao número de livros que você leu em 2018, comparando com o ano anterior?

  1. Aumentou para 54 alunos
  2. Diminuiu para 14 alunos
  3. Nada aconteceu para 22 alunos

Você acha que usar a internet no blog do Le-Heitor fazendo comentários e postando um capítulo do livro reescrito por você foi um incentivo para a leitura de outros livros literários?

  1. Sim para 68 alunos
  2. Não para 19 alunos
  3. Em branco 3 alunos

No primeiro trimestre de 2019, os mesmos alunos, agora no 8º ano, participaram de um novo clube de leitura com o livro “Os dançarinos”, Uma HQ de Vincent Goodwin baseada no conto de Arthur Conan Doyle. Aproximadamente 70 duplas participaram das atividades, mas, para exemplificar, seguem os registros que quatro duplas (mesmas duplas) postaram no espaço “comentários” do blog do Le-Heitor em 2018 e 2019. 

Obs.: Os nomes dos alunos foram substituídos por números.

1º semestre 2018

Livro: Visita à Baleia

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1º semestre 2019

Livro: Os dançarinos

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  1. Alunos 1 e 2

6 de junho de 2018 às 10:16

Eu vou dar uma nota 8 para sua entrevista.

6 de junho de 2018 às 10:17

O que inspirou vocẽ a fazer seu blog

  1. Alunos 1 e 2

26 de março de 2019 às 07:46

Bom dia, Heitor nós adoramos o seu blog e gostamos da sua resenha e esperamos que tenha mais.Uma pergunta: por que nos flimes as historias ficam mais completas,na sua opinião?

Alunos 3 e 4

6 de junho de 2018 às 11:01

Olá ,como vai ?
Gostei muito do do seu blog pois despertou em mim o interesse de ler
nossa nota e 8,9 para o livro, pois não e o genêro de livro que costumamos ler
Obrigado!

Alunos 3 e 4

26 de março de 2019 às 11:13

Bom dia Heitor

Gostamos muito do seu blog e do livro Os Dançarinos, porém o filme não nos agradou tanto, esperávamos que fosse mais enigmático por isso damos nota 5 para o filme.Sobre o livro achamos bem legal adaptarem para quadrinhos ficou bem mais divertido e atraente para leitura por isso damos nota 8.

Abraços de Pedro e Matheus!!!

Alunos 5 e 6

6 de junho de 2018 às 11:06

Olá, Heitor

Sobre o livro (Visita á baleia),encontramos boas energias,ele nos mostra a intensa criatividade para montar boas historias.as !!
Você me indica outros livros legais??
Abraços!<3
Aguardamos novas resenh

Alunos 5 e 6

26 de março de 2019 às 11:13

Bom dia, Boa tarde ou Boa noite, Heitor!
Achamos legal você ter trazido essa resenha do livro “Os Dançarinos” para o seu blog.
Gostamos muito do contexto desse “mistério”, o livro é muito interessante, gostamos muito de ler e gostamos mais ainda do filme.
Nós nunca tinhamos lido nenhum livro do Sherlock Holmes, e você já leu outros livros dele!? Se sim, conte-me mais!
Então é isso, até mais… Aguardamos sua resposta!

Alunos 7 e 8

6 de junho de 2018 às 11:14

Oi Heitor, gostamos muito do seu blog espero que você venha nos visitar para batermos um papo e discutirmos sobre seu blog e sobre livros. GRANDE ABRAÇO!

Alunos 7 e 8

26 de março de 2019 às 11:10

Olá,Heitor.
Gostamos muito do livro Os Dançarinos e do filme, achamos bem interessante.
No livro de português,tem um conto também do Sherlock Holmes que se chama a Faixa Manchada,você já leu?
Adoramos o seu blog! Grande abraço!

É possível verificar o progresso dos alunos comparando sua produção textual em dois momentos distintos: no sétimo ano e no oitavo ano. A capacidade argumentativa aumentou, mostraram-se mais articulados e conhecedores dos aspectos formais do gênero “comentário” e inteirados com a obra analisada. Além disso, em relação aos aspectos linguísticos, verificou-se maior cuidado por parte dos alunos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O clube de leitura, nos moldes aqui explicitados, abriu novas oportunidades de trabalho sobre gêneros textuais do domínio discursivo literário e outros domínios com alunos do ensino fundamental, pois, além da análise do livro escolhido, outros gêneros como blog, resenha, entrevista e comentários, foram trabalhados, inserindo, em sala de aula, a pedagogia dos multiletramentos, ao aliar uma leitura literária a uma ferramenta digital. 

Muitas são as contribuições do projeto “clube de leitura” no blog do Le-Heitor. Em primeiro lugar, é notório que o letramento literário é promovido, pois há mais interação entre os leitores e as atividades propostas. Percebe-se um aumento do interesse dos alunos por novas leituras e pelo próximo clube. Além disso, ao elaborar comentários,  os alunos refletem sobre o papel que estão exercendo nesse momento: estão ali como interlocutores capazes de imitir opiniões, argumentar, fazer sugestões. Eles colocam em prática o que aprenderam sobre os aspectos formais do gênero “comentários”, além de se esforçarem para apresentar concordâncias, ortografia e pontuação conforme a norma-padrão da língua. Para alguns alunos que não têm acesso ao computador em casa, o projeto oferece a oportunidade de aprender a digitar seus próprios textos usando o teclado, acessar a internet, conhecer a estrutura e finalidade de blogs. 

Implantar a utilização ferramentas digitais aliadas a uma leitura qualitativa e à troca constante de informações entre os interlocutores participantes do clube de leitura pode favorecer a formação de novos leitores e escritores, além de educar o aluno para o mundo digital, ao conscientizá-lo sobre o seu papel social.

REFERÊNCIAS

LIBÂNEO, J. C. Adeus professor, adeus professora? Novas exigências educacionais e profissão docente. 9. ed. São Paulo: Cortez, 2009.

MORAN, J. M. Ensino e aprendizagem inovadores com tecnologias audiovisuais e telemáticas. In: MORAN, José Manuel; MASETTO, Marcos T.; BEHRENS, Marilda. Novas tecnologias e mediação pedagógica. Campinas: Papirus. 2012.

OLIVEIRA, Thaís de. Letramento Literário – A mediação da leitura de obras literárias no processo de leitores competentes. Dissertação (Mestrado em Educação) – Faculdade de Educação, Universidade de Brasília, Brasília. Março de 2012.

PINHEIRO, Marta Passos. Letramento literário na escola: um estudo de práticas de leitura literária na formação da “comunidade de leitores”. Tese (Doutorado em Educação) – Faculdade de Educação da UFMG, Belo Horizonte. 2006.

ROJO, Roxane. Multiletramentos na escola. São Paulo: Parábola Editorial, 2012.

SOARES, Magda B. A escolarização da literatura infantil e juvenil. In:EVANGELISTA, Aracy; Brina, Heliana; MACHADO, Maria Zélia (orgs). A escolarização da leitura literária. Belo Horizonte: Autêntica, 2001.

BLOG DO LE-HEITOR – disponível em: http://blogdoleheitor.sintaxe.com.br/. Acesso em: 27 mai. 2019.

MEC, Ministério da Educação, 2017. Base Nacional Comum Curricular – BNCC: Disponível em: http://www.observatoriodoensinomedio.ufpr.br/wp-content/uploads/2017/04/BNCC-Documento-Final.pdf . Acesso em: 27 mai. 2019.

Direto de Londres

Estou em Londres, nunca imaginei fazer essa viagem – depois explico, com calma, como consegui chegar até  aqui. Já falei, no outro post, que estamos perseguindo um livro e que nossas últimas averiguações, no Brasil, deram conta, de que alguém o levou para outro país. Quando descobri que o livro tinha ido pra Inglaterra, pensei em desistir de contar essa história e abandonar o projeto – nunca que iria conseguir viajar para tão longe -, até que surgiu a oportunidade de vir pra cá. Viemos eu e o Lipe!

A contribuição do meu amigo tem sido fundamental pra nossa investigação, ele já está bem adiantado no inglês, quase fluente, eu ainda estou aprendendo, meu inglês é muito fraco, e graças ao Lipe, estamos conseguindo conversar com as pessoas e garimpar as informações necessárias. Inclusive, ele está aqui, do meu lado, pressionando para eu parar de escrever, pra gente sair pra rua e continuar com as nossas buscas.

London Boy

Apesar das minhas limitações com a língua, no terceiro dia, já me senti em casa e o Lipe, pra me zoar, começou a me chamar de London Boy e repetir uns versos do David Bowie, que ele leu num cartaz, na New Oxford Street, quase esquina com a Tottenham Court Road:

A London boy, oh a London boy, your flashy clothes are your pride and joy, a London boy, a London boy, you’re crying out loud that you’re a London boy“.

Não posso contar mais detalhes de tudo que está acontecendo por aqui, primeiro, porque ainda estamos no meio da investigação, depois, daria spoiler de uma história, que ainda não terminou. Espero que acabe antes do final do ano, pois será a continuação do livro “Os meninos da biblioteca”! Então, por enquanto, é só isso que posso dizer, mas aproveito este post, também, para mostrar algumas das fotos, que tiramos da cidade.

O Lipe e eu, enquanto traçávamos nosso plano de investigação

Álbum de Viagem

Londres

Biblioteca do bairro, fomos visitá-la logo no primeiro dia e já voltamos outras vezes
Na calçada da rua principal, miniatura indicando que a biblioteca está por perto
Um sebo da famosa Charing Cross Road, ainda há três, resistentes
Hatchards, tradicional e mais antiga livraria de Londres, fundada em 1797
O Brasil é manchete do jornal inglês The Guardian
Na estação ferroviária de St. Pancras, sai trem para Paris e Bruxelas
O Parlamento, visto de fora, que o atual primeiro ministro quis fechar
Downing Street, onde mora esse ministro, soube que essa rua já foi aberta
Russel Square, uma das muitas praças da cidade
Londres também é cheia de parques, esse é o Waterlow Park
Foto artística de Camden Town, ex-bairro punk. O Lipe disse que fiz sem querer
Shakespeare’s Globe, reconstrução do Globe Theatre, o teatro de Shakespeare
Royal Albert Hall, a rainha Vitória mandou construir, em homenagem ao marido
Tower of London, começou a ser construída em 1066 pelo rei Guilherme I
The British Library, a Biblioteca Nacional daqui, também fiz visita guiada
Outra edição do The Guardian, página inteira sobre o Brasil
A Catedral de St Paul, que só vi por fora
Na igreja de All Saints, assisti à missa, com coral e música de Mozart
The National Gallery, tem muitas obras históricas da Arte, mas o Van Gogh é a estrela
British Museum, história de várias culturas, a estrela, são as múmias do antigo Egito
O rio Tamisa e ao fundo, London Eye, a roda gigante, o olho de Londres 
Outra área de sebos, no South Bank Centre, Centro Cultural da margem sul do rio 
Tower Bridge é uma ponte pênsil e basculante e foi inaugurada em 1894
A casa de Freud, onde sua filha Anna morou até 1982, ano que morreu, hoje é museu
Museu do Sherlock Holmes, fomos buscar inspiração pra nossa investigação
O Palácio de Buckingham, residencia oficial da rainha, em dia de chuva

Uma esticada até Hay-on-Wye

Também fomos à Wales, o País de Gales! Em Londres, pegamos o metrô da linha Northern, descemos na estação Euston, que também é uma estação de trem, tomamos o trem, passamos em Birmigham, fomos até Hereford e de lá, pegamos um ônibus para Hay-on-Wye, pequena cidade no País de Gales, conhecida como a Town of Books, a Cidade dos Livros, lugar cheio de livrarias e sebos, e onde também acontece um festival anual de livros. Nossa última parada no Reino Unido. Hay-on-Wye já era uma cidade com muitas livrarias, quando, em 1962, Richard Booth, um excêntrico amante dos livros, herdou uma propriedade na cidade, transformou-a em uma livraria, começou a organizar o festival anual e deu um caráter mais comercial ao lugar. Ele se autodenominava King of Hay. Richard Booth morreu em agosto deste ano e a cidade estava cheia de homenagens a ele. 

A torre da cidade, nosso ponto de encontro
Uma das livrarias da cidade, essa especializada em poesia
Outra livraria, essa tinha muitos livros que falavam de livros
Essa é a livraria do Richard Booth, é a maior da cidade e tem de tudo
Seção infantil da livraria do Richard Booth
Ele transformou Hay-on-Wye na capital dos sebos do Reino Unido
Essa anunciava livros de segunda mão, mas todas tem
Outra livraria/sebo da cidade, são muitas, não dá para mostrar todas