Já tinha lido li três livros de Ondjaki e falei deles aqui (http://blogdoleheitor.sintaxe.com.br/li-tres-livros-de-ondjaki/), fui reler esse post e percebi uma coincidência. Naquela ocasião, encontrei Ondjaki por acaso, fuçava numa livraria e um livro me chamou a atenção, “Os da minha rua”, adorei a capa. Folheei, gostei, levei e ainda li mais dois livros dele, “A bicicleta que tinha bigodes” e “Uma escuridão bem bonita”.
Desta vez a história foi bem parecida, queria encontrar um livro que falasse de transformações políticas na visão de um jovem ou de uma criança, precisava de um gancho para tratar de uma questão importante e que vem me perturbando muito. Fui fuçar na livraria e, novamente, encontrei Ondjaki, e o seu “Bom dia, camaradas”.
Luta de classes
Como comentei na abertura do post anterior, ando preocupado com o que está acontecendo no país e pensei em falar desse assunto aqui no blog. Acho que isso vai me ajudar e também deve me animar a continuar escrevendo sobre livros. Meu pai foi contra, disse que as pessoas andam cheias de ódio e que eu poderia sofrer com as ofensas. Já estou bem calejado, na escola, a professora de História tem promovido alguns debates em sala de aula e já ouvi cada uma.
A professora Mirtes pede pra gente levar à aula, matérias de jornais para as nossas conversas. Confesso que sempre procuro levar as matérias que defendam a minha posição, mas que são difíceis de ser encontradas. Os jornais, em geral, defendem o outro lado. Sendo assim, tenho que recorrer aos blogs de política, sites e à imprensa alternativa, meu pai acompanha alguns. Por isso, tenho lido muita coisa sobre o assunto, o que tem reforçado ainda mais a minha posição política.
A luta contra a corrupção é muito importante, ninguém é contra, mas essa é uma farsa. Além de prejudicar a economia do país e aumentar a miséria do povo mais pobre, faz “justiça” seletiva e é abusiva. Estão manipulando as leis e praticando o lawfare, palavra inglesa que significa: “usar instrumentos jurídicos para fins de perseguição política”. Não é luta contra a corrupção, é luta de classes! – também li sobre isso. Há 16 anos, os ricos não conseguem eleger um representante na presidência e resolveram tirar o favorito da disputa, para não correr o risco de perder outra eleição.
Bom dia, camaradas
“Bom dia, camaradas”, escrito por Ondjaki, publicado pela Companhia das Letras e narrado por um menino, de quem não sabemos o nome; conta uma história que se passa no final dos anos 1980, em Luanda, durante a Guerra Civil de Angola. Achei muito bonita a forma como o menino conta a história, observando as pessoas e a vida na cidade, como no começo do livro, em um diálogo com o personagem António, que trabalhava em sua casa.
“Mas, camarada António, tu não preferes que o país seja assim, livre?, eu gostava de fazer essa pergunta quando entrava na cozinha. Abria a geladeira, tirava a garrafa de água. Antes de chegar aos copos, já o camarada António me passava um. As mãos dele deixavam no vidro umas dedadas de gordura, mas eu não tinha coragem para recusar aquele gesto. Servia-me, bebia um golo, dois, e ficava à espera da resposta dele.”
Outras partes bonitas do livro são os diálogos com os professores cubanos. Cuba deu apoio a Angola durante a Guerra Civil, inclusive, enviando professores. Tem este bem engraçado que mostra a confusão nos idiomas, os cubanos falavam em espanhol, os angolanos em português, apesar de se entenderem muito bem assim, às vezes, havia algumas confusões. Nesta parte, o Murtala, outro personagem, amigo do narrador, lhe contava uma cena que tinha se passado na tarde anterior com a professora María.
“A professora María, mulher do camarada professor Ángel? Sim, essa mesmo… – O Helder disse a rir. – Então ela
hoje de manhã, lá na sala, tavam a fazer muito barulho então ela quis dar falta vermelha no Célio e no Cláudio… yá… eles levantaram-se já pra ir refilar e a professora disse… – O Helder já não podia mais de tanto rir, ele tava
todo vermelho – a professora disse: ustedes queden-se aiá, ou aí ou quê!
– Sim, e depois? – eu também a rir só de contágio.
– E eles se atiraram no chão mesmo…”
Procurei um livro pra saber das reações de uma criança, num país em transformações políticas. Encontrei esse, que fala da amizade, da relação afetuosa com os dedicados professores cubanos e da ternura nas relações humanas, que jamais devemos perder. É um livro de ficção, mas foi inspirado em fatos reais. O narrador, certamente, é o próprio escritor Ondjaki, que se chama Ndalu de Almeida, e os seus amigos dessa história, são os seus amigos de infância. Tem uma foto que publiquei no outro post, que reproduzo acima. São os personagens desse livro, na época da história. Ondjaki está na foto, é o baixinho do meio.
Clube de leitura
Já está tudo certo! No próximo post teremos outro clube de leitura aqui no blog. Será com os alunos da professora Luciana, da Escola Municipal Luiz Gatti, de Belo Horizonte (MG). Vamos falar do livro “Visita à baleia”, escrito por Paulo Venturelli, ilustrado por Nelson Cruz e publicado pela Editora Positivo. Meus amigos leitores de lá já estão lendo o livro, veja abaixo uma das fotos que a professora me mandou, ela também me mandou um exemplar do livro. 🙂 Vou ler e depois conversar com eles. Até lá!