Hoje vou falar do livro Lua de vinil, de Oscar Pilagallo, que acaba de ser lançado. Ganhei esse livro de presente do meu pai, às vezes ele me faz essas surpresas, sem data especial nem nada. Passa numa livraria, vê um livro que ele acha que eu iria gostar de ler e compra pra mim. No caso desse livro, acho que teve um duplo interesse da parte dele. Lua de vinil conta uma história do tipo que ele sabe que eu gosto, e a história contada nesse livro é da época de sua infância. Meu pai adora me contar ou me mostrar como era a vida no tempo em que ele era um menino!
O livro e os discos
No livro Lua de vinil, escrito por Oscar Pilagallo e publicado pelo selo Seguinte da editora Companhia das Letras, Gilberto é o personagem narrador, é ele quem conta essa história que se passa em São Paulo, no ano de 1973. Gilberto tinha dezesseis anos, morava no bairro da Vila Mariana, estudou no Colégio São Luís e se transferiu para o Objetivo da avenida Paulista. Um dos seus apelidos era Giges, dado por um professor de história, o outro era Giba. Seus amigos que moravam no mesmo prédio também tinham apelidos, alguns muito engraçados, Figura, Fariseu, Zigoto, Cabaço, Diabo, Nirvana e China.
Eles jogavam futebol de botão no salão do prédio, a maioria da turma torcia para o Santos, que ganhava todas naquela época, eles também jogavam ping-pong. Gilberto era apaixonado por Leila. Seu pai estava internado na UTI do hospital Oswaldo Cruz, que fica bem perto de onde eles moravam, e ele dividia com a mãe algumas noites de companhia ao pai, que estava inconsciente.
Em 1973, o Brasil vivia em plena ditadura, algumas informações sobre a situação política, ele aprendeu com o pai, outras, soube pelo Agnaldo, irmão mais velho do Cabaço, que já estava na Faculdade, estudava na Fefeleche da USP e era simpatizante de uma organização de esquerda. Três coisas (ou quatro) acontecem na história do livro, que transformam a vida do Gilberto, mas isso eu não vou contar, não vou cometer esse spoiler.
Como eu disse no começo deste post, meu pai me fala com tanta paixão de seus tempos de menino, que quando leio livros que contam histórias dessa época, sinto como se eu também tivesse vivido nesse tempo. É engraçado, sinto saudades de um tempo que eu não vivi.
Outra parte bacana são os discos que eles ouvem, The Dark Side of the Moon, álbum do Pink Floyd que acabava de ser lançado (And all you create / And all you destroy / And all that you do / And all that you say…), o Transa, do Caetano Veloso (Mora na filosofia / Pra quê rimar amor e dor…), o primeiro disco dos Secos e Molhados (Eu não sei dizer / nada por dizer / então eu escuto…), meu pai ainda tem esses LPs aqui em casa. Ouvi alguns e consegui entrar mais ainda na história do Lua de vinil.
O autor
Oscar Pilagallo nasceu em São Paulo em 1955. É autor de História da imprensa paulista, publicado pela editora Três Estrelas, em 2011, que ganhou o prêmio Jabuti, e roteirista da HQ O Golpe de 64, publicado em 2014, pela mesma editora. Publicou também A aventura do dinheiro, em 2000 e O Brasil em sobressalto, em 2002, esses dois pela Publifolha.
Jornalista desde 1975, trabalhou na Folha de S. Paulo e na BBC de Londres. Em 1993, recebeu um prêmio Esso de jornalismo. Nos anos 2000, criou e editou a revista EntreLivros. Lua de vinil é o seu primeiro livro de ficção.