Como anunciei no post anterior, fui à Paraty, assistir à minha segunda Flip, a Festa Literária Internacional de Paraty. Fui com meus pais, voltamos no outro domingo, mas só agora tive tempo pra escrever aqui. Quase uma semana fora, ficaram muitas coisas pra eu colocar em dia, volta às aulas, tarefas da escola, assuntos pessoais, etc., só agora pude atualizar o blog.
Antes de publicar mostrei pra minha mãe, ela disse que o assunto já tinha passado, “faz mais de uma semana que a Flip acabou”, que não fazia mais sentido contar essa história, e que o post estava muito grande. Eu disse que tinha prometido falar da Flip, que não poderia deixar de falar, e que o post ficou grande porque tinha muita coisa pra contar. Sei que minha mãe vai dizer que sou teimoso, mas tentei resumir… Espero que gostem e leiam, pelo menos alguns pedaços.
Pedras no caminho
Desta vez, como já conhecia Paraty, não precisei ficar junto de meus pais, fiz meus próprios programas, me perdi algumas vezes, as ruas da cidade são todas iguais e a gente tem que ficar olhando pro chão, pra não tropeçar nas pedras, mas era só caminhar um pouquinho, que já encontrava algum lugar conhecido.
No segundo dia já estava craque, ia de um evento ao outro, em menos de cinco minutos, tenda dos autores, telão, livraria, flipinha, flipzona, casa de cultura, casa do roteirista, casa da folha, casa da libre, casa do sesc, ia de lá pra cá, tentando ver a maior parte dos programas, perdi muitos, mas deu pra assistir bastante coisa legal e encontrar muita gente bacana.
Show da Gal Costa
Chegamos à Paraty na quarta à noite, assistimos ao show de abertura da Flip, que este ano foi com a cantora Gal Costa, ela se apresentou no palco da Flipinha, tinha muita gente, mas conseguimos um lugar bem na frente… Foi bem legal o show da Gal!
Na quinta, logo cedo, mandei mensagem para o meu amigo Paulo Farah, que também estava na Flip, eu soube que ele ia participar de uma mesa, representando o Grupo de Trabalho do PMLLLB, o plano de São Paulo, para discutir a política do livro e da leitura. Ele me passou o horário, seria às 14h00, daquele mesmo dia, na casa de cultura, anotei pra não esquecer, era o meu compromisso político da Flip, depois tomei café da manhã com meus pais e saí sozinho pra passear pela cidade.
Como se conta uma história
Saí da pousada caminhei pela beira da praia e segui pra Flip, passei pela livraria, dei uma olhada nos livros, vi os títulos dos autores que estavam por lá, e já comecei a querer alguns, segui minha caminhada de reconhecimento do lugar, e cheguei em frente a tenda dos autores, lá tinha um painel com parte da programação, vi que já estava começando uma mesa na Flipinha, “Como se conta uma história”, me interessei pelo assunto, e, ainda, a Rosana Rios faria parte dessa mesa, eu conheço a Rosana, já li livros e falei dela aqui no blog. Atravessei a ponte e corri pra Flipinha! Na mesa também estava o Augusto Pessôa, esse eu não conhecia, gostei muito dele.
A Rosana falou que para se contar uma história, precisamos ter um personagem, qualquer coisa pode ser personagem; depois temos que criar uma aventura para colocar o nosso personagem e toda aventura tem que ter uma encrenca, depois de escrever a história, precisamos de uma editora, que vai ver se a história é legal e se pode virar um livro. O escritor tem que buscar histórias novas, não pode contar histórias que já foram contadas.
O Augusto Pessôa trabalha com arte-educação e viaja muito, ouve muitas histórias, depois conta nos seus livros, também conta muitas histórias de sua família. Ele contou uma história de assombração, “João sem medo”. Havia uma casa mal-assombrada e todos que dormiam nela, acordavam malucos. O João corajoso, não tinha medo de nada e foi dormir na casa. Aconteceram muitas coisas pavorosas, que ele contou de um jeito muito engraçado. Essa história está no seu livro “Bá e as visagens”.
No final, conversei com a Rosana Rios, peguei seu e-mail, ela mora em São Paulo e tem mais de 100 livros publicados, quero ler outros e fazer uma entrevista com ela.
O primeiro livro do Ferréz
Saindo de lá, consultei a programação e descobri que o Ferréz ia falar na casa de cultura, já conhecia o Ferréz, uma vez fui ao Capão Redondo, visitei a ONG dele e contei aqui no blog. Cheguei, peguei uma senha e fiquei na fila esperando, quando abriu a sala, as pessoas foram entrando e eu fui o último a deixarem entrar. Que sorte a minha, ficou muita gente de fora! Antes de começar a conversa, o Ferréz pediu licença à plateia e foi lá fora se desculpar com os barrados, disse que muitas vezes isso aconteceu com ele, e sabe como dói. Ele voltou e além de se desculpar, ainda conseguiu colocar mais umas dez pessoas pra dentro da sala.
O Ferréz contou como foi publicar e vender seu primeiro livro, um livro de poesia, ele trabalhava num escritório e os colegas não entendiam seu texto, poesia concreta, que ele escrevia em folhas de papel e pregava nas paredes da empresa. Sua patroa gostou e financiou a publicação da obra, mas, em seguida, demitiu o funcionário, gostava da poesia, mas não gostava de seu trabalho. Saiu da empresa e foi à luta, vender seu livro, um dia um amigo disse que uma distribuidora queria comprar 800 exemplares, conseguiu carona pra levar os 40 pacotes e chegou antes, mesmo, de a distribuidora abrir.
No final descobriu que eles só queriam oito exemplares, nisso já tinha perdido a carona de volta e teve que guardar os pacotes num bar próximo, para levar aos poucos, de ônibus, pra sua casa. O jeito como o Ferréz conta essa história, com todos os detalhes, é muito engraçado! À tarde ele ia lançar uma nova edição de seu livro infantil “Amanhecer Esmeralda”, mas não consegui ir, depois quero ler.
Compromisso político e literatura russa
Assim que acabou a mesa do Ferréz, fui comer um lanche por perto e voltei correndo, logo ia começar o debate sobre a política do livro, que meu amigo Paulo Farah iria participar, representado o nosso grupo de trabalho de São Paulo. Peguei a senha e fiquei esperando, nesse tempo encontrei dois amigos, a primeira foi a escritora Ana Claudia Ramos, já li muitos livros dela e falei aqui no blog, ela me contou que tem livros novos (OBA!), e disse que poderia me dar um exemplar depois… Pena que eu não encontrei mais com ela, só a vi de longe, numa mesa que ela coordenou, mas vou procurar os livros novos da Ana Claudia, quero ler e contar aqui no blog.
Outro amigo que encontrei foi o Beto Silva, ele trabalha com mediação de leitura e participa da Cor da Letra, ele também faz parte do GT do PMLLLB e já me deu boas dicas de mediação, que eu usei aqui no blog. Conversamos sobre a Flip, contei o que eu já tinha assistido e ele me deu um ingresso para ver uma mesa sobre literatura russa, que ia acontecer mais tarde, na tenda dos autores. Fiquei muito feliz e agradeci, os ingressos para a tenda dos autores estavam muito concorridos neste ano.
Primeiro assisti ao debate sobre o plano do livro e da leitura na casa de cultura. Tinha diversos participantes, entre eles, o José Castilho, que falou sobre o plano nacional, o PNLL – já falei dele em outros posts. Tinha também uma representante de Natal (RN), a Cláudia Santa Rosa, que contou como está a elaboração do plano por lá, eles já discutiram com diversos setores e regiões da cidade e estão bastante adiantados. Como já contei estava também o nosso representante, o Paulo Farah, que falou como estão os trabalhos do GT para construção do PMLLLB de São Paulo e divulgou o nosso site: http://pmlllbsp.com.
Depois que acabou o debate, corri pra tenda dos autores para assistir a mesa sobre literatura russa. Participaram dessa mesa a escritora americana, Elif Batuman, e o escritor russo, Vladímir Sorókin. A Elif contou que, desde a adolescência já se interessava pelos escritores russos do século XIX, lia muito, e na universidade foi estudar e se especializar nessa literatura. Estudou quase todos, principalmente o Tolstói – já falei dele aqui no blog -, na Flip ela estava lançando o livro, “Os Possessos”.
O Vladímir, primeiro convidado russo da história da Flip, estava lançando o livro “Dostoiévski-Trip”, peça de teatro que conta a história de sete pessoas viciadas em literatura. Ele disse que depois da grande literatura produzida pela Rússia no século XIX, o país não conseguiu produzir grandes escritores no século XX, e que só agora eles começaram a aparecer.
Casa do Sesc
Mais tarde fui à casa do Sesc, Eugenia Zerbini participou de um debate sobre os 50 anos do golpe militar, junto com o professor Roberto Bozzetti e o poeta Chacal. Conheci a Eugenia num encontro de blogueiros literários que participei na Livraria da Vila, aqui em São Paulo, ela tem um romance publicado que se chama “As netas da Ema”. Gostei do debate, aprendi muito e ainda me lembrei de coisas que já tinha pesquisado quando escrevi aqui, um post sobre esse assunto. No Sesc também tinha uma exposição bem bacana de ilustração de livro infantil, a MACLI – Mostra de Arte Contemporânea em Literatura Infantil, com trabalhos de Renato Moriconi, Fernando Vilela, entre outros.
Na casa do Sesc encontrei outros amigos, encontrei a Susana Ventura, que conheci num evento do Sesc aqui em São Paulo, ela tem muitos livros publicados, tem um de contos africanos, que eu já li e vou fazer um post sobre ele. Também encontrei a Cecília Nery, conheci a Cecilia na minha primeira Flip, ela é jornalista e também tem um blog literário que se chama “Leituras e Observações”. Encontrei a Ana Luísa Sirota, ela trabalha no SESC com literatura e bibliotecas e faz parte do grupo de trabalho do PMLLLB de São Paulo. Conversamos sobre o debate da casa de cultura, ela também tinha assistido.
Computador de última geração
Outra mesa que eu quis ver da Flipinha foi a que estava a ilustradora Marilda Castanha, ela mora em Belo Horizonte e é casada com o Nelson Cruz, já falei dele aqui no blog, o Nelson participou de um dos nossos clubes de leitura. Nessa mesa também estava a Bia Bedran e quem fez a moderação foi a Ana Claudia Ramos.
A Bia Bedran é cantora, compositora, contadora de histórias e escritora. Ela disse que desde pequena ouvia histórias e cantigas de ninar, contadas e cantadas pela sua mãe, e em seu trabalho ela mistura literatura e música. No palco ela leu a história de um de seus livros, leu frase por frase e a plateia repetiu, depois cantou essa mesma história, como música. Cada livro dela tem uma ou mais músicas que podem ser ouvidas e cantadas.
A Marilda Castanha disse que é uma ilustradora à moda antiga, gosta de trabalhar com tinta, adora a cor e o cheiro delas. A Marilda apresentou um computador de última geração que é de onde ela tira todas suas histórias. Esse computador é feito de papelão, tem todos os ingredientes de um livro, cada tecla corresponde a uma parte, autor, ilustrador, página de rosto, cenário, personagens, história, etc. Ela chamou duas crianças ao palco que apertaram as teclas dos personagens e apareceram os desenhos de uma menina e de um ogro gigante, que fazem parte de seu novo livro, que fala do medo e da coragem.
Millôr, o homenageado deste ano e outra mesa na tenda
Também assisti na tenda dos autores a uma mesa sobre o Millôr Fernandes, o autor homenagenado da Flip deste ano. Participaram desta mesa o caricaturista e jornalista Claudius, o jornalista Sérgio Augusto e o caricaturista Cássio Loredano. O Cássio organizou um livro para o Instituto Moreira Salles, que estava sendo lançado na Flip, com frases e desenhos do Millôr, e que se chama “Millôr 100+100 – Desenhos e Frases”. Eu comprei esse livro e já li algumas frases, são muito engraçados os desenhos e as frases do Millôr!
A mesa se chamava o “Guru do Méier” e todos contaram como conheceram Millôr Fernandes. O Claudius disse que, quando era criança, seu pai trazia muitas revistas pra casa, inclusive “O Cruzeiro”, e ele lia o “Pif Paf”, a coluna do Millôr nessa revista. Depois, no colégio, um professor de Português levava todas as sextas-feiras “O Cruzeiro” para ler o “Pif Paf” em sala de aula. Foi assim que começou sua relação com o Millôr, depois, adulto, foi trabalhar com ele na “O Cruzeiro”.
Sérgio Augusto começou o contato com Millôr pela revista “O Cruzeiro”, ele trabalhava no jornal “Correio da Manhã” e depois também foi trabalhar nessa revista. O Millôr fazia sua coluna em casa e às sextas-feiras ia à redação levar o trabalho pronto, encontrava todos trabalhando e ele querendo conversar. Em 1963 o Millôr foi demitido da revista por um artigo que ele escreveu sobre o Paraíso, o Sérgio Augusto estava lá, depois ficaram grandes amigos e fizeram muitas viagens, juntos.
O Cássio Loredano também convivia com o Millôr semanalmente, lendo a “Pif Paf” na revista “O Cruzeiro”, ainda criança, sua mãe tinha que lhe explicar as piadas da coluna. Adulto, começou sua carreira trabalhando no jornal “Opinião”, que ficava perto da redação de “O Pasquim”, sempre se encontrava e conversava com o Millôr. Lembra que o Henfil também se queixava do Millôr, que trazia o trabalho pronto de casa e vinha à redação só pra conversar, interrompendo os que tinham que fechar suas matérias.
Eles disseram que o Millôr não queria mudar o mundo, só queria que fosse mais engraçado. Ele era muito assediado, muitas vezes alguém chegava perto com um pedaço de papel e uma caneta e dizia: “Millôr, escreve aqui uma bobagem”. E ele respondia: “Então, começa a ditar”.
Outra mesa que assisti na tenda dos autores foi “A verdadeira história do paraíso”, com o escritor israelense Etgar Keret, e o mexicano, Juan Villoro. Um dia eu estava sentado nos fundos da tenda, de frente ao telão, uma moça veio e me perguntou se eu não queria assistir à mesa que estava pra começar, ela tinha o ingresso, mas não ia ver, nem a conhecia. Eu sorri, disse, “claro que, sim”, agradeci muito, peguei o ingresso e corri pra fila. Adorei essa mesa, gostei bastante do Juan Villoro, ele tem um livro juvenil que se chama “O livro selvagem”, comprei, vou ler e depois conto essa história com mais detalhes.
Casa do roteista, da Libre, da Folha e mais amigos
Encontrei mais amigos, passei horas com a Daniela Padilha, da Editora Jujuba, a escritora e ilustradora Aline Abreu e a Rita, que é filha da ilustradora Ciça Fittipaldi e trabalha na Jujuba. Passeamos bastante e ainda assistimos a uma mesa na casa do roterista com Paulo Lins, Adriana Falcão, Thelma Guedes, com a moderação do Marcelino Freire.
Também encontrei a escritora Marcia Camargos e passeamos bastante, depois ela me levou à festa da Libre, o sindicato das pequenas editoras. Lá eu encontrei a Sandra Silvério, da Editora Livro Falante, o Haroldo Ceravolo, que é presidente da Libre e também faz parte do grupo de trabalho do PMLLLB, a Silvia Abolafio, da Editora Galpão, que estava lançando seu novo livro infantil, “Medo? Quem tem medo?”, o Paulo Farah, a Susana Ventura, e outras pessoas que já tinha encontrado pela cidade e também estavam nessa festa.
Na casa da libre também assisti a leitura do livro “Meu pé de laranja-lima”, de José Mauro de Vasconcelos, na voz de Rafael Cortez. Já falei do Rafael aqui no blog, quando fui ao lançamento de um audiolivro de Machado de Assis, gravado por ele. O Rafael também gravou o “Meu pé de laranja-lima” em audiolivro, a Sandra me deu um exemplar, peguei autógrafo do Rafael, vou ouvir e depois vou contar aqui no blog.
Outra casa que visitei bastante foi a casa da Folha, mas sempre que tinha evento, ficava muito cheia. Um dia cheguei mais cedo e consegui assistir a mesa com o Ruy Castro, ele falou das biografias que escreveu e contou uma história bem bonita.
Disse que naquela manhã acordou com barulho de máquina de escrever, tec tec tec, ficou intrigado, quem escreveria à máquina, ainda, nesses tempos de computador. Saiu pela pousada à procura do datilógrafo, encontrou uma moça, que lhe esclareceu o mistério. Eram passarinhos que quando cantam emitem som de máquina de escrever. Daí ele concluiu: em Paraty, na Flip, até os passarinhos escrevem.
Último dia
No domingo à tarde, antes de retornar para São Paulo, saí um pouco da Flip e fui dar uma volta pela cidade.