Outro dia fui ao lançamento de um livro da minha amiga escritora e ilustradora Aline Abreu. O livro dela se chama Menina Amarrotada, e conta a história da relação de uma menina com o seu pai. Essa história que a Aline escreveu e ilustrou, às vezes, é um pouco triste – que é quando a menina fica amarrotada, mas é muto bonita. Ganhei o livro e ainda peguei um autógrafo da autora. Já li e adorei.
Esse livro foi publicado pela Jujuba, a editora da minha outra amiga, a Daniela, que também estava lá. O lançamento foi bem gostoso e encontrei muitos amigos – a Raquel, a Lúcia, a Maria, a Sônia, o Cláudio, a Cecília, o Peter, e a Gizele e o Manu, que contaram a história do livro, e ainda conheci a Silvia Fernandes, que também tem uma editora, a Dedo de Prosa. Tudo isso graças ao meu blog. Depois que comecei a fazer este blog, conheci tanta gente legal!
No final conversei com a Silvia, ela me falou de um escritor que ela gosta muito e disse que eu precisava conhecer, o Gil Veloso. Ele tem dois livros publicados pela Dedo de Prosa, O menino arteiro e A pedra encantada. Ela me deu os livros, li e também virei fã deste escritor. Já fui a um bate-papo com ele, peguei autógrafo, o conheci pessoalmente, e hoje vou falar dos seus livros, mas antes vou contar duas novidades dos nossos clubes de leitura.
Coletiva de imprensa nos clubes de leitura
Os dois próximos livros dos nossos clubes de leitura serão Os herdeiros do Lobo, de Nelson Cruz, que vamos ler com os alunos das professoras Luciana e Ana Paula, de Belo Horizonte, e O gênio do crime, de João Carlos Marinho, que será lido com os alunos do professor Carlos, de São José dos Campos. A novidade é que vamos entrevistar os autores, sim, vamos, eu e os alunos das escolas. Vou mandar as perguntas por e-mail e publicar a entrevista nos posts dos livros.
O pessoal da Sintaxe me disse que o que vamos fazer é uma “coletiva de imprensa”. Não é legal?! Vamos ter coletiva de imprensa no blog! Já mandei e-mail para os dois autores e eles concordaram em dar a entrevista. O Nelson Cruz, que eu já conhecia – o encontrei na entrega do prêmio Jabuti – nos agradeceu por fazer esse trabalho com o seu livro. O João Carlos Marinho, que a Silvia da Dedo de Prosa me passou o contato, retornou dizendo que será um prazer responder as nossas perguntas.
Um escritor que brinca com as palavras
Gilmar França Veloso é o seu nome completo. Foi o escritor Caio Fernando Abreu, que o batizou de Gil Veloso, misturando o nome dos dois compositores baianos. Gil Veloso foi amigo, confidente e secretário de Caio Fernando Abreu, e também trabalhou com outros dois escritores importantes, o João Silvério Trevisan e a Lygia Fagundes Telles. Também conheceu Hilda Hilst, que uma vez o convidou para morar em sua casa, a Casa do Sol, em Campinas.
Ele conheceu esses escritores muito antes de começar a mostrar seus textos e publicar livros. Convivia diariamente com a Lygia Fagundes Telles e ela só foi descobrir que ele escrevia no dia do lançamento de seu primeiro livro, o Fábulas Farsas, que, inclusive, traz um conto inspirado em uns cupins que naquele tempo apareceram na casa da Lygia. Eu li esse conto e gostei muito! O Gil adora brincar com as palavras e buscar os seus diversos significados. Foi o que ele fez nesse conto e também nos dois livros que li e que vou contar aqui.
A pedra encantada, escrito por Gil Veloso, com ilustrações de Nara Amelia e publicado pela Dedo de Prosa conta a história de Pedrita, uma menina que colecionava pedras. Na verdade, Pedrita era seu apelido, seu nome era outro, que a gente só descobre no final do livro, e que tem tudo a ver com as coisas que acontecem nessa história. Pelo menos foi o que eu entendi, perguntei ao Gil Veloso se era isso mesmo e ele me disse que não pensou assim quando escreveu o livro. É engraçado isso! Tem histórias que cada um entende de um jeito diferente (diferente até de quem escreveu), por isso que é bom conversar sobre os livros e fazer clubes de leitura. Uma vez eu ouvi dizer que quando o escritor publica seu livro, o livro deixa de ser do escritor e passa a ser do leitor. Então, na parte que me cabe deste livro do Gil Veloso, a história acontece do jeitinho que eu entendi, e pronto.
Desde pequena a menina gostava de pedras, tinha uma porção delas, de cores, formatos e tamanhos variados. Para qualquer lugar que fosse, sempre trazia uma lembrança, ao menos uma pedrinha. Todos na família pensavam que ela era “louquinha de pedra” e queriam que ela parasse com aquela mania. O seu quarto (“quartzo” como dizia o irmão, que vivia lhe zoando) parecia uma pedreira, não havia espaço pra mais nada. Além das pedras que pegava por aí, também ganhava de presente, algumas sujinhas, outras embrulhadas em papel de seda, com fitas, caixinha e tudo, como se fosse uma joia. Pedrita não era elegante e nem bonita, como os especialistas costumam classificar, mas tinha seu estilo. Ela também escrevia e Pedro, seu ex-namorado, achava seus textos bicho-grilos demais. E a história segue, com a Pedrita se transformando e enfrentando todas as pedras de seu caminho.
O menino arteiro, escrito por Gil Veloso e publicado pela Dedo de Prosa faz uma homenagem ao artista Guto Lacaz, apresenta alguns de seus trabalhos e conta uma história bem legal. Este livro é outro exemplo daqueles que a gente entende uma coisa, mas que pode ser outra, e neste caso, é outra, mesmo. Eu pensei que fosse uma pequena biografia do Guto Lacaz quando menino, mas a história contada é pura invenção de Gil Veloso. A história começa assim, como no livro anterior, com o autor brincando com as palavras e buscando outros significados.
“Era, desde pequeno, um artista verdadeiro. Estava sempre ocupado com coisas, troços, trecos e cacarecos, fazendo dos objetos gato-sapato, parecia possuído pelo bicho-carpinteiro. Quando bebê já se notava, tinha parafuso a menos. Ou a mais? Até seu choro continha algo diferente, gutural, parecia chorado de trás pra frente. Mal começou a engatinhar já tentava correr, quebrando recordes e coisas que estavam em seu caminho. Tão logo aprendeu a falar fazia perguntas sobre perguntas sem deixar espaço para as respostas. Isto quando não respondia ele mesmo; às vezes a pergunta já vinha com a resposta embutida. (…) Assim o menino, arguto e loquaz, vivia aprontando, xeretando por todas as partes, o tempo inteiro fazendo artes.”
Gil Veloso contou numa entrevista que deu para o site Estudos Lusófonos (http://etudeslusophonesparis4.blogspot.fr/2013/05/o-novo-so-e-possivel-no-olhar-do-leitor.html): “O Menino Arteiro nasceu de uma brincadeira-homenagem ao Guto, artista que muito admiro, pencas e quilos; era apenas um agrado, não pretendia se tornar livro, tampouco ilustrado. Mas aí o Guto gostou e pediu para expor no blog… Eu, que nem sabia que ele tinha isso, considerei então a possibilidade de editar. A Silvia Fernandes topou e fez-se book, pela editora Dedo de Prosa.”
Gil Veloso nasceu no Paraná e vive em São Paulo desde 1983 . Além de O menino arteiro e A pedra encantada, escreveu o livro de contos Fábulas Farsas e também o Travessuras, histórias para anjos e marmanjos. Publicados pela editora Ópera Prima, estes dois foram premiados pelo PROAC – Projeto de Ação Cultural da Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo – concurso de apoio a projetos de publicação de livros. Fábulas Farsas também foi selecionado pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil para o catálogo da Feira de Bolonha em 2010.