Biblioteca pública, livro, leitura e o Cine Bijou

– Como foi a reunião de ontem, Heitor?

– Foi legal, pai!

– Foi sobre o mesmo assunto daquela, na biblioteca do Tatuapé?

– Não, aquela foi em defesa das bibliotecas públicas.

– E essa, não foi também?

– Não, essa foi em defesa do Plano Municipal do Livro e da Leitura, o PMLL. Você sabia que São Paulo ainda não tem um PMLL?

– Sabia… São Paulo não tem muita coisa, meu filho. Motivo pra lutas políticas não faltam na nossa cidade.

– Se lembra de quando eu fui àquela passeata e você disse que era a minha primeira luta política?

– Claro que eu me lembro, a passeata era pra defender o quarteirão e a biblioteca do nosso bairro.

– E nós vencemos!

– E você gostou da ideia!

– Gostei!

– Gostou tanto que não parou mais.

– E nem quero parar, pois a luta continua… Não é mesmo, pai?

Meu pai riu, pegou um livro da mesa e me deu.

– Olha… Vi este livro na livraria e comprei pra você.

– Obrigado! “Cine Bijou”?

– Sim. Como o autor deste livro, eu também assisti a muitos filmes nesse cinema. Leia, acho que você vai gostar. Eu gostei!

Tive essa conversa com o meu pai na quinta-feira passada e hoje vou falar um pouco do debate sobre as bibliotecas públicas, da manifestação em defesa do Plano Municipal do Livro e da Leitura da cidade de São Paulo, e do livro sobre o Cine Bijou.

As bibliotecas públicas e o Plano Municipal do Livro e da Leitura

No post anterior eu falei de uma reunião que eu ia, na Biblioteca Hans Christian Andersen, para assistir a um debate sobre Bibliotecas Públicas. Pois eu fui, e gostei muito. Conheci a Lucina Melo, coordenadora dessa biblioteca, que fica no bairro do Tatuapé, aqui em São Paulo, e encontrei os meus amigos, o escritor Jeosafá e o Plínio.

Nesse debate se falou de muita coisa. Disseram que hoje a gente não vai mais à biblioteca pra fazer pesquisa pra escola, encontramos tudo na internet, e que a biblioteca não serve só pra isso. Eu, por exemplo, vou à biblioteca pra ler, pegar livros emprestados e encontrar os meus amigos. Tem muita coisa que a gente pode fazer lá. Depois, o pessoal que estava debatendo levantou uma questão: Que biblioteca é essa que devemos ter?

Eles acham que a gente tem que ter uma biblioteca mais receptiva e acolhedora e que seja aberta à comunidade. “A biblioteca como um espaço de democratização da informação”. No final do debate eles concluíram que tem que ser criada uma política de Estado para as bibliotecas e decidiram elaborar um documento com algumas sugestões.

Depois desse debate eu ainda fui a outro evento, que aconteceu no dia 27 de março, no quarteirão literário, em frente à Biblioteca Monteiro Lobato, que fica na Vila Buarque, região central de São Paulo. Fui convidado! Esse evento era para apoiar a criação e implantação do Plano Municipal do Livro e da Leitura da cidade de São Paulo. No final desse evento, que teve contação de histórias, música, dança, distribuição de livros; aconteceu um debate no auditório do Senac, que fica na rua ao lado do quarteirão.

A plateia estava cheia, e na mesa estavam o Paulo, da Bibliaspa; a Sueli, da Biblioteca Monteiro Lobato; e a Bel, do LiteraSampa. Eu ouvi e também li num cartaz que o PMLL deve ser criado para garantir a promoção do acesso ao livro, à leitura, à literatura e às bibliotecas públicas, escolares e comunitárias a todos os cidadãos e cidadãs do município. E para participar é só procurar o Grupo de Discussão e Estudo do PMLL e assinar a Petição de apoio ao PMLL, nos encontros do Grupo e na internet.

A Bel, do LiteraSampa, disse que esse debate deve acontecer mais vezes na cidade, para dar mais visibilidade e chamar mais pessoas para o movimento. O meu amigo Jeosafá também estava lá e pediu a palavra. Ele disse que participa de um grupo, que vem discutindo essas questões desde o ano passado. Eles elaboraram um documento que já tem mais de mil assinaturas.

O Fernando Haddad e a Nádia Campeão assinaram esse documento, no final do ano passado, durante a campanha eleitoral. O documento tem o apoio do prefeito e da vice-prefeita! No final do debate, os dois grupos se juntaram e o nosso movimento em defesa do livro e da leitura, pela criação e implantação da PMLL de São Paulo vem crescendo a cada dia.

Um cinema e uma época

A história do livro Cine Bijou, escrito por Marcelo Coelho, ilustrado por Caco Galhardo e publicado pela editora Cosac Naify e Edições SESC SP começa assim:

“Quando eu tinha quinze ou dezesseis anos, me achava extremamente inteligente na maior parte do tempo. No resto do tempo, eu me achava extremamente idiota. Não sei se idiota é a palavra. Ser um pateta não é igual a ser um imbecil, por exemplo. O imbecil tem mais profundidade; o pateta é mais avoado, mais feliz até. Ser um crianção tem cura; já um babaca é babaca pelo resto da vida. O burro é burro desde que nasceu, mas o idiota só é idiota de vez em quando. Isso eu dizia pra me consolar.”

Nesse livro o autor Marcelo Coelho conta um pouco da sua história, quando tinha essa idade, na década de 1970. Ele diz que uma das “atividades inteligentes” que fazia era ir ao cinema e os filmes que queria ver eram proibidos para menores de 18 anos. “Naquela época, 1974, 1975, a censura por faixa etária era levada bastante a sério.” Ele conta, também, que alguns filmes nem os adultos podiam ver, pois eram proibidos pela censura.

O Brasil vivia uma ditadura militar e o governo proibia filmes mesmo para quem tinha mais de dezoito anos. Ele disse que nessa época tinha cara de criança e o único cinema que o deixavam entrar era o Cine Bijou, que ficava no centro de São Paulo, na praça Roosevelt. Ele diz que o Cine Bijou exibia sempre filmes de arte e festivais de diretores famosos.

E assim segue a história desse livro, com o autor contando um pouco dos filmes que viu no Cine Bijou, da história dessa época, e de sua história, quando tinha quinze ou dezesseis anos.

Para criar as ilustrações desse livro, Caco Galhardo recuperou cartazes de filmes clássicos como, Laranja mecânica, de Stanley Kubrick e o Último tango em Paris, de Bernardo Bertolucci . Ele também se inspirou em cenas marcantes dos filmes A morte em Veneza, de Luchino Visconti e Os amantes de Maria, de Andrey Konchalovsky, e a capa foi baseada em Viver a Vida, de Jean-Luc Godard.

Marcelo Coelho nasceu em São Paulo, em 1959. Formado pela Universidade de São Paulo (USP) em ciências sociais, é mestre em sociologia.  Ensaísta, escritor, e jornalista – dedicado, sobretudo à área de cultura, assina uma coluna no jornal Folha de S. Paulo, no caderno Ilustrada, desde 1990. O livro Tempo medido (Publifolha, 2007) reúne suas melhores crônicas publicadas no jornal. Traduziu obras de Voltaire e Paul Valéry e escreveu dois romances, Noturno (Iluminuras, 1992) e Jantando com Melvin (Imago, 1998). Também publicou os livros infantis A professora de desenho e outras histórias (1995) e Minhas férias (1999), os dois pela Cia das Letrinhas.

Caco Galhardo nasceu em São Paulo, em 1967. Formado em Comunicação pela FAAP, iniciou sua carreira como cartunista na década de 1980. É autor dos livros O banquete – As gostosas de Caco Galhardo (Barracuda, 2004), em parceira com o escritor Marcelo Mirisola, Dom Quixote em Quadrinhos (2005), Crésh (2007) – ambos publicados pela Editora Peirópolis – e Bilo (Girafinha, 2008). Suas tirinhas podem ser vistas no jornal Folha de S. Paulo.

Vou a um debate sobre bibliotecas

Hoje vou fazer um post diferente, não vou contar nenhum livro, vou falar de um debate sobre bibliotecas públicas. Perguntei ao meu amigo Lipe, o que ele achava de eu fazer um post assim.

– Acho legal! ele respondeu.

– Mas eu não vou falar de nenhum livro, Lipe!

– Ora, se você fala de bibliotecas, fala de todos os livros! ele disse, como se estivesse me explicando o óbvio.

Tenho muitas divergências com o Lipe, mas às vezes a gente se entende. Ele é o meu melhor amigo, já falei dele aqui no blog.

Tive a ideia de fazer este post, pois, outro dia, recebi um e-mail de Luciana Melo, coordenadora da Biblioteca Pública Hans Christian Andersen. Ela disse no e-mail, que acompanha e adora o meu blog, e me convidou para um debate. O nome do debate é “Biblioteca pública como instrumento de cidadania e inclusão social” e será na terça-feira que vem, dia 12 de março, lá na biblioteca, mesmo, que fica no bairro do Tatuapé, aqui em São Paulo. A programação está aí embaixo, com o número de telefone e tudo. Quem quiser participar é só ligar e fazer a inscrição. Eu já fiz a minha!

Ainda não conheço a Luciana, pessoalmente, fiquei muito feliz por ela me convidar para esse debate, mas fiquei pensando: Por que será que ela me convidou? Justo, eu?! E fui conversar com minha mãe:

– Ela não disse que acompanha o seu blog, Heitor?

– Disse.

– Então é por isso! Além de saber que você gosta muito de livros, ela deve ter acompanhado sua luta em defesa da biblioteca do nosso bairro.

– É, mesmo!

Depois falei com meu pai e ele me explicou como eu faço pra chegar ao Tatuapé. Preciso pegar um ônibus e o metrô. Na terça, assim que chegar da escola, almoço correndo e saio. Não quero chegar atrasado ao debate.

Fórum de debate

“Biblioteca pública como instrumento de cidadania e inclusão social”

Cronograma

14h00 – Abertura: Luciana Melo (Coordenadora Biblioteca Hans C. Andersen)

Mediação: Rosely Daltério (Socióloga Biblioteca Cassiano Ricardo)

14h30 – Atividade artística: Contos populares com Tatiana Felix (Pedagoga Seduc – Praia Grande)

15h00 – Palestra: “Retratos da Leitura no Brasil” com Zoara Failla (Socióloga, coordenadora da área de projetos do Instituto Pró-Livro – IPL – organização criada e mantida pelas entidades do livro (Abrelivros, CBL e SNEL)

16h00 – Mesa redonda: “Bibliotecas Públicas como instrumento de cidadania e inclusão social”

Izilda Patti (Sistema Municipal de Bibliotecas de São Paulo), Durvalina Soares (Sistema Municipal de Bibliotecas de São Paulo), Ricardo Queiroz (Sistema Municipal de Bibliotecas de São Bernardo), e Professora Maria Edith Giusti (Coordenadora da Especialização em Bibliotecas Públicas / UNIFAI)

Mediação: Rosely Daltério (Socióloga Biblioteca Cassiano Ricardo)

17h30 – Café e atividade musical com os ex-alunos do Vocacional em Música da Secretaria Municipal de Cultura MC Dayse Liguori e Giorgio Arthur Passerino (Flauta e violão)

Quando: dia 12 de março de 2013, às 14h00

Local: Auditório da Biblioteca Hans Christian Andersen

Av. Celso Garcia, 4142, Tatuapé, São Paulo, SP

Inscrições pelo telefone: (11) 2295-3447

Com certificado validado pela Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo