Hoje vou falar de Cláudio Fragata, que conheci no Salão da FNLIJ no Rio de Janeiro. Quem me apresentou ao Cláudio foi o pessoal da Sintaxe, eles são amigos dele. O Cláudio estava no Salão lançando um livro novo chamado Uma história bruxólica, eu fui ao lançamento, ganhei um exemplar da Editora Globo e peguei o autógrafo do Cláudio. Já li, adorei e hoje vou falar desse livro. Trouxe um monte de livros de lá e aos poucos, vou falar de todos, e também dos seus autores. Quando eu resolvi fazer este post sobre o Cláudio Fragata, lembrei que já tinha lido um livro dele, faz tempo, acho que ainda estava no segundo ou terceiro ano. O nome do livro é Balaio de bichos, e hoje vou falar desse livro, também.
E tem mais… Outro dia eu fui à livraria para o lançamento de um livro chamado Que bagunça, da Aline Abreu – já falei da Aline e desse livro aqui – e aproveitei para procurar mais livros do Cláudio Fragata. Encontrei outro bem bacana, que se chama O voo supersônico da galinha Galatéia. Ele escreveu esse livro em homenagem a uma escritora brasileira bem famosa, que também escreveu um livro sobre uma galinha – já falei dessa escritora e desse livro dela aqui no blog. Já li o livro da galinha do Cláudio e também vou falar dele, hoje.
E pra terminar a lista de livros do Cláudio Fragata, no lançamento da Aline encontrei a Daniela Padilha, que é a editora da DCL. Ela me viu com um livro do Cláudio na mão e me falou de outro livro dele que se chama Jura?. Ela me contou um pouco da história e disse que é o livro do Cláudio Fragata, que ela mais gosta.
– Você não leu o Jura?, Heitor?
– Ainda não li, eu respondi.
– Jura?! Ela me provocou brincando com o título do livro.
– Juro, eu respondi.
– Vou mandar um exemplar pra você, ela prometeu.
– Jura?! Eu devolvi a brincadeira.
– Juro, ela respondeu.
E não é que ela cumpriu a promessa e mandou, mesmo. Já li o Jura? e vou falar dele, também. Hoje vou falar de quatro livros de Cláudio Fragata.
Para escrever o livro Uma história bruxólica; publicado pela Editora Globo, com ilustrações de Lúcia Brandão; Cláudio Fragata se inspirou nas histórias da cultura popular da cidade de Florianópolis. É que lá, entre 1748 e 1756, chegaram muitos colonos que vieram do arquipélago dos Açores e trouxeram as suas lendas, tradições e muitas histórias de bruxas. O autor esteve na cidade e ouviu muitas dessas lendas: “Hoje, as bruxas estão à solta e mais vivas do que nunca na cultura popular de Florianópolis”, ele avisa.
A história do livro é contada por um menino, que um dia sente falta do seu rodo. Ele tinha um rodo em casa, precisou dele para enxugar o banheiro, e o rodo sumiu. “Como rodos podem desaparecer sem deixar rastros?” Ele decidiu comprar outro para não ficar desprevenido. “Vai que houvesse mais um alagamento, um dilúvio, um tsunami ou qualquer coisa parecida.” Foi o que ele fez. De manhã, foi até a venda da dona Adelina e comprou um novo rodo. Algumas noites depois ele ouviu um barulhinho na área de serviço, foi olhar e deu de cara com uma bruxa. Ele gritou de susto e a bruxa gritou também. “Só então notei que ela estava tentando montar em meu novo rodo.”
“Ah, então foi você” – ele disse. “A bruxa morreu de vergonha, e sua cara esverdeada foi ficando vermelha como um tomate.” Para disfarçar, ela segurou a ponta do vestido e se apresentou: “Muito prazer, meu nome é Rodonésia”. A bruxa não usava vassouras, pois tinha alergia à palha. Bastava sentar numa, que seu corpo ficava cheio de pereba. Além disso, também era míope e vivia perdendo os seus rodos. Esse é só o comecinho da história, ela continua e lá pelo meio tem uma grande revelação que transforma a vida de Rodonésia. O Cláudio Fragata tem um jeito bem legal de contar histórias. Uma puxa a outra e a gente viaja nas histórias dele, e não para de ler enquanto a história não acaba.
O livro Balaio de Bichos, escrito por Cláudio Fragata, com ilustrações de Biry Sarkis e publicado pela Editora DCL tem dez poemas que falam de bichos. Eles são muito engraçados e tem rimas divertidas. Dizem que são poemas nonsense. Procurei no dicionário e descobri que nonsense significa “frase, linguagem, dito, arrazoado etc. desprovido de significação ou coerência; absurdo, disparate”. As ilustrações do Biry Sarkis são nonsense também! Trecho de um dos poemas do livro, o poema Balaio de gatos:
Benito era um gato bonito. / Gambito, um gato cambaio. / Dormiam tão inocentes, / um no outro enroscados, / quando, sei lá, de repente, / Benito teve um faniquito, / Gambito disparou como um raio. / Deram um salto esquisito, / caíram dentro do balaio.
O Cláudio Fragata gosta de bichos – tem quatro gatos, Olívia, Dinah, Sofia e Fellini -, e parece que os bichos também gostam dele. Ele conta que uma vez foi entrevistar a psiquiatra Nise da Silveira – o Cláudio também é jornalista – e se apresentou como repórter de uma revista. Ela disse que não gostava de jornalistas, que eles distorciam tudo que ela falava e recebeu o Cláudio com distância, quase que com má vontade. Até que o gato da Nise, que se chamava Carlinhos, saltou no colo do Cláudio. Ele conta que a Nise olhou pra ele com surpresa e disse: “Isso é um bom sinal, agora vou dar a entrevista que você quer.” E completou: “O Carlinhos, como todos os gatos, reconhece quando uma pessoa é confiável.” O Cláudio diz que esse foi um dos maiores elogios que já recebeu. “Pelo qual serei eternamente grato ao Carlinhos e a todos os felinos do mundo.”
No final do livro A Vida Íntima de Laura, de Clarice Lispector, – eu já falei da Clarice e desse livro aqui no blog – a autora faz um pedido ao leitor: “Se você conhece alguma história de galinha, quero saber. Ou invente uma bem boazinha e me conte.” Foi o que o Cláudio Fragata fez e escreveu a história de O voo supersônico da galinha Galatéia, que tem ilustrações de Cláudio Martins e foi publicado pela editora Record. A história desse livro começa com uma conversa entre Frederico e seu amigo Deco.
Frederico tinha prometido contar um segredo para Deco. E criou o maior clima para contar, pois a revelação de um segredo sempre exige uma preparação. Fez até cara-de-quem-vai-contar-um-segredo. Empurrou o caixote de madeira para junto do muro do quintal, subiu no caixote, fez sinal pedindo silêncio e chamou o Deco. Ficaram na ponta dos pés e enxergaram o quintal do vizinho.
Frederico cochichou no ouvido de Deco e perguntou o que ele estava vendo. “A Galinha do Vizinho” o Deco respondeu sussurrando. Frederco ficou decepcionado com a resposta do Deco e pediu que ele prestasse mais atenção. Nessa hora a galinha do vizinho se ajeitou no ninho e num relance deu para ver os ovos que ela estava chocando. “Ela bota ovo amarelinho!” – disse Deco com olhos cheios de surpresa. “Ah, Deco… Tenha dó! Todo mundo sabe que a galinha do vizinho bota ovo amarelinho.”
Depois dessa o Frederico resolveu “desembuchar” logo a história para não se irritar mais e explicou ao Deco que aquela não era uma galinha qualquer. Era Galatéia, a galinha astronauta. A galinha mais corajosa que ele conheceu. Ela já tinha ido à Lua.
Galatéia era uma galinha desajeitada e um pouco burra, mas era muito curiosa. Queria conhecer o Galo da Lua. Foi até a Nasa, pegou um ônibus espacial e chegou na Lua. Como ela conseguiu fazer tudo isso? Só lendo esse livro do Cláudio Fragata pra saber. É mais uma viagem do Cláudio!
O livro Jura?, escrito por Cláudio Fragata, ilustrado por Eugenia Nobati e publicado pela Editora DCL, conta a história de Jurandir, o Jura, e de seu amigo, que é o narrador da história. O amigo do Jura dizia a ele, que no quarto dos fundos da sua casa vivia um rinoceronte enorme. O Jura tinha dois anos a mais que seu amigo, mas era tão bobo, que seu amigo se sentia muito mais velho e sabido do que ele. E o amigo não resistia. Toda vez que encontrava com Jura, contava uma mentira. Sabia que o Jura acreditaria.
Ele dizia que não existia contentamento maior para quem mente do que alguém que acredite. “É um incentivo. Uma fonte de inspiração.” O mentiroso não consegue mais parar de inventar e vai emendando uma invencionice na outra. Ele não gostava dos desconfiados que são estraga prazeres. “Olham pelo canto do olho e começam a fazer perguntas como que não quer nada, mas querendo pegar a gente na mentira.” Ele diz que quando topa com um desconfiado, é obrigado a pensar rápido, “sem tempo de inventar com a dedicação que a arte de mentir exige.”
E o amigo continuava assustando o Jura com a história do rinoceronte, que vivia no quarto dos fundos da sua casa. O Jura vai descobrindo falhas nessa história mentirosa e o amigo vai consertando sua história e convencendo o Jura. Até que um dia o Jura descobre que não existem rinocerontes no Brasil. O amigo passa a noite em claro pensando numa resposta convincente para dar ao Jura e inventa uma mentira tão grande, que só lendo o livro para acreditar.
Cláudio Fragata nasceu em Marília, no interior de São Paulo, e cresceu numa fazenda, rodeado de bichos por todos os lados. Há muitos anos mora na cidade de São Paulo. É escritor, jornalista e foi editor da revista Recreio. Sempre gostou de inventar histórias e, quando não tinha ouvintes contava histórias para ele mesmo. Além desses, já publicou vários livros, como Seis tombos e um pulinho: as aventuras de Santos-Dumont até inventar 0 14-Bis (Record, 2006), Zé Perri: a passagem do Pequeno Príncipe pelo Brasil (Record, 2009) O mal do Lobo Mal (Positivo, 2010), A Princesinha Boca-Suja (Scipione), Os Letronix e os Animais em Extinção (Nobel), entre outros.