Hoje vou falar de duas amigas e um conhecido. O conhecido eu encontrei, pela primeira vez, em uma visita que fiz ao Museu da Língua Portuguesa, aqui em São Paulo. É o poeta português, Fernando Pessoa. Conhecer Fernando Pessoa deu um sentido à minha vida. Quando eu soube que ele criou os heterônimos, que são personagens que escreveram, tinham estilo próprio e até biografia, descobri, definitivamente, a minha verdadeira identidade: Eu também sou um personagem e tenho a minha biografia, pequena, mas tenho. Tenho o meu jeito de escrever e contar as minhas histórias aqui no blog. Então, eu também sou um heterônimo! Fiquei muito feliz quando descobri isso e contei no post “O Machado, o Museu e o Pessoa” (http://blogdoleheitor.sintaxe.com.br/?p=361).
As amigas são a Maria Viana e a Rosinha. A Maria sempre deixa comentário no blog e me ajudou a fazer um post especial sobre o Murilo Rubião. A Rosinha é de Recife, eu já fui a um lançamento dela aqui em São Paulo, e ela também acompanha o meu blog. Encontrei as duas no Jabuti e contei aqui. Nesse dia a Rosinha até ganhou um prêmio com ilustração. Hoje eu vou falar da Maria, da Rosinha, do Fernando Pessoa e de três livros que eu li. Dois do Fernando Pessoa – um de quadras e outro de poesias – organizados pela Maria Viana e ilustrados pela Rosinha, e outro de contos mineiros, escritos pela Maria Viana e ilustrados pela Denise Nascimento.
Mas antes eu vou contar uma coisa bem legal que aconteceu comigo na semana passada. Uma colunista de um jornal de São Bernardo do Campo falou do meu blog na sua coluna.
O blog do Le-Heitor na mídia
O pessoal da Sintaxe postou um texto sobre o blog no Facebook, em um grupo chamado Rainhas do Livro. Esse grupo é formado por mães que trocam informações sobre livros para orientar a leitura dos seus filhos. Eles colocaram lá o link para o post do Tolstói. Algumas mães curtiram, outras deixaram comentário e rendeu muitas visitas ao blog. Eu fiquei feliz! E teve mais, a Penélope Martins, que também faz parte desse grupo e tem uma coluna no jornal ABCD Maior sobre literatura infantojuvenil, viu o meu blog e resolveu falar dele na sua coluna. A matéria ficou bem legal! Eu adorei! Gostei do jeito que ela escreve e das coisas que ela falou de mim. Ela disse que eu sou um garoto “sui generis” e tenho uma disposição inesgotável para o conhecimento. Que sou um “rato de biblioteca”, que não fico satisfeito com informação terceirizada e vou atrás do que quero, fuço, investigo e descubro. Ela disse, também, que eu leio “até o último ponto, depois dos créditos finais”. Este é o link para a matéria da Penélope: http://www.abcdmaior.com.br/noticia_exibir.php?noticia=38366. Acho que eu vou pedir para o pessoal da Sintaxe colocar no grupo do Facebook, o link deste post, também. Soube que as Rainhas do Livro gostam de contos populares e hoje eu vou falar de três contos mineiros bem legais.
Mais do blog na mídia
Eu já estava escrevendo o texto deste post, quando o pessoal da Sintaxe me mandou um e-mail com links para outras matérias que falam do meu blog. É o resultado daquela entrevista, que a assessoria de imprensa do movimento em defesa do quarteirão do meu bairro fez comigo, e eu contei no post anterior. Eles mandaram o release para a imprensa e já conseguiram “emplacar” três matérias: Uma no site do Cesar Giobbi (http://www.cesargiobbi.com/?page=materias&id=16022); a outra na Gazeta de Santo Amaro (http://www.gazetadesantoamaro.com.br/atualidades/personagem-infantil-estimula-a-leitura-e-a-participacao-em-defesa-da-cidade), e a outra no site Podcultura (http://www.podcultura.com.br/personagem-infantil-estimula-a-leitura-e-a-participacao-em-defesa-da-cidade.98.3943). As matérias estão bem legais, vocês precisam ver! Elas falam do meu blog e divulgam o nosso movimento. Por falar do nosso movimento, no começo de março vai ter outra reunião. E eu vou! Vou buscar novidades sobre a nossa luta. Ela continua! Não podemos deixar a prefeitura derrubar a biblioteca, o teatro, duas escolas, uma creche, dois serviços de saúde, a Apae, que ficam num quarteirão do meu bairro, para construir um prédio de apartamentos.
Histórias mineiras
O livro A lenda dos diamantes e outras histórias mineiras foi publicado pela Editora Scipione e traz três contos da tradição oral, da época da mineração, na região de Diamantina, em Minas Gerais. As histórias foram recontadas e escritas por Maria Viana, e as ilustrações do livro foram feitas pela Denise Nascimento. Tem uma ilustração da Denise, que foi baseada em uma peça de cerâmica, que está em um museu e foi feita pelos índios de uma das histórias do livro. Ganhei este livro da autora, a Maria Viana, com uma dedicatória.
A primeira história se chama “A Lenda dos diamantes” e conta como apareceram as pedras preciosas. Dois índios de duas tribos diferentes se casam. A Cajubi pertencia ao grupo puri-coropó, e o Iepipo era da tribo puri-coroado. Antes essas duas tribos eram do mesmo grupo, mas brigas por terras separaram as duas famílias. Depois da festa, os índios enfrentam os bandeirantes paulistas, que já estavam na região, atrás das pedras preciosas. Para os índios tudo era precioso. Os índios perdem a luta e o grande pajé Piracaçu se vinga, fazendo surgir os diamantes, e junto uma grande maldição.
O segundo conto se chama “O tesouro de Isidoro” e foi o que eu mais gostei. Quem conta essa história é o Pedro. Ele diz que é um segredo, que guardou durante muito tempo, e que na época era um “rapazote metido a valente.” Ele e o seu amigo Chico eram tropeiros, e um dia, depois do trabalho, resolveram tomar “umas e outras”. Na saída da venda viram um grupo de homens conversando. Pararam, e um deles contava a história de Isidoro. É muito legal o jeito como a Maria conta a história do homem, que contava a história do Isidoro, contada pelo Pedro. Isidoro tinha um segredo sobre uma gruta e um tesouro e morreu sem revelar. Pedro e Chico resolvem ir atrás desse segredo e vivem uma história de medo com um final bem legal.
O terceiro se chama “O príncipe encantado” e conta a história de um príncipe-porco. A rainha desejava muito ter um filho. Um dia, ela vê um porco no colo do cozinheiro e diz: “- Oh, meu Deus, concedei-me a graça de ter um filho, ainda que seja um leitãozinho!” A rainha ficou grávida e nasceu um porquinho. O rei não conseguia entender o motivo daquela desgraça, mas com o tempo a rainha se acostumou com a ideia de ter um filho porco. Só foi mais difícil educar, ensinar regras de etiquetas e boas maneiras. Ele cresceu e quis se casar. A mãe disse que moça alguma ia querer se casar com ele, mas, mesmo assim, conseguiu pretendentes. Primeiro foi a Isabel, que não aguentou, depois, a Florisberta, que também não deu certo. Só a Rosalinda que se apaixonou pelo porco e lutou até o final para desfazer esse encanto.
Gostei muito das histórias que a Maria contou neste livro. Acho que os mineiros são muito bons pra contar histórias, e a Maria é mineira. Meu pai me disse que quando ele era criança, os seus amigos se reuniam na rua, à noite, para contar histórias. O trato era o seguinte: todos tinham que contar histórias de medo pra ver quem aguentava ficar até o final. A brincadeira começava, e logo um deles já dizia. “Preciso ir embora, minha mãe está me chamando!” Um por um, iam saindo todos. Só ficava o Tim, um amigo de infância do meu pai, mineiro e que tinha muitas histórias pra contar – uma “pior” que a outra!
Fernando Pessoa
Os livros com poesias do Fernando Pessoa que eu li são dois: Eros e Psique e outros poemas e Quadras ao gosto popular. Um eu ganhei da Maria e o outro da Rosinha, com dedicatória e tudo. A Maria Viana fez a organização das poesias e a Rosinha ilustrou essa coleção, que foi publicada pela editora Larousse Júnior. A coleção tem outros títulos, mas eu só li esses dois. Fazia tempo que eu não lia poesia. Quando eu era criança, hoje sou um adolescente – outro dia li que a adolescência começa aos doze anos – eu lia muitas histórias contadas em verso. Tem muitos de escritores que escrevem para crianças e contam histórias em verso. Depois que eu cresci, eu li menos essas histórias e não tenho encontrado outras. Vou procurar mais e também vou arriscar a ler os poetas que escrevem pra gente grande. Quem sabe, eu entenda! Já comecei por Fernando Pessoa. Disseram que é um bom começo!
Gostei muito das poesias do Fernando Pessoa que a Maria escolheu para colocar nesses livros. E as ilustrações da Rosinha me ajudaram a entender, melhor, as poesias. Olho pra elas, leio as poesias e tento adivinhar que parte da poesia a Rosinha colocou nos desenhos. É bem divertido! É difícil entender poesia, ainda mais essas, que tem muitas palavras difíceis. Eu li muitas vezes, a mesma poesia. Acho que poesia é pra ler assim, mesmo. Muitas vezes! E ler em voz alta, é melhor ainda. Vou colocar aqui, duas que eu escolhi. Uma de cada livro.
Redemoinha o vento,
Anda à roda o ar.
Vai meu pensamento
Comigo a sonhar.
Vai saber na altura
Como no arvoredo
Se sente a frescura
Passar alta a medo.
Vai saber de eu ser
Aquilo que eu quis
Quando ouvi dizer
O que o vento diz.
(Do livro Eros e Psique e outros poemas)
Duas horas te esperei
Dois anos te esperaria.
Dize: devo esperar mais?
Ou não vens porque inda é dia?
Duas horas vão passadas
Sem que te veja passar.
Que coisas mal combinadas
Que são amor e esperar!
Dias são dias, e noites
São noites e não dormi…
Os dias a não te ver
As noites pensando em ti.
(Do livro Quadras ao gosto popular)
Fernando Pessoa nasceu no dia 13 de junho de 1888, em Lisboa, Portugal. Ficou órfão de pai quando tinha apenas cinco anos e sua mãe casou-se novamente dois anos depois. Seu padrasto era cônsul em Durban, África do Sul, para onde a família mudou-se em 1895. Nessa cidade, Fernando Pessoa teve profundo contato com a língua e literatura inglesas. Em 1905, o poeta retorna definitivamente à Lisboa e matricula-se no Curso Superior de Letras e nessa época entra em contato com a produção literária em língua portuguesa e escreve muitos poemas, além de colaborar com artigos e ensaios para várias revistas e traduzir obras de poetas ingleses. A partir de 1908, começa a se dedicar à tradução de correspondência comercial, que foi sua profissão até a sua morte em 1935, com apenas 47 anos. Sua obra, praticamente inédita em vida, começou a ser publicada a partir de 1943, e Fernando Pessoa se transformou em um dos maiores poetas da língua portuguesa de todos os tempos.
Maria Viana nasceu em Carangola, Minas Gerais, em 1965, mas desde 1987 mora em São Paulo. Estudou Artes Cênicas na UFMG e Letras na Universidade de São Paulo, onde atualmente faz o mestrado no IEB (Instituto de Estudos Brasileiros). Foi atriz, contadora de histórias e educadora, além de trabalhar em várias editoras com edição de livros didáticos e literatura para crianças e jovens. Já organizou várias antologias de contos e criou algumas das histórias que contou como atriz, mas A lenda dos diamantes e outras histórias mineiras é a sua primeira publicação em livro.
Rosinha nasceu em Recife, em 1963, e atualmente mora em Olinda. É formada em Arquitetura pela UFPE, profissão que exerceu até o dia que se apaixonou pela literatura para crianças e jovens e escolheu trabalhar com ilustração e formação de leitor. Há dois anos um novo desafio que tem dado muito prazer é o de escrever para esse público. Já recebeu vários prêmios, inclusive um Jabuti, em 2011, pela ilustração da coleção Palavra rimada com imagens, que ela também fez o texto.
Denise Nascimento nasceu em Belo Vale, interior de Minas Gerais, em 1969. Designer, graduada pela Universidade Estadual de Minas Gerais, trabalha também como ilustradora desde 1998. Seu trabalho faz parte dos catálogos da FNLIJ, organizados para as Feiras do Livro de Bolonha de 2007 e 2009, assim como do catálogo Patrimônio e Leitura, elaborado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN, em 2007.