Li um imortal

Ganhei um livro no sábado e li – como um dia eu ouvi meu tio dizer e achei muito engraçado – numa sentada. O nome do livro é Vida e paixão de Pandonar, o cruel e o autor é o imortal, como são chamados os escritores que fazem parte da Academia Brasileira de Letras, João Ubaldo Ribeiro. As ilustrações são de Mariana Newlands. A história foi escrita em 1984 e recebeu naquele ano o prêmio de Melhor Livro da Associação Paulista de Críticos de Arte. A Editora Objetiva relançou este livro neste ano.

Pandonar é um personagem criado pelo Geraldo, que é o menino que conta esta história. Geraldo tem 15 anos e a história começa durante a aula do professor Cícero: “Ciro, rei dos persas, sabedor do temor e da veneração dos egípcios pelos cães e gatos, marchou contra o faraó à frente de um exército de cães e gatos!” e ele termina dizendo que “os egípcios morderam o pó da derrota!” Fernandinho interrompe o professor e pergunta: “antigamente as pessoas que perdiam a guerra eram obrigadas a morder o pó? era obrigatório? Como é que se morde o pó?”

O professor responde que empregou uma metáfora e pergunta pra sala se alguém sabia o que era uma metáfora. O próprio Fernandinho responde metralhando: Figura-de-retórica-na-qual-uma-palavra-ou-expressão-é-substituída-por-outra-em-virtude-de-relação-de-semelhança-subentendida. E o professor ainda pergunta: E o que é figura de retórica? Isso eu não decorei, só decorei a metáfora, responde o Fernandinho. Dê um exemplo de metáfora gritou Cícero para o Fernandinho. – Os egípcios morderam o pó da derrota. O professor cruzou os braços e passou a encarar o Fernandinho por um tempo muito longo.

Enquanto isso Geraldo, que estava do outro lado, jogou um olhar magnético em direção a barriga de Cícero e começou a repetir as palavras que tinha lido no livro O poder do magnetismo pessoal: sob meu poder, sob um poder, você está sob meu poder!  Geraldo acreditava que se dirigisse toda a força em direção a barriga de Cícero, ele ficaria com dor de barriga e poderia até dar um vexame. Mas isso não aconteceu e o professor agora olhou para o Geraldo e pediu: o senhor me faça o favor de dar um exemplo de metáfora. E ele deu: Os persas espanaram o pó da vitória.

Pela cara do professor ele percebeu que não devia ter dito aquilo. – Fora! – gritou Cícero. – Ao diretor! Debochado! Indisciplinado! Pela primeira vez ele saiu da sala expulso para enfrentar o diretor. Enquanto saía, procurando evitar o olhar do professor e fingindo que encarava tudo aquilo com a maior tranquilidade, ele se virou para o lado das meninas e Maria Helena estava olhando para ele. Nesse olhar havia alguma coisa diferente e parecia que tudo começava naquela hora.

Esse é só um resuminho do começo da história. A partir desse dia Geraldo só pensou em Maria Helena, até deixou de lado o Voldegrado, uma nova língua que ele estava inventando e parou de escrever as aventuras do Pandonar, mas ainda recorria ao personagem para sair de alguns apuros. Como por exemplo, quando todos na escola descobriram que ele deixava bilhetes românticos para Maria Helena e esperava a sua resposta debaixo do apagador.

Ele se sentiu traído e colocou Pandonar em seu lugar, moribundo, sendo assistido por Al-Glabur. Maria Helena, arrependida de ter prejudicado tanto Pandonar vai até o seu leito de morte para dizer que o amava mais do que a própria vida. Depois de uma longa conversa entre os dois, Pandonar diz: – Não acredito. E, com um último suspiro, vira a cabeça para o lado e morre. (Dramático e muito cruel o Pandonar, não acham?)

Antes desse momento trágico da história criada pelo personagem, Geraldo já tinha muitas dúvidas e queria se aproximar de Maria Helena. Ele procurou a ajuda do seu melhor amigo, o Roquetão. – Você conhece a Maria Helena? – Que Maria Helena? A Maria Helena lá da sala? E depois de muitas perguntas e respostas sobre a menina, o Geraldo disparou: Acho que ela quer namorar comigo. – Ela quer namorar com você? Ela disse? – Ela não disse assim. Mulher não diz essas coisas assim.

Eles eram muito amigos, mas brigavam demais. Assim como Geraldo, Roquetão era um menino que gostava de inventar coisas e por isso era conhecido como cientista maluco. – Eu não sou maluco! Maluco é você que só fica pensando em códigos, em escrever com limão para tinta ficar invisível, em fazer línguas novas e em falar em Pandonar… Quem é Pandonar? Pandonar não existe? Então o maluco sou eu?

E o livro segue assim, com o Geraldo criando as suas histórias, tentando se aproximar de Maria Helena, tendo a ajuda do seu amigo Roquetão e o apoio de Pandonar, o cruel. Mas para saber o fim da história desses meninos malucos só lendo o livro, mesmo.  

João Ubaldo Ribeiro nasceu na cidade de Itaparica, na Bahia. Antes de virar escritor ele era jornalista, começou a trabalhar em 1957 e ainda estudou na faculdade de Direito da Universidade Federal da Bahia. Em 1964 ele recebeu uma bolsa e foi estudar ciências políticas nos Estados Unidos. Ele já ganhou um Camões, que é um dos prêmios mais importantes para os escritores de língua portuguesa. João Ubaldo disse que escreveu Vida e paixão de Pandonar, o cruel para garotos de todas as idades e se inspirou em acontecimentos da sua infância. Ele já publicou contos, crônicas, e romances que fizeram muito sucesso como, Viva o povo brasileiro e Sargento Getúlio. João Ubaldo Ribeiro também é colunista de dois grandes jornais: O Estado de S. Paulo e O Globo.

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  1. Oi Le-Heitor!
    O Maluco sou eu…rs !
    Não li esse livro…fiquei curioso. Pelo o que você escreveu, já deixou um gostinho do que vem pela frente! Parece que João Ubaldo tem o dom de aproximar a gente do personagem mesmo.
    Abs, Rey

  2. Oie soo amiga da sobrinhaa da Ester , a Nathalia me mostroo e gosteii muitoo , Continue “Criativoo assim quee vocee vai longee …. BjoOO amigaa da Nathalia

  3. Oi, Nathalia. O nome é bem legal, mesmo, não é? Tomara que você também tenha gostado dos posts e volte outras vezes para ler e comentar.

  4. Oi, Caroline (amiga da Nathalia). Que bom que você achou criativo! Quero ver você e a Nathalia outras vezes por aqui.

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