“Corta-Luz”, o livro feito ao vivo

Como prometi no post anterior, hoje vou falar de um livro feito ao vivo. O livro se chama Corta-Luz e os seus autores Sílvia Zatz, Michel Gorski e Eloar Guazzelli se encontraram durante dois meses, duas vezes por semana, para criar juntos esse livro. Os encontros foram promovidos pela Biblioteca Parque Villa-Lobos, e neste domingo, 26 de junho, nessa mesma biblioteca (endereço e horário abaixo), eles compartilharão com o público como foi o processo de criação do livro, e todos são convidados. Eu acompanhei vários encontros e vou adiantar, agora, com exclusividade, alguns segredos do Corta-Luz.

Ideia do livro surgiu de história real

Sílvia Zatz, uma das autoras do livro, comprou um HD novo, de fábrica, e quando foi instalar no seu computador percebeu que ele já tinha um arquivo em sua memória, reclamou, trocou diversos e-mails com o Serviço de Atendimento ao Consumidor (SAC), e no final, apagou o arquivo, sem ao menos investigar o que tinha dentro dele.

Quando a Sílvia foi contar esse caso para o Michel Gorski (seu parceiro na literatura) ficou arrependida e curiosa: “O que seria aquele arquivo que apaguei?” E dessa conversa, eles tiveram uma ideia: “Isso pode dar uma boa história!” E foi o que fizeram.

Inventaram um conteúdo para o arquivo apagado, criaram alguns personagens, escreveram um roteiro e convidaram o ilustrador Eloar Guazzelli para se juntar ao time. Duas vezes por semana, durante dois meses, os três se encontraram na Biblioteca Parque Villa-Lobos, e juntos criaram, ao vivo, um livro que vai se chamar Corta-Luz.

Encontro com os autores

Neste domingo, dia 26 de junho, às 14h30, na Biblioteca Parque Villa-Lobos (avenida professor Fonseca Rodrigues, 2001 – Alto de Pinheiros, São Paulo – SP), os três autores vão conversar com o público e apresentar o resultado desse trabalho.

A história inventada

Na história inventada para o livro Corta-Luz, quem compra o HD “virgem” ocupado por um arquivo é a Thais, mãe do Zeca. O arquivo intruso é de outro personagem do livro, o Claudinei, era a vida do Claudinei que estava nesse arquivo. A Thaís pede para o Zeca apagar o arquivo, mas, ao invés de apagar, ele começa a investigar o Claudinei e descobre muitos segredos desse personagem misterioso.

Mas o Zeca não investiga sozinho, investiga com a sua turma, formada por Nina, Afonso e Danilo. Juntos descobrem que o Claudinei trabalha na Câmara como taquígrafo e nas horas vagas é guia turístico, ofício que aprendeu com o Hiroshi. Ele promove passeios pela cidade de São Paulo e as informações dos roteiros desses passeios são registradas em código, acham os registros muito suspeitos e resolvem continuar a investigação.

O Claudinei começa a ficar desconfiado e por um acaso descobre que suas dicas de passeio foram parar na internet, que alguém estava pegando as suas coisas. Então chama duas adolescentes, feras em informática, para investigar o caso, são as filhas do Hiroshi. Assim formam a outra turma, a turma do Claudinei, com Nara, Mano e Zumi. A turma que investiga também será investigada!

Eu não li a parte do livro que eles já escreveram, só participei da conversa, eles também me contaram alguns trechos da história. Sei que tem uma sociedade secreta que investiga encontros e desencontros e acho que é por aí que vai seguir o livro. Sei também que a narrativa é no formato de um jogo, por isso o livro se chama Corta-Luz, que é uma jogada do futebol.

Outra coisa que descobri ouvindo a conversa dos três autores é que o livro vai começar com as primeiras páginas só com imagens, mas já contando a história. Será uma apresentação para entrar na narrativa, eles me disseram. O livro é um jogo, por isso os 26 capítulos serão apresentados com a palavra Jogo escrita em diversos códigos, em japonês, chinês, grego, morse, criptografia, esperanto, braile, taquigrafia, etc..

Me sinto como um personagem

Também descobri que os personagens vão circular por diversos lugares da cidade de São Paulo e que em alguns momentos, pelo livro ser quase um jogo, serão representados como personagens de games. Fiquei curioso em saber como vão ficar esses personagens!

Agora, terminando de escrever este post, me sinto como um personagem dessa história, pois também fiz a minha investigação e contei tudo pra vocês. Espero que eles não fiquem chateados comigo, afinal, não cometi nenhum spoiler, o livro será muito mais do que tudo que contei. Não vejo a hora de poder ler!

Um livro ao vivo

Nesses dias eu estava navegando aqui, no meu próprio blog, lendo posts antigos e me deu um sentimento gostoso, de saudade, de satisfação das tantas coisas boas que já fiz. Ganhei este blog de presente só pra falar dos livros que eu lia, e as coisas foram acontecendo, conheci vários escritores, ilustradores, editores de livros e fiz muitos amigos de verdade.

Fui a lançamentos e feiras de livros, organizei clubes de leitura, participei de lutas políticas, enfim, vivi grandes aventuras, e a mais legal de todas foi que acabei virando narrador do meu próprio livro. Quer saber? Este blog mudou a minha vida! Posso dizer, com certeza, sem risco de errar ou exagerar: antes de começar a escrever nele, eu não era ninguém!

Foram tantas alegrias, que nem deu tempo de contar todas. E hoje eu vou falar de mais uma alegria, outra aventura que estou vivendo e está me deixando muito feliz.

O primeiro a saber

Adoro saber de um livro antes de ele ser publicado, isso já aconteceu comigo, algumas vezes, lembro de duas. Uma vez foi numa palestra com o escritor Ignácio de Loyola Brandão, ele disse que estava escrevendo um livro sobre umas bolinhas de gude, pra fazer uma confissão ao seu avô. Um tempo depois eu o encontrei numa Bienal, perguntei a ele desse livro, e ele me contou que já tinha acabado de escrever e que logo seria publicado. O livro já saiu e se chama “Os olhos cegos dos cavalos loucos”, mas ainda não li.

A outra vez foi com um livro do escritor Liev Tolstói, que se chama “Contos da Nova Cartilha: Segundo Livro de Leitura”, e foi mais legal ainda. Eu estava escrevendo um post sobre o Tolstói, pois tinha acabado de ler um livro dele chamado “De quanta terra precisa o homem”, era o primeiro livro que lia desse famoso autor russo. Quando a editora Ateliê soube que eu ia falar do Tolstói no blog, me contaram desse outro livro, que ele tinha sido ilustrado por crianças russas, alunas de uma escola infantil da cidade de Ijevsk. Fiquei curioso pra ler e falar dele nesse mesmo post, mas como ainda ia demorar pra ficar pronto, me mandaram o pdf do livro. Li o livro no pdf, antes de ser publicado!

Livro ao Vivo

Essa minha aventura de agora é parecida com esses dois casos, só que é bem melhor, não estou só descobrindo um livro que ainda não está pronto, mais do que isso, desta vez estou acompanhando a criação dele. Foi a Rose Riemma, uma amiga editora, que me apresentou aos três autores desse livro. Conversei com eles, mostrei meu blog, disse que gostaria de acompanhar o trabalho deles para depois contar aqui, e eles toparam. Os três autores se encontram uma vez por semana na Biblioteca Parque Villa-Lobos para fazer o livro.Vou acompanhar a criação de um livro, ao vivo! Sim, é assim mesmo que estão chamando esse trabalho: “Livro ao Vivo”. Os autores são Sílvia Zatz, Michel Gorski e Eloar Gazzelli, meus novos amigos.

Sílvia Zatz e Michel Gorski são escritores parceiros com diversos livros publicados em coautoria. Sílvia nasceu em 1969 em São Paulo, estudou cinema e trabalhou com produção de filmes e criação de jogos de tabuleiro. Antes de encontrar Michel, ela já tinha publicado mais de uma dezena de livros infantojuvenis. O Michel nasceu em São Paulo, em 1952, é arquiteto e projeta espaços de entretenimento para crianças, ele também escreve sobre urbanismo e turismo. Juntos já publicaram livros para o público juvenil, infantil e adulto.

Eloar Guazzelli nasceu em 1962 na cidade de Vacaria, no Rio Grande do Sul. É formado em Artes Plásticas pela UFRGS com mestrado na ECA-USP. Mora em São Paulo onde atua com ilustrador, diretor de arte para cinema de animação e quadrinista. Participou de exposições e foi premiado em festivais de cinema e humor na Alemanha, Argentina, Bélgica, Cuba, Espanha, França, Japão, Porto Rico, Portugal, Turquia e Uruguai.

O livro ao vivo vai se chamar “Corta-Luz”, sim, o título tem a ver com a jogada de futebol, eu já sei muitas coisas da história, e na semana que vem, na próxima visita que fizer a eles, vou descobrir ainda mais. Mas ainda não vou contar nada, contarei tudo no próximo post, que será especial, sobre essa minha mais nova aventura.

Conhecendo os autores

E para conhecer melhor os autores li dois livros deles. Um foi o “Por um Triz”, romance juvenil do Michel Gorski e da Sílvia Zatz, primeiro livro que escreveram juntos, e o outro foi o quadrinho “Apólogo brasileiro sem véu de alegoria”, de Eloar Guazzelli, adaptado de um conto de Alcântara Machado. E hoje vou falar desses livros.

Por um Triz – O enigma dos gnomos pigmeus, escrito por Michel Gorski e Sílvia Zatz e publicado pela Editora Rocco conta, por meio de dois diários escritos em épocas diferentes, que se entrelaçam, histórias misteriosas vividas em um hospital, a Santa Casa de São Paulo. Ana Rendel caiu de um muro quando tinha 11 anos, bateu a cabeça e quebrou o osso da bacia, ficou alguns meses internada no hospital, com problemas de visão e imobilizada. A história de Ana se passa em 1931 e foi contada pelo diário que passou a escrever, por sugestão de sua tia, para ocupar o tempo.

A outra história que se entrelaça com essa é a do Tadeu, um estudante de medicina que ao pesquisar os arquivos do Museu da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo encontra o diário de Ana e passa a escrever o seu próprio diário, em uma espécie de diálogo com a menina que esteve por lá em 1931, a história de Tadeu se passa em 2002. Uma terceira história aparece na narrativa, a de Paulo Nakashima, policial que irá investigar o desaparecimento de um personagem. A história ainda tem a participação de gnomos pigmeus, companheiros de Ana durante sua estada no hospital, e um final bem emocionante, mas que só lendo para descobrir.

Já o Apólogo brasileiro sem véu de alegoria é um conto do escritor paulista Alcântara Machado, adaptado para os quadrinhos por Eloar Guazzelli. Essa HQ faz parte de um livro publicado pela Editora DCL, que se chama Domínio Público – Literatura em Quadrinhos. Nesse livro, além de Alcântara Machado, foram adaptados textos de Olavo Bilac (Sete vidas), por Mário Hélio e João Lin; Lima Barreto (O homem que sabia javanês), por Júlio Cavani e Jarbas; Augusto dos Anjos (A ilha de Cipango), por Samuel Casal; Machado de Assis (A cartomante), por André Dib e Kleber Sales; e Medeiros e Albuquerque (O soldado Jacob), por Lydia Barros e Mascaro.

Li na apresentação escrita por Guazzelli, para esse quadrinho, que o conto Apólogo brasileiro sem véu de alegoria é um dos mais conhecidos de Alcântara Machado. O autor nasceu em São Paulo e morreu jovem, aos 34 anos, o tema de sua obra é bem paulista e os seus principais livros são Brás, Bexiga e Barra Funda e Laranja da China. Esse apólogo conta a história de uma rebelião dentro de um trem, motivada pela falta de luz nos vagões e quem encabeça a rebelião é um cego: “Não pode ser! Não se pode viver sem luz! A luz é necessária! Luz! Luz! Luz!”. Os quadrinhos do Guazzelli mostram muito bem o clima de escuridão e rebelião dessa história.

No próximo post vou contar tudo do Corta-Luz, o Livro ao Vivo!