Sandra Pina e Kerouac

Já faz mais de três semanas que não publico nada aqui… Não gosto de ficar muito tempo sem escrever no blog. É muito feio um blog desatualizado, fica parecendo casa abandonada, que cresce mato no jardim. É que teve prova na escola, depois saí de férias e os meus pais me levaram pra passear. Também ando ocupado com um projeto que estou fazendo para o blog, e o tempo que tenho para escrever nele, usei pra isso. É um projeto bem legal, vocês precisam ver! Já está terminando, é a realização de um sonho, e estou louco pra contar aqui, mas não posso, ainda. O pessoal da Sintaxe falou para esperar: “Primeiro precisamos acabar e ver se vai dar certo, mesmo… Depois contamos.” Vou obedecer, mas assim que puder, venho aqui e conto tudo! Então, hoje estou de volta – acho que não deu tempo de criar mato no meu blog – e vou falar de três livros que li. Dois são da escritora Sandra Pina; e o outro é um livro de quadrinhos do João Pinheiro, que conta a história da vida do escritor americano Jack Kerouac.

Mais uma amiga escritora

O meu amigo Lipe diz que fico me achando com “esses seus amigos escritores”. Já falei dele aqui no blog, o Lipe é o meu melhor amigo, me ajuda a ler os livros do clube de leitura e faz as rodas de conversa comigo. A gente se conhece desde criança e estamos sempre juntos, a mãe dele diz que somos “unha e carne”. – O que posso fazer? – Eu disse para o Lipe. O “culpado” disso é o meu blog, primeiro eu conheci o pessoal da Sintaxe, depois fiz outros amigos, que foram me apresentando para esse monte de escritores. Adoro conhecer os escritores, pessoalmente, ler um livro deles e contar aqui no blog. Mas não acho que fico me achando por isso. Não sei por que ele pensa assim… Um dia vou levar o Lipe nesses meus passeios literários – já convidei muitas vezes, mas ele nunca pode – e quero ver se ele muda de opinião.

Contei tudo isso só pra dizer, que hoje vou falar de dois livros da minha amiga escritora, Sandra Pina. Conheci a Sandra já faz tempo, foi na Bienal do Livro, ela estava com a Anna Claudia Ramos, que também conheci naquele dia e já falei dela aqui. Depois encontrei as duas, outras vezes. Elas são muito amigas e acho que são como eu e o Lipe, unha e carne. A Sandra é jornalista, especialista em literatura infantil e juvenil e diz que levou um tempo até assumir plenamente seu lado escritora, mas, hoje, ela fala que, escrever é sua grande paixão.

A última vez que encontrei com a Sandra – já estou com saudades – foi no Rio de Janeiro, no Salão da FNLIJ, e trouxe de lá o livro Isso é pra ficar entre nós,  autografado por ela. Já li e adorei! Esse livro foi escrito do fim para o começo, e hoje vou falar dele aqui. O outro livro dela que eu vou falar hoje é O Segredo do tempo, que também já li e conta uma história bem legal, que mistura passado e presente.

Isso é pra ficar entre nós, escrito por Sandra Pina, ilustrado por Marilena Saito e publicado pela editora Mundo Mirim conta a história de cinco amigas (Maghi, Helô, Rafa, Drica e Kaká), que se conhecem há muito tempo e resolvem fazer um blog pra poder conversar sobre o que quiserem, “sem censura e sem bisbilhoteiros”, pois para entrar, precisava da senha, que só elas sabiam. Para escrever esta história a Sandra conseguiu autorização das cinco personagens, mas com uma condição, o livro “tinha que ser publicado exatamente do jeitinho que estava na internet, com os posts mais recentes antes dos mais antigos.” Por isso essa história é contada no livro do fim para o começo, como aparece no blog. É muito engraçado! A gente vê as coisas acontecerem e só depois vai descobrir como foi que elas aconteceram.

A história começa com o post “A Helô deu notícias?” postado pela Drica no dia 15, segunda-feira. Nesse post ela diz que está preocupada, pois já faz cinco dias que a Helô não dá notícias. “Não aparece on-line, não posta por aqui…” O celular na caixa postal e o telefone da casa na secretária eletrônica. Depois do post da Drica vêm os comentários das amigas: “Será que ela foi viajar?” (Rafa), “Também, depois de tudo que aconteceu…” (Kaká), “Ah, até parece que vocês não conhecem a Helô…” (Maghi), “Lembrou bem, Maghi. A Helô de vez em quando tem essas crises…” E o livro vai seguindo, contando uma história ao contrário, e mostrando como tudo aconteceu para as coisas chegarem nesse final. Só no final do livro – não da história, pois a história acaba no começo do livro – é que a gente fica sabendo o que aconteceu com a Helô, entre outras coisas que a Sandra conta num P.S. “quase tão grande quanto a história”, mas que só dá pra saber lendo o livro, do começo ao fim, e essa história, do fim ao começo.

O segredo do tempo, escrito por Sandra Pina, ilustrado por Gustavo Piqueira e Samia Jacintho, e publicado pela Editora Biruta conta uma história que junta passado e presente. Quem conta essa história é a Teca, a Thereza Christina, que tem um irmão, quase dois anos mais novo, chamado Raphael, o Fael. A história começa com o início das férias, Teca e Fael viajam para o sítio com seus primos, Beatriz (Bia) e Carlos Alberto (Cacau), filhos da tia Carol e do tio Júlio. Teca ama a natureza, mora em apartamento num bairro movimentado e se quer andar de bicicleta ou patins, só no videogame. No sítio é tudo diferente, tem piscina, cachorro, galinha, coelho, horta, fruta no pé. Lá no sítio eles não param, comem, se divertem, nadam, se divertem, comem… O tempo todo. Quando chove tem varanda para jogar pingue-pongue e totó (pebolim) e balançar na rede. “Tudo isso cercado por uma mata ma-ra-vi-lho-sa!” Ela diz que dá até para esquecer o computador por uns dias.

Chegam ao sítio e depois de alguns dias de muitas brincadeiras, a Teca e a Bia encontram uma caverna, escondida atrás das bananeiras. Planejavam despistar os irmãos e irem sozinhas, descobrir a caverna, que era muito escura. Conseguem uma lanterna e fazem um plano, tudo isso contado pela Teca com muito suspense. “Mas nem sempre tudo sai como planejado”, no dia marcado, choveu. “Depois de tudo que eu e a Bia passamos pra pegar a lanterna, tinha que chover???” Elas nem dormiram direito naquela noite imaginando o que poderiam encontrar na caverna. No outro dia a chuva passou e fez dia ensolarado. Depois de muitos desencontros elas acabam explorando a caverna junto com os irmãos. O sítio da família tinha sido uma fazenda no tempo da escravidão e o passeio pela caverna vira uma viagem no tempo. A Sandra Pina diz que este livro é uma história que mostra o seu lado de curiosa, que adora pesquisar o passado para tentar entender um pouco o presente.

Sandra Pina nasceu e mora no Rio de Janeiro. Formada em jornalismo e publicidade pela PUC-RJ, é jornalista, escritora, e especialista em Literatura Infantil e Juvenil pela UFF. Lançou o seu primeiro livro em 2001 e depois disso não parou mais. Além de escrever livros, faz traduções do inglês e do espanhol, escreve resenhas e roteiros, faz leituras críticas, e dá oficinas e cursos ligados literatura infantil. Recebeu os prêmios  “Carioquinha”, da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, e “Adolfo Aizen”, da União Brasileira de Escritores (UBE). Além desses dois livros escreveu também Marcas de uma guerra; E agora?; E assim surgiu o Maracanã; Muitos caminhos, uma decisão; O pano de boca; O chiclete; Um barco, um avião, uma bolha de sabão; entre outros.

O menino de Lowell, Massachusetts, que sonhava ser escritor

Já contei muitas vezes aqui, que adoro ler jornal com meu pai, quando não entendo direito uma notícia, ele me explica, e o caderno que mais gosto é o de Cultura, principalmente quando fala de livros. E sábado é o melhor dia pra se ler jornal, traz um monte de notícias de livros e ainda tem os cadernos infantis, que leio desde criancinha. Outro sábado estava lendo o jornal e vi uma matéria escrita pelo Ignácio de Loyola Brandão, que conheci pessoalmente na Flip do ano passado. Daquela vez ele disse que ia lançar um livro juvenil, de memórias, que falava de bolinhas de gude e do seu avô. Fiquei com tanta vontade de ler! Mas acho que esse livro ainda não foi lançado… Ou será que já saiu e eu não vi?

Voltando à matéria do jornal, ela começa com o Loyola contando de um livro que foi escrito inteirinho em um rolo de papel. O autor desse livro é Jack Kerouac, e diz que ele se sentou entre os dias 2 e 22 de abril de 1951, e datilografou (eu sei o que é isso, até pouco tempo tinha uma dessas em casa) sem parar e sem precisar tirar o papel da máquina. O livro chama-se On The Road e foi lançado em 1956. Fiquei muito a fim de ler! Meu pai disse que esse livro é muito pesado pra minha idade, mas que ele “ia fazer melhor”. Um amigo dele escreveu e desenhou um livro em quadrinhos, que conta a história da vida do Kerouac. Ele disse que esse seu amigo é artista plástico, ilustrador e também já escreveu alguns livros infantis. O nome dele é João Pinheiro, um dia quero conhecer esse amigo do meu pai! – Vou dar esse livro pra você, meu pai me disse. Ele deu, já li e hoje também vou falar dele aqui.

A história do livro em quadrinhos Kerouac, com textos e desenhos de João Pinheiro, publicado pela Devir Livraria começa com o autor americano ainda criança. Seu nome de batismo é Jean-Louis Lebris de Kerouac, mas em casa o chamavam de Ti Jean. Seus pais eram o Léo, tipógrafo e dono de uma gráfica, e Gabrielle. Jack tinha dois irmãos, Caroline, três anos mais velha que ele, e Gerard, cinco anos mais velho, “hábil desenhista”, que ensinou tudo que sabia ao irmão caçula. Kerouac idolatrava Gerard, aprendeu a desenhar com ele e desenhou pelo o resto da sua vida. Seu irmão tinha uma saúde frágil e morreu com dez anos de idade, Jack ainda não tinha feito cinco. A morte de Gerard foi uma perda irreparável para Kerouac e o marcou para sempre.

Jack era um menino solitário e vivia criando mundos imaginários. Frequentemente era visto, sozinho, na ponte do rio Merrimeck, que banhava Lowell, sua cidade no Estado de Massachusetts. Ele ficava fascinado pela visão do rio! Em casa, ficava olhando por cima dos telhados vizinhos, imaginando lendas e sonhando com seu futuro de escritor famoso. O menino Kerouac sonhava em ser escritor… Gostei desse menino! Quando comentava com outros garotos da escola sobre sua pretensão de se tornar escritor, eles “riam e zombavam da sua cara”.

Jack cresceu, e aos dezessete anos, jogando futebol americano, conseguiu uma bolsa de estudos na Universidade de Columbia e mudou-se para Nova York. Ficou pouco tempo na Universidade, mas enquanto esteve por lá, leu muitos livros na biblioteca e descobriu diversos escritores como, Jack London, Thomas Wolfe, Ferdinand Céline e Dostoiévski, e deu continuidade a sua antiga paixão, a literatura. Esse é só o começo da história de Kerouac, que o João Pinheiro contou nesse livro. No final, como todos já sabem, o menino conseguiu realizar o seu sonho e virou um escritor famoso, o Jack Kerouac.

Para escrever e desenhar Kerouac, João Pinheiro disse que fez um caderno de esboços, onde anotou todas as ideias, e muitas dessas ideias foram incorporadas ao roteiro original. Primeiro ele escreveu o roteiro, que foi alterado várias vezes, tirava umas partes, acrescentava outras, até chegar à versão final do livro.

Hoje estreia nos cinemas o filme Na Estrada, de Walter Salles, baseado na história do livro On The Road. Quem puder ir, vá e depois me conta. Eu não posso ir… É proibido para menores de 16 anos.

João Pinheiro é artista plástico e ilustrador associado à SIB (Sociedade dos Ilustradores do Brasil), atua na área de artes visuais desde 2005, realizando trabalhos para diversas mídias. Em 2009 teve ilustração selecionada para a publicação American Ilustration 28, que reúne 583 trabalhos entre mais de 8 mil inscritos de todo o mundo. Autor de histórias em quadrinhos e de livros infantis, publicou HQs nas revistas Front e Graffiti. Escreveu e ilustrou o livro: O monstro (nem tão monstruoso) e o menino João (Noovha América), adotado pela Secretaria de Educação do Município de Marília para formação de gestores e coordenadores. Desde 2008 é correspondente do site Urban Sketchers, portal que reúne trabalhos de artistas urbanos do mundo inteiro. Ganhou bolsa de estudos para participar do 2º Simpósio Internacional Urban Sketchers, evento que aconteceu em Lisboa, em julho de 2011.