Li história legal de um menino chamado Luís

Minhas férias já estão acabando e logo vão começar as aulas. Eu gosto das férias, a gente não tem muito horário pra fazer as coisas, mas tudo bem, eu gosto de ir à escola, também. Mas o que está me deixando mais feliz, mesmo, é voltar às aulas e continuar o meu clube de leitura com os alunos da EMEF Itaim A. Logo eu vou poder escrever sobre o nosso primeiro livro lido e vou esperar o comentário deles. Não vejo a hora disso acontecer! Nesses dias eu ganhei mais brindes para sortear no clube. Com a quantidade de brindes que eu estou ganhando, acho que vai dar para fazer outro clube de leitura.

A Taís da Editora Martin Claret me mandou dois exemplares de um livro com três histórias de uma escritora inglesa muito famosa, a Jane Austen, que nasceu em 1775 e morreu em 1817. Um exemplar ela deu pra mim e o outro é para eu sortear no clube. Ela me disse que essa escritora não escreveu literatura infantojuvenil, mas que os livros dela são muito lidos pelos adolescentes. Vou ler e contar aqui no blog! Acho que eu vou gostar, afinal, já sou quase um adolescente, não sou?

O Carlos José dos Santos que é professor, escritor e poeta também mandou um livro de presente pra mim e seis livros para sortear no clube de leitura. O livro que ele me deu de presente chama-se Pérolas, são poesias sobre essas coisas que a gente fala ou escreve e que são verdadeiras “pérolas”. Eu não sabia disso, meu pai que me explicou. Eu dei uma olhada, tem umas muito legais e outras engraçadas. Vou ler e depois vou contar aqui. Os outros que ele deu para sortear são livros de poesia e de contos.

Outra escritora que me deu um livro de presente foi a Lúcia Winther. Ela escreveu a história de um menino que já estava no quinto ano, mas não sabia ler direito, o livro se chama O menino que não entendia o que lia. Também vou ler e depois vou contar aqui. Também ganhei uma revista em quadrinhos da Petra. Ela sempre coloca comentários aqui no blog e está me ajudando na campanha contra o fechamento da biblioteca. Outro dia eu conheci a Petra pessoalmente, ela me deu uma revista em quadrinhos e disse que vai me mandar mais. Quero ler todas e depois contar aqui.

Quanta coisa está acontecendo. Que bom! Desse jeito, nunca vai faltar assunto para o meu blog. Hoje, por exemplo, eu vou falar de outro livro que eu ganhei, já li e adorei! O livro se chama Olha a cocada, da Eloí Bocheco, com ilustrações de Walther Moreira Santos, publicado pela Editora Movimento. A Eloí acompanha o meu blog, sempre deixa um comentário e diz que gosta muito dele. Ela já escreveu um monte de livros e acaba de lançar esse, que ela me mandou de presente. O livro conta a história de um menino chamado Luís, que mora no Morro da Neblina, na cidade de Florianópolis (SC). O Luís queria estudar na classe da professora Letícia, mas caiu na turma de outra professora. Ele fez de tudo, conversou com a supervisora e conseguiu mudar de sala. Ele gostava da Letícia porque as aulas dela sempre “mudam de jeito”. “Uma hora é pra contar da gente. Outra hora é pra inventar. Tem dias que são para ‘sair de casa’ e visitar coisas que nem museus, planetários, feiras de livros. Tem hora que é pra ouvir. Tem vezes que é pra ler em voz alta pra aprender a ouvir a própria voz.” O Luís achou legal ouvir a própria voz, ele nunca tinha ouvido. Ele achou que a gente aumenta de tamanho quando ouve a própria voz.

É o próprio Luís que conta essa história, que tem outros personagens, o seu irmão mais novo, o Breno e a sua amiga, a Lúti. Eu gostei do jeito dele contar. Sempre que eu leio um livro, eu presto bastante atenção no jeito que a história é contada. Vou lendo, observando, pegando um pouquinho de cada jeito, e descobrindo o meu jeito de contar. Vou colar nesse Luís, eu acho que ele pode me ajudar a contar as minhas histórias. A professora Letícia também fazia mutirão poético, a turma dela ia nas outras salas ler poesia. A Letícia também tinha um balaio cheio de livros no canto da sala. Todos os alunos dela pegavam os livros pra ler nas horas de leitura ou pra levar pra casa. A professora também pedia para os alunos escreverem cartas para os escritores que eles leram. O Luís escreveu uma carta para a Cora Coralina e ele mostra a carta no livro. Uma coisa bem legal que a professora Letícia fez com a turma foi pedir pra eles escreverem um livro chamado O livro da minha vida. Cada aluno ia escrever a sua história. O Luís não sabia por onde começar, ele queria falar do seu pai, mas era uma parte triste e achou que não valia a pena começar o livro com coisa triste. Foi perguntar para professora e ela respondeu com outra pergunta: por que não? E o Luís começou a sua história pelo seu pai. E assim segue o livro da Eloí, com o Luís contando sua história. Tem umas partes tristes e outras engraçadas. É uma história bem legal. Eu gostei muito!

Eloí Bocheco mora na cidade de Bombinhas (SC). Escritora formada em Letras pela Universidade de Passo Fundo (RS) e pós-graduada em Alfabetização e Metodologias de Leitura. Atuou, até a aposentadoria, como professora, em classe, e como responsável pela biblioteca escolar. Escreveu muitos livros e ganhou diversos prêmios. Coordenou, durante dez anos, a pauta do Jornal de Literatura Infantil e Juvenil O Balainho – da Universidade do Oeste de Santa Catarina – UNOESC. Ela também tem blogs: http://wwwprosaseversos.blogspot.com/ http://wwwsaladeferramentas.blogspot.com/.

“Fica Décio, fica!”

Na sexta-feira passada eu fui à reinauguração do Teatro Décio de Almeida Prado, vizinho da minha biblioteca, a Anne Frank. A prefeitura reabriu o teatro, mas quer derrubar, junto com todo quarteirão. Eu já falei disso aqui no blog. O pessoal do movimento de defesa do quarteirão estava todo lá, estenderam faixas e distribuíram um folheto bem bacana,que eu coloquei aí ao lado. O teatro está lindo! Vocês precisam ver. Teve show da Graziela Medori, ela é filha de uma cantora bem famosa, chamada Cláudia. Ela cantou e defendeu o teatro. “Vamos manter esse espaço, ele é muito bom”. Neste fim de semana tem mais show e eu vou. A cantora Izzy Gordon vai se apresentar na sexta, sábado e domingo, às 19 horas. Eu quero conversar com a Izzy. Ela e o marido dela, o Edu são amigos do meu pai! Meu pai me disse que ela tem um CD com músicas de uma cantora e compositora antiga, que já morreu, chamada Dolores Duran. Ela é sobrinha da Dolores. Neste ano a Izzy lançou outro CD. Não quero perder esse show e também quero continuar a minha luta em defesa do quarteirão e da minha biblioteca. O Teatro Décio de Almeida Prado fica na Rua Cojuba, 45, no Itaim Bibi.

Agenda de eventos

A Regina Marchi colocou um comentário no blog dizendo que no dia 5 de agosto vai acontecer em sua cidade (Potim-SP) o “2º Interagindo com Monteiro Lobato”. Ela disse que esse evento “tem por objetivo discutir com educadores, a questão do pedido de veto a obra de Lobato, bem como oferecer alternativas para o trabalho com estratégias de leitura.” Na primeira edição do evento eles discutiram o livro Caçadas de Pedrinho e nesta edição eles vão falar sobre o Reinações de Narizinho. Quem quiser saber mais: http://letrasdovale.com.br. O comentário da Regina me deu uma ideia: Vou falar com o pessoal da Sintaxe e ver se dá pra gente abrir aqui no blog uma agenda de eventos e quem quiser divulgar o seu evento é só mandar pra cá, que a gente publica.

Ajuda para minha luta política

Como eu contei no post anterior, na sexta-feira passada eu fui à Biblioteca Anne Frank pra saber das novidades da minha luta política.

– Oi, João Gabriel. Tudo bem?

– Tudo bem. E você, Heitor, como está? Andou sumido.

– Pois é… Antes de começarem as férias eu tive provas na escola e depois que acabaram as aulas, eu fui pra Flip.

– Você foi pra Flip??!! E como foi lá? Você gostou?

– Adorei e já contei tudo lá no blog.

– É mesmo. Vou ler.

– E como estão as coisas por aqui? Li no jornal que o prefeito vai, mesmo, derrubar a biblioteca e também o teatro…

– Foi o que ele disse, mas nós estamos lutando pra isso não acontecer.

– E o que eu posso fazer pra ajudar?

– Você pode divulgar no seu blog, que na próxima sexta-feira, dia 22 de julho, às 19 horas, haverá a reinauguração do teatro que passou por duas reformas. Trocaram todos os telhados, refizeram as saídas de água, também foi refeito todo aterro elétrico, os pararraios, o revestimento interno, a pintura, o revestimento acústico, trocaram todo piso e todas as poltronas. Ele está lindo!

– Você está falando do nosso teatro, o Décio de Almeida Prado, esse que fica aqui no quarteirão e que a prefeitura quer derrubar?

– Sim, esse mesmo.

– Mas quem vai inaugurar?

– A prefeitura.

– Mas como assim? Ela vai inaugurar e quer derrubar.

– Pra você ver, Heitor.

– Não posso faltar nessa! Na sexta eu estarei aqui pra defender o teatro e também a minha biblioteca. Não vamos deixar a prefeitura derrubar.

– Venha, mesmo, você vai ver como o teatro está bonito. Convida os leitores do seu blog pra virem também. Haverá um show da cantora Graziela Medori.

– Sim, claro, vou convidar, mesmo!

Essa foi a conversa que eu tive na sexta-feira passada com o meu amigo João Gabriel, o bibliotecário da Anne Frank. Sempre que eu vou lá, ele me dá ótimas sugestões de leitura. Dessa vez não foi exatamente uma sugestão de leitura, mas eu gostei muito dela. Portanto, estão todos convidados. Quem for de São Paulo ou estiver aqui por perto, venha assistir ao show da Graziela Medori e ajudar a nossa luta pela defesa do teatro, da biblioteca e de todo o quarteirão do meu bairro. Já estão programadas outras apresentações até o final de agosto. O endereço é rua Cojuba, 45 B, ao lado da biblioteca, no bairro do Itaim Bibi, em São Paulo. Meu pai inventou um nome pra essa festa e eu achei o maior legal: Festejando com o inimigo! Vou lá para festejar com o inimigo a reinauguração do teatro, mas também vou protestar contra a demolição.

Notícias da Flip

Cheguei de Paraty e já estou com saudades. Tentei mandar notícias de lá, mas não consegui. A gente ficava o dia todo pela rua, assistindo às palestras e participando da festa literária, e só voltava para a pousada à noite. Não deu tempo de escrever nada. Um dia eu tentei e até escrevi o primeiro parágrafo: “Estou aqui em Paraty, na Flip, já assisti a um monte de coisas e também perdi muitas, não dá pra ver tudo, acontecem muitos eventos ao mesmo tempo. Meus pais e os amigos deles, que também estão por aqui, me disseram que antes só tinham os eventos da Flip, mas hoje tem também a Flipinha, para as crianças; a Flipzona, para os adolescentes; os eventos na Casa de Cultura, na Casa do Sesc, as atividades na rua, eventos de um jornal… é legal, mas às vezes eu fico um pouco perdido e não sei o que assistir, se fico com os meus pais e os amigos deles e assisto aos eventos da Flip ou se atravesso a ponte e vou para a Flipzona.” Só escrevi isso, quando eu comecei a tentar explicar que a Flip ficava de um lado do rio e os outros eventos, do outro lado e por isso eu tinha que atravessar a ponte, me deu um sono tão grande, que eu não consegui continuar e minha mãe me disse: – Vai dormir, Heitor, amanhã temos que acordar cedo.

Assim que chegamos em Paraty, deixamos a bagagem na pousada e fomos assistir a abertura, em que o professor Antônio Cândido falou sobre o homenageado deste ano. Todo ano na Flip eles fazem homenagem a algum escritor e neste fizeram homenagem ao Oswald de Andrade, que fez parte do Movimento Modernista e participou da Semana de Arte Moderna, que aconteceu em São Paulo, em 1922. O Antônio Cândido conheceu o Oswald de Andrade e conviveu com ele. Eu ainda não li nada do Oswald, mas quando eu ler, acho que vou me lembrar de tudo que foi dito lá e a minha leitura vai ficar mais legal.

Também assisti a outra mesa sobre o Oswald de Andrade, com a Marcia Camargos e o Gonzalo Aguilar. A Marcia é brasileira, jornalista, historiadora e escritora, estudou e escreveu livros sobre o Oswald e os modernistas, e também escreveu a biografia do Monteiro Lobato. Vou ver se eu consigo falar com a Marcia sobre o Monteiro Lobato! O Gonzalo é argentino. Ele estudou literatura brasileira e é especialista em Oswald de Andrade.

Sobre o homenageado também vi a mesa de encerramento da Flipinha, o “mesão” que foi coordenado pela Anna Claudia Ramos e juntou um monte de escritores e ilustradores de literatura infantojuvenil para falar do Oswald de Andrade. Eu encontrei a Anna Claudia nas ruas de Paraty, fui conversar com ela e disse que ia assistir ao mesão. Eu conheci a Anna Claudia no ano passado, na Bienal do Livro. Estavam nessa mesa, além da Anna Claudia; a Heloísa Prieto, que disse que o Oswald era como um menino rebelde, que às vezes faz birra; o Daniel Munduruku, que disse que o Oswald falava que o índio devia estar na literatura brasileira e hoje o índio faz literatura – Daniel é escritor e índio; a Lúcia Hiratsuka, que é escritora e ilustradora e leu um poema do Oswald; a Suppa, que é ilustradora e morou na França; o André Diniz, que é desenhista e roteirista e faz histórias em quadrinhos; a Ciça Fittipaldi, que é ilustradora e disse que a “crítica na obra de Oswald às vezes é maldosa, mas sempre tem humor”; a Flávia Lins e Silva, que estava lançando o livro Mururu no Amazonas; a Bia Hetzel, que é escritora e editora e leu um poema bem engraçado do Oswald, chamado “Erro de português”; o Mauricio Veneza, que é ilustrador e escritor e falou sobre o humor de Oswald; e o Ilan Brenman, que é escritor e disse que as crianças devem falar sem se preocupar com que os adultos vão pensar, devem ser “transgressoras”, como o Oswald.

Uma mesa que fez muito sucesso por lá e eu também assisti foi a que juntou a “musa da Flip” a escritora argentina Pola Oloixarac, – ela é muito bonita e é uma grande escritora, também – e o “queridinho da Flip”, o escritor português nascido em Angola, valter hugo mãe – assim mesmo, tudo com minúscula, como ele escreve o nome dele e o livro também. Eu dei uma olhada no livro dele, é tudo escrito com minúsculas. O mãe disse que escrever faz muito bem para ele, mesmo quando ele escreve histórias tristes e que “os livros são máquinas de criar sentimentos.” No final o moderador perguntou aos dois sobre a relação deles com o Brasil. A Pola disse que achava o Brasil um lugar de pessoas felizes e o mãe leu um texto que ele escreveu sobre sua relação com o Brasil, desde a sua infância e emocionou toda a plateia, que no final o aplaudiu de pé e assim ele virou o “queridinho da Flip”.

Outra mesa legal que eu assisti foi a do escritor francês Emmanuel Carrère com o escritor húngaro, Péter Esterházy, chamada “Laços de família”. O Carrère disse que quando escreve e inventa histórias de ficção a partir do real e das coisas que acontecem, o real cria coisas muito mais fortes que alteram a ficção e a história que ele está escrevendo. Não é bacana isso? O Péter disse que geralmente escreve na primeira pessoa, mas jamais pensa que é uma autobiografia. Ele disse que os escritores não são muito amigos uns dos outros, por ciúmes ou raiva, mas que os livros desses escritores conversam entre si. Achei legal isso, fiquei pensando e descobri que os livros conversam, mesmo. O Péter também falou que antes ele era conhecido como o irmão de um jogador de futebol famoso, que jogou na seleção húngara. Ele disse que em 1985 o Brasil foi jogar em Budapeste e perdeu para a Hungria por 2 a 0 e o irmão dele fez um gol no Brasil.

Assisti a uma mesa com o Ignácio Loyola Brandão. É legal ouvir o Loyola falar! No ano passado eu assisti a uma palestra dele na Bienal do Livro. Na Flip ele contou sobre um livro que está acabando de escrever e vai lançar e que me deu vontade de ler. Um livro que ele disse que escreveu para pedir desculpas ao seu avô, que já morreu há muito tempo. Ele roubou e perdeu umas bolinhas de gude, que o avô guardava dentro de uma caixa de madeira e que eram muito importantes para ele. Essas bolinhas tinham sido os olhos dos cavalos de um carousel, que o avô tinha construído e que foi destruído num incêndio. Só sobraram as bolinhas. Elas sumiram, o avô sentiu a falta, parece que até ficou doente por isso, mas o Loyola nunca disse para o avô que ele tinha roubado as bolinhas. Muitos anos depois ele escreve um livro para contar e pedir desculpas ao avô. Não dá vontade de ler esse livro?

Assisti a uma mesa diferente, com dois escritores colombianos, o Héctor Abad e a Laura Restrepo, que se chamava “Em nome do pai”. Os dois escritores estavam lançando livros que falam de pais. O livro do Abad fala de seu pai, médico colombiano, que foi assassinado por paramilitares em 1987; e o da Laura, fala do pai de seu filho, o seu marido, militante comunista argentino que a abandonou grávida para entrar na luta política. Essa mesa foi diferente, pois o Abad começou dizendo que já estava cheio de falar do seu livro, fez muitos lançamentos, palestras, deu entrevistas e já não aguentava mais, daí ele falou do livro da Laura. Depois a Laura falou do livro do Abad. Achei muito bacana isso. Só ouvir escritores falando de si, às vezes cansa!

Também teve uma mesa com dois jornalistas que editam revistas literárias, chamada “No calor da hora”. O mexicano Enrique Krauze é editor da revista Letras Libres e estava lançando o livro Redentores; e o americano John Freeman, editor da revista Granta, que já tem versão em português e na próxima Flip vai lançar uma edição especial com jovens escritores brasileiros.

Assisti a mesa do David Byrne, que estava lançando o livro Diários de bicicleta. Ele anda de bike desde a década de 1980, conheceu muitas cidades pedalando e falou de urbanismo com o Eduardo Vasconcelos, sociólogo e engenheiro, autor de Transporte e meio ambiente, entre outros livros sobre o assunto. Não vi o Joe Sacco, o famoso quadrinista que faz reportagens com histórias em quadrinhos. Deixei para assistir a mesa dele na Flipzona, mas havia só oitenta lugares e eu não consegui pegar a senha. Também não vi o João Ubaldo Ribeiro. Já li um livro dele e contei aqui no blog. Na hora dessa mesa eu fui assistir ao mesão na Flipinha. Por falar em Flipinha, ela estava bem legal! Tinha uma biblioteca, exposição de trabalhos sobre o Oswald de Andrade com alunos das escolas de Paraty, contação de histórias, teatro, e uns pés de livros. Um monte de livros pendurados nas árvores da praça, que pareciam frutas. A gente podia pegar, ler e depois deixar lá. Embaixo dessas árvores ficavam uns monitores lendo para qualquer criança que quisesse ouvir histórias. Gostei muito da Flip e de Paraty, a cidade estava cheia de gente, escritores, leitores, todo mundo andando pelas ruas, conversando e se divertindo.

Ah, também assisti a um teatro que circulou pelas ruas da cidade apresentando o Dom Quixote de La Mancha. Foi o maior barato, o Dom Quixote e o Sancho Pança que estavam em Paraty eram muito engraçados! Vi muito mais coisas, mas vou parar por aqui, senão este post vai ficar muito grande. No final de tudo teve uma apresentação teatral do José Celso Martinez Corrêa, do Teatro Oficina chamada “Macumba antropófaga”, mas eu não pude assistir, era proibido para menores de dezoito anos. Meus pais e os amigos deles assistiram e me disseram que os atores ficaram pelados e que algumas pessoas do público também tiraram a roupa. Que final maluco! Pena que eu não pude ver.

Notícias da minha biblioteca

Tinha um jornal de São Paulo distribuído, de graça, lá na Flip. No sábado eu peguei um exemplar e sentei pra ler. Justamente nesse dia saiu mais uma daquelas notícias sobre a minha biblioteca: “Prefeito diz agora que tirará biblioteca e teatro do Itaim”. “Ao contrário da promessa original do prefeito, a biblioteca Anne Frank e o teatro Décio de Almeida Prado, não ficarão no terreno do Itaim Bibi. O secretário da cultura disse que o acervo da biblioteca será distribuído”. Eles querem mesmo derrubar a minha biblioteca e desmanchar o acervo organizado em sessenta e cinco anos. Temos que lutar para isso não acontecer. Nesta sexta-feira eu vou à biblioteca. Quero conversar com o meu amigo João Gabriel, o bibliotecário da Anne Frank, e saber o que eu posso fazer para ajudar.

Primeira derrota da minha luta política

Hoje eu li uma notícia no jornal que me deixou muito triste: “Câmara libera venda de terreno no Itaim”. Eu já falei muito aqui no blog da minha primeira luta política, a luta em defesa da minha biblioteca. Participei de passeata, fui a algumas reuniões e a uma audiência pública na Câmara Municipal. A prefeitura quer vender um terreno onde ficam a minha biblioteca, um teatro, duas escolas, uma creche, duas unidades de saúde e uma unidade da Apae. Quem quiser saber mais, pode procurar aqui no blog, eu contei tudo em alguns posts anteriores. Pois é, a Prefeitura enviou o seu projeto e ontem teve a votação na Câmara. Eu não estava lá, fiquei triste e frustrado. Triste pelo resultado e frustrado por não ter participado desse dia tão importante na história da luta contra o fechamento da minha biblioteca e da venda do quarteirão do meu bairro.

Em abril a gente teve uma vitória, quando foi aberto o processo de tombamento do quarteirão. O Condephaat, que quer dizer Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado começou a analisar o tombamento do lugar e se ele for aprovado, o terreno e todos os serviços serão considerados patrimônio histórico e cultural e assim a minha biblioteca estará salva. Pelo menos foi o que eu entendi. Enquanto esse processo está sendo analisado, a prefeitura não pode mexer no terreno, mas mesmo assim ela continuou com a sua intenção de vender para derrubar tudo e construir um prédio. Ontem ela levou o seu projeto para a avaliação dos vereadores na Câmara Municipal e o resultado me deixou muito triste.

Dezesseis vereadores ficaram do nosso lado e votaram contra a prefeitura e trinta e cinco votaram a favor dela. Esses vereadores também querem derrubar a minha biblioteca e todos os serviços públicos do meu bairro e construir um prédio de apartamentos no lugar. A prefeitura disse que a empresa que ficar com o terreno vai construir duzentas creches na cidade. Isso é bom, a cidade de São Paulo precisa de creches, mas deve ter outro jeito de construir essas creches sem precisar derrubar a minha biblioteca. O que é que tem a ver uma coisa com a outra? Assim como diz um amigo meu lá da escola: uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa. Esse meu amigo é o Felipe, o Lipe, ele é uma figura.

O jornalista que fez a matéria entrevistou o José Eduardo Contreiras. Eu conheço o José Eduardo, ele é amigo do meu pai, eles estudaram juntos no colégio aqui do bairro. Eu o conheci no dia que eu fui com o meu pai na audiência pública na Câmara. Peguei o número do telefone e liguei para ele. Eu queria saber tudo que aconteceu lá e porque não me avisaram que a votação era ontem. Eu ia pedir para o meu pai me levar. O José Eduardo atendeu, disse que também estava triste e que tinha sentido a minha falta lá na Câmara.

– Você iria aprender muita coisa, Heitor, com tudo que aconteceu lá, ontem. Ele me disse que a aprovação da venda não é o fim da batalha, e que “nós devemos continuar lutando.” Eu disse que queria ajudar e que ele poderia contar comigo e que eu ia contar tudo, hoje mesmo, aqui no blog. Ele disse que nós devemos “promover atos públicos, ações na justiça, denúncias no Ministério Público e mobilizar o restante da comunidade.” Ele disse que está criando uma “rede de informações” com outros movimentos da cidade, pois estão acontecendo outros casos como esse, do nosso quarteirão. No final ele me deu alguns conselhos.

– Você ainda é novo, Heitor, mas eu gostaria que você estivesse lá, para prestar atenção em alguns vereadores e quando você começasse a votar, escolhesse direitinho aquele que, de verdade, irá representá-lo.

E antes de desligar o telefone ele disse mais.

– Eu quero que você perceba a importância de tudo que está acontecendo. A sua participação nessa luta em defesa da biblioteca e do quarteirão do bairro é muito importante. Você está tendo uma verdadeira aula de cidadania e quero ver você na próxima aula.
Estou adorando essa aula e prometo que não vou faltar na próxima.

Amanhã vou pra Flip em Paraty e quero mandar notícias de lá.