Li um livro sobre uma luta política

No post anterior eu falei da minha primeira luta política, da luta contra o fechamento da biblioteca e de mais seis serviços públicos e a APAE, que ficam em um quarteirão do meu bairro e que a prefeitura quer vender para construir prédios. Hoje eu vou falar de um livro que eu li e que tem tudo a ver com isso. Quem me deu a dica desse livro foi a Petra Leão, que leu o post anterior, lembrou do livro e colocou um comentário no blog: “Leitor, eu tenho um livro pra te recomendar: chama-se É preciso lutar! da Marcia Kupstas…” (o comentário completo está lá no post). Eu pesquisei na internet o nome da Petra e descobri que ela é redatora e roteirista da revista Turma da Mônica Jovem, do Maurício de Sousa e faz um monte de coisa legal. Depois vou ver se ela quer dar uma “entrevista” para o blog!

É preciso lutar! foi escrito pela Marcia Kupstas, ilustrado por Ricardo Girotto, publicado pela editora FTD e recebeu da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil, em 1988, o Prêmio Orígenes Lessa, de livro Altamente Recomendável para Jovens. A história dele é bem bacana e começa com a Margarida preparando o almoço e esperando o seu marido Juca sair do banheiro para ajudar a colocar a mesa, pois os seus filhos, a Zizi, de 14 anos e o Salviano, de 10 já estavam chegando da escola e deviam estar com uma “fome selvagem.” Todo dia na casa deles era assim, mas naquele dia foi diferente. A Margarida começou a ouvir uma discussão que vinha da rua. Eles moravam no 2º andar de um prédio. Ela foi até a sala, abriu a janela e viu um homem amarrado a uma árvore, na altura do apartamento dela.
– Boa tarde, falou o homem.
– Boa tarde, respondeu calmamente a Margarida e logo se virou para dentro da casa e gritou. – Juca, tem um homem pendurado na janela!
E o homem respondeu:
– Não, minha senhora. Não é pendurado na janela. É pendurado na árvore.

Quem estava pendurado na árvore era o Kanassa de Moura, um homem de 52 anos, pintor, vizinho da Margarida e que morava na única casa da rua Marcelina, que só tinha prédios. Ele subiu lá para proteger a árvore, uma tipuana. A prefeitura queria derrubar a tipuana, que era saudável e forte, dava umas flores amarelas e estava lá plantada há mais de 40 anos. E o Kanassa não ficou sozinho nessa luta. Logo a Zizi se juntou a ele e vieram outros, o César – que depois virou namorado da Zizi e essa parte da história também é bem legal – o Salviano, irmão da Zizi; a Débora e os seus três irmãos, Valério, Pedro e Igor; o Filipe e o Martim, que estudavam à tarde junto com o César; e duas amigas da Débora, a Fátima e a Hebe. Todos formaram um grupo e se organizaram para defender a tipuana e não deixar a prefeitura cortar a árvore. As reuniões do grupo aconteciam na casa do Kanassa. Fizeram abaixo-assinado para pressionar o prefeito e saíram pela rua, de casa em casa para pegar as assinaturas. Eles conseguiram o apoio do seu José, o português dono da padaria, que também passou o abaixo-assinado, do porteiro do prédio e da maioria das pessoas da rua e do bairro.

O Kanassa subia na árvore todas as vezes que a prefeitura vinha para cortar a tipuana e acontecia a maior confusão, baixava a polícia e vinha até a televisão. Numa das vezes a repórter perguntou ao Kanassa por que ele fazia isso.
– Porque é o jeito mais rápido de impedir a derrubada da árvore.
– O senhor faz isso para defender a ecologia?
E o Kanassa respondeu:
– Olha, eu nem pensei na ecologia. (risos.) Eu pensei, na hora, só em defender a árvore. É uma tipuana de mais de 40 anos, quando eu me mudei pra cá ela já existia. Isso nem é uma árvore, é um monumento!
A história dessa árvore parece com a história da Biblioteca Anne Frank. A biblioteca tem 65 anos e é um patrimônio do nosso bairro. E eu também entrei nessa luta só para defender a minha biblioteca, mas agora eu estou descobrindo muita coisa.

Marcia Kupstas nasceu e mora em São Paulo. Formou-se professora pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP. Escreve para suplementos literários e revistas destinadas ao público adulto e jovem. Sempre gostou de ler e de escrever, aos quinze anos já mandava seus contos para concursos. Para ela, escrever “representa uma necessidade orgânica tão intensa quanto a de comer, respirar e amar”.

Ricardo Girotto é formado em Publicidade e Propaganda pela PUC de Campinas. Começou a trabalhar como ilustrador no jornal Diário do Povo em 1987, e atualmente trabalha no Diarinho, suplemento infantil do jornal Diário de Grande ABC. Trabalha para as principais editoras do país e ilustra suplementos infantis, revistas, livros didáticos e de literatura para o público infantil e juvenil há mais de 20 anos.

Notícias da minha luta política

Hoje eu liguei para o pessoal da Sintaxe* e perguntei o que eles achavam de eu fazer um post só sobre o movimento contra o fechamento da minha biblioteca. Eles responderam:

– Faz como das outras vezes, Heitor. Fala do movimento no começo do texto e depois fala de um livro, também. Você fez isso no post anterior, contou sua conversa com o bibliotecário e depois falou do livro do Pedro Bandeira. Por sinal, ficou bem legal!

– Obrigado! Mas é que desta vez eu tenho muita coisa pra contar, saiu notícia no jornal, eu participei de uma reunião… Acho que o post vai ficar muito grande!

– Tudo bem! Desta vez passa. Mas toma cuidado, o seu blog é sobre literatura e não sobre política.

Preocupado com a advertência deles, mas, motivado pela ideia de que fechar bibliotecas faz mal à literatura, eu escrevi o post de hoje.

Na semana passada eu estava lendo jornal com o meu pai. Gosto muito de ler jornal com ele, vou vendo as notícias e quando eu não entendo, ele me explica. Mas nesse dia saiu uma notícia, que eu estou entendendo muito bem e acompanhando de perto. Ele viu primeiro e me chamou.

– Venha ver, Heitor, hoje tem notícia da sua biblioteca, da sua primeira luta política.

Meu pai que inventou essa história de que participar do movimento contra o fechamento da biblioteca é a minha primeira luta política e eu estou adorando essa história.

– Que legal, pai. Deixa eu ver a notícia.

– E parece ser boa, ela está dizendo que vocês estão ganhando a luta.

– É mesmo! Deixa eu ler, então.

A notícia do jornal dizia que o processo de tombamento do quarteirão foi aberto. O Condephaat, que quer dizer Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado já começou a analisar o tombamento do lugar onde tem além da biblioteca, um teatro, duas escolas, uma creche, dois serviços de saúde e a APAE. Eu fiquei muito feliz, pois me disseram que se esse processo começasse a prefeitura não podia mexer em nada, até que ele fosse concluído. Se fosse aprovado, a minha biblioteca estaria salva, seria um patrimônio e ninguém mais poderia mexer com ela. E se não fosse aprovado, a prefeitura ainda teria que enviar o seu projeto de “tombamento” (que neste caso é derrubar, mesmo) para a Câmara Municipal para avaliação dos vereadores. A prefeitura devia esperar o resultado desse processo para continuar com seus planos, mas parece que a coisa não é bem assim. Pois, diz no jornal, que ela vai prosseguir com a sua intenção de vender a área para uma construtora, mesmo com a abertura do processo de tombamento. O jornal diz também, que “o terreno pode até ser vendido, mas toda a área e os prédios que existem nela não podem sofrer nenhum tipo de alteração.” Seria difícil alguém comprar o terreno não podendo mexer nele, mas, me disseram que nesse mundo da especulação imobiliária a gente nunca sabe direito.

Também teve uma reunião da organização do movimento e me convidaram, mandaram um e-mail me avisando e eu fui. Estavam todos felizes, mas ainda preocupados. Disseram que estamos ganhando, marcamos dois gols e está dois a zero pra gente, mas o jogo não acabou e vamos continuar lutando. Havia umas vinte pessoas nessa reunião e todos se apresentaram. Tinha um moço de uma ONG que fica no bairro, que trabalha com “políticas públicas e acompanha as câmaras municipais”, ele veio apoiar e oferecer ajuda para o nosso movimento. Uma moça da associação em defesa dos bairros dos jardins também veio oferecer ajuda. Outro moço, irmão de uma frequentadora da APAE, disse que mudar de lugar é um risco muito grande para a saúde das pessoas que se tratam lá. Também teve um moço do CAPS, que quer dizer Centro de Atenção Psicossocial, que disse que também é muito importante manter esse serviço de saúde no mesmo lugar. Outro que conhece bem a Câmara Municipal, disse o que nós devemos fazer para convencer os vereadores da importância em preservar esse patrimônio e votarem ao nosso favor, caso o processo seja encaminha pra lá. Outro que trabalha com a memória do bairro disse que toda a história desse nosso movimento está sendo documentada e pode virar um livro. (Oba! Vou ler esse livro!). A Eva Wilma também estava lá. Eu já conversei com ela uma vez, na passeata, e contei aqui no blog, no post “Fui à minha primeira passeata”. Ela disse que por ser atriz “fala emocionalmente”, e acha que devemos manter o quarteirão como está, principalmente, por ser “vital para o meio ambiente e um oásis do bairro.” Outro que falou emocionalmente foi o Helcias, que até já colocou comentário aqui no blog. Ele é da Associação Grupo Memórias do Itaim Bibi e sempre que fala anima todo mundo a continuar lutando na defesa do nosso quarteirão. Eu também me apresentei, disse que o meu nome é Heitor, tenho 12 anos e escrevo um blog. Falei que eu gosto muito de ler e que vou sempre à Biblioteca Anne Frank para pegar livros e não quero que ela seja fechada, que saia do quarteirão ou que vire um prédio. Gosto de ler no meio das árvores e lá está cheio de árvores.

– E depois, foi o Monteiro Lobato que escolheu o lugar onde ela fica e a prefeitura não pode tirar de lá. Assim eu terminei o meu “discurso”, como Helcias e Eva Wilma, também emocionado.

Quem quiser apoiar a “nossa luta” ainda pode colocar seu nome no abaixo assinado que está no link: http://www.abaixoassinado.org/abaixoassinados/7756

* Sintaxe é a assessoria de imprensa que criou e me deu de presente este blog. Eles cuidam das mudanças e também divulgam.

Li um livro do Pedro Bandeira

Na semana passada eu fui à biblioteca para pegar um livro emprestado e saber das novidades da “nossa luta” contra o fechamento. A prefeitura quer fechar a biblioteca do meu bairro para construir um prédio no terreno. Já falei disso em outros posts. Chegando lá, encontrei o meu amigo João Gabriel, o bibliotecário da Anne Frank.

– Oi, João. Tudo bem? Vim pegar um livro do Pedro Bandeira e saber como estão as coisas.

– Do Pedro Bandeira?! Ele me perguntou, espantado.

– Sim. Por quê? Eu respondi e devolvi a pergunta.

– Você não vai acreditar… Outro dia eu fui à Câmara falar sobre a Biblioteca Anne Frank e advinha quem estava lá?

– O Pedro Bandeira?!

– Sim, em pessoa! Ele também foi falar e falou depois de mim. Fiquei ao lado dele!

– E você conversou com ele?

– Conversei. Contei da biblioteca e disse que eu estava muito feliz em conhecê-lo pessoalmente.

– Ele é legal? Ele vai apoiar a nossa luta?

– Ele é muito legal e está do nosso lado.

– Então agora eu vou ler um livro dele com mais gosto! Você me ajuda a escolher.

– Claro que eu ajudo, Heitor. Estou aqui pra isso!

– Legal, João! Mas antes me conta. Como andam as coisas por aqui?

– Não sei se você já sabe, mas na outra semana tivemos uma vitória. A prefeitura tentou impedir, mas o Ministério Público decidiu manter o inquérito civil para a investigação sobre a venda do quarteirão. Com isso vamos ganhando tempo. Tem também o projeto de tombamento, se o processo for iniciado, por um bom tempo, até que o projeto seja avaliado, ninguém vai poder mexer com a nossa biblioteca.

– Que legal, João! Eu acho que vamos conseguir vencer.

– Eu também estou otimista, Heitor, mas temos que continuar lutando. Também tem um pessoal organizando um seminário e convidando uns especialistas para falar. Se for marcado, eu te aviso o dia. Acho que vai ser bacana!

– Me avisa, mesmo. Não posso faltar nesse dia. Outra coisa, você me falou que tem umas pessoas mais velhas, que frequentaram a biblioteca quando eram crianças. Queria conversar com elas. Você pode me apresentar alguma?

– Claro que eu posso. Sabe que também tem uns depoimentos escritos e guardados aqui, de pessoas que fizeram parte da história da Biblioteca Anne Frank. Você quer ver esses depoimentos?

– Oh, se quero! Vamos marcar um dia! Quero vir aqui para ler todas essas histórias.

– É só você me falar. Elas estão aqui, guardadas…
– Sim, Heitor, tem mais uma coisa… Outro dia uma amiga mandou um e-mail me perguntando se você existe, mesmo, ou se é um personagem. O que eu digo pra ela?

– Deixa eu pensar… Já sei, vamos enganar a sua amiga… Diz pra ela que eu não existo e que tudo que está escrito aqui no blog é invenção minha.

O João Gabriel riu e disse:

– Você não existe, Heitor!!!

Ele disse isso daquele jeito que as pessoas falam, quando acham alguém muito bacana. Gostei! Além de existir, acho que sou um menino legal.
– Agora vamos lá, então, João, escolher o meu livro do Pedro Bandeira.

Entramos nas salas dos livros e o João me mostrou uma estante.

– Tudo isso é Pedro Bandeira. O que você quer levar?

– Nossa! Quanto livro ele escreveu! O que você sugere?

– Pra começar você pode ler A marca de uma lágrima. Acho que você vai se apaixonar por essa história.

O João tinha razão, eu me apaixonei pela história e pela Isabel, a personagem principal deste livro. A história de A marca de uma lágrima (Editora Moderna) começa com uma conversa entre a Isabel e seu pior inimigo, “o mais cruel, o mais cínico, o mais impiedoso, o inimigo que falava a verdade, sempre a verdade”: o espelho do banheiro do seu quarto. Isabel se achava feia, tinha 15 anos e se apaixonou pelo seu primo Cristiano, que não via desde que os dois eram crianças. Mas Cristiano começou a namorar sua melhor amiga, a Rosana. Isabel lia bastante, adorava escrever e escrevia muito bem, até poesia ela fazia.

Antes de ti, Cristiano,

Eu nem sabia sequer,

Fui metade de mim, mesma,

Fui pedaço de mulher…

Estes versos ela escreveu para sua amiga Rosana entregar ao Cristiano, como se fossem da Rosana, e ajudá-la a conquistar o amor do seu primo, que também era a sua grande paixão.

Vou deixar meu peito aberto,

Rosana de amor sem fim,

Sem porteiro, sem vigia,

Para que entres em mim…

E estes foram para o Cristiano entregar a Rosana e retribuir todo amor que recebia pelas cartas e poemas de sua amada.

Isabel se meteu nessa confusão e nem conseguia enxergar e suportar as declarações de amor de outro menino da escola, o Fernando, que gostava das mesmas coisas que ela e também adorava livros.

No final o Cristiano vai ficar muito apaixonado pela Rosana. Não pelo que ela é, mas pelo que ela escreve. Isso vai dar muita confusão! E a história continua… a diretora da escola aparece morta e todos pensaram em suicídio. Isabel será a testemunha chave para desvendar esse crime. E tem muito mais… Gostei do Pedro Bandeira, parece que todas as suas histórias são cheias de emoção. Vou voltar na biblioteca e pegar mais livros dele.

Pedro Bandeira nasceu em Santos em 9 de março de 1942, morou em São Paulo de 1961 até 1999 e depois se mudou para São Roque (SP), onde mora atualmente. Estudou Ciências Sociais, trabalhou como professor e ator de teatro, publicitário, jornalista e editor. A partir de 1983 começou a publicar seus primeiros livros, a se dedicar somente a literatura e virou um grande escritor. Além de A marca de uma lágrima, escreveu também A droga da obediência, Pântano de sangue, Anjo da morte, Agora estou sozinha, O medo e a ternura, O grande desafio, A hora da verdade, Prova de fogo, Brincadeira mortal, entre muitos outros. Ele diz que os trabalhos em jornais e revistas o ajudaram na sua carreira de escritor. “O jornalista é obrigado a estar preparado para escrever sobre quase tudo”. Já a inspiração para cada história, ele fala que vem dos livros que leu e dos acontecimentos de sua própria vida. Ele é o autor de literatura juvenil mais vendido do Brasil. Ao todo já vendeu mais 21 milhões de exemplares dos seus livros.

Conversa engraçada

A biografia do Pedro Bandeira me fez lembrar uma conversa muito engraçada, que eu ouvi outro dia, parece uma piada.

Uma pessoa que queria escrever um livro, e também estava interessada em ganhar dinheiro perguntou a outra:

– Esse negócio de escrever livro dá dinheiro?

A outra respondeu:

Depende. Não basta escrever, tem que vender. Eu, por exemplo, conheci um cara que escreveu um livro e vendeu tudo…

Vendeu carro, vendeu casa…