Li histórias de animais amigos e entrevistei o autor

Hoje eu vou falar dos livros de outro escritor que eu conheci na Bienal do Livro, o Jeosafá Fernandes Gonçalves. Ele lançou dois livros infantis na Bienal e outro dirigido ao professor, sobre como ensinar poesia na escola. O Jeosafá também é professor. Eu conheci um monte de escritores na Bienal e essas histórias estão lá no post “Os escritores da Bienal” (http://blogdoleheitor.sintaxe.com.br/?p=308). Eu li os dois livros infantis do Jeosafá e mandei, por e-mail, umas perguntas para ele. E ele respondeu. Eu entrevistei o Jeosafá!!! Os livros são Beto e Abelardo e Ganhar, Amar, Cuidar, publicados pela Editora Noovha América.

A história de Beto e Abelardo, que foi ilustrada por Octavio Cariello, começa assim: “Era de noite e o menino bem miúdo estava afundado no sofá macio da sala. Assistia na tevê a um desenho muito legal. A sala estava com as luzes apagadas, igual a um cinema. Seus olhos ardiam de cansados, mas ele tinha um dó muito grande de fechá-los e não conseguir abri-los até o dia seguinte por causa do sono”. Esse é o Beto. Uma vez ele disse para o seu amigo Abelardo, um bem-te-vi que morava no telhado de sua casa: – Daqui a pouco, minha mãe vai me chamar para tomar banho, aí, acabou-se o dia… – Detesto dormir. Se eu pudesse não dormiria nunca! Um dia o Beto resolve ficar acordado a noite inteira, seguindo um conselho que o Abelardo não tinha dado. – A gente pia uma coisa, os outros entendem outra, comentou o Abelardo. Nessa noite aconteceram coisas terríveis que só lendo o livro para saber.

O livro Ganhar, Amar, Cuidar é diferente da maioria dos livros infantis. Normalmente o escritor faz o texto e passa para o ilustrador colocar os desenhos. Com este livro foi diferente. O Jeosafá escreveu a história para as ilustrações do Claudio Tucci, que já estavam prontas há muito tempo. Nessa história os bichos amigos são mais comuns, são cachorros. A Nica, que tem 5 anos, e o seu irmão Lalo, que tem “um ano e pouco mais do que” ela ganham dos pais um filhote amarelo. Era uma cadela, mas mesmo assim eles deram o nome de Caramelo (cão + amarelo). – Como a natureza é livre, eu e o Lalo decidimos que a Caramelo ia ser criada em liberdade e que ela teria direito de fazer suas próprias escolhas, conta a Nica. Esse jeito de cuidar não deu muito certo, como mostra a história do livro. Mas um dia a Caramelo traz para casa “um filhote preto, lindo e esperto”. Eles não sabiam onde ela tinha arranjado esse filhote. Nica e Lalo deram o nome de Duque e aprenderam com esses dois amigos, como cuidar de cachorro.

O Jeosafá escreve poesia, ficção e obras didáticas relacionadas à literatura e à língua portuguesa. Ele também é professor do Ensino Fundamental, Médio e Superior. Estudou Letras e fez doutorado em Estudos Comparados de Literatura de Língua Portuguesa na USP. Ele sempre estudou em escola pública.

A seguir a entrevista que ele concedeu ao Blog do Le-Heitor (que chic!, como diz a minha tia. Não acharam?)

Heitor – Você se inspirou em algum menino para criar o personagem Beto, do livro Beto e Abelardo? Em quem?

Jeosafá – Sim. O Beto é meu filho Ulisses. O curioso é que o ilustrador não sabia disso tampouco o conhece, mas a ilustração parece uma caricatura dele.

 Heitor – E a Nica, que conta a história de Ganhar, Amar, Cuidar, tem alguma inspiração real ou você a inventou?

 Jeosafá – A Nica é outro caso de coincidência espetacular. As ilustrações já existiam e esse livro, para a tradição dos infantis, faz o caminho inverso: em vez de o artista ilustrar a história, eu é quem escrevi a história para as ilustrações que já estavam prontas há muito tempo (e eu não as conhecia). A menina é a cara da minha filha Sofia, que está com seis anos. Outra coincidência é que tivemos realmente uma cadela em casa. Era amarela como nas ilustrações do livro. E não teve fim diferente, não. Adotamos ela adulta, depois de a tirarmos da rua toda machucada, levar no veterinário, vacinar e “otras cozitas mas”. Porém, ela só queria saber de rua… Já o Duque é invenção. A Sofia e o Ulisses, é lógico, ajudaram a organizar o roteiro da história a partir das ilustrações. E foram meus consultores, aliás, muito críticos.

Heitor – Nos dois livros há a relação da criança com os bichos. Em Beto e Abelardo, a amizade do menino com um bem-te-vi; e em Ganhar, Amar, Cuidar, a relação de Nica e o seu irmão com a cadela Caramelo e o Duque. Você acha importante essa experiência na infância?

Jeosafá – Acho sim. Porém, a posse responsável de animais de estimação é algo bem sério. Depois da Caramelo, tivemos em casa um coelho orelhudo, que morreu subitamente, e um ramster, que foi comido por um gato. Até hoje minha filha chora pelo ramster, mas não pelo coelho. Prometi a ambos que, quando eles forem mais responsáveis, adotaremos um cão ou uma cadela. Temos um jardim em casa. Os passarinhos adoram pular pelas plantas e os colibris se fartam nos bebedouros. Meus filhos e eu adoramos ficar observando. Batemos fotos, discutimos seu comportamento, às vezes bem agressivo de um tipo de beija-flor violentíssimo que há no bairro (chamam de tesourão, porque é grande e tem a calda em forma de tesoura – já matou um pequeno beija-for de outra espécie a trombadas e quase matou outro a bicadas, este eu salvei por sorte).

 Heitor – Vi no seu blog o comentário de um ex-aluno seu, agradecido por influenciá-lo pelo gosto à leitura. Existe alguma formula para transformar crianças e jovens em leitores?

 Jeosafá – Há uma fórmula sim, simples como receita de bolo de fubá. Aliás, vou dar a receita:

 Ingredientes:

– Uma criança de qualquer idade, inclusive idosa.

– Uma boa história pra contar ou ler.

 Como fazer:

 – Ame a criança ouvinte ou leitora.

– Ame a história falada ou lida.

– Misture tudo com amor.

– Seja feliz amorosamente.

 Viu que receita simples?

Heitor – Vi. Simples, mesmo, e bem legal! Vocês não acham?

Li histórias de menino francês

Como eu prometi no post anterior, hoje eu vou contar a história de outro menino que conta histórias. Desta vez é um menino francês. O nome dele é Nicolau, o Pequeno Nicolau. No post anterior eu falei do André, do livro do Adriano Messias. Revendo os posts do blog, eu encontrei outro menino, que eu já contei a história dele, que também contava histórias e que até criou um personagem. O menino é o Geraldo e o personagem que ele criou é o Pandonar, do livro do João Ubaldo Ribeiro (http://blogdoleheitor.sintaxe.com.br/?p=115). Eu estou gostando muito dessas histórias de meninos que contam histórias!

O Pequeno Nicolau

O pequeno Nicolau foi criado em 1959 por René Goscinny e Jean-Jacques Sempé. Anne Goscinny, filha de René, que morreu em 1977, juntou algumas histórias inéditas guardadas pela mãe, desde a morte do pai. Ela fez um primeiro projeto gráfico dessas histórias e mostrou para Sempé.  Ele ficou muito animado e decidiu se juntar a ela para lançar, em 2009, essas histórias inéditas do Pequeno Nicolau e comemorar os 50 anos do personagem. Peguei essas informações na apresentação do livro e depois eu pesquisei e descobri que desde que foi criado O pequeno Nicolau já vendeu mais de nove milhões de exemplares na França, 13 milhões em todo o mundo e foi traduzido para 37 idiomas. Dizem que ele é tão popular quanto seu conterrâneo O pequeno príncipe e que ganhou um monte de homenagens na França e virou até celebridade nacional. O livro que eu li foi A volta às aulas do Pequeno Nicolau, que é o primeiro volume da série de oito livros já lançados na França. A Editora Rocco está lançando esses livros no Brasil. A história do Pequeno Nicolau já passou no cinema neste ano, eu não assisti, vou ver se já tem em DVD. René Goscinny também foi o criador, junto com Albert Uderzo, de outro personagem famoso, o Asterix.  

Os personagens e as histórias

O Nicolau tem muitos amigos. O Alceu, que é o guloso da turma e está sempre comendo; o Clotário, que é o último da classe e vive de castigo; o Godofredo, que é o riquinho da turma e sempre tem um brinquedo novo; o Eudes, que é o valentão e dá socos nos colegas; o Agnaldo, que é o primeiro da classe e o xodozinho da professora; o Joaquim, que é o melhor na bolinha de gude; e o Rufino, que faz muita bobagem e quer ser policial, como o pai. O livro é dividido em pequenas histórias e quem conta é sempre o Nicolau. Ele tem um jeito muito engraçado de contar as histórias e mesmo quando elas não têm um final muito feliz a gente acaba dando muita risada. O Nicolau é “uma figura”, como diz o meu tio. Tem a história em que o Nicolau sai com sua mãe para comprar o material para a escola; tem outra que o Nicolau se reúne com seus amigos em um terreno baldio para organizar um grupo que vai defender as pessoas, ajudar os pobres e capturar os bandidos; tem também uma que o Nicolau almoça na escola junto com os semi-internos; outra que um amigo engraçado do pai vai jantar na casa do Nicolau; outra que o Nicolau e os amigos passam uma tarde na casa do Godofredo, o amigo rico que tem até mordomo; tem a história da festa de aniversário do Clotário, o último da classe, e do dia em que o pai do Nicolau comprou uma televisão, e muitas outras. Nas histórias do Nicolau sempre acontecem muitas confusões, mas no final tudo dá certo.

Uma história inteira

Tem uma história que eu gostei muito e vou contar inteirinha, até o final, o nome dela é O coelho maneiro e é mais ou menos assim: Como a classe do Nicolau se comportou muito bem a professora levou massinha e ensinou os alunos a fazer um coelho bem orelhudo. O coelho do Nicolau era o melhor da classe, foi a professora que disse. Estava melhor do que o do Agnaldo, que era sempre o primeiro da turma, o xodozinho da professora e que não gostou nem um pouco de não ser o primeiro desta vez. Nicolau achou essa aula muito legal e voltou para casa supercontente, com o seu coelho na mão para não esmagar dentro da pasta. Ele entrou correndo na cozinha e disse: – Olha, mamãe! Ela deu um berro, se virou assustada e disse: – Quantas vezes eu já te disse para não entrar assim na cozinha feito um selvagem. Ele mostrou para a mãe o seu coelho maneiro e ela disse: – Tudo bem, vá lavar as mãos. O almoço está pronto. – Mas olhe meu coelho, mamãe, a professora disse que era o mais maneiro da sala. – Muito bem, muito bem, disse a mãe. Agora vá se preparar para o almoço. Ele viu que a mãe não havia nem olhado para o seu coelho. Quando ela diz “Muito bem, muito bem”, o Nicolau sabe que é sinal de que ela não está olhando de verdade. – Você não olhou o meu coelho, ele insistiu. Nicolau! Gritou a mãe. – eu já te pedi para se arrumar para o almoço. Já estou estressada o suficiente e não preciso que, além disso, você seja insuportável! Eu não suportarei que você seja insuportável. – Essa foi forte, disse o Nicolau. – Faço um coelho maneiro, a professora diz que é o melhor da turma, até mesmo o xodozinho do Agnaldo ficou com inveja, e em casa levo bronca! Ele diz que assim já é demais, que nunca viu tanta injustiça, dá um chute no banco da cozinha e corre para o quarto para se jogar na cama e ficar emburrado, mas antes coloca o coelho na escrivaninha para não esmagar.

A mãe entra no quarto, diz para ele acabar com essa falta de modos, para ele descer e comer se não quiser que ela conte tudo para o pai. – Mas você nem olhou o meu coelho. – Esta bem! Está bem! Estou vendo o seu coelho. É um coelho muito bonito. Pronto, está satisfeito? Agora você vai se comportar ou terei que me aborrecer com você? Ele começa a chorar e diz: Você não gostou do meu coelho? É isso? De que adianta estudar na escola se na sua própria casa as pessoas não gostam dos seus coelhos? Nesse momento o pai chega em casa. – Onde está todo mundo? Estou em casa! Voltei mais cedo do trabalho! O pai entra no quanto do Nicolau e pergunta o que está acontecendo, pois ouve os berros lá de fora. A mãe responde: – O Nicolau está insuportável desde que chegou da escola. – Eu não estou insuportável, diz o Nicolau. – Vamos com calma, diz o pai. E a mãe reclama: – Você dá razão a ele, e não a mim. Depois você será o primeiro a se surpreender quando ele virar um moleque. – Eu dou razão a ele e não a você? – pergunta o pai. Eu não dou razão a ninguém. Eu consigo chegar mais cedo em casa e o que encontro: um drama. – E eu? – perguntou a mãe. Você acha que os meus dias não são duros também? Você sai, vê gente. Eu fico aqui trancada o dia inteiro feito uma escrava para tornar essa casa habitável e, além disso, tenho que aguentar o mau humor destes senhores. – Eu? Por acaso estou de mau humor? – gritou o pai, dando um murro em cima da escrivaninha do Nicolau, que ficou apavorado, pois se tivesse acertado o coelho ele ficaria todo achatado. E a discussão entre o pai e a mãe do Nicolau foi esquentando até que a mãe sentou na cama do Nicolau e começou a chorar. O Nicolau que não gosta de ver a mãe chorando, também chorou com ela. O pai olhou para os dois, sentou ao lado da mãe, a abraçou e deu um lenço a ela. – Ora minha querida, nós estamos fazendo papel de bobos nos deixando levar pelo nervosismo. – Você tem razão, disse a mãe.   Mas o que você quer, com o tempo ruim como o de hoje e ainda o menino… – É claro, é claro, disse o pai. – Tenho certeza de que tudo vai se arranjar. Você sabe que é preciso um pouco de psicologia para lidar com as crianças. Espere, você vai ver. Então o pai se virou para o Nicolau passou a mão no seu cabelo e disse: – Não é verdade que o meu Nicolau vai ser gentil com a mamãe e lhe pedir perdão? O Nicolau disse que sim, pois ele acha que o momento mais legal na sua casa é quando se termina de brigar. A mãe diz que foi muito injusta com o Nicolau, pois ele foi muito bem na escola e foi até elogiado pela professora. – Mas é ótimo, é magnífico…, diz o pai. Essa história me deixou com fome. Está na hora de comer e depois o Nicolau conversará comigo a respeito de todo esse sucesso na escola.

E o Nicolau termina contando assim essa história: – Papai e mamãe deram risada e então fiquei muito contente, e enquanto papai beijava mamãe fui pegar o meu coelho para mostrar a ele. Papai se virou e disse: – Vamos lá, Nicolau, agora que está tudo bem, você vai se comportar, hein? Então, vá jogar logo no lixo essa porcaria aí e depois vá lavar bem as mãos para que a gente possa almoçar tranquilamente. 

Amanhã é o meu aniversário. Eu vou fazer 12 anos.

Li histórias de assombração

Outro dia eu vi a entrevista de um escritor bem famoso, o Mario Vargas Llosa. Ele até ganhou o Nobel de Literatura, que é um prêmio muito importante. Eu vejo esses programas com o meu pai. Ele gosta de assistir entrevistas na televisão e quando tem alguma coisa que eu gosto também, eu assisto com ele. Na entrevista o escritor disse que gosta mais de ler do que escrever.  Nesses dias que eu andei sumido, li três livros, mas não consegui escrever nenhuma linha no blog. Não faltou assunto: os livros são bem bacanas e eu descobri um monte de coisas que eu posso contar aqui. Provas e trabalhos na escola, o clima da eleição, sei lá, essas coisas me preocuparam muito. Eu contei isso para o meu pai e ele me disse que escrever dá trabalho, mesmo, e que era para eu escrever no blog quando tivesse vontade. – “Mas você sabe, Heitor, que é só sentar e começar, que você consegue escrever coisas muito bonitas”. Achei o maior legal meu pai falar assim comigo.

Um dos livros que eu li foi o Histórias mal-assombradas de Portugal e Espanha. Este livro faz parte de uma série da Editora Biruta chamada Contos para não dormir. Quem escreve esta série é o Adriano Messias. Eu conheci o Adriano na Bienal do Livro. (http://blogdoleheitor.sintaxe.com.br/?p=308). Ele já escreveu cinco livros desta série e ainda vai lançar mais dois. Nesse que eu li, ele conta histórias de assombração que foram criadas em Portugal e na Espanha. Nos outros livros da série ele me disse que contou histórias mal-assombradas de Minas Gerais, do interior de São Paulo, do tempo da escravidão e muitas outras. Sim, ele me disse! Eu conversei com o Adriano no sábado passado. Ele estava num bate-papo na Livraria Cultura e eu fui lá assistir. Ele autografou o meu livro e eu tenho mais um na minha coleção de livros autografados. Foi de manhã, estava chovendo em São Paulo, tinha pouca gente e deu para conversar um montão com o Adriano. Ele é bem legal! Ele fez faculdade de Letras e Jornalismo, mestrado em Comunicação Social e hoje faz doutorado em Comunicação e Semiótica. Ele escreve para crianças e adolescentes e a vontade de ser escritor veio quando ele tinha 12 anos.

Eu disse a ele que gostei muito do livro e que li rapidinho. Comecei a ler e não consegui parar mais. Essas histórias de assombração prendem a gente. Elas dão um pouco de medo, mas só um pouquinho. Tem a história da “Mulher da meia-noite”, por exemplo. Eu mesmo já ouvi alguma vez essa história, mas quando é contada dá um arrepio. Uma mulher muito bonita aparece vestida de vermelho em bares e se aproxima de homens solitários. Senta à mesa e conversa com um homem que fica encantado com a sua beleza. Depois de muita conversa ela pede ao homem que a leve até a sua casa, pois tem medo de ir sozinha. No caminho eles continuam conversando até que chegam em frente a casa da mulher que diz: – É aqui que eu moro…” Ele olha ao lado e vê um terreno com um muro muito comprido e percebe que lá é o cemitério. Quando volta para falar com a mulher ela já tinha desaparecido.

O Adriano nasceu na cidade de Lavras, em Minas Gerais e quando era criança ouviu muitas histórias de assombração. Essas histórias fazem parte da tradição oral dos povos, que preservaram sua cultura pela fala. Nesta série ele conta as histórias que ouviu, outras que pesquisou e algumas que inventou. Na verdade quem conta essas histórias é o André Villas Boas, um personagem criado pelo Adriano Messias. André é um menino que morava em Belo Horizonte e se mudou para São Paulo. No começo do livro o André se apresenta. Ele diz que está numa escola nova, mas os seus gostos continuam os mesmos de antes: cinema, shopping, colecionar selos, criar páginas na internet, desmontar coisas e colecionar gibis. Ele disse que está tentando fazer novos amigos, mas a vida corrida da cidade nem sempre facilita as coisas. – “Eu encontro muito tempo livre para ler e gosto de ler, ninguém me obriga a fazer isso. Leio de tudo, livros de aventura, revistas de viagens, blogs e sites.” Estou gostando desse André! Ele disse que no caminho de casa para a escola a sua imaginação voa e que um dia quer escrever livros. – “Mas, para ser escritor, uma professora me disse que a gente tem de ler e ler e ler… e ter talvez um certo talento. Será que eu tenho?”, o André se pergunta.  Perguntei ao Adriano quantos anos tem o André, no livro não fala. Ele tem 16 para 17 anos. Ele já é grandão, eu ainda vou fazer 12. Mas eu também quero escrever livros e vou continuar lendo.

André vai visitar sua avó e as três tias (Clara, Branca e Alva) tricotadeiras em Lavras. As tias tricotam sem parar e fazem cachecóis enormes. Lá é que ele ouve as histórias mal-assombras que conta no livro. Tem a história da “Dama do pé de cabra”, que ele contou mais ou menos assim:  

Adriano Messias

Um homem muito rico encontra uma mulher maravilhosa e quer se casar com ela. A mulher impõe uma condição: ele não deve pronunciar jamais o Nome do Pai ou qualquer outra oração em sua casa e nem fazer o sinal da cruz. Ele aceita a condição e se casa com ela. Na noite de núpcias descobre que a mulher tem um pé de cabra (não que tivesse a ferramenta, um pé dela era de cabra, mesmo!) Ele não deu importância para isso, já que a mulher era muito bonita. Passaram-se os anos, eles tiveram dois filhos. O homem tinha um cachorro fiel e a mulher uma cadela preta e magricela. Um dia o homem está jantando, joga um pedaço de carne para o seu cão e diz: “Silvano, coma à vontade, pois és um cão amigo. A cadela da minha senhora é que nada merece, que o diabo a leve”. A cachorra vivia ressentida de ser excluída pelo homem. Não ganhava carinhos e nem petiscos. Não se passaram dois segundos e a temida cadela da esposa pulou no pescoço do cão amado. Foi uma luta injusta: a cachorra abocanhou o pescoço do outro animal e, em poucos momentos o animal estava morto sem que ninguém tivesse conseguido interferir. O homem assistiu a tudo horrorizado e disse: “Jesus Cristo, valei-me” e benzeu-se várias vezes fazendo o nome do pai. Estava desfeito o trato. Restaria ver o que viria em seguida. O final dessa história está lá no livro… Quem conta é o padre Mingau, que faz o maior suspense para prender a atenção de todos.

Outro livro que eu li e que vou falar dele no próximo post, também é a história de um menino que conta histórias. É um menino francês, o Pequeno Nicolau.